Atualizado em 11 Junho, 2023
Comer em Viena é uma delícia graças aos cafés históricos e glamorosos, à confeitaria digna de um imperador, sem esquecer os pratos austríacos mais tradicionais. É dia de roteiro gastronómico na capital austríaca
Diz-se que soldados otomanos, numa retirada apressada, deixaram para trás um presente acidental: café. A primeira kaffeehaus abria portas no século XVII, inaugurando uma elegante e importante tradição cultural. Tão importante que a tradicional cultura de café vienense (Wiener Kaffeehauskultur) pertence ao património cultural imaterial da UNESCO, desde 2011.
Uma visita a Viena não fica completa sem um pequeno-almoço, almoço, brunch, café. Enfim, uma refeição, num desses lugares históricos. Aproveitando que o tema do 8on8 deste mês é gastronomia, propomos vários lugares charmosos para comer na capital austríaca.
Começamos no lendário Café Central (Herrengasse 14), tão famoso e confiante, que se auto-intitula o verdadeiro coração da cidade, em vez da catedral de S. Estevão. O lugar histórico mantém a elegância dos tempos em que era frequentado por Trotski, Sigmund Freud ou Arthur Schnitzler e é uma excelente opção em qualquer hora do dia. Por exemplo, ao final da tarde tem um pianista a tocar… suspiro.
Pequeno-almoço
Nós tomámos um pequeno-almoço maravilhoso no Café Central, com direito a café com leite (chocolate quente para o Pedro, como podem ver na foto de entrada deste post), pão e croissant, manteiga e compotas, ovo cozido no ponto… tudo rematado com uma deliciosa Café Central Torte. Somando o serviço delicado e atencioso, tornou-se no meu lugar preferido para comer em Viena. O pequeno-almoço vienense (sem o bolo final que esta gulosa devorou, ronda os 13,50€).
Também experimentámos o pequeno-almoço Demel (Kohlmarkt 14), a confeitaria imperial que fornecia gelado de violeta à imperatriz Sissi. As vitrines da confeitaria e a lojinha da entrada dão o mote ao lugar, onde uma parede de vidro permite ver os pasteleiros a trabalhar.
O pequeno-almoço trazia dois pães em vez de croissant mas, no restante, era parecido com o do Café Central. Rematei com um tradicional apfelstrudel, que não me convenceu, por estar um pouco mole. No geral, gostei do ambiente histórico e das vitrines dos doces, mas a qualidade dos produtos e o atendimento não correspondem à fama.
Mas o único verdadeiro fiasco desta lista aconteceu no Café Sacher (Philharmoniker Str. 4), onde se pode provar a receita original da célebre Sachertorte, ou pelo menos assim o diz o marketing da casa. Trata-se de um bolo de chocolate criado em 1832, recheado com geleia de damasco e cobertura de chocolate negro, que se tornou um símbolo de Viena.
Como muitos outros turistas, fomos atraídos pela fama do lugar, que é lindo e luxuoso, ansiosos por provar a especialidade… mas a sua sachertorte é seca e sem graça, para além de cara (10,80€ por um café expresso e uma fatia de bolo, em 2018). Portanto é de riscar o Café Sacher da lista, até porque o bolo se vende em todas as confeitarias da cidade, a um preço muito mais simpático.
Almoço
Porque a vida não se esgota de manhã e palmilhar a cidade exige uma refeição digna, temos três opções diferentes: L. Heiner, para um almoço ligeiro, Le Bol, para os amantes de saladas e o Cafe Museum, para uma refeição austríaca completa.
O Heiner (Kärntner Strasse 21-23, mas tem mais duas localizações), como é carinhosamente conhecido pelos vienenses, existe há mais de 175 anos e, pouco depois de abrir portas, de pequena padaria transformou-se num dos fornecedores do imperador Franz Josef.
Comemos por lá um almoço ligeiro (lasanha de legumes para mim, macarrão com fiambre e queijo gratinado para o Pedro), num ambiente tranquilo, já que é sobretudo frequentado por locais, para tomar café e ler o jornal. As funcionárias são muito simpáticas e vestem trajes austríacos típicos, embora um pouco contra a sua vontade. Confessou-me uma delas que acha a roupa horrorosa, mas eu achei-a engraçada, que fazer?
De sobremesa, tive direito a uma Esterhazytorte, com creme de baunilha e glacê fino, enquanto o Pedro se ficou por um cheesecake de morango. As duas sobremesas estavam deliciosas.
Um dos meus almoços preferidos aconteceu no bistrô Le Bol (Neuer Markt 14), com uma decoração muito engraçada e umas saladas divinais. Eu comi uma generosa salada Monsieur Seguin com queijo de cabra gratinado, pêras, uvas e figos e o Pedro optou por uma salada de atum. Fomos cedo e tivemos um almoço tranquilo, mas a certas horas pode ficar a abarrotar de gente.
O preço das saladas é acessível, mas as bebidas acabam por encarecer a refeição.
O Café Museum (Operngasse 7) é outro lugar histórico, ponto de encontro de artistas vienenses como Gustav Klimt no século XIX, ali próximo da Ópera, do Musikverein e do Museu Vienna. É um bom lugar para se experimentar clássicos como o schnitzel ou a sopa Goulash, num ambiente elegante.
Melhor ainda, tem menu do dia de segunda a sexta-feira, entre as 11h30 e as 14h30, com sopa e prato ou apenas o prato, a preços económicos. Experimentei uma sopa de cebola com croutons, seguido de peixe-gato frito com salada de batata e pepino. Muito bom e o serviço primoroso.
Lanchinhos
Visitámos Viena no verão, sob altas temperaturas, pelo que comemos gelados todas as tardes, como se não houvesse amanhã. O melhor de todos? Eis Greissler (Rotenturmstrasse 14) e os seus gelados de leite orgânico e fruta biológica, produzidos em quintas próprias, sob o slogan “from cow to cone”.
São mais de 100 sabores, sem qualquer aditivo artificial, dos mais clássicos aos mais inusitados (como espargos). Para os vegans, existe uma linha de sorbets fantástica, como o de framboesa e calamansi, um pequeno citrino asiático. Eu provei um gelado de sementes de abóbora tão bom, tão bom, tão bom… que estou a babar o teclado só de recordar.
Terminamos este artigo com um jantar típico de rua, como os vienenses adoram. À saída da ópera, por exemplo, é comum comer-se Käsekrainer, a tradicional salsicha recheada com queijo Emmental.
Experimentámos a tal salsicha numa das muitas Bitzinger da cidade, junto ao Museu Albertina (existe outra unidade perto da roda gigante do Prater). Até eu, que habitualmente não como carne, provei a tal salsicha defumada, acompanhada de cerveja local, e posso afirmar que é uma tradição que vale a pena preservar.
Extra: Aproveitem a visita a Viena para provar a famosa bolacha waffer Manner (inventada em 1898). São cinco camadas de waffers intercaladas com camadas de um delicado creme de cacau e avelã. Crocante e saborosa.
Este post faz parte do 8on8, um projeto coletivo que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês. Espreitem os restantes textos sobre o tema “gastronomia”, desfrutem, partilhem e inspirem-se: Let’s Fly Away: [8 on 8] A experiência de comer no Japão – como é? Turistando.in – Delícias da gastronomia portuguesa Viajando em 3..2..1.. – Experiências gastronômicas na Alemanha
43 Comentários
Um post para nos deixar a salivar.
O pequeno explorador está cada dia mais bonito.
E bem crescido.
Um abraço e bom fim-de-semana
Concordo e concordo, haha. Mas sou uma mãe babada, outra coisa não seria de esperar. Adorou os pequenos-almoços de Viena.
Essas padarias ♥️ que delícia de post! Morri aqui com todas as indicações,mas apelo especial com essas tortas, viu
Eu também morri pelas tortas. O problema é escolher…
Arghh, isso aciona a balança só de ler!
Acionou a balança de quem experimentou também!
Sem dúvida, um capítulo à parte a gastronomia dor lá. O já crescido explorador aproveita! bjs, chica
Um post delicioso que me abriu o apetite.
Um abraço e bom Domingo.
Quanta delícia!
Meus 3 dias em Viena foram bastante econômicos…. Quando não fazíamos nossos pratos no hostel, comíamos Käsekrainer ou qualquer outro street food
Rsrsrsrs
Doces não teve como dizer não. Mas a maioria acabamos provando dentro dos cafés dos museus que visitamos. A famosa Sachertorte acabamos degustando dentro do Albertina!
E claro, depois de prová-lo em Berlim, fomos atrás de um restaurante que servisse o Schnitzel.
O nosso alojamento não incluía o pequeno-almoço, daí termos experimentado estas opções requintadas. Mas tivemos muitos almoços económicos também, porque o bolso tem fundo né?
Que beleza de passeio amiga, mas confesso que fiquei aqui com água na boca vendo as delícias de Viena com suas belas dicas. Lá como muitos lugares as vezes vamos pela fama e percebemos que não é tudo aquilo, mas no geral, pelo exposto há muito o que gostar.
Grato pela partilha e detalhes para uma visita.
Abraços amiga e boa semana.
Gostando de o Pequeno descobridor em ação.
Às vezes a fama vem acompanhada de qualidade, mas uma não é sinónimo da outra, claro. Mas ver para crer, já li bons reviews ao Café Sacher, talvez influenciados pelo ambiente luxuoso, apesar de eu não ter gostado da torta deles e ter achado um absurdo de caro…
Esse é o tipo de post que eu devia ter lido depois de comer haha. Quando for a Viena com certeza usarei essas dicas e irei comer esses doces. Parecem uma delícia!
Também já comi por terras austríacas mas não em Viena.
Gostei do que vi, convidativo, então aquele gelado…
Bj
Olhar d'Ouro – bLoG
Olhar d'Ouro – fAcEbOOk
Aquele gelado está, definitivamente, entre os melhores que comi na vida, incluindo os gelatos italianos…
Adorei o post. Deu até água na boca!
Estamos planejando visitar Viena em breve e é sempre bom ter dicas assim. Ótima matéria!
Oi oi! Que delícia de post hein?! Não há nada melhor do que um fim de tarde em um café. Gostei da sobremesa do Pedro, provavelmente, também pediria um cheesecake de morango! 😉
Minha experiência com a Torta Sacher foi no Café Central (que por sinal, é lindo mesmo!), e apesar de não ser o lugar mais tradicional para comê-la, eu achei bem gostosa! Lembro que quando fui pra Viena fiquei na dúvida se comeria lá ou no Café Sacher… que pena que sua experiência com a torta mais famosa da cidade não foi tão legal…
Eu amei o Café Central, se um dia voltar à cidade, com certeza irei lá muitas vezes. Todos os doces tinham uma cara ótima
Ai que fome! Post delicioso, literalmente. Quero provar tudo, até a Sachertorte, kkk, mas em um lugar mais barato. O que tem ao lado da torta, é chantilly?
Acertou, é chantilly. Suponho para dar um toque mais requintado e justificar o preço, haha
Esse post é uma maldade com o ser humano que está com fome! hahaha como eu sou formiga fiquei VIDRADA nos bolos! Quando voltar a Viena quero aproveitar os cafés!
Amei suas dicas! Já salvei o post para quando for à Viena. Fiquei com água na boca com tantos doces gostosos
Esses bolos me tiraram do sério! Que vontade gigante de dar uma trincada! 😀
ja sabia dessa cilada do bolo sacher, prefiro muito mais os bolos de chocolate de festa que fazem por aqui aehuahea
" Meodeuzo", que roteiro sensacional, Ruthia. Eu elejo como primeiríssima escolha, a visita a todos essas casas-café tentadoras. Dispensaria as refeições salgadas, pelo menos,nos dias que aí estivesse. Sou formiguinha assumida.
Teu post dá água na boca.
Bom domingo.
Bjo,
Calu
Eu também sou uma formiguinha, mas não pode ser só doces, tenho que dar o exemplo ao Pedro, haha.
Bom domingo
Segunda vez que passo por aqui pra dar uma conferida. Tanta sugestão e dica boa que acho que a opção de um bate e volta já foi descartada. Tudo anotado!
Que delícia esse seu post. Vontade de devorar tudo. Confesso que perco a compostura hahaha….
Eu amooo cafés e, claro, adorei ler o post. A torta sacher é um clássico, né. Provei recentemente e curti. Lindas fotos!
Caramba, quanta dica bacana! Adorei saber um pouco mais sobre esses lugares, tudo salvo aqui pra quando chegar a minha hora de visitar esse lindo destino.
Abs
Nossa senhora! Esses doces dão água na boca! 🙂 pelo visto Viena é craque em confeitaria. Adorei os relatos e estão bem completos para fazer um roteiro de gastronomia!
Não foi propriamente um roteiro de gastronomia, foi a soma das nossas experiências na cidade. Parece que passamos o tempo todo a comer, não é?
Eu gosto muito dos doces austríacos, assim como os alemães, principalmente por não serem tão doces. Muito boas dicas, Ruthia. Edson
Cada post de Viena tenho mais vontade de conhecer. Fiquei com água na boca com essas fotos. Pena que a experiência do bolo de chocolate foi frustrante… chocolate e decepção não combinam! Eu sou do time do Pedro, ia me esbaldar com aquele chocolate quente no café da manhã 🙂
Pois é, chocolate é consolação no meu dicionário também! Mas aquele bolo de chocolate foi realmente mau (acho que o preço que pagamos por aquela fatia minúscula extrapolou muito a decepção, claro)… mas depois esquecemos tudo no Café Central.
Que delicia de roteiro gastronômico, eu amo visitar cafés diferentes em viagens e já anotei todas a dicas.
Existe coisa melhor do que comer em viagens?!?!?! E Viena com essas tortas maravilhosas tem um apelo maior ainda para meu paladar infantil! Ótimas dicas!!
Em Viena, até a comida é elegante… irraaaa!! 🙂 A cidade tem muitos – e bons – cafés históricos para explorar… Viena pode ser MESMO uma perdição…
Belo artigo!
Há cidades e pessoas assim, respiram elegância, hihi!
É sempre um prazer receber-te por aqui.
Abraço
Quase morri aqui com água na boca, parece tudo maravihoso! E eu que sou adoradora de schnitzel e de doces, então…
Ao ver as fotos dos doces, das vitrines das confeitarias, a gente nem lembra de Paris. Que espetáculo! Adorei a elegância da xícara de café. E a primeira foto com o pequeno e belo mocinho? Está simplesmente um encanto!
[…] garfo? Desfrute da tradicional cultura do café, património imaterial da UNESCO, num dos cafés históricos onde grandes pensadores europeus passaram longas horas em proveitoso debate. Há ainda muitas […]