Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Ponto de partida para quem deseja visitar a região mais alta do Alentejo, Portalegre espera-nos com tradições surpreendentes e um gosto medieval

Rodeada pelas belezas naturais do Alto Alentejo, onde se destaca a Serra de S. Mamede, e perto da fronteira com Espanha, a cidade de Portalegre rende um agradável dia de passeio. Sobretudo na Primavera e no Outono, já que as temperaturas no Verão são capazes de derrubar um mamute.

A cidade guarda lindos vestígios do passado medieval, quando assumiu uma posição militar estratégica. É o caso do castelo e vários conventos, que se descobrem entre o casario branco e amarelo e as ruas sinuosas.

Depois há todo um conjunto de casas brasonadas e palácios de inspiração barroca, que se estendem até à Sé Catedral, na parte mais alta da cidade. É o caso do Palácio Amarelo, com as suas singulares varandas de ferro forjado, o Palácio dos Falcões ou o elegante Palácio Achioli.

As tapeçarias e as boleimas  (porque é que Portugal tem doces tão bons?) deixaram memoráveis lembranças da nossa passagem por lá. O nosso conselho? Se vai passar uns dias ao Alto Alentejo, inclua Portalegre.

Capela do Calvário
Se vai de carro, estacione na subida para a Capela do Calvário

O que visitar em Portalegre

Primeira paragem: posto de turismo. Uma funcionária simpática deu-nos um mapa e muitas dicas. A mais valiosa terá porventura sido onde estacionar gratuitamente na capital de distrito menos povoada do país.

#Dica: estacione na subida para a Capela do Calvário. É onde os funcionários públicos deixam os automóveis durante o dia, porque praticamente todas as outras ruas do centro possuem apenas lugares de estacionamento pagos.

Se já tem um mapa, perca-se nas ruas calcetadas, descubra fragmentos das muralhas medievais, tome um café no Hotel José Régio e descubra os restantes pontos turísticos de Portalegre (clique nos links para mais informação sobre horários). Eis alguns locais interessantes:

Castelo de Portalegre

Resta pouco do castelo medieval fundado por D. Dinis no século XIII. Parte das muralhas escuras e três torres destacam-se no meio das casinhas brancas. A entrada é gratuita, mas também não há muito para ver, exceto alguma exposição temporária (paga).

castelo de Portalegre

Sé de Portalegre  

A entrada no templo renascentista (século XVI) é igualmente gratuita. A catedral possui um conjunto único de pintura maneirista. Saiba mais sobre horários de funcionamento e ofícios religiosos aqui.

Conventos

Após a extinção das ordens religiosas, a cidade deu novas funções aos antigos conventos e palácios. São exemplo disso o Convento de Santo Agostinho, o Convento de São Bernardo, o Convento jesuíta de São Sebastião ou o Convento de Santa Clara, onde instalaram a Biblioteca Municipal.

O mais bonito é o Convento de São Bernardo, hoje transformado em quartel da GNR. A guarda faz o que pode mas, claramente, não tem meios suficientes para manter o edifício, que precisa de uma intervenção. Ainda assim vale a pena ver os painéis de azulejos e o túmulo de D.  Jorge de Melo.

Dizem as más-línguas que o par amoroso esculpido sobre o jazigo, em mármore de Estremoz, é do próprio bispo e sua amada. Diz-se ainda que Filipe II de Espanha, depois de tomar posse do reino de Portugal, visitou Portalegre e, ao conhecer o sumptuoso túmulo, terá dito: “grande gaiola para um pássaro tão pequeno”.

Convento de S. Bernardo

Casa-Museu de José Régio

A casa onde o poeta viveu durante 33 anos foi transformada em museu, à semelhança do que aconteceu com a sua residência no norte do país [recorde A Velha Casa de José Régio]. O professor de francês era um colecionador apaixonado de arte sacra e popular, como se pode ver quer na sua casa-museu em Portalegre, quer na de Vila do Conde.

Em Portalegre, cidade / Do Alto Alentejo, cercada / De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros / Morei numa casa velha, / velha grande tosca e bela / À qual quis como se fora / Feita para eu Morar nela… (Toada de Portalegre, José Régio)

Café Alentejano

Apesar de não ser o mais frequentado por Régio durante as suas tertúlias, o Alentejano tornou-se uma atração turística por ter mudado muito pouco, desde que abriu portas no início do século XX com uma arquitetura modernista. David Mourão-Ferreira escreveu sobre os belos bifes que comia com o outro poeta neste museu vivo, repositório de memórias das gentes da terra.

café Alentejano

A linda tradição das tapeçarias

Já tinha ouvido falar das tapeçarias de Portalegre, sem compreender realmente o motivo da sua fama. Nesta visita à cidade alentejana, percebi a delicadeza e a arte que cada tapeçaria exige. Fiquei completamente rendida.

Cada uma delas é uma obra de arte, única, artesanal, que exige paciência e saber. A formação das tecedeiras é mais longa do que uma licenciatura e elas não podem utilizar as técnicas no exterior.

Cada peça é produzida na Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, a partir de um original feito por um artista plástico. Do desenho passa-se ao esquema e à escolha de cores, de uma paleta com mais de 7 mil tonalidades, antes de seguir para os teares manuais. O processo é complexo e pode prolongar-se durante meses.

Quem quiser conhecer melhor esta secular tradição alentejana deve visitar o Museu de Tapeçaria de Portalegre Guy Fino, instalado num antigo solar. Ali encontrará obras magníficas de alguns dos mais reputados artistas nacionais e estrangeiros, incluindo Almada Negreiros, Júlio Pomar ou António Cargaleiro.

Tapeçarias de Portalegre
Uma das tapeçarias que mais me impressionou.

Dicas úteis para visitar Portalegre

Onde ficar

Nós fizemos um passeio de um dia a partir de Castelo de Vide, não pernoitámos na cidade. Mas pelo que percebemos ao visitar Portalegre, recomendamos o Rossio Hotel ou o Hotel José Régio, unidades de 4 estrelas bem localizadas e com uma avaliação muito razoável no Booking.

Onde comer

Todos os roteiros que lemos elogiavam o Solar do Forcado e as suas especialidades – carne bovina, veado estufado e leitão assado com arroz de cogumelos selvagens. Mas quando estivemos na cidade, o bendito restaurante estava fechado para férias.

O desespero e a fome já eram claros quando encontrámos a Petisqueira Migas, na Avenida da Liberdade. Abençoada hora. Optámos pelo menu do dia, que inclui sopa (não comemos, estava demasiado calor), prato de carne ou peixe, sobremesa, bebida e café. Tudo pela simpática quantia de 8€. Eu tracei um prato de chocos fritos e o Pedro uma vitela estufada. Estava tudo óptimo.

Para um café, recomendo a Pastelaria José Régio, junto do hotel homónimo, pelo ambiente e pela boleima. Este doce tradicional de Portalegre tem uma versão com maçã que eu amei.

Petisqueira Migas

Como chegar

De Lisboa, apanhe o IP7, tome a direção 7 (Espanha/Évora) e a saída 7 (Portalegre, Estremoz). 777 não tem nada que enganar. Continue no IP2, tome a saída Estremoz/Espanha e siga até Portalegre. Do Porto, apanhe a A1 e depois a A23 em direção a Abrantes/Torres Novas. Continue pela A23 até à 15 (Portalegre/Nisa) e depois é só seguir em frente.

Do Sul do país, apanhe o IP1 até à saída 10 (Lisboa/Messines). Prossiga até à saída 7 (Espanha/Évora/Vendas Novas), apanhe o IP7 na direção 7 (Espanha/Évora), e depois apanhe a saída 7 (Portalegre/Estremoz). Tantos 7, novamente. Continue em frente até chegar a Portalegre.

Também é possível chegar de comboio, através do serviço regional (linha do Leste) que liga Entroncamento e Badajoz. É sempre necessário trocar de comboio, no Entroncamento, para apanhar esta linha. Para isso, consulte os horários da CP.