Atualizado em 10 Junho, 2023
O talentoso vienense Johann Strauss compôs um hino a este rio que nasce na Floresta Negra, banha quatro capitais e depois se lança nos braços do Mar Negro, catapultando-o para a estratosfera da poesia.
Diz-se que a valsa Danúbio Azul foi inspirada numa viagem neste rio que dita o ritmo de quatro capitais europeias: Viena, Bratislava, Budapeste e, finalmente, Belgrado. Um rio que serpenteia ao longo de 2800 km e uma dezena de países, mas que revela um charme especial no vale Wachau, paisagem cultural da UNESCO a noroeste da capital austríaca.
Nós conhecemos a região, famosa pelo dulcíssimo vinho branco e por se ter descoberto ali uma senhora muito especial – a rechonchuda Vénus de Willendorf que todos conhecemos nos livros de História, e que repousa no Museu de História Natural de Viena – através de um day tour com a Vienna Sightseeing.
O dia começou em Viena, junto à Ópera, onde um autocarro nos transportou até ao vale, passando por vários vilarejos espremidos entre o rio, as montanhas e as vinhas, com praças pequeninas e janelas floridas.
Durnstein, no vale Wachau
A primeira paragem aconteceu em Dürnstein, uma pequena localidade medieval alcandorada nas margens do Danúbio, dominada pelas ruínas de um castelo que marcou a história europeia. Porquê? Ali aprisionaram nada mais, nada menos, que Ricardo Coração de Leão!
O desentendimento entre o rei inglês e o duque austríaco começou nas Cruzadas da Terra Santa. Após a batalha em que tomaram o Acre, Ricardo arrancou a bandeira austríaca (possivelmente por este não ser rei, mas um simples vassalo do rei alemão) e recusou-se a dividir o saque de guerra com Leopoldo.
Como a vingança é um prato que se serve frio, no caminho de volta a casa, Ricardo foi reconhecido, raptado e preso, apesar de disfarçado de peregrino. Permaneceu no castelo de Durnstein entre 1192 e 1193, até ser pago um resgate milionário que muito contribuiu para o esplendor do futuro império dos Habsburgos. Foi durante a sua ausência que surgiu a lenda de Robin Hood em Inglaterra…
O turismo criou mesmo um trilho temático “The Lionheart in Dürnstein” que demora cerca de 90 minutos e conduz os visitantes até às ruínas. O rei, o seu trovador e Robin Hood são algumas das personagens que se encontram no caminho.
Graças ao hóspede real, a pitoresca Durnstein tornou-se um ponto de interesse e diariamente centenas de turistas invadem as suas ruelas estreitas, a sua linda igreja azul e as suas lojinhas, onde se vende doces, licores (Marillenlikor) e outros produtos à base de alperce, outro produto da região. A pressão turística é de tal ordem, que as autoridades locais estão a considerar cobrar entrada na vila.
Apesar da história que envolve o rei inglês, a imagem de marca de Durnstein é a torre da igreja azul e branca, construída no século XIV pela família que governava o castelo local, e dedicada a Nossa Senhora, Santo André, São Lourenço e todos os santos.
Um século depois, fundou-se ali um mosteiro agostiniano, incorporando a igreja original, que ganhou novas roupagens com a profunda renovação barroca (final do século XVII). Em 2019, a abadia ganhou a exposição interativa “the Good – the Beautiful – the True”.
Curiosidade: no interior da igreja existe um pequeno barril de vinho, homenageando a cultura vinícola local, que é a principal atividade económica da região.
Terminada a visita livre em Durnstein, continuámos neste passeio pelo vale Wachau até Spitz. Ali embarcámos num cruzeiro que nos conduziu pelo rio entre ruínas, bosques verdejantes, escarpas abruptas e praias improvisadas.
Durante o cruzeiro, o calor sufocante foi dando lugar a nuvens ameaçadoras, ouviu-se um trovão, depois outro, e o céu desabou com força. Felizmente tinha capas de chuva na mochila e sobrevivemos incólumes à surpresa.
Ainda as usámos durante as nossas deambulações pela linda vila de Melk, antes da visita guiada ao mosteiro, que se tornou um dos meus lugares preferidos na Áustria.
Para os adeptos de enoturismo, existem várias vinícolas em Durnstein que recebem visitantes e proporcionam experiência de degustação. Veja algumas no site do turismo local.
Day tour no vale Wachau
O tour pelo vale Wachau é muito prático, com partida de um local acessível e um guia simpático. O valor é muito próximo do que se pagaria viajando de forma independente, tendo em conta os valores individuais do bilhete de comboio (ida até Melk e regresso de outro local), cruzeiro no rio e entradas na abadia de Melk. Só tive pena não haver tempo para subirmos até às ruínas em Durnstein.
A empresa ferroviária propõe o bilhete Wachau, que inclui as três coisas (bilhetes de comboio, cruzeiro e mosteiro) por um valor mais baixo. Mas sobre este serviço não posso opinar, já que não o experimentei.
Vienna Sightseeing: site | Duração do passeio: cerca de 8 horas | Preço: 93€ (adulto), 39€ (3- 12 anos) | No inverno, o cruzeiro no Danúbio é substituído por um almoço num restaurante local e uma visita guiada em Krems ou Durnstein. Preços de 2023
Igreja de Durnstein: site | Horário: seg-sábado 9h-18h, domingo 10h-18h (só aberta a visitas no Verão) | Bilhete: 7,5€ (adulto), 5€ (6-15 anos) e 17€ (bilhete familiar). Preços de 2023
42 Comentários
Pelo que pude ver, o passeio foi lindo!Que bom tinhas as capas…Bom ser prevenida,rs,,, Lindas fotos! beijos, chica
É a experiência. A chuva atrapalhou várias aventuras no passado 🙂
Minha querida
Gostei imenso das fotografias, mas sobretudo da sua maneira de descrever tudo o quanto viu.
O seu estilo peculiar é deveras interessante e prende qualquer leitor, tenha a idade que tiver.
Obrigada por partilhar.
Um beijinho
Beatriz
Olá Beatriz, muito obrigada pela sua visita e amável comentário. Ainda bem que gostou de acompanhar esta nossa pequena aventura.
Um beijinho
Passeio maravilhoso minha amiga.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Fotos lindas num passeio de sonho.
Obrigado por partilhar connosco.
Abraço e bom fim-de-semana
Que interessante saber sobre este cruzeiro, não é um destino muito explorado por brasileiros, mas um dia gostaria de fazer cruzeiros fluviais pela Europa. Salvei um pin pra quando eu for, obrigada.
É verdade, Márcia. "Tropecei" em brasileiros em todo o lado em Viena, mas não ouvi nenhum falar de Camões cantado neste dia…
Que lugar maravilhoso! Quero conhecer.
Há tanto tempo que não vou a Viena. Esta região parece-me muito interessante. Especialmente a partir dum cruzeiro no Danúbio, que também me escapou quando visitei Budapeste… Boas viagens!
Ah, mas nós viajantes temos que fazer escolhas, por causa dos limites de tempo e carteira, haha. Fica com um bom argumento para um dia voltar
Um passeio prático e lindo! Adoraria conhecer essas pequenas vilas austríacas. Considerar cobrar entrada por conta do excesso de turistas denota um problema muito comum em vários lugares ultimamente. O turismo desordenado pode ser muito danoso.
Não podia estar mais de acordo. Outras cidades maiores têm-se ressentido por causa desse turismo desordenado, Veneza, Barcelona… os turistas até deixam de ser bem vindos
Nunca tinha ligado o Danubio e o Ricardo Coração de Leão 🙂 Um belo passeio. Oito horas já dá para uma boa contextualização, como sempre descrita com mestria pelos teus dedos. Conheci o Danúbio em vários pontos, todos eles belos. Belo artigo!
O rio deve assumir muitos rostos, já que passa por tantos países e banha quatro capitais. Este é apenas um deles…
eu adoraria fazer esse passeio pois vi o danúbio em outras capitais e gostaria de ver como é na "natureza" aheaueha não sabia que a Vénus de Willendorf saiu daqui!
Pois é, a Vénus de Willendorf ser daqui surpreendeu-me bastante, imaginava-a com uma terra Natal menos civilizada, haha
Eu achei q encontraram no norte da África ou algo semelhante. Mas enfim, essa região eh demais!
Gostei de ficar a conhecer.
Muito bom Ruthia.
Bj
Rui
Olhar d'Ouro – bLoG
Olhar d'Ouro – fAcEbOOk
Wow, this looks like an incredible place to visit someday. I love the first photo that you took of the mountainside. Really beautiful! Thanks for the share, have a fantastic rest of your day. Keep up the posts.
World of Animals
Thank you for your visit and support
Cheers
O passeio me pareceu ótimo, apesar das variação climática, rs. Além das histórias interessantes, fiquei com vontade de provar alguns dos produtos à base de pêssego. Você provou algum? Gostou?
Na verdade não provei. Considerei comprar algumas garrafas de licor para oferta, mas não tinha espaço pois levamos apenas bagagem de mão
Por isso que a valsa saiu lindíssima, também em um lugar desses! As fotos que você tirou ficaram muito boas, dá todo o tom do lugar. Uma ótima dica!
Olha só, acho que terei que voltar pra viena pra fazer esse day tour… gostei muito do seu relato! o rio danúbio é mesmo mto lindo, inspirador…
Por algum motivo inspirou uma das mais belas valsas de sempre!
Olha, sempre aprendendo por aqui! hehehe.
Adorei a matéria e só de ver essas fotos já sei que preciso conhecer esse lugar AGORA.
Adoro esses passeios em meio à natureza, em meio à história. As fotos, aliás, ficaram lindas. Adorei aquela com o céu e cidade espelhados. Parabéns pelo post! 😉
Você inspirando com essas viagens com paisagens maravilhosas e repleta de cultura e história e como sempre com fotos lindas.
Fiquei salivando pelos produtos de pêssego, amo demais. Aquele chutney e licor, delícia. Passeio lindo e gostoso de fazer..
Que charme de região! Adorei as fotos, as dicas de lugares a conhecer. Sabes que vamos a Budapeste em fevereiro e vou poder conhecer o rio de lá, pelo menos, hehehe, mas deu vontade de conhecer todos estes encantadores lugares.
Acho que existem cruzeiros que percorrem todo o Danúbio, o que também pode ser interessante, desde que inclua paragens em algumas cidades.
Amo pêssego e vinho, eu corria um sério risco de ficar Durnstein kkk, chegou a provar algum produto de pêssego? Temos que andar sempre preparados para qualquer imprevisto, como a chuva, ainda bem que estavam.
Hahaha, ficaria Durnsteinzada! Não provamos, ainda pensei comprar umas garrafinhas de licor para oferecer, mas tinha pouco espaço na bagagem.
Além de um texto muito bem conduzido, as fotos preenchem com sua riqueza de detalhes seu artigo. Sempre me cativam o conjunto de cores, a integração de rio e vales, o capricho com os detalhes presente no velho mundo. Lindo seu artigo.
Muito obrigada pela sua visita e amável comentário. Os vales sempre atraíram as comunidades humanas e a presença do rio só torna ainda mais prazeroso o lugar (para além de bonito). Depois, a Áustria é um país de primeiríssimo mundo, as pequenas localidades são um primor
Muito maneiro esse post. Realmente mais um lugar marcante para ser visitado. Adorei.
Nossa! Já estou morrendo de vontade de conhecer esse lugar. E foi muito interessante ver a Vênus. Nos livros de história da arte ela parece bem maior do que efetivamente é.
A Vénus é bem pequenina, daí a hipótese de ser um amuleto que transportavam consigo. É emocionante ver algo assim tão simbólico à nossa frente
Belíssimo rio! Amei as paisagens de montanhas com os castelos que o circundam!
Um post que é além das belezas fotografadas, um aprendizado. Incrivelmente delicioso de ler.
[…] Ora, Labora et Lege – Reza, trabalha e aprende. O lema dos beneditinos ecoa nesta sua abadia assombrosa, sobranceira ao rio que nos trouxe até Melk, em pleno vale de Wachau. […]