Atualizado em 25 Agosto, 2022

Pamukkale é um dos tesouros naturais da Turquia, a sudoeste do país. Para além das suas piscinas termais, vale (muito) a pena conhecer as ruínas da antiga cidade de Hierápolis.

Pamukkale, uma das maiores atrações turísticas da Turquia, fica longe de quase tudo: 600 km separam a pequena vila, na província de Denizli, de Istambul. Outro tanto a separam da Capadócia. E, no entanto, 2,6 milhões de visitantes visitaram as suas piscinas em 2019 (lembram-se quando a vida era normal?).

Pamukkale é o lugar mais visitado em toda a Turquia. Não é a Hagia Sophia, tampouco as antigas ruínas de Éfeso ou o museu ao ar livre de Göreme, na Capadócia. Os deslumbrantes travertinos são particularmente instagramáveis e isso traduz-se em visitas apressadas e superficiais.

As sessões fotográficas multiplicam-se, em cada recanto disponível, com indumentárias alugadas para o efeito. As asas de anjo parecem particularmente populares. Honestamente, quem acha que asas são necessárias para melhorar as fotos em Pamukkale? Somam-se as sessões “caseiras”, com meninas de vestidos garridos a posarem, em mil e uma posições, para os (im)pacientes namorados.

sessão de fotos em Pamukkale
Um anjo asiático…

Vamos tentar ignorar as multidões e destacar o que de melhor tem este Castelo de Algodão (pamuk = algodão, kale = castelo), fenómeno geológico que dá uma aparência surreal às montanhas. Ao longe, a encosta parece coberta de neve ou, como o nome sugere, do mais imaculado algodão, que desce em cascatas petrificadas, pelo vale do rio Menderes.

Os terraços de água azulada, em forma de meia lua, formam piscinas naturais pouco profundas. Pamukkale tem 17 fontes de água quente, que chegam à superfície com 35 a 100 graus, uma riqueza termal que os romanos já conheciam na sua época.

Nos anos 70, o local esteve em sério risco, devido ao turismo em massa. Felizmente, a sua classificação pela UNESCO como Património da Humanidade em 1988 trouxe algumas regras de proteção muito necessárias. É que Pamukkale estava a ser engolido por hotéis que, entretanto, foram demolidos.

Construiu-se uma série de piscinas artificiais de calcário, para esconder os danos causados, e todos os projetos turísticos passaram a ser sujeitos a controlos mais rigorosos. Pensando na preservação do local e dos depósitos, hoje é proibido andar calçado (mesmo de chinelos) nas piscinas.

#Dica: pés descalços significam que o caminho pode ser doloroso, devido ao chão irregular. Mas este é um pequeno sacrifício para manter este lugar mágico para as gerações futuras. Sugiro que leve uma pequena mochila para colocar os sapatos e manter as mãos livres, pois as piscinas são escorregadias.

Vamos, antes de tudo, perceber melhor como se formaram os travertinos, isto é, os terraços calcários de Pamukkale.

Pés descalços = pés doridos, for sure.

Os travertinos de Pamukkale

Provavelmente os meus leitores, tal como eu, não são geólogos. Mas, vou contar-vos um segredo – ninguém sabe realmente o que é um travertino antes de visitar Pamukkale. Aqui está uma definição:

Travertino (subs.): rocha sedimentar de pedra calcária, muito utilizada na construção, especialmente em Roma, desde o primeiro milénio a.C.

Educalingo

É interessante saber como se formou este cenário irreal, composto por florestas minerais, cascatas petrificadas e uma série de piscinas em terraços. De uma forma breve:

  • A Turquia situa-se numa área onde três placas tectónicas colidem. Pamukkale fica sobre uma linha de falha que gera terremotos frequentes.
  • Aberturas na terra (causadas pelos terremotos) permitem que as águas quentes, ricas em carbonato de cálcio, atinjam a superfície e criem fontes termais.
  • As fontes termais depositam cálcio sobre os terraços, à medida que a água arrefece e escorre pela encosta.
  • Com o tempo, a água seca e o cálcio petrifica, deixando o Castelo de Algodão com aquela cor branca perfeita.
  • Milhares de anos de depósitos de cálcio criaram as incríveis piscinas de travertino que hoje são um fenómeno turístico.
© Ministry of Culture and Tourism

O facto de existirem sismos frequentes significa que o local por onde passam as águas termais vai mudando, “matando” alguns terraços e causando o aparecimento de outros. Também importa dizer que Pamukkale é singular mas não único, havendo locais semelhantes em vários pontos do planeta, ainda que não tão grandiosos. É o caso de Egerszalók (Hungria), das fontes termais Mammoth (Yellowstone, EUA), Hierve el Água (México) ou Huanglong (província de Sichuan, na China).

Desvendados os segredos científicos de Pamukkale, resta desvendar outro enigma. Como fintar as multidões que visitam os travertinos? Não sei a resposta, embora possa afirmar que as piscinas mais afastadas são um pouco mais tranquilas. Acrescente-se ainda que há terraços cujo acesso é interdito, devido ao estado de preservação.

Hierápolis, a cidade da água e da fé

A extraordinária paisagem de Pamukkale é visitada há muitos séculos. A popularidade das águas termais motivou mesmo o nascimento da cidade helenística de Hierápolis, conhecida como “Cidade Sagrada”, devido às propriedades medicinais e rejuvenescedoras daquelas fontes.

Fundada pelos reis de Pérgamo no final do século II a.C., a estância termal de Hierápolis foi cedida a Roma em 133 a.C., floresceu nos séculos seguintes, foi destruída por um terremoto, depois reconstruída.

Após a conversão ao cristianismo do imperador Constantino e o estabelecimento de Constantinopla como a “nova Roma”, a cidade tornou-se bispado. Como local do martírio de São Filipe em 80 d.C., Hierápolis tornou-se um importante centro religioso para o Império Romano do Oriente.

Os vestígios do período greco-romano incluem banhos, ruínas de templos, um arco monumental, um Nymphaeum (santuário das ninfas), uma necrópole e um teatro. Ou seja, a classificação da UNESCO foi motivada pelo contexto natural fantástico, mas também pelo complexo sistema de canais para transportar a água termal, que se estende por 70 km, e pelo “notável conjunto arquitetónico” do cristianismo primitivo.

O monumento mais importante é o Martyrium, edifício octogonal no topo de uma enorme escadaria, construído no  século V no local do martírio de S. Filipe (fora da muralha noroeste da cidade).

Uma perspetiva do lindo teatro reconstruído de Hierápolis.

#Curiosidade: o santuário de Plutão foi construído sobre uma caverna, cuja entrada está hoje protegida por grades. Isto porque dali emanam vapores tóxicos (dióxido de carbono) que se acreditava serem enviados pelo deus do submundo. Os fiéis vinham fazer perguntas ao oráculo, pagando pelos sacrifícios.

Mas o edifício mais grandioso é mais antigo: o teatro poderá ter sido construído durante o reinado do imperador Adriano e tinha capacidade para 20 mil pessoas. Um projeto de reconstrução, liderado por uma universidade italiana, devolveu parte da sua velha glória e hoje o espaço acolhe eventos, como o Festival da Canção de Pamukkale.

Outra atração popular é a piscina sagrada ou piscina de Cleópatra. Não há provas que a rainha egípcia tenha usado estes banhos, mas a piscina é realmente da época romana. Lindas palmeiras rodeiam a piscina e, no fundo, vê-se fragmentos de colunas de mármore. Mas para tomar banho ali é necessário pagar um valor adicional (com acesso ao balneário, cacifos e secador do cabelo).

Também existe um pequeno museu arqueológico, com objetos recuperados de Hierápolis e cidades vizinhas, sendo a sala dos túmulos a mais interessante, na minha modesta opinião.

© Bernard Gagnon para wikimedia commons

#Dica: se tem interesse na história romana, pode visitar outras cidades na região, como Afrodisias  e Laodiceia (saída na estrada principal entre Pamukkale e Denizli), uma das sete igrejas do apocalipse citadas na Bíblia. Laodiceia é hoje um importante sítio arqueológico, objeto de muitos trabalhos de escavação e restauro.

Dicas úteis para visitar Pamukkale, na Turquia

Como chegar

A maioria dos visitantes não pernoita em Pamukkale, chegando em grandes autocarros de turismo desde Istambul, Capadócia e outras regiões. O habitual é as agências apanharem os turistas nos seus hotéis de madrugada e voltarem a trazê-los ao final do dia. Se for esta a sua opção, analise bem o itinerário. Algumas excursões incluem paragens em lojas e outros locais, onde a agência recebe comissão, limitando o tempo da visita em Pamukkale.

Se quiser visitar de forma independente, pode alugar carro ou apanhar um autocarro até à cidade de Denizli, a 19 km (existem autocarros noturnos desde Istambul, que demoram cerca de 10h). Em Denizli, deve apanhar uma carrinha ou táxi, que levará aproximadamente 15 minutos até Pamukkale.

Os aeroportos mais próximos são os de Denizli, a uma hora da cidade (li que há autocarros diretos até Pamukkale dali, mas não posso confirmar) e de Izmir ou Esmirna, em português, a pouco mais de 200 km.

Onde ficar em Pamukkale, Turquia

Existe alojamento quer na cidade próxima (Denizli), quer na vila de Pamukkale.  Nós ficámos no Lycus River Thermal Hotel, um cinco estrelas a cinco minutos de Pamukkale com estacionamento, piscina, ginásio, spa e também piscinas de água termal. Apesar de alguns problemas de manutenção, o hotel tem um restaurante com bastante variedade e, aquando da nossa visita, música ao vivo durante o jantar.

Quanto custa o bilhete?

O bilhete para visitar Pamukkale e Hierápolis, incluindo os museus arqueológicos, custa 200 Liras turcas (quase 12€, no verão de 2022) e pode ser adquirido na entrada do complexo. Recomendo a consulta dos preços atualizados no site oficial, antes da sua visita.

Além disso, terá que pagar o estacionamento, se chegar de carro e estacionar nas entradas Norte ou Sul. Não é possível reservar bilhete e este é válido para um dia, mas não permite sair e voltar a entrar (não se esqueça da máquina fotográfica no hotel).

Detalhe do museu arqueológico de Hierápolis.

Melhor altura para visitar Pamukkale e Hierapólis

Com Pamukkale a debater-se com excesso de turistas, vai querer evitar as horas de maior afluência. Li muitas recomendações para chegar bem cedo, assim que as piscinas abrem, e, de facto, é um bom truque para fugir das multidões que começam a descer para as piscinas por volta das 9h30, com picos a meio da manhã e início da tarde.

No entanto, é preciso sol para obter as cores pelas quais as piscinas termais são famosas. E como o sol nasce por trás de Pamukkale, a luz do sol atinge as piscinas já a manhã vai avançada. O melhor horário para fotografar os travertinos é ao pôr-do-sol, quando cores absolutamente incríveis se refletem nas piscinas. A parte boa é que, a essa hora, a maioria dos autocarros já partiu.

Existem três portas de entrada, com horário entre as 6h30 e as 20h00, mas suspeito que não abrem sempre à mesma hora. Se estiver alojado na vila, o melhor acesso é o inferior, onde as piscinas são mais tranquilas. Se optar pela entrada mais comum, no topo, caminhe até às piscinas mais afastadas, para ter alguma (nunca absoluta) tranquilidade.