Atualizado em 13 Dezembro, 2023
Na costa oeste do país, Grand-Béreby é mais que uma grande extensão de praias desertas. Conheça a primeira área marítima protegida da Costa do Marfim
Apesar do nome que porta, Grand-Béréby é uma cidade bem pequena, na costa oeste da Costa do Marfim. A distância de Abidjan, cerca de 400 km em direção à fronteira com a Libéria, significa que permanece relativamente desconhecida, apesar das suas magníficas praias de areia fina.
Grand-Béréby é um paraíso perdido no meio de nenhures – a expressão pode estar demasiado batida, mas aplica-se a este lugar selvagem, com o encanto desses destinos inacessíveis que poucas pessoas têm a sorte de conhecer.
Nota: a histórica estrada costeira foi renovada até San Pedro, pois o estádio local acolhe alguns dos jogos da Coupe d’Afrique des Nations (CAN) no início de 2024. Possivelmente, este facto vai alterar a vida da pacata Grand-Béreby
As praias são a principal riqueza desta região de pescadores; para além de duas públicas (Gbowe e Dawa), existem várias privativas, reservadas aos clientes dos hotéis. A melhor época para aproveitar o sol e os banhos de mar vai de janeiro a abril e de setembro a dezembro. Na época das chuvas (maio-julho) as atividades turísticas são praticamente suspensas, mas isto pode significar ainda mais tranquilidade e descanso.
O mar pode ser um pouco forte em alguns pontos, exceto na baía protegida que integra o resort La Baie des Sirènes (baía das sereias, não é um nome bonito?). Mas, a cerca de 45 minutos de carro, na pequena vila de Tabaoulé, existem lindas piscinas naturais, criadas entre as rochas, mas não achei que fossem particularmente interessantes para nadar.
Para além de trabalhar para o bronze e fazer umas massagens – experimentei uma massagem a quatro mãos perto do hotel, boa e barata – que tal explorar um pouco a região?
Caminhadas em Grand-Béréby
Estou entre o afortunado grupo que conhece Grand-Béréby e não podia deixar de escrever sobre este lugar tão especial, que inspirou um dos Reels mais bonitos que criei até hoje. O objetivo da viagem era fazer um retiro de caminhadas e yoga, mas, infelizmente, a professora de yoga sofreu uma lesão pouco antes.
Isso significou alguns dias menos exigentes, do ponto de vista físico, mas muito prazerosos. Ainda assim fizemos duas caminhadas na região, organizadas pelo Sébastien Gavini da Trek it Easy e presença de guias locais.
O primeiro percurso tinha cerca de 15 km e alguns desníveis, entre plantações de borracha e cacau, perto da aldeia de Boro, onde nos receberam com um ritual de kola.
O segundo trilho foi mais exigente, cerca de 16 km, em praia e selva. Apesar de mais plano, o tipo de terreno, com lianas e raízes a exigirem atenção redobrada e a fazerem-nos tropeçar, dificultou o percurso. Terminei o dia com vários arranhões nos braços e nos tornozelos, sinal que preciso de repensar o tipo de calçado que levo para estas caminhadas.
Num trecho enfrentámos ainda formigas legionárias (magnan ou dorylus, uma colónia em movimento é considerada perigosa para os humanos), o que exigiu uma passada rápida e sem pausas, até o perigo passar. Só quando o guia deu sinal, podemos parar e verificar se alguma formiga tinha ficado agarrada à roupa. As danadas são implacáveis.
As chaves da aldeia de Boro
Os habitantes de Boro presentearam-nos com um ritual de boas vindas, sobre o qual já escrevi no Jornal de Guimarães. A cerimónia pode ser uma atividade turística paga, mas, no nosso caso, foi algo espontâneo. Até porque os guias que nos acompanharam no trilho eram naturais de Boro.
Os jovens criaram o ambiente com música muito ritmada, antes do chefe da aldeia, acompanhado por dois notáveis de cabelos brancos, realizar a cerimónia de Akwaba (boas vindas). Começaram por nos oferecer cola, um fruto seco cortado em pequenos pedaços, logo seguido de uma colher de pimenta fresca, triturada, que trouxe lágrimas a vários companheiros de jornada.
Chegaram, entretanto, as bebidas: água fresca, cerveja local, vinho e koutoukou, o destilado forte, feito de vinho de palma, típico do país, que limpa tudo!
Esta pequena partilha significa que nos deram as chaves da aldeia, pelo que seremos sempre bem-vindos. O chefe reforçou a mensagem, com vagar e alguma formalidade, dando um aperto de mão a cada um. Foi um momento tocante e uma das recordações mais bonitas que guardarei da Costa do Marfim.
Macacos de nariz branco
O rio Néro desagua no mar em Grand-Béréby (e não é o único curso de água doce na região), o que se traduz em diferentes ecossistemas, como manguezais, floresta, savana… Existem alguns passeios que permitem conhecer a fauna local, nomeadamente os crocodilos que se aquecem nas margens do rio, camuflados entre a vegetação.
Este tour em barco motorizado é organizado pelo hotel Le Katoum, mas passei a oportunidade. Depois de ter conhecido os crocodilos de Yamassoukro, estou servida durante uns tempos.
Optei antes pelo passeio em canoa, mais ecológico e menos demorado, em busca dos macacos de nariz branco. Saímos cedo, o barco a deslizar nas águas entre o silêncio de humanos e um concerto da natureza. Em tempos, os macaquinhos estiveram em perigo, mas hoje são protegidos pela população (uma parte do valor do tour reverte para a comunidade) e prosperam na floresta tropical que margeia o rio.
O guia produz uns estalidos que os primatas parecem entender, vemos vários a saltarem de árvore em árvore, até o “ponto de encontro”. Algumas bananas lançadas como isco ajudam a atrair os pequenos macacos de olhos curiosos e nariz branco, como o nome denunciou. Mas tudo isso é feito com o maior respeito pelo seu habitat. O principal é ficar na orla da floresta e não invadir seu espaço.
#dica: faça estes passeios de manhã cedo ou ao final da tarde, para evitar o calor.
Desova das tartarugas
Em dezembro de 2020, a Costa do Marfim criou a primeira reserva marinha do país em Grand-Béréby, para proteger a biodiversidade costeira. A área de 2.600 km² inclui várias aldeias, onde a pesca e a caça passaram a estar sujeitas a regulamentos, com particular ênfase na conservação das tartarugas marinhas.
Evidentemente, isto potencia o ecoturismo, com a possibilidade de assistir à desova das tartarugas marinhas (atividade noturna em novembro/dezembro) ou à eclosão das tartarugas bebés, pouco depois.
O hotel Le Katoum, onde fiquei alojada, organiza inúmeros tours na região, gerando uma fonte de rendimento importante para a comunidade. Contacte o Pierre ou o Alexis para saber quais os programas disponíveis, na altura da sua visita. Por exemplo, a partir do final de agosto e até meados de setembro, é possível fazer passeios em alto mar, para observar baleias e golfinhos.
Dicas úteis sobre Grand-Béréby
Como chegar
Por estrada, o caminho mais curto é a Côtière e, até à pouco tempo, esta estrada estava em estado deplorável, exigindo cerca de 10 horas para percorrer os 378 km que ligam Abidjan e Grand-Béréby, obrigando a um desvio para norte, via Tiassalé, Gagnoa, Soubré, San Pedro.
Entretanto, a estrada costeira foi alvo de obras de renovação, pois a localidade de San Pedro, perto de Grand-Béréby, é um dos locais que vai acolher jogos do Campeonato de Nações Africanas e hoje é possível chegar a Grand-Béreby em cerca de cinco horas (testado, na primeira pessoa, em novembro de 2023).
A Air Côte d’Ivoire mantém voos diários entre Abidjan e San Pedro que duram cerca de 45 minutos. Segue-se o transfer para os 47 km que separam a cidade de San Pedro de Grand-Béréby, que deve combinar com o seu hotel. O serviço de transfer deverá rondar os 10.000 CFA por pessoa, isto é, cerca de 15 euros (em vigor no início de 2022).
O resort La Baie des Sirènes tem uma pista de pouso não pavimentada que permite a aterragem de aviões privados ou helicópteros, mas não sei se habitualmente é usada.
Onde ficar em Grand-Béréby
O melhor alojamento da região é o resort La Baie de Sirènes, com 60 bungallows espalhados numa colina com vista para o mar, entre exuberante vegetação tropical, onde pode esperar um serviço de nível europeu. Para além de praia privada e duas piscinas, tem parque infantil, serviço de baby sitting, campos de ténis e voleibol, desportos náuticos, equitação, etc.
O hotel Le Katoum fica a poucas centenas de metros, junto à praia. O hotel tem uma decoração simpática e um restaurante excelente, piscina com vista para o mar e um atendimento super simpático. Os preços são quase metade do que pode contar pagar no resort mencionado acima.
Um pouco mais longe, encontra a pousada ecológica Le Kara Krou chez Gus, com bungalows, mas que também aceita tendas e autocaravanas, e perto das piscinas naturais, existe o Tabaoulé Lodge. Não conheço a qualidade das instalações e serviço, pelo que não opinarei sobre estas duas opções de hospedagem.
Nenhum dos hotéis de Grand-Béreby está presente no Booking. Para fazer reserva, deve contactar o hotel através do site ou página do Facebook.
Enfim, Grand-Béréby foi um grande esmagamento pela sua autenticidade. Gostaram de conhecer esta região costeira? A Costa do Marfim já começa a povoar os vossos sonhos de viagem?
10 Comentários
Ah, cada vez tenho mais vontade de vos ir visitar!
Hihihi, já sabes que tens casa em Abidjan
Fantástica aventura! 🙂 Como é melhor andar por aí? Há alguns transportes públicos ou tem que ser com carro alugado/tours privados?
Sabes como são os transportes públicos em África – pouco eficazes e com fraca cobertura do território. Dentro de Abidjan é relativamente fácil andar de transportes/táxis, fora das grandes cidades é mais complicado.
Para Grand-Béréby, o melhor é ir de carro alugado ou avião e depois combinar o transfer com o hotel (que também organiza todas estas actividades)
Que destino inusitado! Nunca tinha ouvido falar em Grand-Béreby – Costa do Marfim não é um lugar que está muito nas mídias aqui no Brasil. Gostei de descobrir no post novas frutas e até espécies de animais diferentes como esse macaco do nariz branco rs
Que paraíso é esse chamado Grand-Béréby? Não tinha conhecimento sobre ele, que a Costa do Marfim é um destino espetacular eu já sabia, mas esse post me deixou com mais vontade ainda de conhecer..
Que máximo! Praias desertas são tudo de bom!!! Adoro. Ainda não tinha ouvido falar sobre Grand-Béréby e agora já quero conhecer.
Amando suas andanças pela Costa do Marfim. Que grata surpresa ler sobre Grand Bereby. Fiquei arrepiada lendo sobre recepção da comunidade local a vocês. Muito tocante.
Que lugar incrível, nunca tinha ouvido falar de Grand-Béréby, a natureza é linda por lá.
[…] da Costa do Marfim, batendo outros lugares interessantes como Man (no meio das montanhas) e Grand-Béreby […]