Atualizado em 6 Outubro, 2022
Odense. Diz a lenda que este era o lar de Odin, deus maior da mitologia nórdica. Mas foram outras estórias que a colocaram no mapa turístico. Vamos conhecer a pequena cidade da Dinamarca onde os contos de fada se misturam com a realidade
Era uma vez… uma pequena cidade dinamarquesa, que deu à luz um grande criador de contos de fadas: Hans Christian Andersen. A presença do autor de A Pequena Sereia está um pouco por todo lado em Odense, a maior cidade da ilha Fyn (Fünen ou Fiónia) na Dinamarca.
Milhões de crianças já sonharam com fábulas como a do patinho feio, soldadinho de chumbo ou a princesa e a ervilha, traduzidas para mais de 150 idiomas. Filmes da Disney como “Frozen” baseiam-se em obras escritas por aquele autor há mais de um século. A genialidade de Andersen inspirou mesmo a criação do Dia Internacional do Livro infanto-juvenil, que se festeja no dia 2 de abril, o seu aniversário.
Trata-se, sem dúvida, de um dos mais importantes escritores infantis de todos os tempos e é motivo de orgulho para Odense. A cidade procura manter viva a sua memória, com uma série de atracções e eventos. É o caso do Festival Hans Christian Andersen, que se organiza anualmente em Agosto, criando um ambiente mágico com espectáculos de luzes, concertos e performances inspiradas nos contos de fada do autor dinamarquês.
Vamos seguir os passos, e as personagens, de H.C. Andersen na cidade de Odense, a 165 km de Copenhaga? Será que encontraremos um final feliz? Leiam até ao fim, para descobrir.
Hans Christian Andersen em Odense
Começamos o passeio na casa amarela da Stræde de Hans Jensen, onde o autor nasceu, no que era um dos bairros mais pobres (e indesejáveis) de Odense. Hoje, a região é encantadora, com as casinhas coloridas e as rosas a perfumarem a rua calcetada, no Verão.
Inaugurada em 1908, a casa-museu inclui várias pequenas salas decoradas à época, quando cada compartimento era ocupado por uma família inteira, com acesso a uma cozinha compartilhada. O espaço exíguo recorda uma infância difícil, com um pai sapateiro e uma mãe lavadeira, um avô louco e uma avó excêntrica. Talvez por isso, Andersen tenha “fugido” para Copenhaga, onde viveu até ao fim da vida.
Ao lado fica o recente museu dedicado ao autor infantil, Hans Christian Andersen Hus (o bilhete é conjunto). Desenhado pelo famoso arquitecto japonês Kengo Kuma, cujo estúdio projectou o Estádio Olímpico de Tóquio, o espaço propõe uma viagem pelo universo criativo do autor, com instalações de 12 artistas de vários pontos do planeta, objectos pessoais e memórias.
Ali aprendi que Andersen não era hábil apenas com palavras, mas adorava desenhar e fazer recorte de papel, uma arte minuciosa e encantadora. Visitámos o complexo no Verão de 2021, logo após a inauguração, quando ainda estava a finalizar o Jardim e a adaptar a experiência a visitantes estrangeiros, pelo que beneficiámos de 50% de desconto no bilhete.
Dali seguimos para a praça Sortebrødre Torv, que acolhe um simpático mercado às quartas-feiras e sábados de manhã, passando por um H.C. Andersen sentado à entrada do casino. Não muito longe fica um edifício do século XVI conhecido como “escola da caridade” (Paaskestræde nº 3), onde o autor estudou em criança.
Os passos levam-nos depois à Catedral de Odense (Sankt Knuds Kirke), gótica, com uma nave luminosa e um lindo retábulo com 300 figuras esculpidas, que carrega o nome do rei dinamarquês Knud, o Santo. O esqueleto do rei assassinado em Odense, em 1086, repousa na cripta da igreja.
Ainda há tempo para espreitar o edifício do Município (Odense Rådhus) de inspiração italiana-gótica. Existem visitas guiadas ao interior, que dispensámos por falta de tempo. O nosso destino é o Jardim dos Contros de Fada (Eventyrhaven), onde, no Verão, se realiza todos os dias um espectáculo musical inspirado na obra do autor de contos infantis, em dois horários diferentes.
Cerca de uma hora antes do espectáculo começaram a chegar as famílias, muitas delas com mantas para colocar na relva. Meninas de várias idades (níveis de fofura na estratosfera), alguns rapazes também, aguardaram com alguma ansiedade as personagens que chegaram pontualmente às 13h00.
Apesar do site dizer que as apresentações também são feitas em inglês, ouvimos tudo em dinamarquês. Claro, não percebemos uma palavra, mas curtimos a música, as personagens e o ambiente adorável.
Depois do nosso piquenique com música ao vivo, seguimos para a casa de infância de H.C. Andersen (Munkemøllestræde 3 – 5), cuja entrada também está incluída no bilhete do museu. O autor dinamarquês viveu ali entre 1807 e 1819, igualmente em condições muito humildes. A visita é rápida: algumas salas que narram a infância do poeta e depois existe um pequeno jardim.
Voltámos depois a acompanhar o rio onde a mãe de Andersen lavava roupa. Uma área de lavagem como as antigas foi preservada no final da rua Paaskestræde, mas o caminho ao longo do rio é mais agradável entre o jardim dos contos de fada e Munkemose, de onde partem os barcos turísticos.
Terminámos o dia junto ao Castelo, nada opulento, de Odense (Nørregade 36), que só é possível apreciar de fora. Logo ali fica a estação de comboios que nos levaria de regresso a “casa”, em Aarhus, a cidade dos sorrisos.
Odense para além dos contos de fada
Para quem quiser explorar (ainda) mais a vida e obra do pai do Soldadinho de Chumbo, o turismo da Dinamarca propõe um roteiro para seguir as suas pisadas por todo o país. Mas, apesar do autor de contos infantis ser incontornável, nem só de Hans Christian Andersen vive a cidade.
Afinal, Odense tem mais de mil anos de história e foi um importante posto mercantil medieval. Hoje, é uma cidade vibrante, com actividades para todas as idades, vida nocturna e vários festivais a acontecerem ao longo do ano.
Um programa engraçado, que só acontece em Julho e Agosto, é o passeio no centro histórico com um guarda-nocturno. A caminhada começa em Overgade nº 23, às nove da noite, e promete canções tradicionais e anedotas locais.
Também podem querer incluir no roteiro a The Funen Village, museu ao ar livre que retrata a vida rural dos séculos 18 e 19, a cerca de quatro quilómetros do centro, um bunker nuclear da época da guerra fria ou o Danish Railway Museum, instalado numa antiga estação de comboios com tudo o que isso pressupõe (carris, locomotivas).
Pessoalmente, tive pena de não visitar o Odin’s Odense, um espaço inspirado na Idade do Ferro e dos Vikings, nos arredores da cidade. A aldeia-acampamento-museu ao ar livre tem várias actividades pedagógicas dirigidas às escolas; imagino como deve ser fantástico para os miúdos passarem a noite lá. Vejam o vídeo aqui.
Se tiverem mais tempo para explorar a ilha Fyn, recomendo uma visita ao Castelo de Egeskov, a cerca de 30 km de Odense. Com quase 500 anos, o castelo tem fosso, jardins com um labirinto e um museu de carros e aviões.
Dicas úteis para visitar Odense
Como chegar
Odense fica numa ilha entre a península da Jutlândia e a ilha da Zelândia, onde fica a capital do país. A ligação de comboio desde Copenhaga demora pouco mais de 1h30 – para pesquisar preços e horários, consulte o site da DSB -, sendo também muito fácil chegar de carro ou autocarro.
A Flixbus funciona bem na Dinamarca e o preço dos bilhetes é, regra geral, económico. No entanto, refira-se que a paragem em Odense fica um pouco longe do centro da cidade, sendo necessário apanhar outro autocarro urbano (habitualmente, o nº 81 ou 162).
O aeroporto mais próximo é o de Billund, pelo que é possível conjugar a visita a Odense à terra natal do Lego. Leia também: Guia útil para visitar a Legoland na Dinamarca.
Onde ficar
Não pernoitámos em Odense, mas gostaríamos de o ter feito, para explorar melhor a região. Tendo em conta as avaliações e custo-benefício, poderia recomendar, entre as opções de quatro estrelas, o Hotel Odeon ou o Hotel Odense.
A cidade também tem alguns bed & breakfast simpáticos, onde se destaca Amalie Bed and Breakfast & Apartments e Odense City B&B, não muito longe do centro e ambos com estacionamento gratuito. Para orçamentos mais apertados, existe o Danhostel Odense City (mesmo no centro, junto à estação de comboios) e o Danhostel Odense Kragsbjerggaard, a cerca de 2km da cidade.
Onde comer
Para pratos tradicionais dinamarqueses, incluindo as famosas sanduíches abertas (smørrebrød), o restaurante Kong Volmer pode ser uma boa opção, embora não fique no coração do centro histórico.
Os gourmets de plantão, que tenham orçamento para um restaurante mais sofisticado, poderão gostar dos restaurantes Aro ou Vaar (com uma estrela Michelin). Deixo também uma opção vegetariana, Café Kosmos Vegan & Organic, e dois mercados de street food Storms Pakhus (Warehouse) e Arkaden Food Hall.
Este post faz parte do 8on8, um projecto colectivo que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês. Espreitem os restantes textos sob o tema “Cidades para caminhar”, inspirem-se e partilhem:
Mulher Casada Viaja – 8 lugares para visitar em Thun, Suíça
Viajante Econômica – Paris a pé: descobrindo cantinhos da cidade-luz
Let’s Fly Away – O que fazer em Siena Itália. Roteiro de 1 dia completo para você
Destinos Por Onde Andei… – Florença a pé, o que não deixar de ver!
19 Comentários
[…] O Berço do Mundo – Odense (Dinamarca), a cidade dos contos de fada […]
Dinamarca é um dos (poucos ???) países europeus que não conheço. Mas tenho pena, muita pena mesmo, pois tenho ouvido as melhores referências a seu respeito.
Vamos deixar “as coisas” acalmarem e depois pensarei no assunto.
Gostei muito da tua reportagem, completíssima, como sempre.
RE : A entidade que atribuiu o primeiro prémio ao conto que publiquei foi a Universidade de Torres Vedras, que todos os anos promove concursos literários.
Desejo-te um excelente mês de Setembro.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Nós fomos este Verão e foi muito tranquilo. Índices de transmissão bem mais baixos do que em Portugal na altura e centros de testes gratuitos em todo o lado.
P.S. parabéns pelo prémio
Ruthia, obrigada por esta viagem, como sempre uma leitura gostosa, e dicas completas que espero um dia aproveitar.
E Pedro, curtiu ou se achou grande demais para contos de fada?
Achou a ideia do musical um pouco infantil, sobretudo por causa da idade da maioria das crianças que esperava pelo espectáculo. Mas depois gostou muito. O Museu é fantástico, tem a parte fantasiosa, mas também a parte documental sobre o autor. Sendo um autor que ele já estudou, gostou de saber mais sobre ele
Uma cidade de contos de fadas e lar de uma grande figura mitológica. Odense já ganhou a minha imaginação, pois o que seria da vida sem um pouco de fantasia e mistérios?
Todas essa fábulas, escritas por Christian Andersen fizeram parte de minha longínqua infância e alguns desses livros eu tenho até hoje. O festival deve ser alguma coisa mágica!
Adoro visitar casas-museu e fiquei feliz em saber que se pode conhecer a casa de Christian Andersen. “Entrar” nas histórias através do museu me fará voltar a ser criança, imagino.
Visitar o mundo de Christian Andersen por si só já me deixaria muito feliz, mas saber que ainda existe um museu que retrata a vida rural de outros tempos e um bunker. Sem falar no museu do trem, meio de transporte que adoro.
Ruthia, querida, obrigada por me apresentar, lindamente, como sempre, essa tão interessante Odense! Oxalá um dia eu possa visitar também e ver de perto tudo que seus olhos viram e que eu senti através de suas palavras. bjokas
Sim, todos precisamos de um pouco poesia e fantasia nas nossas vidas e HCA é um argumento perfeito para as deixar entrar durante a visita à Dinamarca
Que coisa mais linda, Ruthia! Fiquei encantada com Odense. Não imaginava que era a cidade natal do autor da pequena sereia e tantos outros clássicos. Adoraria conhecer e ver as apresentações, mesmo sem entender nada. Um destino que vou incluir quando visitar a Dinamarca. Obrigada por compartilhar.
Deve ser muito mais giro se entendermos o que eles estão a dizer, mas ainda assim foi muito engraçado.
Que coisa mais linda a cidade de Odense. Nunca tinha ouvido falar e fiquei encantada, porque é mesmo um conto de fadas. Ainda não visitei a Dinamarca, mas quando for irei certamente para Odense. Obrigada pelas dicas!
A beleza e o encanto está (também) nos olhos de quem vê. Eu encontrei encanto nessa cidadezinha, mas outros viajantes podem ter uma experiência diferente. Se um dia vc visitar, diga-me o que sentiu sobre Odense
Ruthia você acabou de colocar mais um destino na minha lista de desejos. Todos esses contos de fadas ainda estão frescos em minha cabeça, por conta de ter lido e relido para meus filhos. Tenho certeza que minha filha se encantaria com cada instalação do novo complexo dedicado a H.C. Andersen, assim como a casa/museu.. Além disso, apenas caminhar por uma cidade que tem mais de mil anos de história já é um privilégio pra qualquer viajante.
Gostei muito de conhecer um pouco de Odense através do seu relato. Beijinhos
Para além de ter sonhado com essas estórias em criança, quem tem filhos reviveu e deu vida a várias dessas personagens quando as contou às crianças. E que bons são esses momentos
Que destino maravilhoso parece ser Odense, caminhei com você pelas atrações que nos apresentou tão bem. Sou apaixonada desde criança pelos contos infantis de Hans Christien Andersen, meu escritor infantil predileto.
Tenho uma foto que tirei com uma estátua dele no Central Park, em Nova York, e ao lado está o patinho feio, precisa ver que graça. Adoro essa foto!
A Dinamarca é um país que me atrai muito, porém uma amiga me disse que foi o país mais caro que ela visitou. O que você achou sobre os preços que encontrou das coisas por lá? É possível visitá-lo com uma certa economia, ou realmente é um país caro para se visitar? Beijos.
É um destino caro, sim. Mas não é o mais caro dos países nórdicos. Dá para economizar um pouco se encontrar hospedagem onde possa cozinhar. Nós tomávamos o pequeno almoço e jantávamos em casa e isso permitiu economizar um pouco
A Dinamarca é um destino caro e por isso ainda está na minha lista de desejos, mas agora ganhou ainda mais um motivo para ser visitada. Adorei seu post sobre Odense. Não sabia a cidade de origem de Hans Christian Andersen e adorei este roteiro dos contos de fadas.
Acho que a opção de ficar pelo menos mais um dia na cidade vale a pena já que há tanto o que ver e fazer por lá. Obrigada pelas dicas. Espero poder usá-las no futuro.
Beijinhos, querida.
Amei conhecer Odense na Dinamarca pelo seu olhar. Acho que também iria gostar muito do espetáculo ao ar livre, mesmo sendo em dinamarquês. um lugar tão encantador e com piquenique. Que delícia de programa em família.
É isso mesmo, Lulu. É um programa que as famílias locais fazem regularmente e, por isso, tão interessante
[…] já que estás em Copenhague, bem, aproveite para dar uma passadinha em Odense (Dinamarca). Clica para olhar que […]