Atualizado em 12 Abril, 2021
A “estrada dos amantes” (情侣路) conduz-me até uma gigante mulher de granito, os braços levantados para o céu numa oferenda. A pérola que a mulher-pescadora oferece ao povo de Zhuhai (珠海), diz-se, traz luz ao mundo.
O turismo local afirma que esta estátua de dez toneladas é o símbolo da cidade. Na verdade, foi construída apenas em 1982, inspirada numa linda e rebuscada lenda local. Vamos lá tentar uma versão resumida!
Em tempos idos uma fada, atraída pela bela baía de Zhuhai, disfarçou-se de pescadora e passou a viver entre os homens, mergulhando em busca de pérolas para se sustentar. Os locais apreciavam a menina pela sua ingenuidade, beleza e bondade. Em breve, ela ficou noiva de um honesto pescador, de seu nome Haipeng. Dando ouvidos a comentários maldosos, Haipeng pediu à fada que lhe oferecesse as suas pulseiras como prova de amor.
Como filha do rei dragão do mar do sul, as oito pulseiras simbolizavam a sua imortalidade e, ainda assim, ela retirou uma pulseira, morrendo imediatamente nos braços do seu amado.
Diz-se que o arrependimento do noivo comoveu uma velha sábia, que lhe ensinou que ervas poderiam trazer a menina de volta à vida. O pescador encontrou a erva da ressurreição na ilha de Jiu Zhou e alimentou-a durante anos com lágrimas de sangue. Bem, a história tem um final feliz. A fada voltou a viver, agora como uma mortal e, no dia do casamento, ofereceu a mais bela e brilhante pérola alguma vez vista à venerável senhora que lhe salvou a vida…
Acho delicioso que tenham ressuscitado esta lenda em pleno século XX. Mas o grupo de estudantes espanhóis que me acompanha retira muito encanto à fada-pescadora, dizendo que tem uma pose de Shakira!
Bem, esta pérola está também associada ao próprio nome da cidade onde fiquei nas últimas semanas. Zhuhai significa mar de pérolas porque é aqui no sul da China, mais precisamente na província de Guandong (广东, Guăndōng) que o rio das Pérolas desagua no mar. É uma pequena metrópole, para os padrões chineses, com cerca de um milhão de habitantes, muitos espaços verdes como o Parque de Haibin e uma longa costa que inclui 146 pequenas ilhas (por isso é também conhecida como a “cidade das cem ilhas”).
Se até aqui era um pequeno segredo no sul do país, Zhuhai começa agora a ser muito visitada pelos chineses que gostam de praia, apesar do calor húmido, sub-tropical, e dos tufões. A minha visita coincidiu com a época dos tufões, mas a única tempestade a que assisti não foi particularmente assustadora. Aliás, algumas gotas de chuva são uma bênção por aqui.
Depois da chuvada, o calor volta e, em poucos minutos, estamos novamente transpirados e malcheirosos. Pelo menos estamos todos…
16 Comentários
A julgar pela foto, os espanhóis não deixam de ter alguma razão… Belas imagens!
Estou aqui "ruminando" a lenda, por comparação a umas tantas outras, de várias culturas, que têm, por assim dizer, o mesmo Leitmotiv.
Os amigos espanhóis tinham a sua razão, claro. O problema é que depois daquela imagem entrar na cabeça, já não sai. Sim, a lenda tem qualquer coisa de universal.
Beijinhos
Conhecendo a China e suas histórias!
Eu sentiria pavor em estar num local onde há tufões, e vulcões, e terremotos e afins… medrosa demais com a revolta da natureza!
As fotos estão belas, como sempre, e essa história… O amor, sempre o amor que dá um jeito de se eternizar. Graças a Deus o amor move o mundo e deixa rastro pra quem quiser saber.
Ruthia, uma linda semana, menina! Beijos
Olá, Ruthia! Tenho viajado menos pela blogoesfera, mas é bom voltar cá e descobrir uma viagem exótica, num dos seus posts que me dão sempre (mais) vontade de conhecer mais mundo! 🙂
Beijinhos, boa semana!
Olá Isa. Há vida para além da blogosfera, claro. Mas também é muito bom "vê-la" por aqui. Beijinhos, um doce Setembro
Ampliei as fotos para ver melhor, e fiquei com a ideia de que os espanhóis não estão muito longe da verdade. Porém se a estátua data de 1982, Shakira tinha 5 anos, e não podia ter sido inspirado nela.
Obrigada por mais esta reportagem. A nossa imaginação faz-nos pensar que por lá andamos.
Um abraço
A Elvira sabe a idade da Shakira? Fantástico. Se calhar foi a pescadora de pérolas a inspirar a colombiana e não o contrário. 🙂
Beijinhos
Mais um belo relato com esta lenda Ruthia.
Os parques são sempre valorizados por aí.
Viagem encantada amiga e vamos por ai na sua mala.
Um abração com carinho.
Beijo de paz.
Tanta coisa e afinal é apenas a Shakira 🙂
Estou a ver cada vez pior: já me preparava para te gabar o vestido verde-água…
Beijinhos e boa rentrée!
Como é gostoso conhecer peculiaridades
de culturas distantes, Ruthia.
Nessa lenda, em particular, destaca a
beleza do perdão e da gratidão.
Lindas imagens, obrigada,
abraços carinhosos
Maria Teresa
Ruthia, que lindo… e que lenda…. gostei de saber da linda história… amei as fotos – que havia visto pelo face – são lindas e traduzem o teu olhar…uma experiência e tanto…obrigada por mais esta viagem, obrigada por mais esta aula de história e cultura!!! pronta para ler outra das tus aventuras! bjs amig querida, desejando excelente quarta
Gostei dos seus dois diários.
E também gostava de visitar a China. Mas é tão grande e tão longe (e caro), que talvez isso nunca aconteça.
Ruthia, tenha um bom resto de semana.
Beijinhos.
Entendo-o muito bem. Por isso não desperdicei esta oportunidade de um curso de verão numa universidade chinesa, que nos facultou alojamento e alimentação, para além de algumas excursões culturais. Foi o resultado de um ano letivo a estudar mandarim…
Esta China que fica fora dos circuitos turísticos agrada-me mais. Ainda está preservada, é mais pura e genuína.
Bom estudo, e bons passeios!
Os povos e suas lendas.
O pouco que conheço dos chineses, são dos templos budistas ( lindos, por sinal) e dos imigrantes que vivem e trabalham no comercio do centro de São Paulo. Aliás, a imigração foi tamanha, que escolas tradicionais da região se reorganizaram para receber os alunos chineses.
Lindas imagens, Ruthia!
Abraços e ótima viagem.
O encanto dos orientais: histórias de amor, qdo impossível, se tornam possíveis… adoro!