Atualizado em 6 Outubro, 2022

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer (…)

Eles não sabem, nem sonham
Que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança

Apelo às musas de António Gedeão, no seu sublime poema Pedra Filosofal, um cântico ao sonho enquanto motor da evolução humana. Sem sonhos, somos apenas “cadáveres adiados que procriam”, para usar a expressão de Fernando Pessoa. O sonho transforma em ouro as nossas pequenas ambições.

De que são feitos os sonhos de um viajante? De lugares distantes, de encontros que ainda não tivemos, de comidas que ainda não provámos. Felizmente, tenho muitos sonhos concretizados enquanto viajante. Senti-me uma formiguinha junto das pirâmides do Egipto. Desenvencilhei-me sozinha nos transportes públicos na China. Vi animais selvagens no seu habitat natural, em África. Emocionei-me perante a Capela Sistina, a Última Ceia e o Guernica.

Mas hoje, dia em que o projecto 8on8 nos lança o desafio de falarmos de Viagens de Sonho, eu quero relembrar o que quero concretizar ainda. Eis as minhas viagens de sonho.

1. Explorar a Namíbia

Eu nasci na Namíbia, quando os meus pais fugiam da guerra, entre o deserto do Namibe e o inóspito Kalahari, num lugarejo suficientemente calmo para acolher um campo de refugiados, onde os brancos podiam sossegar os seus terrores nocturnos e apanhar um avião para o velho mundo.

Sete dias depois, chegava a Portugal, embrulhada num xailezinho leve, ideal para o clima árido que tinha deixado para trás. A Namíbia tem povoado os meus sonhos desde sempre, o que só se intensificou com as pesquisas sobre aquele país de contrastes e paisagens surreais. E sinto que não serei “completa” enquanto não explorar as minhas raízes.

aurora boreal
© Slavian tours


2. Ver a aurora boreal

Há um fenómeno nas regiões polares que, estou certa, habitam os sonhos de muitos viajantes. De repente, o céu nocturno enche-se de cores inacreditáveis, verdes, vermelhos, amarelos, laranjas e azuis, por causa do contacto dos ventos solares com o campo magnético do planeta.

A explicação científica nada retira ao fascínio que a aurora boreal me provoca. Apesar de temer o frio acima de (quase) todas as coisas, aguentarei uma noite inteira enregelada para poder assistir a este milagre da Natureza, seja na Noruega, Suécia, Islândia, Alasca ou Canadá.

3. Fazer um retiro de yoga na Índia

Apesar de tardia, o yoga foi das melhores descobertas da minha vida. Hoje não tenho grande tempo para realizar a prática da minha querida professora, infelizmente. Mas um dia quero fazer um retiro num ashram (lugar, normalmente próximo da natureza, criado para a prática de meditação e yoga).

O norte da Índia é famoso pelos seus ashrams, portanto poderá muito bem ser ali que passarei uma semana, completamente offline, apenas focada em redescobrir o meu eu interior. Aposto que será uma experiência transformadora.

© ayuryoga-ashram.com
© Tourism Council of Bhutan

4. Ir ao reino do Butão, a terra da felicidade

Já que vou à Índia, aproveito para dar um saltinho ao seu reservado vizinho, o reino do Butão. Apesar do modo de vida simples, o Butão está entre as dez nações mais felizes do mundo de acordo com uma pesquisa da britânica Universidade de Leicester. O reino tem índices de violência diminutos, não tem mendigos, fome ou corrupção. E planta cannabis para alimentar o gado.

O rei, com educação europeia, criou um Ministério da Felicidade que tem como objectivo potenciar a Felicidade Interna Bruta através de desenvolvimento sustentável, preservação das tradições, conservação do meio ambiente, etc. Não é bom demais para a nossa humilde imaginação? Sem esquecer que o pequeno país incrustado entre a China e a Índia tem paisagens e templos belíssimos.

5. Dormir sob um céu estrelado no deserto

Vivemos num mundo cada vez mais urbanizado, que nos impede de observar a pureza de um céu estrelado. Alguns dos céus mais impressionantes ficam em lugares remotos, uma lista que inclui, por razões óbvias, vários desertos.

Que experiência maravilhosa deve ser adormecer sob o céu nocturno do deserto do Saara, esmagados pela magnificência do cosmos que nos rodeia. Um dia também me reduzirei a uma minúscula insignificância perante a imensidão de um céu polvilhado de estrelas… possivelmente em Marrocos.

© wilddesertofmorocco.com
© Mexiconline.com

6. Participar no Dia de los Muertos

Com raízes pré-hispânicas, o Dia dos Mortos é um dos feriados mexicanos mais curiosos. Para várias civilizações que ali habitaram, como os maias, a morte era apenas uma passagem, e as almas regressavam uma vez por ano, para visitarem os familiares.

Ainda hoje as festividades do Dia de los Muertos é qualquer coisa de intrigante (ao contrário do Halloween americano), especialmente no Estado de Oaxaca e na cidade de Pátzcuaro, onde os habitantes ainda vivem tradições típicas como fazer banquetes nos cemitérios. Não sei se conseguiria participar mas…. Caramba… sem dúvida, gostaria de assistir a tudo isto.

7. Ver o nascer do sol num balão, na Capadócia

A cerca de hora e meia de Istambul, a região turca é conhecida como um reino de fantasia por causa das “chaminés de fada”, formações de calcário que emprestam à Capadócia o seu aspecto lunar.

A região pertence ao Parque Nacional de Goreme, património mundial da Unesco, conhecido pelos seus complexos de cavernas que formam verdadeiras cidades subterrâneas. Mas a fama advém sobretudo das centenas de imagens que se multiplicam nos perfis do Instagram com balões coloridos.

Um dia também amanhecerei num balão de ar quente, na Capadócia, numa comunhão silenciosa com a paisagem.

© goturkeytourism.com

8. Escalar o Kilimanjaro

Certo dia, um famoso montanhista inglês, de visita a Nova Iorque em busca de patrocínios para uma expedição, cansado da mesma e eterna pergunta (porquê escalar a o Everest?), cunhou uma expressão, tão famosa como lacónica, “porque está lá”.

Cada um terá os seus motivos para escalar uma montanha, seja pelo desafio que representa, pela superação de limites que pressupõe, para estar mais perto do transcendental. Não almejo chegar ao cume do Everest, nunca teria a preparação física necessária para tal hercúlea campanha. Ali o Kilimajaro, com os seus 5895 metros, já me chegava perfeitamente.

E já não é pêra doce, pois subi-lo equivale a ir do Equador ao Polo Norte, porque se passa por diferentes ecossistemas: zonas de cultivo, floresta tropical, deserto alpino e o cume, com neve permanente, que reina sobre a savana africana.

© Gear Coop

Se não estivesse limitada a 8 viagens de sonho, garanto que esta lista seria muiiiito longa. Já que aqui estão, aproveitem para espreitar o que as outras viajantes escreveram neste 8on8 Viagem de Sonho, de Novembro (por ordem alfabética):

Let’s Fly Away – [8 on 8] Roteiro de 8 lugares românticos em Paris
Mulher Casada Viaja – 8 Destinos de Sonho – para Realizar! 
Turistando.in: 8 cidades italianas que sempre sonhei em conhecer