Atualizado em 25 Maio, 2023

O Banco é um dos parques nacionais mais pequenos da Costa do Marfim, mas o tamanho não é proporcional à sua importância. Venha conhecer a área protegida a norte de Abidjan

Quem mora numa grande cidade precisa de uma dose regular de oxigénio. Quem habita numa metrópole africana com automóveis para lá de velhos, que digerem o mais intratável dos combustíveis, precisa de um pouco mais. A solução para abidjanenses, locais ou expatriados, chama-se Floresta do Banco e ganhou estatuto de parque nacional em 1953.

Desde então, perdeu bastante extensão e continua a sentir a pressão da urbanização anárquica dos municípios vizinhos. Mantém hoje quase 3500 ha de área protegida, 600 dos quais constituem floresta primária, ou seja, uma floresta intacta, que nunca foi explorada pelo homem.

É provável que a origem do seu nome derive do rio Gbangbo, que a atravessa, e que significa “fonte de água refrescante”, na língua ebrié. Sobre a utilidade do parque Banco acrescente-se que fornece cerca de 40% da água potável a Abidjan e ajuda à qualidade do ar desta metrópole de cinco ou seis milhões de pessoas.

Li que as árvores do Banco absorvem 35 mil toneladas de dióxido de carbono por ano e libertam 68 mil toneladas de oxigénio para a atmosfera. Se esta floresta não existisse, possivelmente o ar da cidade seria irrespirável [Leia também Abidjan, a Manhattan africana]

Para além de ar puro, o Parc National du Banco tem árvores raras, um arboreto com mais de 800 plantas nativas (a árvore mais velha, um Aielé, também conhecida como elemi africano, tem 200 anos), um ecomuseu, uma escola para guardas florestais, que aqui permanecem seis meses em formação e, segundo um estudo da Wild Chimpanzee Foundation, uma família desses primatas. Bons argumentos para uma caminhada ou um passeio de bicicleta, não acham?

Se outrora o Banco gozou de má reputação entre a população, que acreditava ser habitado por espíritos malignos, actualmente é cada vez mais procurado para uma breve e saudável aventura, defendido pelos guardas e pelos habitantes (existe uma aldeia junto à escola florestal), que se vão apercebendo do seu valor.

Caminhada na Floresta do Banco

Levamos uns 20 minutos desde a entrada até um parque de estacionamento improvisado junto à aldeia. O guia espera o grupo, para uma caminhada de duas horas, entre árvores majestosas, fetos, arcos gigantes de bambu e plantas cujo nome desconheço por completo. A natureza revela-se aqui em toda a sua criatividade, entre lianas retorcidas, como se pelas mãos de um escultor.

Uma das árvores mais maravilhosas que lá vislumbrei tinha frutos a crescerem do tronco. O guia explicou que são tão duros que apenas o elefante o consegue digerir, mas, infelizmente, já não restam elefantes por aqui (e, por isso, o mesmo futuro espera esta árvore mágica).

Uma rede de 80 km de trilhos corta a floresta do Banco, mas é muito fácil perder-se no meio da vegetação luxuriante: um guia é fundamental. Subidas íngremes, troncos caídos em decomposição, o caminho que de repente se releva junto a um precipício, descidas que só conseguimos vencer sentados… no final, estamos despenteados, de olhos brilhantes, um pouco ofegantes, mas orgulhosos da jornada.

O parque nacional do Banco não tem animais perigosos. A família de chimpanzés, bem como outras espécies de macacos, bushbuckles e duikers (pequenas corças), e até répteis mantêm-se longe dos caminhantes – sobretudo de um grupo como o nosso, que inclui crianças ruidosas.

Mas um olhar mais atento revela uma infinidade de pássaros, centopeias, borboletas e caracóis tão grandes, que parecem saídos de um livro de ficção científica. No curso de água junto à aldeia é possível observar o famoso bagre do Banco, um peixe de água doce de bigodes compridos. Os visitantes costumam atirar pão para a água – por favor não atirem snacks – e rapidamente eles aparecem, impressionantes e esfomeados.

Antes do regresso a casa, há tempo para uma visita rápida ao eco-museu, instalado na antiga casa de Governador. Com apenas uns painéis informativos e alguns crânios animais, incluindo a cabeça de um macaco embalsamado, não é um lugar impactante. Mas a educação ambiental das crianças tem que começar por algum lado e, eis que um grupo de alunos pequenos vem comprovar este argumento….

Se as florestas o fascinam, espreite também o artigo Passeio de 3 dias na Floresta Amazónica.

Os parques naturais da Costa do Marfim

Ao todo, existem oito parques nacionais na Costa do Marfim, para além de outras tantas reservas naturais. A Floresta do Banco é o segundo menor do país – perde para o parque das Ilhas Ehotilé -, mas também o mais acessível.

Nesta lista constam dois parques particularmente importantes, ambos na lista de património mundial da UNESCO: o Parque Nacional Comoé (o maior, a nordeste) e o Parque Nacional Täi, a sudoeste. Ambos considerados importantes para a conservação de grandes primatas, a nível mundial, o Comoé deixou de ser considerado em risco em 2017.

Com 5.364 km² de floresta tropical primária, o parque Täi é de longe o maior remanescente de floresta tropical na África Ocidental, habitat de muitas espécies raras e ameaçadas de extinção. O chimpanzé, o hipopótamo pigmeu e várias espécies de duikers (antílopes) e pangolins da floresta fazem parte da fauna de mamíferos globalmente ameaçada, enquanto várias plantas consideradas extintas foram descobertas no parque.

A lista de parques nacionais da Costa do Marfim inclui ainda: o parque nacional de Azagny (a 100 km de Abidjan, 60% rodeado de água), o parque nacional de Marahoué (a duas horas de Yamassoukro), o parque nacional das ilhas Ehotilés (composto por seis ilhas, perto de Assinie), o parque nacional do Mont Péko e o parque nacional do Mont Sangbé. Fiz um mapa com a localização de todos os parques da Costa do Marfim, que pode aceder aqui.

O Banco é um dos parques nacionais da Costa do Marfim

Dicas úteis para visitar a floresta do Banco

Como chegar

O parque nacional do Banco fica no limite de quatro municípios de Abidjan (Adjamé, Attécoubé, Abobo e Yopougon). A entrada principal do parque fica mesmo junto à auto-estrada norte, depois da primeira ponte de Yopougon e antes do posto de gasolina Shell. A entrada não está muito bem sinalizada, pelo que se aconselha a ir devagar, na faixa da direita, travando até chegar ao corte, em terra batida.

Outras dicas

A taxa de entrada é de 1000 CFA para nacionais (cerca de 1,5€), 5000 FCFA para estrangeiros e 500 CFA para crianças*. Depois de pagar a entrada e contratar um dos guias disponíveis junto ao portão (não há um valor fixo para isso, 3000-5000 CFA será um valor razoável para um trabalho de algumas horas), leve o carro até ao ponto de partida das caminhadas. É possível fazer um piquenique no parque mas, obviamente, deve recolher e transportar o seu lixo – a floresta do Banco é uma área protegida.

Não se esqueça de levar calçado adequado para caminhadas, calças compridas, chapéu, repelente e bastante água.

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