Atualizado em 15 Abril, 2021

Três rios – Sousa, Douro e Tâmega – protagonizam um caso de sucesso turístico, reconhecido com vários prémios, nacionais e internacionais. Vamos conhecer algumas pérolas românicas da região, embalados por lendas do tempo da fundação de Portugal.

Depois da experiência vinícola na bela Quinta da Aveleda, continuamos a explorar a Rota do Românico, um tesouro guardado no norte de Portugal, entre verdes paisagens, gente genuína e hospitaleira, comida farta e vinhos verdes.

Eles são castelos, torres, pontes, memoriais, mosteiros, igrejas e pequenas ermidas, num total de 58 monumentos, que fazem desta região um destino de referência para os apreciadores de história, em particular do românico, estilo de construção que perdurou entre os séculos XI e XIV (mapa completo aqui). Foi a época de D. Afonso Henriques, o Conquistador, quando se recuperou território aos mouros e se iniciou grandes construções como as Sés de Lisboa, Coimbra e Porto.

A arquitectura românica revela o papel que estas gentes desempenharam na fundação de Portugal. Entre as famílias nobres que aqui habitaram recorde-se os Ribadouro, família da qual descende Egas Moniz, o famoso aio do nosso primeiro rei.

A Rota do Românico estende-se pelo território de 12 concelhos nortenhos: Amarante, Baião, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Cinfães, Felgueiras, Lousada, Marco de Canaveses, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel e Resende. Não sendo possível fazer a rota completa num fim-de-semana, escolhemos alguns pontos mais próximos e partimos à aventura.

Paço do Sousa, em Penafiel
Túmulo de Egas Moniz, aio do 1º rei de Portugal, no Mosteiro do Salvador

Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa (Penafiel)

Comecemos pelo início, com os antepassados de Egas Moniz, mentor do primeiro rei (dizem os fofoqueiros que poderá ter sido mais que isso, que seria mesmo o pai de D. Afonso Henriques, vá-se lá saber a verdade). O mosteiro foi fundado pelos seus antepassados com nomes originalíssimos: D. Trutesendo Galindes e D. Anímia (haha).

Egas Moniz foi sepultado na penumbra deste mosteiro, que adentramos através de uma porta com arcos quebrados, enfeitados com meias pérolas incrustadas. O túmulo ainda lá está, mas as ossadas desapareceram há muito, possivelmente durante uma das intervenções de restauro.

Igreja de São Vicente do Sousa (Felgueiras)

Considerada uma jóia do românico em Portugal, a igreja conserva ainda a traça do século XII, destacando-se o pórtico com os seus belos arcos trabalhados e uma rosácea a iluminar o altar-mor.

Escavações recentes descobriram várias sepulturas em redor desta igreja que em tempos fez parte de um conjunto maior, de monges beneditinos.

Igreja de São Vicente do Sousa

Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro (Felgueiras)

Encontramos o Mosteiro de Pombeiro, com mais de mil anos de história e classificado como monumento nacional, na pequena aldeia do Burgo. O edifício actual começou a ser construído na segunda metade do século XII, tornando-se num dos mosteiros beneditinos mais importantes do norte do país.

A sua localização, na intersecção de duas grandes vias medievais da época, revela a sua importância: era ali que os reis se instalavam nas suas viagens e onde os peregrinos recebiam assistência. Entretanto o mosteiro foi bastante alterado, nomeadamente os claustros, que foram remodelados à moda neoclássica. No jardim, junto aos claustros já um pouco destruídos, está uma réplica da fonte setecentista que aqui habitou há longos séculos.

Torre de Vilar (Lousada)

A Rota do Românico tem muitas construções religiosas, daí ter incluído esta torre tão diferente do século XIII ou XIV, também conhecida como a torre dos mouros, que testemunha o  poder da família Riba de Vizela, senhores da região. Isto é, existiria ali uma domus fortis, uma residência senhorial fortificada, servindo a torre para transmitir uma imagem de nobreza e poder.

A autarquia criou um parque muito agradável em volta da torre, ideal para um piquenique ou simplesmente para aproveitar uma sombra e ler como se não houvesse amanhã.

Interior do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro

Mosteiro do Salvador de Travanca (Amarante)

Fundado no século XI pela linhagem dos Gascos (associada a Egas Moniz), o mosteiro é considerado um dos mais importantes templos beneditinos do país. É também um dos mais belos exemplares do românico português, que os historiadores chamam de “românico nacionalizado”, devido às características únicas.

Ao longo da Idade Média, Travanca cresceu em riqueza e poder, por exemplo, no século XIV, fez a proeza de contribuir com 1800 libras para as Cruzadas. Ainda hoje a torre medieval se ergue orgulhosa deste passado brilhante, quando Travanca era o principal estaleiro construtivo da região.

E já que chegámos a Amarante, recomendamos conhecer o seu doce fálico, um dos mais inusitados do país.

Mosteiro de S. Martinho de Mancelos (Amarante)

Nas mãos dos agostinianos desde o século XII, o singelo mosteiro está associado, em termos estilísticos, ao mosteiro de Travanca, ali perto. Ao lado, no pequeno cemitério, encontra-se o jazigo do pintor Amadeo de Souza-Cardoso, mestre do modernismo português.

Nos anos 90, Xosé Lois García estudou o monumento, identificando na decoração dos capitéis uma intenção deliberada de exaltar elementos naturais, como forma de enaltecer Deus por meio da natureza. Daí a diversidade de elementos vegetais, como lírios, palmeiras, videiras e oliveiras.

mosteiro de Salvador de Travanca em Amarante

Site da rota do românico: aqui | Marcação de Visitas: aqui

Pode reservar-se a rota, ou mesmo personalizar uma, através da equipa da Rota do Românico. Nós decidimos fazer a visita de forma independente, já que o percurso está bem sinalizado e o site inclui as coordenadas GPS de cada edifício. Optámos por um domingo de manhã, quando algumas igrejas estavam abertas para a missa semanal.

A marcação de visitas aos monumentos deverá ser efectuada com uma antecedência mínima de 24 horas (ou 48 horas para as visitas ao domingo), garantindo assim a abertura dos monumentos ou (4,17€/dia) o acompanhamento por um técnico do património (8,33€/hora).

Onde ficar: estivemos recentemente na região, graças ao I Encontro de Bloggers de Viagem Portugueses, e conhecemos o simpático Penafiel Park Hotel & Spa, que recomendamos (gostámos, em particular, do restaurante).