Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Istambul, outrora Bizâncio, depois Constantinopla, é uma cidade única. Ponte entre oriente e ocidente, a cidade turca está tão viva e repleta de felinos como durante o Império Otomano. Vamos conhecê-la?

Istambul, a cosmopolita, misteriosa e gigante capital económico-cultural da Turquia, é a mais comum porta de entrada no país, com voos diretos para cidades de todo o mundo. A trepidação desta metrópole que supera os 15 milhões de pessoas sente-se ainda no caminho do aeroporto internacional até o centro histórico classificado pela UNESCO.

O mar emoldura a cidade: a arborizada orla do Mar de Marmara está cheia de gente, que aproveita a brisa do final do dia. Mais contemporânea do que esperava, Istambul sofre com o trânsito, a paisagem é iluminada por fulgurantes letreiros luminosos. A fachada de um edifício inteiro é dedicada a Stranger Things, série que conquistou a Netflix e o pequeno explorador.

Facilmente assumida como capital, estatuto que perdeu para Ankara, Istambul é uma cidade de contrastes, construída sobre colinas, tal como Lisboa. Servirá de aperitivo para o país enorme que me espera, num roteiro que passará por Troia, Izmir, Pamukkale, Éfeso e a pitoresca Capadócia.

Quando o chamado dos muezins invade as ruas, anunciando a última oração do dia, o Ocidente esvai-se. Definitivamente rendida a Istambul, faço logo planos para voltar, impressão que confirmo na curta estadia: menos de dois dias é insuficiente para explorar a maior cidade da Turquia.

Seja ou não a primeira viagem a Istambul, acredito que encontrará neste artigo informação útil para a sua aventura (clique nos links para informação sobre preços e horários). A pesquisa adicional que fiz, já a pensar numa próxima visita, permite ficar na cidade mais dias para desvendar os segredos desta cidade partilhada por locais, turistas e muitos gatos.

Uma cidade entre continentes

Istambul é a única cidade do mundo localizada em dois continentes. A divisão faz-se pelo estreito de Bósforo: grande parte da população mora no lado asiático, mas trabalha no europeu. É também um destino barato, quando comparado com cidades como Londres, Paris ou as capitais nórdicas.

Há cidades que nos seduzem com imponentes construções humanas, outras arrebatam-nos pela paisagem; outras ainda pelo carácter histórico. Istambul, capital de três impérios, consegue somar todos esses trunfos.

o estreito de Bósforo corta Istambul a meio
O estreito de Bósforo divide o lado asiático do europeu em Istambul.

Com minaretes e cúpulas a cortarem o horizonte, há muito para agradar aos apreciadores de arquitetura, sem esquecer a herança de muitos povos que tiveram Istambul como referência e que se sente em cada recanto. Tudo isso sob uma luz única, que empresta às cores uma exuberância desconcertante.

Soma-se a bela confluência do Mar de Marmara e o Chifre de Ouro, em particular a faixa azul do Bósforo, canal que corta a cidade, domado pelo herói grego Jasão, juntamente com os mitológicos argonautas, na sua jornada em busca de um talismã conhecido como “Velocino de Ouro”.

Quando era Constantinopla, os gregos resumiram a sua majestade chamando-lhe “a Cidade” (hē Polis): da corruptela do termo “ir à cidade” (stimˈboli) deriva o nome Istambul.

O que incluir num roteiro em Istambul

Embora esta seja uma cidade grande, espalhada por dois continentes, várias atrações concentram-se no bairro histórico de Sultanahmet, a parte mais antiga de Istambul e coração da antiga Constantinopla. Pelo que será oportuno encontrar alojamento ali perto.

Neste bairro histórico encontra vários must-sees de Istambul, que permitem compreender a evolução desta cidade historicamente significativa, com destaque para o trio Hagia Sophia, Mesquita Azul e Palácio de Topkapi. À distância de um curto passeio a pé encontra ainda a Cisterna de Yerebatab, o famoso Grande Bazar e o Bazar das especiarias.

#dica: os bilhetes para visitar o Palácio de Topkapi não são baratos. Existe, no entanto um preço especial para estudantes, desde que apresentem o cartão de aluno. O meu filho não levou o seu e, mesmo argumentando que não podia ser outra coisa senão estudante na idade dele, teve que pagar o valor completo de adulto (420₺ no verão de 2022, cerca de 23€).

Numa primeira visita a Istambul, sugiro ainda ir até à estação ferroviária de Sirkeci, ponto final do lendário Orient Express que sintetiza o encontro entre Oriente e Ocidente e onde decorre um dos misteriosos crimes de Agatha Christie.

Vale ainda a pena explorar o Bairro Judaico (Balat), um dos mais antigos de Istambul, com belas casas de madeira, centenárias e coloridas. Excelente dica para fugir do reboliço da metrópole e beber um café forte, encontrará ali sinagogas, igrejas e mesquitas, numa incrível fusão cultural entre judeus, cristãos e muçulmanos.

Se “em Roma, sê romano”, porque não experimentar um hammam, após vários dias cansativos de caminhada? Uma das tradições de limpeza mais antigas do mundo, este banho de vapor purifica corpo, seguindo-se uma massagem de sultão que lava a alma também. Existem vários hammams disponíveis na cidade, com preços e níveis de requinte variados.

Hagia Sophia e cisterna da basílica

Na praça de Sultanahmet, o antigo hipódromo dos romanos onde ainda se ergue a colunata serpentina e um obelisco egípcio, Hagia Sofia e Mesquita do Sultão Ahmet, vulgo Mesquita Azul, enfrentam-se, disputando a nossa atenção.

Hagia Sophia (ou santa sabedoria) está entre as maiores obras arquitetónicas do mundo: a cúpula gigante desafia as leis da física. Construída no século VI pelo Império Bizantino, para ser a catedral cristã de Constantinopla, foi a maior do mundo durante vários séculos.

Transformada em mesquita pelos otomanos, depois secularizada e transformada em museu, voltou a ter o estatuto de mesquita em 2020, uma decisão do presidente Erdogan que causou alguma controvérsia internacional. Apesar disso, o portentoso edifício mantém algumas características do projeto original, incluindo mosaicos com as imagens de Jesus ou da Virgem Maria.

Ao lado, vale a pena conhecer a Cisterna de Yerebatab ou Cisterna da basílica, a maior das dezenas ou centenas construídas em Istambul durante a época bizantina, para abastecer a cidade e os grandes palácios vizinhos. Mais do que o tamanho, a sua imponência decorre das suas 336 colunas, retiradas de templos romanos. Infelizmente, estava fechada para restauro no verão de 2022.

Mesquita Azul

Voltamos à praça para apreciar a Mesquita Azul, obra prima da arquitetura islâmica, cujo nome se deve a mais de 20 mil azulejos azuis vindos de İznik, que cobrem o interior, iluminados por grandes lustres e vitrais. A secular mesquita tem seis minaretes, cinco cúpulas principais e oito secundárias. Espreite este vídeo com vista aérea do magnífico edifício.

Aquando da construção, causou polémica pois a única mesquita com seis minaretes era a Grande Mesquita de Meca (Al Mesjed Al Hram). Num inteligente ato de diplomacia, o governo turco ofereceu um sétimo minarete a Meca, resolvendo assim a questão.

Neste momento, a mesquita está a ser alvo de um profundo restauro, pelo que não se consegue ver os azulejos que lhe dão tanta fama.

#dica: atenção ao período das orações, altura em que a mesquita fecha para fins turísticos. Consulte os horários das orações aqui. Não se esqueça também de se vestir adequadamente, sem pernas e ombros à mostra. As mulheres têm que cobrir a cabeça: leve um lenço na mochila para esse fim, se não quiser um dos emprestados pela mesquita.

Mil e Uma Noites no Palácio Topkapi

Outro local imprescindível num roteiro em Istambul é o Palácio Topkapi, cenário que nos transporta para as Mil e Uma Noites, graças a milhares de detalhes, luxos e delicadezas. Residência dos sultões otomanos durante 400 anos, hoje funciona como museu. Nos seus 700 mil metros quadrados, o Palácio conta com quatro pátios e diversos ambientes: sala de armas, cozinha, estábulos reais, tesouro e muito mais.

Se não tiver muito tempo para explorar o complexo – o ideal seria uma manhã ou tarde inteira – sugiro concentrar-se no tesouro imperial, harém e terceiro pátio, também conhecido como palácio interior. Caso tenha tempo para explorar tudo com calma, recomendo, ainda assim, visitar primeiro o harém e o tesouro, porque o tempo de espera é maior nestes locais.

Supervisionado pela rainha-mãe, o harém abrigava os aposentos do sultão, a sua família e um centenas mulheres minuciosamente selecionadas e treinadas. O Tesouro conta com alguns dos objetos mais valiosos do mundo, como o diamante de 88 quilates que pertenceu a Leticia Ramolino (mãe de Napoleão) ou o punhal Topkapi, em ouro e com esmeraldas incrustadas.

Um dos locais mais significativos, onde as mulheres terão que cobrir a cabeça, é a câmara privada com as suas relíquias sagradas, que incluem objetos do profeta Maomé, espadas dos primeiros quatro califas, o cajado de Moisés e o turbante de José, entre outras peças importantes.

Museus de Istambul, outros palácios e mesquitas

Istambul possui ainda vários palácios, mesquitas e espaços museológicos que merecem uma visita, nomeadamente os Museus Arqueológicos – complexo que alberga o Museu Arqueológico, o Museu de Antiguidades Orientais e o Museu do Quiosque Esmaltado – ao lado do Palácio Topkapi.

#dica: se a porta principal do palácio tiver uma fila muito grande para passar na segurança, experimente a porta lateral, junto à entrada dos museus arqueológicos.

O Museum Pass de Istambul dá acesso a 13 desses museus e palácios, ao longo de cinco dias, nomeadamente: o Palácio Topkapi, a Torre Gálata, os museus arqueológicos, o Museu de Ciência e Tecnologia islâmica e Museu de Arte Turca e Islâmica (que funciona no Palácio Ibrahim Pasha). Se estiver vários dias na cidade, poderá valer a pena comprar o passe.

Se tiver tempo disponível, inclua no roteiro o Palácio de Dolmabahçe, do século XIX (sem acesso com o passe dos museus): nada mais, nada menos, que o maior edifício da Turquia e um dos principais centros do império otomano. Não é só o tamanho e os números – 285 quartos, 43 salões e mais de 60 casas de banho – mas a opulência das coberturas a folhas de ouro, cristais e mármore.

Refira-se ainda a impressionante Mesquita Suleymaniye (Solimão, o Magnífico), a poucos minutos do Grande Bazar, linda e com muitos menos turistas que a Mesquita Azul.

Compras e cruzeiro no Bósforo

O Grande Bazar (Kapalı Çarşı) é outro clássico de para visitar em Istambul. Construído no século XV, li algures que se trata do maior mercado coberto do mundo, com quatro mil lojas, 20 mil funcionários e 300 a 500 mil visitantes POR DIA!

O bazar costumava ser ponto de encontro de pessoas de todo o mundo, que ali vendiam os seus produtos, de porcelana chinesa ao chá inglês. Hoje, encontra-se sobretudo artesanato, roupa e (muitas) joias. Sendo um lugar turístico, ainda que tradicional, os preços são inflacionados. Não será o lugar mais barato para comprar lembrancinhas de Istambul, mas é sempre uma experiência regatear à boa maneira árabe.

Não muito longe (bairro Eminönü), nas margens do Corno de Ouro, encontra também o Bazar de Especiarias (Baharatçılar Çarşısı) ou Bazar Egípcio, mais pequeno, com todo o tipo de temperos, condimentos e doces turcos.

É também nesse bairro, junto à ponte de Gálata, que pode apanhar um barco, para apreciar o Bósforo e a cidade de outra perspetiva. Os cruzeiros ou simples ferries são uma ótima oportunidade para fotografar as gaivotas, que adoram os simit (espécie de bagels turcos) que habitantes e turistas levam para partilhar com elas.

Danças turcas em Istambul

Um espetáculo de música ou dança permite sempre um mergulho na cultura local. Em Istambul, existem vários tipos de espetáculos disponíveis, sendo o dos dervixes rodopiantes um dos mais populares, ainda que originário de outra região (Konya). Os dervixes são seguidores da ordem Mevlani Sufi, um islamismo sufista que defende a poesia, música e dança como vias para se chegar à divindade.

Apesar de todos as ordens de dervixes terem sido extintas com a fundação da república turca, esta foi autorizada a funcionar enquanto organização cultural. As suas cerimónias dançantes, chamadas Sema, tornaram-se assim uma atração turística, disponíveis em vários pontos de Istambul. O seu rodopio é, na verdade, uma forma de oração, que pretende espalhar amor pela Humanidade.

Um dos locais mais tradicionais para assistir ao espetáculo dos dervixes rodopiantes é o Hodjapasha Art & Culture Center que, refira-se, não permite captar imagens (recomenda-se a reserva antecipada). Uma alternativa poderá ser no Cemberlitas Press Museum (Basin Müzesi), perto do grande bazar, ou na Casa Ismail Dede Efendi, perto da praça de Sultanahmet.

Para outras informações práticas sobre a Turquia e, por extensão, para visitar Istambul leia Visitar a Turquia, guia e dicas de viagem. Por fim, deixo alguns links que vão facilitar-lhe a vida em Istambul: