Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Para além de três trilhos marcados e homologados, Guimarães têm muitas outras opções para caminhar e pedalar em todo o concelho. Vamos fazer uma caminhada? Pela nossa saúde

Guimarães é uma cidade linda, que me conquistou há vários anos, a ponto de a considerar “casa”. É também um destino elogiado, tanto por turistas nacionais como estrangeiros. Mas os seus atractivos não se esgotam no trio castelo-Paço dos Duques-praça da Oliveira. Para quem já explorou bem a cidade-berço, ou a quer conhecer de outra perspectiva, vai gostar desta Guimarães verde.

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Há vários anos que os vimaranenses se juntam, ao final do dia, para correr e caminhar, talvez em resultado de uma consciência crescente dos benefícios da actividade física para a saúde. Os espaços verdes também se vão multiplicando, ainda antes de Guimarães preparar a candidatura para ser capital europeia verde, com destaque para o grande parque da cidade e o complexo desportivo, que nasceu em redor da pista de atletismo Gémeos Castro.

A cidade-berço não é muito acidentada – à excepção da subida para a Penha – o que permite caminhar sem grande dificuldade no centro. Existem também três trilhos em Guimarães, de pequena rota, para quem procura um pouco de contacto com a natureza. Fizemos cada um deles de forma autónoma, como vos contarei de seguida.

No final, deixamos ainda outras sugestões de locais para caminhar e pedalar em Guimarães. Calce umas botas de caminhada que vamos palmilhar uns quilómetros.

Caminhantes no parque da cidade de Guimarães.

PR1 GMR – São Torcato e os seus moinhos

Cerca de 10 minutos separam o centro de Guimarães e a castiça freguesia de São Torcato, famosa pelo seu santuário, elevado à categoria de basílica em 2020 e precisamente o ponto de partida para este percurso de pequena rota, com cerca de 8,5 km.

Neste trilho sente-se a “harmonia entre a Terra, o Homem e o Rio, sempre interligados por caminhos com História (…) Sendo um vale de tradições rurais, com a introdução do milho rijo em meados do século XVI, os moinhos tiveram um papel importante no desenvolvimento económico local”. Está explicado o nome dado a este percurso circular.

Importa, antes de tudo, conhecer o interior desta igreja em granito, construída a partir de um projecto do século XIX do arquitecto de origem russa e nacionalidade alemã, Bohnfledt. A sua monumentalidade contrasta com a simplicidade de uma terra de fé, onde o culto a S. Torcato tem como ponto alto a romaria grande no primeiro domingo de Julho.

As naves altíssimas, a luz que se filtra em singelos vitrais e, no lugar de honra, o corpo de Torcato que, apesar de martirizado nos idos do século I d.C., continua incorrupto. Devido a um cúmulo de condições naturais, diz a ciência; devido à sua santidade, dizem os crentes.

Visitado o santuário, procurámos o painel que marca o início do percurso, sem sucesso. O segundo lugar de visita seria o museu etnográfico e de arte sacra, fechado naquele dia, pelo que apelamos à ajuda do Google Maps para nos dirigirmos ao campo da Ataca.

No parque de São Torcato (bem agradável, por sinal), lá encontrámos as primeiras pistas do percurso pedestre, que se abriu em verdejantes campos rurais, ladeados por vinhas de enforcado. Este sistema que remonta à Idade Média, quando era usado para produção de vinho para os plebeus, consiste no cultivo da vinha em postes altíssimos que ladeiam os campos, potenciando o espaço interior para o milho, hortícolas ou culturas forrageiras.

O corpo do santo, no interior da Basílica de São Torcato.

Chegámos entretanto ao campo da Ataca onde, diz a tradição oral, terá acontecido a Batalha de S. Mamede que iniciou o processo rumo à independência do reino de Portugal. Um pórtico inspirado no infante Afonso Henriques e a sua mãe enfeita hoje a entrada do campo, onde uns soldados estilizados, da autoria de Augusto Vasconcelos, recordam o combate.

Seguiu-se um trecho de estrada apertada e quase sem bermas: a Rua da Corredoura. Esta foi a parte mais desagradável e perigosa do percurso – dada a velocidade com que os carros ali passam –, que depois se encosta ao rio e às ruínas dos moinhos de água, até voltar ao centro de São Torcato.

Tempo ainda para uma visita breve à Capela da Fonte do Santo, local onde este terá sido martirizado no ano de 715, quando quis impedir o avanço do exército árabe liderado pelo general de Tarik. Dizem que, no exacto ponto de onde retiraram o cadáver, brotou uma fonte que tem sido usada, desde então, para curas.

A nossa impressão geral é que este é um trilho agradável, passível de ser feito com crianças pequenas, tendo especial cuidado no trecho de estrada. Contudo, podia estar melhor marcado, em particular na partida e nos arredores dos moinhos.

Ficha técnica

Partida e Chegada: Basílica de São Torcato
Tipo de Percurso: Pequena Rota, por caminhos rurais
Distância: 8,5 Km – circular
Duração: cerca de 4 horas
Nível de Dificuldade: Fácil (com desníveis pouco acentuados)

PR2 GMR – Rota da Citânia

A Citânia de Briteiros, expoente da cultura castreja em Portugal, é a “estrela” deste percurso que se estende por duas freguesias de Guimarães, mas passa por território de Braga também. O trilho está delimitado a Norte pelas montanhas da Falperra e a Sul pelo vale do rio Ave.

O percurso pedestre começa junto do Museu da Cultura Castreja, que merece uma breve visita. A colecção conta com artefactos em ouro, trabalho de pedra – de que são exemplo as Pedras Formosas -, objectos de uso pessoal, instrumentos e alfaias agrícolas, que testemunham o avanço cultural e artístico dos povos castrejos.

Sendo circular, o trilho pode ser realizado em ambos os sentidos. No entanto, as pistas conduzem-nos no sentido dos ponteiros do relógio. Quem desejar, pode ir até à igreja e aí procurar as indicações do sentido contrário, mais difíceis de encontrar.

Começamos por subir até Portuguediz, já no concelho de Braga, um caminho zen entre árvores, fetos e sons da natureza. A vegetação estava muito molhada, pois chovera na noite anterior, o que significou pés e calças encharcadas. Mas a envolvência natural, acompanhada pela canção de ninar do rio Febras, secundarizou esse pequeno incómodo.

Feito o desvio para visitar a Citânia de Briteiros, já sobejamente conhecida cá em casa [recorde Entre os bracari: Citânia viva] e cortada a estrada, começa-se a descer para  a freguesia de Donim. O piso deste trecho é um pouco chato, com pedras soltas que resvalam, mas não se prolonga durante muito tempo. Chegamos depois ao moinho de cubo, as casas reaparecem, até vermos a torre da Igreja de S. Salvador de Briteiros, sinal de que a caminhada está quase a chegar ao fim.

Resta-nos um curto caminho de estrada até ao carro, para nos despedirmos da região onde, outrora, se desenvolveram as primeiras formas civilizacionais, hoje conhecidas graças ao trabalho arqueológico de Martins Sarmento, no século XIX.

Tudo somado, foram umas horas bem passadas, num trilho bem marcado e com pontos naturais muito bonitos, em particular junto ao rio Febras. Recomendo vivamente.

Ficha técnica

Partida e Chegada: S. Salvador de Briteiros, junto ao Museu de Cultura Castreja
Tipo de Percurso: Pequena Rota, por caminhos rurais
Distância: 9,5 Km – circular
Duração: cerca de 4 horas
Nível de Dificuldade: Fácil (com desníveis pouco acentuados)

PR3 GMR – Rota da Penha

A Penha é mais que um mero miradouro para a cidade-berço. A montanha é um lugar refrescante, de grutas, desfiladeiros, grandes pedregulhos de granito. É para onde muitos vimaranenses rumam nos dias de calor, em busca de sombras, uma brisa ou um local para piqueniques.

Nos últimos três séculos a pegada humana aumentou, graças a um ermitão que escolheu uma gruta para a sua vida contemplativa, rapidamente tornando este um lugar de fé. Hoje, a Penha tem um santuário discreto, uma pequena capela ao S. Cristóvão e a gruta-capela dedicada a N. Senhora do Carmo, onde o S. Elias, padroeiro do sono, promete algum alívio a quem sofre de insónias. Há pequenos cafés e lojas de souvenirs.

Sendo um lugar tão simbólico para Guimarães, inspira, sem surpresas, um percurso pedestre, ainda que não fosse necessário marcar um percurso para os vimaranenses que fazem da subida uma espécie de peregrinação desportiva.

O painel que marca o início do percurso fica junto da Igreja de Santos Passos (casa do padroeiro da cidade, S. Gualter), seguindo entre o casario da freguesia da Costa numa primeira fase. O primeiro ponto de interesse é o Convento de Santa Marinha, fundado em 1154 pela esposa de D. Afonso Henriques, que o doou à Ordem de Santo Agostinho. O espaço foi adaptado a uma requintada pousada, mas pedindo licença, é possível visitar a igreja de fachada rococó.

Uma escadaria secular conduz-nos até lá. No interior, vê-se a abóbada da capela-mor renascentista, muitos detalhes rococós e um cadeiral em bela talha neo-clássica. Não muito longe, vale a pena espreitar a pequena capela de Santa Catarina, escondida entre penedos, que possui um púlpito portátil em talha antiga e na forma de cálice.

Segue-se uma íngreme subida, que exige algumas paragens para recuperar o fôlego, antes de entrarmos no reino mágico da Penha. Os grandes penedos cobertos de musgo parecem saídos de um enredo de Tolkien. A rota sugere visitar o largo de Pio IX (com uma estátua monumental em mármore de Carrara), a gruta de N. Senhora de Lurdes, o santuário e as capelas.

Mas a Penha esconde outros segredos que merecem ser desvendados, antes do regresso à cidade: a Adega do Ermitão ou o Penedo Suspenso, por exemplo. Se as energias estiverem a faltar, ou tiver problemas nos joelhos, pode sempre descer de teleférico.

Ficha técnica

Partida e Chegada: junto à Igreja de Santos Passos (mas há quem parta do parque da cidade)
Tipo de percurso: Pequena Rota
Distância a percorrer: 8,5 Km – circular
Duração do percurso: cerca de 3 horas
Nível de dificuldade: Fácil, mas com um desnível maior (dos 210 aos 613 metros)

Ecovias e outros locais para caminhar e pedalar

Ciclovia original

A primeira ecovia de Guimarães (16,5 km), de  percurso pedonal e ciclável, foi inaugurada em 2018 numa área mais urbana, sobretudo entre Mesão Frio (onde tem ligação até Fafe, aproveitando uma antiga linha ferroviária) e Creixomil. O traçado passa por vários espaços verdes, como o caminho real, o parque da cidade desportiva, as hortas comunitárias e o pavilhão multiusos, mas também áreas bastante citadinas, como o lugar da Cruz de Pedra e a estação de caminhos-de-ferro.

Existem vários pontos de descanso na ciclovia, para além de estacionamento, lavagem e estação para reparação de bicicletas. Os trechos mais simpáticos para caminhar são junto da cidade desportiva e do parque da cidade. Aliás, com cerca de 30 hectares, o parque da cidade é o lugar ideal para fazer exercício, sem respirar dióxido de carbono.

Novas ecovias

Para além da ciclovia já existente, e amplamente usada pela população, a cidade berço tem em projecto uma teia de ecovias e ciclovias que se vai estender por 51 quilómetros. Segundo notícias recentes, os novos traçados “permitirão desfrutar das margens dos rios, e deslocações, sobretudo de lazer, entre alguns dos pontos mais distantes” do concelho.

De um lado, vai nascer a ecovia do Ave, nas margens do rio homónimo, com um total de 29 quilómetros (início em Serzedelo/Ronfe e término em Arosa/Castelões). Do outro, a ecovia do Selho com 22 quilómetros, desde a nascente do rio em Gonça até Serzedelo. Os dois traçados hão de ligar-se em algum ponto, acabando por atravessar 14 freguesias. [Quando forem inauguradas, prometo actualizar este post].

Uma das instalações do projecto “Arte na Paisagem”, na Penha.

Arte na Paisagem

Para quem não gosta de se aventurar sozinho na natureza, as ecovias são uma boa alternativa. Surgem ainda, com alguma regularidade, caminhadas organizadas por grupos de cidadãos ou associações. Foi o caso do projecto Arte na Paisagem”, que inspirou um percurso especial e temporário, de 10 km, do parque da cidade até à montanha da Penha.

A peculiaridade deste trilho, que se fez em caminhada colectiva em Março e Abril de 2022, foram as intervenções na paisagem de quatro artistas plásticos: Engrácia Cardoso, Manuel da Fonseca, Nuno Machado e Pedro Bastos. Em suma, esta iniciativa desportiva da ERDAL teve uma inspiração artística, conceito que me parece muito interessante. Para aproveitar estas oportunidades, basta estar atento à agenda cultural de Guimarães.

Vocês já fizeram algum trilho em Guimarães? O que mais gostaram?