Atualizado em 11 Fevereiro, 2021

Numa curva do rio, descobri um lugar perfeito para quem ama livros. Chegámos à abadia de Melk, a pérola barroca da Áustria

Ora, Labora et Lege – Reza, trabalha e aprende. O lema dos beneditinos ecoa nesta sua abadia assombrosa, sobranceira ao rio que nos trouxe até Melk (post sobre o cruzeiro aqui), em pleno vale de Wachau.

Tudo começou em 1089, quando Leopoldo II ofereceu aos beneditinos terras e um castelo, que estes transformaram numa abadia fortificada. Anos mais tarde, os monges criaram uma escola e uma biblioteca. Esta foi crescendo em tamanho e importância ao longo dos séculos. No seu scriptorium copiaram-se centenas de manuscritos com iluminuras preciosas.

Na verdade, a abadia está muito diferente de quando foi fundada, há mais de mil anos. Passou por um incêndio grave no século XIII, ataques turcos no século XVI, as invasões napoleónicas e o nazismo, altura em que foi confiscada.

A sua encantadora aparência barroca surgiu no século XVIII e nós agradecemos por isso. Sendo um dos complexos barrocos mais belos da Europa, foi classificado pela Unesco como património da Humanidade, com todo o mérito.

Centro da vila de Melk.

A nossa surpresa começa logo na escadaria que nos conduz ao museu, onde em tempos ficavam os apartamentos imperais. Depois, somos reduzidos à nossa insignificância no Salão de Mármore, com o tecto maravilhoso de Gaetano Fanti. Palas Atenas (Minerva) é puxada por dois leões, que simbolizam a sabedoria e a moderação. A seu lado, Hércules está pronto para a ajudar a derrotar o cérbero de três cabeças.

Sobre as portas, duas inscrições das regras de S. Benedito indicam o propósito deste salão, com destaque para Hospites tamquam Christys sucipiantur, “os convidados devem ser recebidos como Cristo seria”.

Saímos para o terraço, onde nos espera uma encantadora paisagem para o Danúbio, antes de se nos sumir o ar na mais bela das bibliotecas. São milhares de manuscritos, incluindo uma admirável colecção de partituras, dois globos terrestres gigantes e tectos belamente decorados.

Infelizmente, apenas temos acesso a duas salas da biblioteca, de tons dourados e encadernações centenárias, que não podemos fotografar. As restantes alas da biblioteca estão reservadas aos monges, pois este é um mosteiro activo, que até gere uma escola.

Pormenor da igreja principal da Abadia.

A minha vontade era escapulir-me pela escada de caracol e explorar cada cantinho daquele paraíso literário que, dizem, inspirou Umberto Eco. O Nome da Rosa tem uma personagem-narrador que se chama… Adsio von Melk.

Mas a visita guiada num espanhol sofrível terminou, e somos convidados a visitar a igreja antes de sairmos do recinto. O magnífico altar teatral  demonstra que este é o coração da abadia, um lugar de reflexão e fé. Mas o meu coração ficou lá atrás, na biblioteca.

Antes do regresso a Viena, tivemos a oportunidade de passear nos jardins do mosteiro. Tudo estava sereno, após uma grande chuvada. Os pingos de chuva brilhavam nas árvores, um pequeno esquilo armazenava bolotas. Sentámo-nos um pouco em silêncio, a digerir todas as maravilhas que acabáramos de conhecer. Ali, de pronto, senti que este seria o meu lugar preferido na Áustria.

 

Abadia de Melk: site | Horário: 9h00-17h30 (Maio-Setembro), 9h00-16h30 (Abril a Outubro), visitas guiadas em inglês às 10h55 e 14h55 entre Abril e Outubro | Jardins: 9h00-18h00 entre 1 de Maio e 31 de Outubro

Bilhete: 11€ (adulto), 6€ (crianças e estudantes até aos 27 anos), 22€ famílias, acresce sempre 2€ com visita guiada

Nota: a nossa visita ao vale de Wachau, com visita a Durnstein, cruzeiro no Danúbio e visita à abadia de Melk foi uma cortesia da Vienna Sightseeing, que agradecemos.