Atualizado em 18 Outubro, 2024

Um anfiteatro montanhoso rodeia a charmosa Kotor, cidade medieval que é Património Mundial e dá nome a uma baía cinematográfica. Descubra a cidade dos gatos, a sua baía e outros locais nos arredores

Situada numa posição privilegiada, no final de uma bela baía, Kotor é uma antiga cidade muralhada repleta de ruelas empedradas que nos conduzem a recantos encantadores com igrejas, praças e palácios. Principal destino turístico do país, uma parte da sua popularidade prende-se com a curta distância desde Dubrovnik, na vizinha Croácia, a pouco mais de 90 km. Fazer uma viagem a Kotor de um dia apenas é um desperdício tremendo.

Apesar de pequena, Kotor merece um passeio sem pressas, com tempo para desfrutar dos seus esconderijos e esplanadas. O ideal será visitá-la de manhã bem cedo ou ao final da tarde, quando as excursões dos cruzeiros abandonam o porto. Para além disso, é preciso tempo para explorar a Baía de Kotor (Boka Kotorska), uma das paisagens naturais mais impressionantes do Montenegro e Património Mundial da UNESCO, classificação absolutamente merecida. 

Ao longo da baía que muito se assemelha aos fiordes do norte da Europa, existem várias cidadezinhas que merecem um passeio (Perast e Herceg Novi, por exemplo), grutas e praias azul-turquesa, perfeitas para os amantes do sol. Sem mencionar a estrada que bordeja a baía, de vistas oníricas.

Querem um guia dos locais mais interessantes para visitar em Kotor e arredores? É só pedirem.

O que visitar na cidade de Kotor

Belo labirinto de ruas de paralelepípedos rodeadas por uma muralha medieval, as atrações de Kotor incluem uma catedral ortodoxa e outra católica, um palácio ducal de estilo veneziano, um museu dedicado aos gatos e a torre do relógio, em funcionamento desde o século XVII. Entre os antigos palácios de pedra escondem-se pequenas oficinas de artesãos, que trabalham a cerâmica e a ourivesaria.

Se tiver tempo e energia, pode subir as impressionantes muralhas encosta acima, até à Fortaleza de São João. A vista do topo é fantástica, mas exige vencer dois mil degraus (eu não as contei, nem subi até ao final). De qualquer forma, é possível apreciar a panorâmica da baía a partir de outros pontos, como vos contarei em breve.

Recomendamos entrar no centro histórico pela significativa Porta do Mar, a entrada principal para a cidade muralhada, outrora acessível apenas por mar. Construído durante o domínio veneziano (que durou séculos), o portão é coroado com um Leão de São Marcos, o símbolo de Veneza, bem como uma estrela comunista com a data da libertação da cidade dos nazis e uma frase do último líder jugoslavo.

visitar a cidade velha de Kotor

Cruzado o portão, estamos na Praça de Armas (Trg od Oružja), centro nevrálgico de Kotor. Repleta de esplanadas, a animada praça está rodeada de palácios venezianos e construções do século XVII como o palácio ducal, o teatro francês e a fotogénica torre do relógio. A um dos cantos da praça, encontra ainda uma maqueta da cidade histórica.

Passeamos depois por várias ruazinhas bonitas da cidade velha até à Praça Sv. Tripuna, onde se destacam as duas torres gémeas da Catedral de S. Trifão, patrono de Kotor.  Reconstruída em estilo barroco no século XVII, a igreja remonta, contudo, ao século XII, sendo uma das mais antigas dos Balcãs e uma das duas únicas catedrais católicas do Montenegro. O bilhete dá acesso a um pequeno museu de arte sacra e uma bela visão sobre a praça.

Passamos depois pela fachada renascentista do Palácio Pima (Praça Od Brašna), para continuarmos pela rua Ulica 2, repleta de lojinhas de artesanato e souvenirs, até ao portão Gurdic, o portão sul. Saímos por um momento, para apreciar as altas muralhas, a torre e uma ponte levadiça rodeada pelo fosso cheio de água. Um colorido mercado funciona ali diariamente, com produtos locais e maravilhosas cerejas.

Perto do portão Gurdic existe uma entrada para as muralhas (8€, no verão de 2024) caso as pernas o permitam. O cinturão de muralhas foi sendo construído a partir do século IX e estende-se por cerca de 4,5 km, mais coisa menos coisa.

De regresso à cidade intramuros, rumamos à parte oeste, onde fica a praça de São Lucas, com a minúscula igreja de S. Lucas (séc. XII), que tem a curiosidade de ter um altar ortodoxo e outro católico, e a linda igreja de São Nicolau, de estilo neobizantino. Com um pouco de sorte, consegue ouvir o coro a ensaiar.

Nesta região da cidade medieval encontra ainda um pequeno bazar encostado às ruínas do mosteiro dominicano que é um charme, e a Igreja de Santa Maria numa praça com uma fonte de água fresca e dezenas de gatos.

De resto, os gatos estão por todo o lado, de todos os tipos, cores e tamanhos. Há quem diga que são herança de diversos navios mercantes, mas na vizinha Dubrovnik foram introduzidos como combate à peste negra (porque caçavam os ratos portadores da doença).

Seja qual for a explicação, certo é que Kotor é uma cidade de gatos. Os felinos são a marca da cidade, há variados souvenirs inspirados nos pachorrentos felinos e até um pequeno museu dos gatos, cujo valor do bilhete, simbólico, serve para alimentar os gatos da cidade.

#Dica: Dizem que subir às muralhas é um programa imprescindível em Kotor, mas tenha em atenção ao calor e à irregularidade dos degraus, especialmente se viaja com idosos e crianças. Em alguns trechos, o piso é muito escorregadio, por estar tão gasto. 

Portão Gurdic

Passeios na baía de Kotor

Miradouros de Kotor

A estrada R-1 liga Kotor ao montanhoso Parque Nacional de Lovćen. Mais conhecida como “serpentine”, esta pitoresca via que serpenteia a montanha é extremamente sinuosa, feita de curvas apertadas (algumas de 180°). Em vários trechos é difícil que dois carros se cruzem e, se encontrar um autocarro turístico pelo caminho… boa sorte!

Se não tem muita experiência de condução, caso se depare com um autocarro ou camião, tente manter a calma e manobre com cautela, pois as bermas são acidentadas e, em alguns locais, desprotegidas.

A estrada é mesmo muito estreita; em alguns pontos, será necessário inverter a marcha até encontrar um local mais largo onde possa dar passagem a quem vem no sentido contrário. Se não quiser arriscar, pode sempre juntar-se a um dos tours que partem de Kotor (espreite este da Get Your Guide).

No nosso caso, para evitar subir a serpentine durante a manhã, altura em que está mais movimentada, visitámos Budva bem cedo e seguimos depois por Cetinje, antiga capital do Montenegro. Explorámos o parque à tarde, regressando a Kotor pela serpentine a uma hora em que os autocarros turísticos já tinham partido.

A recompensa foram paisagens sublimes da cidade e baía de Kotor, Tivat e outras localidades, já que existem vários miradouros na beira desta estrada imprópria para cardíacos. A foto de entrada deste artigo foi tirada nesta estrada.

Parque de Lovćen

Lovćen é uma montanha (1749 metros) e um parque nacional no sudoeste de Montenegro, na região rochosa dos Alpes dináricos. As suas encostas são íngremes, elevando-se da região costeira de Budva e da parte oeste de Cetinje, onde se encontra a sede do parque.   

Toda a região da “Montanha Negra” (Crna Gora), que terá dado origem ao nome do Montenegro, é considerada sagrada pelos montenegrinos. “Lovćen é o nosso altar sagrado”, versa uma famosa canção local. Li algures que a montanha está para os montenegrinos como a Estátua da Liberdade está para os americanos.

O Parque Nacional de Lovćen possui nove habitats diferentes num espaço pequeno, estimando-se ser casa de dois milhares de espécies de plantas, gatos selvagens, ursos, lobos, javalis, lagartos, cobras e outra bicharada.

interior do mausoléu de Petar II Petrovic

Existem cinco trilhos no parque, de diferentes distâncias e graus de dificuldade, que passam por intermináveis ​​​​bosques de faias e antigas estradas austro-húngaras, construídas em pedra lavrada, bem como três trilhos assinalados para BTT, dos quais apenas o “Grande passeio circular por Lovćen” é exclusivo para ciclismo.

Vale a pena visitar também o Mausoléu de Petar II Petrović Njegos, bispo e poeta montenegrino que também cantou a montanha nos seus versos. O mausoléu fica no topo da montanha Jezerski vrh. É preciso vender 461 degraus desde parque de estacionamento ao imponente mausoléu, concluído e aberto ao público em 1974.

Junto ao mausoléu existe um miradouro circular rodeado de paisagens dramáticas que permite, em dias de céu limpo, ver a maior parte do Montenegro, partes da Albânia, Herzegovina e Croácia, e até as “luzes de Itália” nas noites de inverno.

Leia também o nosso artigo sobre o Parque Nacional de Durmitor

miradouro no parque Lovcen, perto de Kotor

#Nota: o preço do bilhete para entrada no parque era de 3€ por pessoa (existe uma espécie de portagem na estrada, onde se realiza o pagamento) e o do mausoléu era de 5€ por adulto, no verão de 2024.

Blue Cave e passeio de barco na baía de Kotor

Explorar a baía de barco é um dos programas mais comuns em Kotor e um dos mais simpáticos também. Uma das opções mais populares inclui um mergulho nas águas azul-turquesa da https://gyg.me/6L83kXWW%E2%80%9D%20target=%E2%80%9D_blank%E2%80%9D%20rel=%E2%80%9Dnoreferrer%20noopener%20nofollow%E2%80%9D>Gruta%20Azul</a>,%20localizada%20na%20pen%C3%ADnsula%20de%20Lustica,%20e%20uma%20visita%20a%20Nossa%20Senhora%20das%20Rochas,%20numa%20pequena%20ilha%20artificial.</p>%0A%0A%0A%0A<p>Marc%C3%A1mos%20o%20nosso%20passeio%20para%20uma%20manh%C3%A3%20cedo%20e%20a%20primeira%20paragem%20foi%20um<strong>%20t%C3%BAnel%20artificial%20usado%20para%20esconder%20submarinos%20durante%20a%20II%20Guerra%20Mundial</strong>.%20De%20seguida,%20rum%C3%A1mos%20%C3%A0%20gruta%20azul,%20passando%20pela%20ilha%20Mamula,%20que%20outrora%20foi%20pris%C3%A3o%20e%20hoje%20se%20transformou%20num%20<a%20href=" https: target="_blank" rel="noreferrer noopener nofollow">hotel super exclusivo.

A Blue Cave ou Blue Grotto é uma pequena maravilha natural com uma história geológica de mais de 5 milhões de anos, repleta de folclore e lendas locais. Só é possível aceder-lhe em barcos pequenos, durante a maré baixa. A água cristalina assume um hipnotizante brilho azul que enche o interior da gruta, resultando numa atmosfera encantadora.

Claro que dei um mergulho com o meu filho, dentro e fora da gruta, antes de seguirmos para Nossa Senhora das Rochas, de que vos falarei de seguida.

blue cave, na baia de Kotor

Nossa Senhora das Rochas

Marginando a baía de Kotor chega-se a Perast, pequena cidade repleta de palácios residenciais, sobretudo barrocos, no sopé do monte Kason. Pequenos barcos navegam dali até à Igreja de Nossa Senhora das Rochas (Gospa od Skrpjela), construída sobre um ilhéu artificial.

Diz a lenda que um pescador, após um naufrágio perto dali, encontrou um ícone da Virgem com o Cristo numa rocha do mar, prometendo construir uma igreja em sua honra. Marinheiros de Perast e Kotor terão demorado 100 anos a empilhar grandes pedras sobre o rochedo, para criar espaço para o templo católico de aspeto muçulmano, para que ficasse a salvo de ataques otomanos.

Como a ilha precisava de ser mantida, o marinheiro continuou a trazer as pedras, tradição que inspirou a procissão anual Fasinada de Perast, a 22 de julho. Os barcos chegam de Perast ou de outros recantos da baía para visitar a pequena igreja que abriga uma imagem da virgem tecida com fios de ouro, prata, materiais do Oriente e até cabelos da mulher que demorou 25 anos a terminar a sua obra.

Em frente fica outro ilhéu, natural, batizado com o nome de São Jorge, o mesmo da igreja do século XVII que ali existe.

A igreja de N. Senhora das Rochas

#Nota: o preço da entrada na igreja de N. Senhora das Rochas era de 3€ no verão de 2024.

Budva

Saindo de Kotor na direção contrária à baía, rapidamente se chega à estância balnear de Budva. A cidadezinha é o coração de uma riviera que se prolonga durante 38 km de costa com praias, promontórios e ilhotas, muito populares no verão.

Entre elas lista-se o resort Sveti Stefan, popularizado a partir dos anos 1950 pela atriz Sofia Loren, entre outros ilustres hóspedes da realeza europeia, de Hollywood (Kirk Douglas, Doris Day, Sidney Poatie), das passerelles, da literatura (Alberto Moravia, por exemplo)… Pelo que percebi, o resort está encerrado neste momento.

Budva é uma das cidades mais barulhentas e concorridas da costa montenegrina durante o verão, mas possui algum charme, com a maciça Citadela, que terá começado a construir durante o período helénico. Vale a pena espreitar algumas singelas igrejinhas e simplesmente deambular pela cidade velha, antes de aproveitar a praia e a promenade que se enche ao final da tarde.

Em frente à praia de Budva fica a ilhota Sveti Nikola – o turismo do Montenegro chama-lhe o Hawai local – com praia e vários locais para provar as especialidades de marisco.

Vista para a ilhota Sveti Nikola

#Curiosidade: Budva organiza um carnaval internacional, conhecido como “Spring Night under Masks”, normalmente no início de maio, que marca o início da temporada turística.

Dicas úteis para visitar Kotor

Como chegar

Não existem voos diretos de Portugal para qualquer dos dois aeroportos do Montenegro, pelo que terá de fazer escala em alguma capital europeia. Se chegar pelos aeroportos de Podgorica ou Tivat, é fácil encontrar transporte para Kotor. Pode também alugar um carro, o que irá facilitar a viagem no Montenegro, mas prepare-se para pagar (e bem) pelo estacionamento em Kotor.

A nossa melhor opção foi voar para Dubrovnik, na vizinha Croácia, fazendo escalar em Londres na ida e em Basel no regresso para o Porto. Depois de uns dias em Dubrovnik, atravessámos a fronteira de autocarro: o bilhete custou cerca de 25€ por pessoa.

Se alugou um carro, basta seguir pela estrada D8, recordando que a passagem na fronteira pode ser algo demorada, em época alta. Se quiser poupar tempo no regresso, pode apanhar o ferry que liga as duas margens da baía de Kotor (saindo de Tivat e chegando a Herceg Novi) em cerca de 15 minutos. Nós preferimos regressar pela mesma via, de autocarro.

#Dica: se regressar a Dubrovnik de autocarro, recomendo que adquira o bilhete nas bilheteiras em Kotor. Nós comprámos online e depois tivemos que fazer “check in” na estação, pagando mais 2€ por pessoa. Também é obrigatório levar o bilhete impresso. Regras estúpidas em pleno século XXI.

Onde ficar

O nosso alojamento em Kotor foi o Hotel Vardar (****), numa das extremidades da praça de Armas, em pleno centro histórico, devido à localização e acordo com um parque de estacionamento nas proximidades.   

Se pretende ficar no interior da cidade muralhada, e tem um orçamento folgado, recomendo o Boutique Hotel Astoria (*****) que ocupa o Palácio Buca (século XIII) ou o Hotel Villa Duomo (****) praticamente ao lado da catedral de S. Trifão.

Depois de nove dias a explorar o país, regressámos a Kotor e ficámos no Windrose apartments que é fantástico para famílias. O proprietário é uma simpatia, emprestou-nos toalhas de praia, cadeirões para nos refrescarmos junto à água. De resto, há imensos apartamentos de férias na cidade.

#Nota: caso fique em airbnb ou casas de férias, verifique se o alojamento faz o seu registo junto do turismo (que é obrigatório).

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