Atualizado em 25 Janeiro, 2023

Considerado um dos 21 castelos mais bonitos do mundo pela CNN (2019), o castelo de Vianden merece uma jornada ao norte do Luxemburgo. Vamos desbravar a fronteira do Grão-Ducado?

Tido como o mais famoso e impressionante de todos os castelos luxemburgueses, o Castelo de Vianden é paragem obrigatória em qualquer roteiro pelo Grã-Ducado, para além de uma das maiores e mais belas residências feudais do país. Fomos conhecê-lo, numa day trip com saída da capital do Luxemburgo.

Construído entre os séculos XI e XIV, sobre as fundações de uma fortaleza romana e um refúgio carolíngio, o Castelo de Vianden pertenceu, durante vários séculos, à família Grão-Ducal, passando para propriedade do Estado em 1977. Foi então restaurado, tornando-se “um dos principais monumentos históricos da Europa”, diz o turismo local.

Mais argumentos, ainda que escassos, se somam para viajar até Vianden (em luxemburguês, Veianen ou Veinen), simultaneamente vila, comuna – o equivalente ao nosso município – e capital de um Cantão homónimo, situada no distrito de Diekirch e na região de turística de Eislek, no nordeste do único Grão-Ducado do mundo.

Rodeada pelo rio Our, próxima da fronteira com a Alemanha e a meros 50 km da Bélgica (Dinant a menos de 2 horas de carro), a vila com pouco mais de dois mil habitantes é um dos destinos mais turísticos no Luxemburgo. Por outras palavras, basicamente é uma vilazinha com um castelo, mas que não deve menosprezar, porque a pequena e fofa Vianden tem um ambiente medieval encantador.

rio Our, em Vianden

Vianden na história

As origens de Vianden remontam ao império romano [leia Império romano: vestígios em Portugal], com o castelo local a ser construído sobre as ruínas de um castro tardo-romano dos séculos IV-V, altura em qua a vila era conhecida como a vinícola Viennensis.

A partir da Idade Média, a sua história confunde-se com a dos influentes condes de Vianden e fundadores do castelo: Henrique I de Vianden (1220-1250), “o Conde do Sol”, que levou a Casa de Vianden ao seu apogeu, e a esposa Margarete de Courtenay, prima do rei francês Filipe-Augusto, filha do imperador de Constantinopla e cunhada do rei da Hungria.

No século XV, o domínio passou para a alemã Casa de Nassau (com ligações a várias famílias reais europeias) que, pouco depois, herdou também o principado de Orange. A vila feudal foi crescendo aos pés da fortaleza, protegida por muralhas sólidas e mais de vinte torres de vigia, tornando-se a terceira maior cidade do Luxemburgo e um famoso centro de artesanato, com profissionais vindos de vários pontos do país (e até do estrangeiro): alfaiates, curtidores, ourives, pedreiros, serralheiros, tanoeiros e tecelões.

Entretanto os descendentes mudaram-se para os Países Baixos, após o Condado ser abolido pelas tropas francesas (1794) e muitas aldeias passarem para o domínio do reino da Prússia (1815), vendendo o monumento a um comerciante em 1820, que o deixou em ruínas. Vendido peça por peça, os escombros acabaram em posse do Estado nos anos setenta do século XX, que o recuperou e classificou como monumento de interesse europeu.

paisagem em Vianden
© Schloss Vianden

Apesar de não regressar à glória de outrora, depois de uma II Guerra Mundial particularmente difícil – foi o último local do Luxemburgo a ser libertado pelos Aliados, em fevereiro de 1945 e, mesmo depois da guerra acabar, continuou sob ataque – a pequena Vianden continua bela na sua simplicidade de vila pequena, com um castelo imponente alcandorado nas encostas e um perfume francês, emprestado pelo autor de Corcunda de Notre-Dame e outros clássicos.

Castelo de Vianden

Uma forma fácil de alcançar o castelo medieval é através do teleférico, gratuito para os portadores do LuxembourgCard. Só que este não funciona entre meados de outubro e o início da primavera, restando-nos subir a pé a íngreme ladeira –  cerca de um quilómetro de casas típicas, cafés e igrejinhas de torres-cebola.

Curva e contracurva, até que o castelo se apresenta perante os nossos olhos incrédulos. Depois de comprar a entrada (não é necessário reservar previamente) e munidos de um panfleto informativo, fazemos uma pausa no café-restaurante, para descongelarmos, antes de nos aventurarmos num dos muitos castelos do Luxemburgo.

O castelo-museu apresenta algumas salas decoradas, ainda que despretensiosas em comparação a outros castelos europeus; maquetes que evocam a sua destruição e reconstrução depois de guerras, incêndios, terremoto, entre outros eventos; objetos e móveis da época medieval.

interior do castelo de Vianden

Os principais espaços que ainda hoje se conservam, nomeadamente a capela, os pequenos e grandes palácios, datam de finais do século XII e primeira metade do século XIII. Mas é importante ver tudo, desde as fundações originais, salão principal, quartos, cozinha, capela, adega…

Sem esquecer a vista fabulosa e uma árvore genealógica que prova que os Condes de Vianden eram parentes das atuais famílias reais inglesa e holandesa.  O passeio deverá demorar cerca de 2 horas, o que significa que sobrará tempo para conhecer um pouco mais de Vianden.

#Dica: em estadias mais prolongadas no Grão-Ducado, poderá ser interessante fazer coincidir a visita ao castelo de Vianden com um dos eventos culturais que o espaço recebe regularmente, como concertos, workshops ou exposições (em maio de 2023, recebe um concurso de cartoons e caricaturas). Algumas salas do castelo podem mesmo ser alugadas para jantares corporativos e outros eventos.

Horário: todos os dias 10h00-16h00 | Bilhetes: 10€/adulto, 2.5€/crianças dos 6 aos 12 anos e 5€/estudantes dos 13 aos 25 anos. Preços especiais para grupos e gratuitidade para os portadores do LuxembourgCard e 2€ por áudio-guia, disponível em várias línguas | Site oficial do castelo de Vianden

*preços em vigor em janeiro de 2023

capela do castelo

Victor Hugo, o ilustre visitante

Depois do castelo, impõe-se uma visita, ainda que breve, à Casa Victor Hugo – Museu Literário, o edifício onde o célebre dramaturgo francês viveu, durante a sua fugaz estadia no Luxemburgo como refugiado político (1862-1865). O escritor morou neste edifício durante dois meses e meio, entre junho e agosto de 1871, depois de ter visitado Vianden várias vezes e de se ter apaixonado pelas ruínas do castelo.

Como o hotel Koch, o único da vila e que hoje se chama Hôtel-Restaurant Victor Hugo, não tinha espaço para a toda a família, o dramaturgo bateu à porta da casa em frente e alugou um quarto. Posteriormente, criou-se ali o primeiro museu literário do país, em homenagem ao ilustre visitante.

Apesar da curta estadia, parece que o francês granjeou o carinho da população, depois de coordenar a vila no combate a um grande incêndio, na ausência do presidente da Câmara. A ponto de os habitantes esconderem a sua mobília e pertences num lugar seguro, durante as guerras.

busto de Victor Hugo na ponte de Vianden

A visita começa ainda na rua, junto da Ourbrücke, a ponte de pedra sobre o rio, onde permanece uma cópia fiel do busto de Victor Hugo criado em 1883 pelo célebre Rodin. A escultura em bronze original sobreviveu ao ataque das tropas nazis em setembro de 1944, que destruiu a ponte, a casa-museu e muitas outras estruturas e, entretanto, foi enviada para um museu.

A Casa Victor Hugo – Museu Literário (Victor Hugo Haus – Literaturmusée, Maison Victor Hugo – Musée littéraire ou Victor Hugo Haus – Literatur Museum, em luxemburguês, francês e alemão, respetivamente) inclui sete salas, distribuídas por quatro pisos, dedicadas à vida e obra do escritor, abordando com especial interesse a sua relação com o Grão-Ducado, as suas ideologias políticas e os géneros literários em que se destacou.

Entre muitos documentos originais e 70 painéis informativos, destaca-se uma cópia do guia de viagem ilustrado que Victor Hugo utilizou durante as suas deambulações pelo Luxemburgo; uma mecha de cabelo doada pela sua secretária-amante e uma edição original do romance Les Miserables.

No primeiro piso, o quarto do escritor mantém o mobiliário original em nogueira, produzido por um marceneiro local: uma “cama de trenó” (sobre a qual se veem jornais locais com notícias sobre o autor), mesinha de cabeceira, roupeiro, secretária e cadeira. A janela, com belas vistas para o rio e bem-amado castelo, serviu de inspiração a dezenas de ilustrações de Victor Hugo que, para além de um talentoso escritor, também era bom desenhador.

Casa-Museu Victor Jugo

Em 2002, por altura do bicentenário do nascimento de Victor Hugo, o museu foi renovado, acrescentando-se ao acervo obras do luxemburguês Pit Wagner, com o intuito de ilustrar, de forma divertida, alguns episódios dos diários de viagem e cartas do escritor. É o caso da ilustração sobre um encontro do francês com uma “grosse araignée” ou um vislumbre do pároco local, que sempre se fazia acompanhar pelo seu ganso de estimação.

[…] ici [à Vianden] il n’y a pas de photographes. C’est un pays magnifique et sauvage où la chambre noire, le chlorure d’or et le nitrate d’argent sont inconnus. Le soleil, dans ce vallon un peu farouche, fait des fleurs et des fruits, et ne copie pas les hommes.

Extrato de uma carta enviada em 1871 ao crítico literário Jules Janin

#Dica: sugerimos que visite o castelo primeiro porque abre mais cedo, recebe um maior fluxo de turistas durante a tarde, e a sua história ajuda a compreender o fascínio do autor francês.

#Dica 1: o audioguia, disponível em inglês, francês, alemão, neerlandês e chinês, pode ser muito útil à visita, pois as placas informativas estão todas em francês. Eu usei a versão de audioguia para telemóvel, mas a internet da casa-museu falhou nos andares superiores.

Horário: terça a domingo,  das 11h00 às 17h00 (de início de novembro a meados de abril) ou das 12h00 às 18h00 (de meados de abril a fim de outubro) | Bilhetes: 5€ (adultos), grátis para menores de 25 anos e portadores do LuxembourgCard. | Site oficial da Casa Victor Hugo – Museu Literário

Outros passeios em Vianden

Depois do castelo e da Casa Victor Hugo, pouco resta para fazer ou visitar na vila, especialmente no Inverno. Por exemplo, o Museu da Vila de Vianden propõe-se explicar como era a vida local, através de uma série de exposições temáticas, uma delas dedicada a Edmond de la Fontaine (ou Dicks), o poeta nacional e autor do primeiro guia de viagem de Vianden. Só que, entre o dia 1 de novembro e a Páscoa, o museu está fechado ao público.

Entre o castelo e a estação de autocarros, desfia-se a meia dúzia restante de pontos pitorescos, da igreja dos Trinitários (século XIII, com alterações posteriores que lhe deram um estilo gótico e fechada no dia que estivemos em Vianden) ao memorial de guerra, uma estátua feminina que recorda a libertação tardia na II Guerra Mundial; a pequena capela da Sodalidade erigida por um pedreiro tirolês no século XVIII ou o edifício da Câmara Municipal (Stadthaus).  

Resta a singela ponte Our, sobre o rio homónimo, um sítio incrível para admirar o Castelo de Vianden, enfeitada pela escultura de São João Nepomuceno e pelo busto já mencionado do nosso escritor e viajante.

No verão, os passeios são um pouco mais simpáticos. Para além do museu e do teleférico estarem a funcionar, é possível fazer vários trilhos na região ou passear nas margens do Our, que deve ser tão cénico, mas muito mais acolhedor, quando os termómetros apontarem temperaturas positivas e a vegetação se revelar em cores alegres.

Para além disso, aos domingos e feriados, entre meados de abril e final de outubro, realizam-se visitas guiadas a antigas minas de cobre, a cerca de 1.5 km da cidade. Para mais informações, consulte o site oficial de turismo de Vianden.

Dicas úteis para visitar Vianden

Como chegar

Tal como a maioria dos turistas que visita Vianden, fizemos numa day trip desde a capital. Para chegar à pequena cidade de transportes públicos, primeiro apanhámos um comboio na Gare de Luxembourg com destino a Troisvierges, saindo na estação de Ettelbruck. Naquele dia havia comboios a sair a cada 40 minutos, mais ou menos, mas deve pesquisar os horários no site da CFL.

Seguiu-se um autocarro até Vianden, a paragem do autocarro fica mesmo em frente à saída da estação de comboio, não há que enganar. Li em vários sítios que devia apanhar o autocarro nº 570 em direção a Obereisenbach, Bei der Baach, mas, na verdade, apanhei o nº 180 cuja última paragem é precisamente Vianden, outra opção será o autocarro nº 181. Todo o percurso desde a capital durou pouco mais de uma hora e foi gratuito (transportes públicos gratuitos é muito primeiro mundo).

Quando visitar

Como perceberam mo artigo, é mais agradável e existem mais opções de programas a partir da primavera. No verão, o castelo recebe um festival medieval que inclui demonstrações de batalhas e caligrafia, músicos, malabaristas, menestréis e muito mais. Para além disso, essa não é uma estação muito quente em Vianden. Julho é o mês mais quente do ano, com temperaturas médias entre 13°C (mínima) e 22°C (máxima).

Por outro lado, diz-se que é no outono, depois dos turistas deixarem a cidade, que os habitantes celebram as suas tradições e costumes folclóricos: a feira das nozes (Nessmoort) no início de outubro, o fogo de São Martinho, o carnaval e uma Sexta-Feira Santa especial chamada “Jaudes”. Pus-me a imaginar os locais a espreitarem o último grupo de visitantes a partir, para saírem para a rua e festejar, haha.

De qualquer forma, parece-me que há sempre turistas em Vianden. Nós estivemos lá em dezembro e vimos grupos de espanhóis e italianos, apesar das temperaturas: o mês mais frio devia ser janeiro, com máximas de 4°C, mas apanhámos -5°C ao longo de todo o dia (brrr)!

Alojamento em Vianden

Ainda que a maioria dos turistas não pernoite em Vianden, existem algumas opções de alojamento na vila, desde o Hôtel-Restaurant Victor Hugo (***) já mencionado ao Youth Hostel, um pouco mais económico e apenas com quartos coletivos.

Igualmente perto do centro e com boa avaliação no Booking, o Hotel Heintz e o Auberge Aal Veinen, ambos de três estrelas, podem ser opções a considerar. Existem também chalés e casas de férias disponíveis – quem não dispensa um pouco de conforto, deve espreitar os Chalets Petry Spa & Relax (*****) a 2,6km da vila.

Comer em Vianden

Existem mais opções para comer que de alojamento, já que quase todos os hotéis têm um restaurante aberto ao público, a somar a vários cafés e restaurantes independentes. Nós almoçámos na Brasserie des Arts, na rua principal e perto da ponte, pagando pouco mais de 30€ por uma omelete e uma massa à bolonhesa (com água, sem café ou sobremesa). O espaço oferece ainda pizzas, crepes, sanduíches e gelados.

Na cafetaria do castelo também servem algumas refeições rápidas e sopa, o que seria de considerar, se não tivéssemos terminado a visita muito antes da fome chegar.