Atualizado em 24 Setembro, 2024
Entalhada entre as montanhas do Rif e rodeada de encostas de cannabis, a pequena Chefchaouen é uma preciosidade que todos os viajantes deviam conhecer. A sua maior riqueza reside nos seus infinitos tons de azul
A cidade fortificada de Chefchaouen ou Xexuão – que significa “entre cornos”, isto é, entre montanhas – remonta ao século XV, altura em que as tribos locais precisaram de se defender dos portugueses. Lembram-se das aulas de história? Pois é, as nossas aventuras ultramarinas começaram no norte de África.
Mas longe vão os tempos em que estas muralhas constituíam uma fronteira interdita a estrangeiros. Hoje, os turistas misturam-se com os habitantes, sobretudo berberes, numa amálgama animada de gente, vendedores de artesanato, crianças que jogam à bola, famílias que desfrutam de um dia livre.
O pitoresco da localidade magrebina, razão pela qual os instagrammers a amam, reside nas suas paredes e portas azuis. Na verdade, Chefchaouen não é só azul e branco, mas estas cores são as mais comuns no centro da povoação. Do azul celeste ao turquesa. Do discreto marinho ao mais espampanante cerúleo. A ponto de parecer que navegamos num sonho subaquático.
Uma dúvida assalta-me e estou certa que muitos partilham esta dúvida existencial. Porque existem tantas paredes pintadas de azul?
Li várias teorias, que vão do “serve para proporcionar frescura nos meses de Verão” ao “representam as águas do Mediterrâneo”. Pelo meio, versões muito distintas. Servem para afastar os mosquitos. São uma homenagem às águas de Ras el-Maa, que abastece a aldeia. Foram uma moda iniciada pelos judeus sefarditas, que usavam a “cor do paraíso” para manterem o foco no espiritual. Ou é simplesmente uma opção estética, que o turismo aproveitou de forma sublime.
Entrada discreta pela Bab El-Mahruk
Esta jornada começa numa manhã fria de Março, junto à Bab El-Mahruk, a porta norte do século XVI. Outras Bab, portas de acesso à cidade velha, rasgam a muralha acastanhada que, outrora, defendia a medina de invasões e hoje a protege dos ventos agrestes: a Bab El Ansar, a Bab El Ain, a Bab Es Souq ou a Bab el Sour.
Esta é a Chefchauoen dos chefchauoenos (não faço ideia como se chamam os habitantes, perdoem as minhas liberdades morfológicas). Nada de turistas nestes azimutes mais altos. Os gatos são os senhores destas ruas tranquilas de roupa a secar nas janelas. Pouco depois, vemos alguns homens de jelaba, mulheres de roupão que compram o pão matutino, vizinhas que se cumprimentam.
Pedem que não os fotografemos. O nosso guia explica que isto está relacionado com o Islão, que aponta como haraam todas as impressões, desenhos, gravações, you name it de seres vivos. Mentalmente penso que belas imagens estou a perder, mas isso não me impede de tentar iniciar uma conversa, dentro das limitações linguísticas.
Os becos e ruelas começam a animar-se, à medida que nos aproximamos da principal artéria da medina: a rua Hassan I.
Os tesouros da medina de Chefchaouen
O encanto da cidade azul reside na sua medina, que vale a pena explorar devagar. Aqui a vida é mais calma do que em outras cidades marroquinas e isso reflecte-se nos nossos passos.
No all those who wonder are lost. Já ouviu dizer? Perca-se pelo bairro Souika, com portas ricamente decoradas e lojinhas charmosas repletas de artesanato. Aqui é o lugar para comprar tapeçarias mas os chapéus com enfeites de lã, típicos dos agricultores locais, também são engraçados.
Encante-se com os vasos coloridos do bairro Rif Andaluz, que oferecem um contraste perfeito nas fotos. Deixe que o deambular preguiçoso o conduza à grande mesquita de minarete octogonal. Sente-se a tomar um chá numa esplanada, na central praça Uta el-Hammam. Visite a Kasbah, a fortaleza que acolhe, no seu interior, um museu etnográfico rodeado de belos jardins andaluzes. Ou experimente um hammam, os banhos públicos tão característicos do mundo árabe.
Por fim, aproveite as águas da montanha. As quedas de água Ras el-Ma ficam mesmo às portas da cidade e chegam a Chefchaouen através de um pequeno riacho. Os habitantes criaram ali uma espécie de esplanada/zona de lazer, onde se multiplicam banquinhas. O que vendem? Um dos melhores sumos de laranja do mundo.
Rumo às montanhas
Se estiver disposto a uma pequena viagem de cerca de 45 minutos (de carro ou táxi), pode ainda conhecer as cristalinas cascatas D’Akchour, uma das principais atracções da região. Infelizmente visitámos a cidade num dia chuvoso, o que impediu grandes aventuras na natureza.
Outra opção será fazer um trilho no Parque Nacional Talasemtame, nas montanhas do Rif. Na mesma direcção, mas à distância de uma curta caminhada, fica uma das mais belas vistas panorâmicas sobre Chefchaouen. Cerca de 10 minutos serão suficientes para chegar à mesquita Bouzafaar, onde a tal vista se abre perante os nossos olhos.
Dicas úteis
Como chegar
Se vem do estrangeiro, o aeroporto mais próximo é o de Tânger. Dali pode apanhar um autocarro da CTM até Chefchaouen. Outra alternativa será conduzir desde a Europa, entrando em Marrocos através do estreito de Gibraltar. Se vem de outras cidades marroquinas, como Fez, Rabat ou Casablanca, o autocarro continua a ser uma boa opção.
Onde ficar
Nós ficámos uma noite nos arredores da cidade, no hotel Dar Ba Sidi, com simpáticos bungalows e jardins que devem ser uma delícia no Verão. Na segunda noite ficámos no riad Dar Echchaouen, mais próximo da medina. Gostei muito desta segunda opção, não só pela localização, mas também pela decoração dos quartos e pela qualidade do restaurante.
Os riads são casas tradicionais, normalmente próximas da medina, fechadas do lado de fora e com um pátio interior. Trata-se de uma opção muito charmosa de alojamento como explica o blog Uma Senhora Viagem, no artigo Riad ou Hotel em Marrocos. Dicas de hospedagem.
Onde comer
Fizemos um almoço tradicional no hotel Parador, junto à kasbah, com saladas marroquinas, tajines e docinhos para rematar, com o tradicional chá. Lembre-se que a dieta mediterrânica está na lista de Património Cultural da Unesco e fuja das estrangeirices (escrevi sobre esta dieta que une Chefchaouen a Tavira, no sul de Portugal, aqui). Nas redondezas da praça Uta el-Hammam há muitos restaurantes e comida de rua também.
Nota: Esta viagem foi realizada a convite do Turismo de Marrocos.
32 Comentários
Um lugar muito bonito.
Um abraço e um bom 25 de Abril.
Uma cidade que adoraria conhecer, pois azul é a minha cor preferida.
Muito grata pela partilha.
Abraço
É ir, Elvira. Há voos directos aí de Lisboa para Tânger, que não fica muito longe desta cidade
Acho essa cidade a coisa mais lindinha, rs (será que é pq minha cor favorita é azul?). Tenho muita vontade de conhecer e adorei suas dicas!
Eu também gosto muito do azul, em todas as suas variantes. Mas nunca imaginaria pintar a minha casa de azul, haha
Tá aí um lugar que eu queria muito conhecer! A Grécia ficou famosa com as casinhas brancas e agora o Marrocos com as casinhas azuis haha
Esta tradição só existe nesta cidade de Marrocos. Mas, durante as minhas pesquisas, descobri que também há uma “cidade azul” na Índia. É, no mínimo, inusitado
Chefchaouen, a cidade azul mais lindaa de Marrocos. Estou apaixonada nessas fotos lindas! Parabéns pelo texto já quero fazer as malas
Surreal. Estava aqui pensando: de onde ou de que vem o pigmento azul? Talvez í haja nisso alguma explicação…
Como escrevi no post, há várias teorias sobre o motivo desta “moda”, mas o que importa mesmo é o resultado 🙂
Muito interessante saber das possibilidades que originaram esse padrão azulado na cidade de Chefchaouen. Com certeza, um diferencial bem explorado pelo turismo. Belas fotos!
Só se o Turismo fosse muito obtuso é que não tentaria explorar esse potencial para atrair visitantes.
Que maravilha!
Estive em Marrocos duas vezes (uma há muitos anos e outra bem mais recente, em 2015)
Mas infelizmente não tinhas ainda publicado esta reportagem… e por isso não fui visitar essa maravilhosa cidade.(nem sabia da sua existência…)
Fotos lindas, informação detalhada… viajei contigo (o que não quer dizer que não tente ir lá com o meu habitual companheiro de viagens – o meu filho…)
Obrigada pela partilha, querida.
Bom final de Domingo e boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Podes chegar de avião ou de carro, a partir do sul de Espanha. E juntar a Chefchaouen outras cidades do norte do país, como Tânger, Tètouan (posts em breve sobre as duas cidades) e Fez.
Acho que as minhas fotografias não captaram a essência daquela cidadezinha singular.
Beijinho
Incrivel essa cidade. Acho muito bonita e interessante essas cidades monocromáticas. Fica incrível!
Gostaria de conhecer. Colocarei no meu roteiro qndo for!
Que amor esta cidade! Nunca estive no Marrocos, mas os tons de azul me fizeram lembrar do mar de Capri. É do tipo de lugar que realmente dá vontade de fotografar tudo.
Chefchaouen, a cidade azul de Marrocos, é encantadora. Já tinha ouvido falar mas nunca tinha prestado muita atenção. Seu relato foi completo e assim podemos colocar em nosso roteiro de viagem essa região fantástica.
Que bom, não se vão arrepender. É um destino lindo e calmo, quando comparado com outras cidades marroquinas
Fui para Marrocos já fez uns anos, mais só fui para a parte do deserto, agora tenho que visitar o litoral e a cidade de Chefchaouen, excelente dica.
Com certeza é um grande diferencial essa cidade tão azul. Um lugar perfeito para aquelas fotos tumblr ! Preciso conhecer!
Perfeição define Chefchaouen… Que lugar mais lindo. Confesso que tem pouco tempo que ouvi falar da Cidade Azul mas a vontade de conhecer já é imensa. Quantos dias acha ideal para aproveitar bem? Parabéns pelo post, lindas imagens e relato perfeito. Amei
A cidade é muito pequenina. É possível ver tudo num único dia, mas se ficar dois pode conhecer as cascatas que dizem que vale muito a pena
Esse azul da cidade Chefchaouen é lindo! As fotos estão incríveis e essa cidade murada deve mesmo ser um ponto super interessante para se visitar no Morrocos. Sobre não poder fotografar os locais, eu também pensaria a mesma coisa, pois amo tirar fotos do cotidiano. Fiquei de olho nesse almoço no hotel Parador, pois adoro esse tipo de culinária.
As fotos não refletem a beleza do lugar, por causa das limitações técnicas da fotógrafa. Voltei encantada com Chefchaouen
Que lindeza que é Chefchaouen!! O Marrocos, realmente, guarda muitas surpresas! Caminhar sem muito objetivo, apenas deixando-se levar pelas ruelas, por si só, já é uma aventura encantadora!
É um passatempo do qual gosto muito. Muitas vezes é aquela correria para conhecer todos os pontos turísticos de uma cidade, então foi muito bom variar
Nós não fomos para Chefchaouen em nossa viagem para Marrocos, mas que pena, que coisa mais linda, quanto tons de azul! Agora precisamos voltar.
Destino belíssimo e super exótico, que destaca bem da visão da cor terra do Morrocos. Chefchaouen parece mesmo incrível e está na minha lista pra conhece-la agora! Bjo, qjo
As cores claras contrastam muito com o tom escuro das montanhas mas o azul também fica muito bonito
Ainda não conheço o Marrocos, mas quando for, Chefchaouen já tá na minha lista. Esses tons de azul são lindos!
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