Atualizado em 27 Fevereiro, 2023
Uma pérola entre Bruxelas e Bruges, a cidade medieval de Ghent foi descoberta pelos viajantes. Do seu passado mercantil reteve a garra para se reinventar como um dos destinos mais charmosos da Bélgica
Gand, Gante, Ghent ou Gent. A versão linguística pouco importa. Os tempos áureos flamengos, quando era a segunda maior cidade europeia (apenas suplantada por Paris), ficaram enterrados na história. De cidade burguesa, desceu a porto secundário, para depois se relançar como polo industrial. Nunca recuperou o fulgor económico, mas tornou-se um destino turístico simpático e uma cidade universitária vibrante.
Os canais do centro histórico, o castelo dos condes e uma torre que integra o conjunto de campanários da Bélgica e França classificados pela Unesco (são 56 ao todo) seriam argumentos suficientes para incluir Ghent na lista de must-visit. E eu acrescento o retábulo dos irmãos van Eyck, os meninos bonitos da cidade, ou não fosse eu uma amante de arte.
Graças à veemente defesa da nossa anfitriã, rumámos a Ghent num sábado de manhã, para descobrir um centro histórico lindo, com canais floridos e muitos estudantes a aproveitarem o sol de Outono.
O nosso roteiro começou junto da gótica Catedral de St. Bavo (São Bavão em português, que estranho), que demorou três séculos a ser construída. O interior esconde alguns tesouros, como o púlpito barroco do século XVIII, um esqueleto de baleia, e várias obras-primas, nomeadamente de Rubens. Mas a mais célebre e inspiradora é “A Adoração do Cordeiro Místico”, o retábulo a óleo dos van Eyck.
Depois de uma longa pausa em frente à igreja, para as crianças perseguirem bolas de sabão gigantes, seguimos para Belfort, a torre do sino, símbolo da independência da cidade. Com 91 metros, esta é a maior das três torres que se veem da Ponte de São Miguel. No topo, a mascote de Ghent, um destemido dragão em cobre, continua vigilante.
Para além de apreciar as melhores vistas sobre a cidade, tomámos tempo para assistir a um vídeo sobre a criação de sinos. Afinal, o carrilhão regeu o ritmo da cidade durante séculos, anunciando o mercado, as horas e algum ataque inimigo. Uma curiosidade acerca deste carrilhão: Mozart tocou-o com 9 anos.
As margens do rio Lys
De volta à rua com o estômago a roncar, atacámos uma terrina de Mosselen, os mexilhões elevados à categoria de prato nacional. O marisco veio acompanhado com as tradicionais batatas fritas belgas e, somando dois copos de vinho branco, custou 31,40€ (para 2 adultos) num dos restaurantes da Korenmarkt.
Só depois atravessámos a ponte de São Miguel para contemplar os lindos bairros de Graslei e Korenlei, com as torres históricas a brilharem ao sol. O canal que os separa tem vias pedonais em ambas as margens, muitas esplanadas e gente jovem.
Fizemos um passeio de 40 minutos pelos canais, que nos conduziu através de algumas curiosidades de Ghent, nomeadamente o misterioso Castelo de Gravensteen, antiga residência dos condes de Flandres.
O passado deste “castelo dos condes” está intimamente entrelaçado com a história da cidade. É o único castelo medieval com fosso e sistema de defesa praticamente intacto que resta na Flandres e, para além disso, possui uma coleção única de equipamentos de tortura. Uma das histórias mais deliciosas que o envolvem remonta a 1949, quando foi ocupado por estudantes. O motivo? Protestar contra o aumento do preço da cerveja!
Nós só o conhecemos por fora, porque o tempo escasseava e Ghent ainda tinha muito a oferecer. Nomeadamente a praça Sint Veerleplein, com a fachada do antigo mercado de peixe a ostentar um orgulhoso Neptuno e o lampião dos nascimentos.
-Que raio é isso? – perguntam vocês.
-É um velho candeeiro que pisca lentamente cada vez que uma criança nasce em Ghent.
Do outro lado do canal fica a Groentenmarkt, uma praça cercada por belos edifícios antigos e os emblemáticos carrinhos de Cuberdons, os doces locais com formato de nariz também chamados de Neuzen.
Antes do regresso a Bruxelas não resistimos a espreitar a Werregarenstraat, que todos chamam de Rua dos Graffiti. Era para ser um projeto temporário, mas tornou-se o caderno de esboços da cidade desde 1995. Espreitem um roteiro alternativo, inspirado em design, arte e música, proposto pelo The Guardian aqui.
Infelizmente não conseguimos visitar Bruges, nesta viagem à Bélgica. Mas tenho lido maravilhas sobre aquela cidadezinha medieval. A Márcia, do inspirador blog Mulher Casada Viaja, visitou a cidade e escreveu Bruges: o que Fazer e outras Dicas.
Catedral St. Bavo site | Horário retábulo Van Eyck: Inverno 10h30-16h00, Verão 9h30-17h00 (domingo a partir das 13h) | Bilhete retábulo: 4€, ou 1€ para o áudio-guia se portador do city card.
Belfort: todos os dias 10h00-18h00 | Entrada: 8€ (adulto), grátis (até 18 anos)
Passeio de barco: existem várias empresas a oferecerem passeios nos canais, com preços muito semelhantes. Pagámos 7,50€ por adulto e 4,50€ por criança, para um passeio de 40 minutos (Outubro de 2018)
37 Comentários
Fizeram bastante coisas em um dia hein?! Até o passeio de barco? wow
Pena que irei no inverno, mas espero que o dia também esteja assim ensolarado.
Adorei o roteiro e saber mais um pouco de Ghent. Aliás, até agora não sabia nada ainda… rs
Um abraço
O passeio de barco só demora 40 minutos. E depois, o centro histórico é bem compacto. Não foi uma visita corrida
Adorei estava procurando mesmo o que fazer em um dia no coração de Flandres. Estava pensando se valeria a pena e aprendi nesse post que super vale. Tem até o sino que o mozart tocou! E adorei a história sobre os protestos da cerveja hahaha muito obrigada viu 🙂
É uma questão de prioridades. Se vamos ocupar um edifício histórico, que seja por um motivo válido 🙂
Estou planejando um viagem para Bélgica é não conhecia essa cidade de Ghent Flandres, agora vou incluir no meu roteiro.
Ghent é a capital da região da Flandres. Já foi bem importante na história europeia.
Faz muito bem em incluir no roteiro
Valeu a pena mesmo sair do roteiro e conhecer a bela cidade de Ghent, cheia de lugares bonitos e com tantas curiosidades. E o lampião funciona de verdade quando uma criança nasce ou é só um símbolo?
Olha, eu não vi o lampião a piscar, mas não estive assim tanto tempo naquela praça. Várias pessoas confirmaram-nos que funciona sim! Agora quem será que faz piscar o lampião??
Excelentes dicas de um roteiro por Ghent. Cidade fotogênica e poética que você nos deixa com mais vontade ainda de conhecer. Obrigada por compartilhar
Eu é que agradeço a sua amável visita e comentário
Que cidade linda que é Ghent! Mas como não esperar uma cidade incrível de um lugar que tem dragão como mascote, né? O passeio pelos canais também deve ser programa obrigatório. Demais!!
Você gosta de dragões? Então deve ser fã da Eslovénia, não? Por acaso o meu signo chinês é dragão. Acho que vc vai gostar de mim quando me conhecer 🙂
Gostei muito dessas dicas de Ghent e principalmente da possibilidade de aproveitar todas essas atrações em 1 dia. Vou incluir em meu roteiro
A cidade é pequena, dá para fazer um “bate-volta”, como vocês amigos brasileiros dizem. Mas se eu um dia voltar para aqueles lados, vou querer pernoitar por lá
Bom dia, as fotos da bela cidade de Ghent são lindas, assim como, toda a informação é útil, seu passeio certamente que foi maravilhoso.
AG
Gostei tanto de Gent quando aí estive! Foi mesmo uma descoberta surpreendente. Superou muito as minhas expectativas.
É tão bom quando os destinos superam as nossas expectativas. Qual das cidades gostou mais, Ghent ou Bruges?
Que bela cidade é Ghent, confesso que não imaginava que fosse tão fotogênica. A dica de subir na Belfort é imperdível, pelas suas fotos dá pra ver que vale a pena encarar os degraus!
Uma parte é de elevador, então não tem como não encarar 🙂
Gente, que cidade mais linda! Eu acho que não conseguiria fazer tanta coisa assim em um dia, ia ficar babando. Parece ter saído de um conto! Nunca tinha ouvido falar, mas agora estou doida para conhecer.
Depois de Bruxelas, as cidades de Ghent e Bruges costumam ser as mais populares entre os visitantes, depois ainda há Antuérpia. Todas diferentes, todas interessantes. Nós só tivemos tempo para conhecer uma. As restantes terão que ficar para uma próxima visita.
Eu estou simplesmente encantada com esse post. Ghent como é linda demais, quanta informação para minha próxima viagem. obrigada por compartilhar
Nós chegamos a passar perto, mas não paramos. Esse ano estávamos planejando subir para essa região de novo, mas a Vivi vai precisar trabalhar, uma pena.
Sou apaixonada por esses centros históricos pequeninos e cheios de charme.Bom saber que vale a pena pernoitar, afinal, sempre há um pouco mais para explorar. – Gand, Gante, Ghent ou Gent, quero te conhecer! 🙂
Ghent é um charme, né? Pena que não consegui visitá-la. Se você tivesse que escolher entre um bate volta para Ghent ou Bruges, qual escolheria?
Eu fiz essa escolha. Só tínhamos tempo para visitar uma delas e optamos por Ghent
Qual a melhor época de visitar o país? Gostaria de ir quando o clima estivesse mais ameno…
É sempre mais confortável a partir da Primavera. Eu diria entre abril e outubro. Nós estivemos nos primeiros dias de outubro e estava muito agradável
Pense num amor imediato por esta Ghent! Não sei se este sentimento se deve aos seus personagens, muito de acordo com aquilo me atrai e conquista numa cidade, ou se por sua narrativa tão suave quanto real que nos pega pela mão e nos leva junto. Desliguei-me das distrações externas por alguns minutos e me vi passeando de barco, comendo mexilhões, observando as bolhas de sabão, escutando as histórias da cidade… Ghent entrou em meu imaginário e um dia, se a visitar, lembrarei de você, certamente! 🙂
Ah, que lindo. Espero que se lembre de mim sim, e que seja uma visita feliz!
vou inclur essa cidade no meu roteiro, ainda não fui para a belgica acredita? gostei da dica da Werregarenstraat!
Fotos fantásticas…adorei!
Adorei este roteiro por essa cidade medieval (gosto imenso de cidades/monumentos medievais – até filmes passados na Idade Média…)
Dá para acreditar que eu não conheça a Bélgica??? Uma viajante inveterada (e apaixonada por viagens) como eu sou… ainda não fui à Bélgica. O verão passado (tal como mostrei no meu blog) andámos por vários locais da Europa – e depois África, Cabo Verde – e ainda pensámos incluir Bélgica no roteiro. Mas dada a escassez de tempo… ficou para nova oportunidade. Este ano temos planeado Porto Santo e depois Ilha do Príncipe… portanto, mais uma vez, a Bélgica terá que esperar.
Haja vida e saúde… o resto vem por acréscimo ?
Voltando à postagem… está mesmo excelente. Gostei de tudo, com realce para as cenas do sino tocado por Mozart e o lampião dos nascimentos – pormenores interessantíssimos.
Parabéns e obrigada pela partilha.
RE: Depois de um final de 2018 bastante atribulado (principalmente com a doença da minha filha), o 2019 parece mais prometedor… Pelo menos ainda não me constipei nem tem havido problemas de saúde. Vamos ver como será a continuação…?
PS – Aproveito para lembrar que amanhã, dia 14, a minha “CASA” completa mais um Ano de vida, o 11º. Gostaria de a ver entre os convivas ?
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Grata pela companhia, Mariazita. Eu também adoro cidadezinhas medievais, têm um charme muito especial. Felizmente abundam no nosso Portugal e na nossa Europa
Ruthia, não tive o prazer de ir a Ghent, mas já o primeiro parágrafo revelou similaridades com Bruges, que depois continuam! Que graça essa tradição do lampião dos nascimentos, fiquei curiosa e fui pesquisar. Além de Ghent, Bergamo, Istambul e Moscou também acionam um botão na maternidade para piscar as luzes de um ponto da cidade. Que simbologia linda!
É uma tradição linda. Tudo é tão moderno e “mecanizado” hoje em dia que nos esquecemos que o nascimento de uma criança é um milagre.
E eu não tive oportunidade de ir a Bruges e Antuérpia. Um dia destes volto
[…] defendeu Ghent com tanta tenacidade, que nos aguçou a curiosidade. A cidadezinha portuária de Ghent, em tempos uma das mais prósperas da Europa, é de facto muito charmosa. Ali conhecemos a […]