Atualizado em 27 Fevereiro, 2023
“De Marvão vê-se a terra toda” escreveu Saramago, na sua Viagem a Portugal. Perdoe-se a hipérbole: do castelo é difícil descortinar até onde a vista alcança. Venha daí descobrir uma das mais encantadoras vilas alentejanas
A quase 900 metros de altitude e sobre as costas de um dragão pétreo que a defendeu durante séculos, Marvão convida à contemplação. O melhor da vila é mesmo a paisagem, com campos ondulantes que se estendem da Serra de S. Mamede até Espanha. Afinal, o país vizinho não fica muito longe.
As íngremes encostas fizeram deste um ponto de defesa natural, facto que inspirou lendas e não passou despercebido a reis e conquistadores. Ali se fundou a cidade de Ammaia na época do imperador Augusto. A fortaleza serviu também de refúgio ao muladi Ibn Marúan (a quem se deve o nome “Marvão”) no período em que a Península Ibérica esteve sob domínio islâmico, até ser tomada por D. Afonso Henriques, no século XII, e reconquistada definitivamente no século seguinte.
Mas o passado militar fica esquecido perante a pacatez da actual Marvão, uma das mais bonitas localidades alentejanas, com apenas meio milhar de habitantes, se considerarmos toda a vila. E o número desce para uma mera centena de habitantes, ultrapassada a Porta de Rodão, para o interior das muralhas.
Terra de castanhas, azeite e cogumelos, Marvão prova que o Alentejo não é feito apenas de secas planuras.
Há que percorrer as suas ruas estreitas para descobrir recantos, um pelourinho manuelino, arcos góticos e varandas de ferro forjado. Há que parar em cada esplanada, em cada trecho de muralha, para nos perdermos no horizonte e nos sentirmos quase pássaros.
Altitude é sinónimo de vento. Diz-se que Marvão é tão ventosa que, antigamente, não se conseguiam segurar as telhas nem com pedras e, por isso, as casas não tinham chaminés. Será verdade? Num dia abrasador, é difícil imaginar que os marvanenses tivessem que respirar o fumo das lareiras, por falta de chaminé…
O que visitar em Marvão
O Castelo de Marvão, principal atracção da vila e monumento nacional, vê-se ao longe. É um dos muitos guerreiros de pedra do Alentejo, importantes na defesa do reino e nas disputas internas do governo português.
Para além de percorrer as muralhas e subir à torre de menagem, vale a pena visitar a cisterna, no interior do recinto. É uma das maiores em Portugal (10 metros de altura por 46 de comprimento), com capacidade de acumular água e abastecer a localidade durante seis meses, em caso de cerco. Possivelmente esse foi um dos motivos pelos quais Marvão chegou a ser considerada a praça-forte “mais inconquistável de todo o reino”.
Obviamente, a vista a partir da torre mais alta é impressionante, apreciar ali um pôr-do-sol deve ser memorável. Li algures que a entrada no castelo é gratuita à noite, mas não há qualquer informação que o confirme, no site do Município. Mas tenho a certeza que será muito agradável passear nos jardins ao lado, numa noite de Verão.
Em frente fica a antiga Igreja de Santa Maria, hoje transformada em Museu Municipal. Sugiro uma pausa para apreciar a colecção que permite conhecer um pouco melhor a história de Marvão: há por lá arte sacra, arqueologia e etnografia.
Dica: o bilhete para visitar o castelo custa 1,50€ (adulto), mas existe um bilhete conjunto de 3,30€ (preços de Agosto de 2019) que permite visitar, para além do Castelo, o museu municipal, a singela Igreja de São Tiago e ainda a Casa da Cultura.
Por falar na Casa da Cultura, refira-se que esta fica num edifício histórico, onde funcionou o tribunal e a prisão. A sala do tribunal está muito bem preservada e recebe algumas exposições temporárias. Quando estivemos ali, havia uma exposição dedicada a Mouzinho da Silveira, esse ilustre legislador que figurou nas antigas notas de 500 escudos e que foi juiz em Marvão.
Já fora das muralhas, pode visitar-se o pequeno convento gótico da Senhora da Estrela, antes de rumar para o museu e sítio arqueológico Ammaia, Cidade Romana a meia dúzia de quilómetros, na freguesia de São Salvador de Aramenha (3€ bilhete de adulto). O resultado das escavações estende-se por uma área considerável, é mesmo necessário atravessar a estrada nacional para ver os vestígios do Fórum romano.
Dicas úteis
Como chegar
A vila de Marvão fica entre Castelo de Vide e Portalegre, a poucos quilómetros de Espanha, no ponto mais alto da Serra de São Mamede. Sendo uma vila medieval intramuros, com ruas estreitas e poucos lugares de estacionamento, recomenda-se deixar o carro no parque exterior, junto à entrada das muralhas.
De Lisboa, apanhar a A2 em direcção ao Sul e depois a A6 em direcção a Espanha. Sair para Estremoz, apanhar o IP2 em direcção a Portalegre e depois a N246 e N349 (a viagem demora cerca de 2h30). A Rede de Expressos tem um autocarro diário até Marvão, com saída da estação de Sete Rios: a viagem demora 4h20 e custa 16,60€ por trajecto.
Do Porto, seguir pela A1 para Sul, sair para a A23 em direcção a Torres Novas. Depois apanhar o IP2 em direcção a Portalegre e a N246 e N246-1 para Marvão. Também é possível chegar com a Rede de Expressos, mas exige mudança de autocarro e torna-se uma jornada longa, e cansativa, de mais de 10 horas.
Quando visitar
Com um Inverno rigoroso e um Verão escaldante, a melhor época para visitar Marvão é durante a Primavera ou o Outono. A vila acolhe, no entanto, alguns eventos que podem tornar a visita interessante no Verão. É o caso do Festival Internacional de Música de Marvão (música clássica), que normalmente ocorre em Julho, graças ao maestro alemão Christoph Poppen, que se apaixonou pela vila e se mudou para lá.
Em Novembro acontece a Festa do Castanheiro (inclui uma feira da castanha e uma quinzena gastronómica), um evento que os bons garfos adoram. Esta é a oportunidade para conhecer a vila e também os muitos produtos à base de castanha, um dos produtos maiores da terra: pão de castanha, bolachas de castanha, compota de castanha, bombom de castanha, toucinho do céu de castanha, beijinhos de castanha, mil folhas de castanha, cerveja de castanha…
Onde ficar
Nós não pernoitámos em Marvão, mas tendo em conta a localização e a avaliação do Booking, recomendamos o El-Rei Dom Manuel Hotel (3 estrelas) e a Pousada de Marvão (4 estrelas).
Onde comer
Nós almoçámos no restaurante Varanda do Alentejo porque, segundo opiniões confirmadas por vários habitantes, é um bom lugar para comer comida alentejana com uma vista fantástica. O Pedrinho comeu um arroz de poejo bem tradicional, com carne grelhada (menu infantil). Eu optei por umas sardinhas assadas com pimentos que, não sendo um prato típico do interior do Alentejo, estavam impecáveis.
Rematámos com uma maravilhosa sericaia, um dos doces alentejanos mais tentadores. Eles trouxeram a versão tradicional (servida com ameixa) e outra versão com castanha. Gostei mais da versão original, confesso. Paguei 21,30€ com pão, pratos principais, sobremesa e água local purificada. O restaurante tem vários menus a 13,90€ por pessoa.
Também nos recomendaram o restaurante da Casa do Povo, para comer uma refeição caseira a um preço razoável, e o Castelo – Café Lounge para refeições mais ligeiras, como sandes, saladas ou uma tábua de queijos, presunto e azeitonas.
Têm outras sugestões? Acrescentem nos comentários.
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23 Comentários
Estivemos lá no fim de semana passado no festival Al Mossassa e mercado de três culturas que invoca o fundador da vila ?
E que tal? As temperaturas deviam estar bem mais agradáveis do que no final de Agosto. Onde comeram?
Já lá tínhamos estado em tempo quente. E voltámos a apanhar um dia maravilhoso. Acabámos por comer pelas barraquinhas da feira. Mas gostei imenso da feira. Habituada às feiras medievais ver uma centrada na influência moura é diferente e muito apelativa.
Realmente, já ando um pouco farta de feiras medievais, tantas que são e tão frequentes. Recordar a influência árabe, parece-me uma lufada de ar fresco…
Marvão parece ser meu tipo de lugar! Aliás, Portugal inteiro… essa mistura de paisagens naturais, História e comida boa é irresistível.
Adoro estas pequenas cidades medievais cheias de história, fiquei bastante curiosa em conhecer Marvao, quem sabe aproveito as dica em uma futura viagem a Portugal.
Um lindo lugar onde já estive por várias vezes e sempre com imensa vontade de regressar.
Que paisagem hein? E não é longe de Lisboa! Já fiz um tour pelo interior de Portugal, mas infelizmente não passei por Marvão!
A região do Alto Alentejo é muito procurada pelas pessoas de Lisboa, precisamente porque não fica longe e proporciona uma experiência super tranquila, perfeita para quem quer fugir da confusão da cidade. Quem sabe, consegue incluir Marvão numa próxima visita a Portugal…
Antes permita-me elogiar: se começa o texto com citação de Saramago, fica difícil não exaltar. Excelente! Não conhecia sobre esta vila do Alentejo. Na realidade, sei, apenas, que Portugal esconde belezas em suas construções pequenas que valem a pena conhecer. Obrigado pelas dicas, estou reunindo informações de vilarejos em Portugal para uma road trip mais completa, e isto veio a calhar. Valeu!
Fico feliz por ajudar a inspirar o vosso roteiro em Portugal. Quando virão? Se precisar de alguma dica específica, pode dizer
Oi Ruthia, adorei seu texto sobre o Marvão, sabe que passaremos por perto no nosso roteiro por Portugal e animei de tentar encaixar uma visita. Achei as fotos belíssimas e gostaria muito de visitar o castelo. Obrigada por compartilhar! Bjs, Mari
Se conseguir incluir o Alto Alentejo não se vai arrepender. Há muita beleza fora da capital (que também é linda, claro). Acabei de publicar um roteiro mais completo pela região.
Beijinho
O castelo realmente é muito bonito, fiquei com muita vontade de conhecer Marvão
que demais deve ser dirigir por esta regiao! adorei aquela foto da estrada. marvão deve ser uma viagem no tempo!
Nossa que incrível este lugar! Nunca tinha ouvido falar de Marvão. Adorei as dicas! Obrigada por compartilhar
Linda demais esta vila, meu sonho conhecer estes lugares mágicos de Portugal. Adorei a dica, anotada para meu roteiro. Obrigada por compartilhar.
Já me apaixonei quando li “Terra de castanhas, azeite e cogumelos” ahaha que lugar fantástico, e ainda tem um Castelo (adoro castelos). Obrigada pelas dicas, quero conhecer!
cidade magnífica, castelo, deslumbrantes gostei de ver.
MARVÃO é um sítio único. É a “Terra de onde se vêem os Pássaros pelas costas”, o “Ninho de Águias”. Tenho o privilégio de a conhecer por dentro, em todas as épocas do ano, do nascer ao pôr do sol e de noite. O Festival de Música no castelo enche a alma. Outros tipos de eventos, a Festa da Castanha, as feiras medievais também não podem deixar de ser vividos e apreciados. Da minha janela, cá de baixo, junto ao rio Sever, no sitio da Portagem, a perspectiva é sentir MARVÃO, de outra forma, igualmente maravilhosa. Em noites de nevoeiro, iluminadas as muralhas, sugere uma nave vinda de outras galáxias. Na primavera, floridas as escarpas em tons violeta, amarelo, branco, torna-se real e igualmente linda. Tanto para dizer… mas o melhor é vir, ver e sentir.
O que é que Saramago tem a ver com Marvão? Nada mesmo, por favor nada de colagens, ok?
Não lhe agrada o facto de Saramago ter elogiado a vila? Que estranho!
[…] servida com a bela ameixa de Elvas, mas a última vez que comi este doce foi na simpática vila de Marvão, no Alto […]