Atualizado em 13 Setembro, 2023

Grandes portões e muros de pedra altíssimos escondem uma das mais belas quintas vinhateiras portuguesas: a Quinta da Aveleda. Em plena Rota do Românico, a quinta de “Velledas” é uma epifania de história, botânica e vinho

Há mais de 300 anos que gerações da família Guedes produzem frescos vinhos verdes, incluindo o mundialmente famoso Casal Garcia, para além de queijos, compotas e a aguardente Adega Velha, na penumbra de uma adega centenária, onde teias de aranha cobrem pipas cheias de líquido cor de âmbar.

A quinta carrega o nome das profetisas “Velledas” que, na tradição germano-celta, previam o futuro e por isso eram sacrificadas aos deuses… será que morou por aqui uma dessas sibilas? Mas o charme desta quinta minhota, perdida em Penafiel, vai muito além de lendas medievais.

Os românticos jardins da Aveleda recebem-nos com uma explosão primaveril. A luxuriante vegetação – que motivou o prémio Best of Wine Tourism na categoria de «Arquitetura, Parques e Jardins em 2011 – é pontuada por espécies raras, sequoias americanas, castanheiros-da-índia, cedros japoneses, ciprestes dos pântanos e também um monumental eucalyptus globulus com mais de 200 anos.

Junto à antiga entrada, uma peculiar Casa do porteiro parece diretamente teletransportada de uma fábula de La Fontaine. É uma das várias follies, devaneios arquitetónicos sem função específica, espalhadas pela propriedade.

Estes delírios sucedem-se a uma velocidade estonteante: eis uma torre de três andares para as alegres cabras anãs, logo depois uma janela manuelina do século XVI, onde D. João IV terá sido aclamado rei, posteriormente oferecida a um elemento do clã Guedes que a plantou aqui no Minho. Adiante, no meio do lago onde um cisne exaltado protege a sua fêmea, eis uma Casa de Chá vitoriana, decorada com répteis em faiança portuguesa.

Muitos portugueses ilustres escolheram a quinta para veranear, rendendo-se aos encantos singulares da Aveleda. Por exemplo, o príncipe herdeiro Luís Filipe de Bragança (filho de D. Carlos I) e o seu aio, Mouzinho de Albuquerque, almoçaram numa das mesas do jardim, em Outubro de 1901.

Prosseguimos pelo perfumado caminho das azáleas, passando pela gaiola das rolas do tempo da Condessa de Pangim – filha do vice-rei da Índia e ilustre consorte de um Guedes – até à Fonte de Nossa Senhora da Vandoma, padroeira do Porto.

A casa senhorial, de finais do século XIX e coberta de trepadeiras, surge por entre o burburinho das águas. A culpa é da Fonte das Quatro Estações, onde se gravaram perfis de algumas senhoras da Aveleda no mármore, numa linda homenagem!

Entramos agora no edifício da Adega Velha, que guarda a aguardente homónima, embalada por cantos gregorianos e pela semi-obscuridade. Servirá a melodia para enganar a década que permanecerá nas pipas de carvalho francês?

Ali repousa também a venerável garrafa, trazida da Rússia dos czares, que inspirou a bebida espirituosa da Quinta da Aveleda.

Sentamo-nos, por fim, numa bela varanda alcandorada sobre hectares infindáveis de vinha para provar os vinhos e o queijo.

A marca possui 205 hectares de vinha, 184 na região demarcada de vinhos verdes e 21 na região da Bairrada, de que resulta os seus vinhos centenários reconhecidos internacionalmente, como provam medalhas de ouro e prata conquistadas em Berlim, Paris  ou Bruxelas : Aveleda (verde e Douro), Casal Garcia (verde, Douro tinto, sangria e espumante), Charamba Douro, Aveleda Follies e Grande Follies.

Alongamo-nos em brindes, entre brancos e rosés, soltando a conversa até ser hora de rumar ao Porto e a novas aventuras. Claro, havia um condutor que não participou na degustação preparado para nos transportar com toda a segurança.

#Nota: se é adepto de enoturismo, não deixe de ler o nosso artigo Douro: a região vinícola demarcada mais velhinha do mundo

Localização da quinta

A Quinta da Aveleda fica em Penafiel, a cerca de 38 km do Porto (A4 em direção a Amarante/Vila Real), 66 km de Braga e 47 km de Guimarães (pela A11).

Site: aqui | Bilhete para visita dos jardins: 12€ (adulto), 6€ crianças entre os 5 e os 12 anos. Existem ainda três opções de preços para degustação dos vinhos da quinta, para além de outros programas como piqueniques e oficinas de pão e vinho.

Horário das visitas guiadas (com marcação prévia) | Verão: seg-sáb 10h00, 11h30, 15h00, 16h30  | Inverno: seg-sáb 10h00, 11h30, 14h30, 16h00

Onde ficar

A maioria dos visitantes da Quinta da Aveleda chegam do Porto, onde as opções de hospedagem são muitas e para todos os bolsos. Até porque a própria quinta não possui alojamento turístico. No entanto, a quinta não fica longe de duas cidades: Penafiel e Paredes.

Se optar por pernoitar mais perto, por exemplo em Penafiel, recomendo o Penafiel Park Hotel & Spa, um quatro estrelas simpático com piscina e um elegante restaurante, ou a rústica Quinta do Padrão, onde pode contar com piscina exterior, campo de ténis e estacionamento privativo. Se optar por Penafiel, não deixe de visitar também a encantadora aldeia de Quintandona.

Um pouco mais longe (cerca de 14 km da Quinta da Aveleda), outra opção de hospedagem é a Villã – Casas de Campo, no concelho de Paredes, com piscinas interior e exterior. Neste última caso, espreite o nosso artigo Cidade de Paredes, na rota dos brasileiros.