Atualizado em 9 Abril, 2021
Não vamos a África para ver museus, monumentos ou palácios. A magia do continente reside nas suas gentes, na sua luz e na sua biodiversidade, como podemos constatar no Parque do Kissama
Deixamos o barulho e o trânsito de Luanda para trás. A estrada estende-se, à beira-mar, com um ou outro outdoor gigante a publicitar a Cuca, até os olhos poderem finalmente afagar a paisagem. O mar contrasta com a terra vermelha e vejo, finalmente, os majestosos embondeiros. Como são lindas, estas árvores que o Saint-Exupéry desdenhou.
Ora no planeta do principezinho havia umas sementes terríveis… eram as sementes de embondeiro. O solo do planeta estava infestado delas. Se só se reparar num embondeiro quando ele já for bastante grande, nunca mais ninguém se vê livre dele. Atravanca o planeta todo. Esburaca-o com as suas raízes (…)
Há que arrancar regularmente os pés dos embondeiros, mal eles se distingam dos das roseiras com as quais se parecem muito quando são novinhos (…) Às vezes não faz mal nenhum deixar um trabalho para depois. Mas, com embondeiros, é sempre uma catástrofe.
Relativizemos, é verdade que se tratava de um planeta muito pequenino. E por aqui ainda há espaço para estas árvores fantásticas. Mas hoje vamos falar do Parque Nacional do Kissama (ou Quiçama, ou Kiçama, ou ainda Quissama), a cerca de 70 km da capital.
Atravessado o rio Kwanza, que empresta o nome à moeda local, é só virar à esquerda para dar com o Parque, uma das sete maravilhas naturais de Angola. O percurso entre a entrada e a recepção é revelador da sua extensão: cerca de 40 km em terra batida. Na verdade, é só um dos maiores de África, ocupando mais de 990 mil hectares.
Infelizmente, a guerra civil dizimou grande parte da fauna local, em especial os elefantes, por causa das suas presas. Mas isso pertence ao passado. Graças ao projecto Arca de Noé, o Kissama está a ser repovoado depois de séculos de matança (o espaço começou por ser uma reserva de caça).
O safari no Parque do Kissama
Girafas e elefantes foram trazidos do Botswana e da África do Sul. Para além destes simpáticos habitantes estrangeiros, o Parque tem hoje pacaças, potamocheros e gungas (não faço ideia do que sejam), zebras, gnus, avestruzes, diversas espécies de antílopes, manatins e tartarugas-marinhas.
As diferenças na vegetação são também muito interessantes. O território de um bicho é tão diferente do de outro: manguezais, mata densa, savana, cactos, embondeiros e grandes zonas de arvoredo.
Não conseguimos ver as zebras nem as avestruzes e, como o safari não nos levou até ao mar, escaparam-nos as tartarugas marinhas e os manatins também. Fica para outra ocasião. Para além disso, alguns animais estavam demasiado longe para serem fotografados. Mas o que vimos e vivemos foi maravilhoso.
Adoramos as girafas que, diga-se, se estão a borrifar para nós, desde que não nos aproximemos em demasia. Porque haviam de interromper a sua refeição? Já os elefantes são mais assustadiços e ameaçadores.
Fiquei mesmo feliz por o primeiro contacto do Pedro com os animais selvagens ser assim, na natureza, e não com um fosso ou um gradeamento entre eles. Bem sei que muitos jardins zoológicos desempenham um papel importante na preservação de espécies ameaçadas, mas ver os animais aprisionados aperta-me o coração.
Os greens de Mangais e o Miradouro da Lua
Do outro lado do rio, espera-nos uma das melhores refeições que já fizemos em Angola. O Mangais Resort é um projecto ecológico que para além de alojamento e golfe, proporciona passeios de barco e serve refeições maravilhosas. O peixe vem deste rio, assim como a água para regar os greens na época de estio, a fruta é cultivada pelos funcionários.
A Sofia, que gere o resort, trocou definitivamente o Ribatejo pela Barra do Kwanza há dois anos e não se arrepende. Quando se farta do sossego dá um salto a Luanda, mas bastam-lhe umas horas na confusão e regressa afoita aos braços da natureza.
O buffet de domingo é muito popular, apesar do preço. Há marisco em abundância e comida local, funge, calulu de peixe e de carne seca. Mas nós rendemo-nos a um pargo monumental, assado com presunto, a que somamos fruta, fruta, fruta. O abacaxi é tão doce que até o Pedrinho repete.
No regresso desta aventura, ainda há tempo para mais uma paragem: o Miradouro da Lua. Aqui, a paisagem foi esculpida pelo vento e pela chuva.
Este foi o cenário do filme “O Miradouro da Lua” (1993) do realizador português Jorge António, distinguido com um prémio de realização no Festival de Gramado (Brasil). A primeira co-produção luso-angolana conta a história de um jovem lisboeta que vai à procura do pai desconhecido. No final da longa-metragem, com o Miradouro como pano de fundo, o protagonista decide ficar em Angola.
Entrada no Parque Nacional do Kissama: 2000 AOA (kwanzas)/adulto + 1000 veículo*
Safari: 3000 AOA/adulto (cerca de 25 euros por pessoa)*
*valores de 2018
25 Comentários
Em-bon-dei-ros são baobás??? Belo vídeo (estou esperando o próximo episódio).
Exatamente Marta! Aviso que o próximo episódio será apenas escrito, hehe
Juro que me senti ao lado de vocês, Ruthia: que aventura maravilhosa! Quero mais!
Sensacional experiência pra vocês, mas creio que Pedro nunca esquecerá disso tudo! Lindo! bjs praianos, chica
Deve ser tudo fabuloso! Gostava de conhecer ao vivo, mas não se pode ter tudo 🙂
Beijinhos
Querida Ruthia
Quantas saudades me fizeste sentir!
Dos meus sete anos de África dois foram passados em Angola. E como fui feliz, apesar de todos os sobressaltos…
África entranha-se em nós e nunca mais nos larga.
Ao ler-te e ver as fotos pude até sentir o "cheiro de África"- que refiro num dos capítulos do meu livro.
Obrigada por estes momentos deliciosos que me proporcionaste.
ADOREI o vídeo, e espero não perder o próximo.
Um muito feliz 2015 para ti e todos os teus.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
amiga querida, só posso te agradecer esse incrível presente!! Amei ver as girafas e elefantes – animais que amo de paixão!! E o que é a alegria do Pedrinho… contagiante!! Me vi entre risos e lágrimas – essas de saudades de minha querida amiga!!
bjs desejando muitas felicidades!!
Obrigada amiga por esta fantástica partilha. Só quem já viveu em África sabe o que é a saudade dessa terra. Dos inenarráveis pôr-do-sol, da terra vermelha, do calor humano dessa gente.
Um abraço e uma boa semana
Simplesmente amei tudo! E principalmente ouvir-te e constatar que o que eu imaginava, sua voz, seu sotaque quando lia seus textos, era exatamente assim!
Linda Ruthia!!!
Beijos, em todos! E um especial nesse menino lindo!
Muito obrigada, Claríssima. Engraçado como criamos uma imagem mental das pessoas da blogosfera, atribuindo-lhes até voz… ainda bem que correspondi às expectativas, hehe
Muitos beijinhos
Um passeio preciso amiga.
Gostei do video com a musica e os gritinhos do bambino.
Uma pena os horrores desta guerra constante.
Gostei de rever as barrigudas, estas arvores temos por aqui numa regiao do nordeste brasileiro.
Bom viajar com voce.
Um carinhoso abraço e boa semana de paz e belas descobertas para a partilha.
Beijo de paz Ruthia.
Ruthia, fantastico! Adorei "viajar" com voces e amei o fundo musical.
Aquela arvore parece um desenho da natureza. Aprendi aqui que Baobás são chamados tambem de embondeiros.
Beijinhos
Em Angola e Moçambique chamam-lhes embondeiros ou imbondeiros. Embora seja o símbolo do Senegal, creio que lá lhe chamam outra coisa, assim como em Madagáscar.
Beijinhos, minha querida
Vídeo e fotografias (salivei sobre as de comida) revigorantes!!! E o post, como sempre, tão bem escrito! Também detesto ver os animais presos, a começar pelos pássaros em gaiolas. É tão bom vê-los em liberdade e à vontade!
Beijinhos e cá espero o próximo vídeo 🙂
Palavras gentis são um favo de mel, doçura para a alma
e saúde para o corpo.(Pr 16,24)
Linda postagem…parabéns!!!!
Obrigada amiga, pela visita atenciosa!
Beijo grande, Marie.
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E, subitamente, abrem-se os horizontes, a magia africana, tão única, parece ter começado a fazer efeito.
Um excelente relato, Ruthia!
(Que os horizontes se continuem a rasgar!)
Eu amo viajar e agora ganhei um novo lugar para colocar na lista de desejos com aquele velho sonho de ser mochileira e viajar pelo mundo, adorei cada detalhe! parabéns, bjs.
http://efeitotranslucido.blogspot.com.br/
«Viajar torna uma pessoa modesta – vê-se como é pequeno o lugar que ocupamos no mundo.» (Gustave Flaubert)
Obrigado pelo excelente relato da viagem em Angola, País em que vivi 4 anos e gostava tanto de conhecer, mas a falta de tempo…boa estadia Ruthia.
OLÁ RUTHIA:
QUE MARAVILHOSO RELATO DE SUA VIAGEM !!!
ACHO LINDA A AFRICA E A ALEGRIA DOS AFRICANOS..
UM DIA TAMBÉM QUERO CONHECER,,,ENCANTA…
MEUS AVÓS POR PARTE DE PAI VIERAM DE PORTUGAL, E POR PARTE DE MÃE DA ALEMANHA .
ACHO TÃO BONITO OLHAR PARA OUTRAS CULTURAS E SABER QUE TEMOS TANTO A APRENDER UNS COM OS OUTROS..
QUERO VER COM CALMA SEUS OUTROS POSTS DE PORTUGAL, POIS QUERO CONHECER MAIS SOBRE ESTE PAÍS QUE A GENTE TRAZ NA ALMA…
UM ABRAÇO E ESTOU MUITO FELIZ EM CONHECÊ-LA….
:0)))))
O seu comentário deixou-me tão feliz, cara Eliane. Muito obrigada pela sua amabilidade e entusiasmo. O prazer é mútuo.
Beijinhos
Que beleza tem e tanta tem esta minha TERRA!
Olá Ruth, parabéns pelo post, tenho muita vontade de conhecer estes lugares que são ainda quase desconhecidos
[…] fazer, mas com sorte algumas girafas aparecem. A Ruthia do blog do Berço do Mundo fez esse ótimo relato do passeio pelo Kissama e viu animais, […]
[…] (EUA), a Floresta de Pedra de Shilin (China), alguns vales no deserto do Atacama (Chile), ou o miradouro da Lua, às portas de Luanda (Angola), oferecem paisagens naturais análogas, esculpidas pelo vento e […]