Atualizado em 27 Fevereiro, 2023
Aarhus, que se escreve Århus e se pronuncia qualquer coisa como Órrhus, é a segunda maior cidade da Dinamarca. Fomos conhecer este centro universitário e perceber o motivo dos seus curiosos cognomes: capital do cool e cidade dos sorrisos
Aarhus, na Dinamarca, chamou a minha atenção ao ser escolhida como uma das Capitais Europeias da Cultura 2017 e região europeia de gastronomia, no mesmo ano. Assim, incluí-a no roteiro durante a nossa estadia no país este Verão.
Longe dos radares turísticos estrangeiros, a sua herança cultural tornou Aarhus um destino popular entre dinamarqueses, graças ao charmoso centro histórico, à arquitectura e tradição gastronómica, às praias e ao parque temático.
Na verdade, Aarhus encerra muitas das melhores coisas da Dinamarca. É um destino limpo e seguro, com edifícios arrojados, onde se destaca o design moderno do complexo cultural Dokk1 ou o edifício iceberg, junto ao porto. Mas que não se esquece da história. O museu ao ar livre (Den Gamle By) é como entrar numa máquina do tempo, para chegar a uma pequena vila dinamarquesa do século XIX.
Passear dentro de um arco-íris, aprender sobre os vikings e alimentar veados junto a um palácio real – Aarhus é isso e mais. É passear nas ruas do bairro latino ou relaxar uma esplanada animada, numa tarde de Verão.
Aarhus, a cidade dos sorrisos
A população da Dinamarca é frequentemente mencionada como uma das mais felizes do mundo e a de Aarhus conta-se entre a mais feliz e amigável do país. Com pouco mais de 300 mil habitantes, a cidade tem história, cultura e muito hygge. Aarhus é conhecida, a nível nacional, como Smilets By ou cidade sorridente, acabando por adoptar o lema.
Comecemos com umas pinceladas de história, que nos permitem compreender melhor o presente. Aarhus começou por ser uma pequena vila viking (há mais de 1250 anos) na costa leste da Jutlândia, a grande península que liga a Dinamarca ao resto do continente europeu.
Os vikings construíram este assentamento fortificado perto da foz do rio que, em dinamarquês se dizia “Aros”, originando o nome actual. A localização estratégica, protegida num fiorde natural, explica porque se tornou um importante porto e, em 1441, recebeu privilégios mercantis.
Aarhus acabou por se tornar a segunda maior cidade da Dinamarca (e a maior da Jutlândia), com uma personalidade única. Hoje é descrita como um paraíso para os amantes de arte e um centro de aprendizagem, com uma das maiores universidades da Escandinávia. Diz-se que esta é a Oxford da Dinamarca, já que os alunos representam 20% da população, o que dá à capital do cool um toque boémio, criativo e jovem.
Vamos conhecê-la: cliquem nos links para informações actualizadas sobre preços e horários.
Roteiro em Aarhus: dia 1
Podíamos começar este roteiro na compacta Aarhus na Aboulevarden, a rua pedonal mais trendy da cidade. Mas vamos optar pela Park Allé: é muito fácil encontrá-la, basta atravessar a rua em frente à estação de comboios. Os semáforos chamam logo à atenção: são vikings, de capacete e escudo, que nos ordenam parar ou avançar.
Se continuar sempre em frente, chegará ao centro histórico. Mas vamos fazer um desvio à esquerda, para conhecer o moderno edifício da Câmara Municipal, revestido a mármore norueguês, que fica lindo com a iluminação nocturna (informação sobre as visitas guiadas aqui). Nós seguimos adiante para o nosso destino: o ARoS Aarhus Art Museum.
Como a maioria dos museus do país, a entrada é gratuita para menores de 18 anos. Para além de uma exposição permanente de categoria mundial, neste que é um dos maiores museus de arte do norte da Europa, pode subir ao Panorama Rainbow, que coroa o edifício.
Trata-se de uma obra de arte/passarela circular em vidro, com três metros de largura e vistas soberbas, assinada por Olafur Eliasson. O filtro, com as cores do arco-íris, empresta uma nova dimensão à cidade que se alonga a seus pés.
Mas antes de chegar ao topo colorido, há vários pisos de exposições contemporâneas e a grande instalação da Joana Vasconcelos que recebe os visitantes. Outro grande destaque é a escultura gigante e hiper-realista Boy, com 4,5 metros de altura. O autor, o australiano Ron Mueck, inspirou-se no hábito aborígene de ficar a descansar de cócoras, para conceber este rapaz de uma fibra de vidro, com um realismo tal, que lhe notamos as vértebras e as veias na pele.
A manhã fina-se, mas ainda há muito para visitar em Aarhus. Nomeadamente o Den Gamle By – Kobstadmuseum ou, cidade velha, em bom português. O ideal seria chegar de bicicleta, mas as bicicletas gratuitas distribuídas pelo município foram retiradas (julgo que devido à pandemia).
Felizmente, vamos descansar as pernas no almoço ao estilo piquenique. Ao lado da cidade velha existe um parque ideal para isso, enfeitado com um moinho de madeira e as estufas do Jardim Botânico (Væksthusene i Botanisk Have). Com quatro zonas climáticas, as estufas têm entrada gratuita e visitam-se rapidamente. A parte mais bonita é a tropical, por causa das borboletas. No entanto, é preciso ter cuidado com a humidade na máquina fotográfica.
Depois do almoço, seguimos então para a cidade velha, um museu ao ar livre que mostra a vida dos dinamarqueses em três décadas históricas específicas: 1860, 1920 e 1970. Cerca de 75 casas históricas foram trazidas de vários pontos do país e o local ganha vida graças aos actores com vestuário da época, que exemplificam as actividades tradicionais.
Para além de ser muito bonito, no interior encontra um museu bastante completo sobre a história de Aarhus.
Centro histórico de Aarhus
Antes que o dia se fine, ainda há tempo para rumar ao centro histórico, com paragem na Catedral de Aarhus (que fecha às 16h00) consagrada a São Clemens, Papa por volta do ano 100, a quem amarraram uma âncora em volta do pescoço e lançaram ao mar. Da sua origem românica já pouco resta, já que a catedral foi ampliada nos séculos XV e XVI, ganhando decoração gótica, um retábulo de Bernt Notke, uma pia baptismal e afrescos.
Não muito longe fica o Museu Viking, com um pequeno acervo dedicado aos vikings, mas que estava fechado, por altura da nossa visita, devido à pandemia.
Felizmente os dias são longos, ainda nos resta luz para fotografar a charmosa Rua Mollestien, a via do moinho, com as suas casinhas térreas em enxaimel, enfeitadas com rosas em todos os tons pastel e cortinas nas pequenas janelas. Um quadro irresistível (ver foto de entrada), que se prolonga no Latin Quarter.
As ruas medievais do bairro latino são para percorrer com calma, absorvendo o seu carácter e visitando as muitas lojinhas de artesanato e design, parando para espreitar os pátios, os restaurantes, as galerias de arte.
Terminamos o dia junto do porto, no recém renovado distrito Aarhus Ø, onde encontra o Isbjerget (o iceberg) um edifício residencial único, onde topos altíssimos recebem jardins e hortas e onde se vislumbra o Navitas, o edifício dedicado à ciência e tecnologia.
Roteiro em Aarhus: dia 2
Quem gosta de história, poderá começar este segundo dia de visita no Museu Moesgård, focado apenas no período pré-histórico. O Moesgaard orgulha-se de duas coisas: o Grauballe Man, a múmia da idade do ferro melhor preservada da Escandinávia, e uma vista panorâmica fantástica, desde os seus telhados relvados inclinados.
Em alternativa, poderá considerar o Tivoli Friheden, o parque de diversões de inspiração floral. Esta é uma das sugestões que damos em Dinamarca com crianças, guia para uma viagem feliz. Mas há mais para explorar nos arredores de Aarhus, naquela mesma direcção.
É o caso do Palácio Marselisborg, residência de Verão da rainha, rodeado por um parque de estilo inglês com pequenos lagos, um jardim de rosas e várias obras de arte. Um pouco mais longe encontra o Marselisborg Deer Park, onde poderá alimentar veados e gamos. Leve maçãs e cenouras pois, ao contrário do que acontece no Phoenix Park em Dublin, é permitido alimentar os animais. Existem também javalis, mas num cercado próprio.
A região é famosa pelas suas praias. A mais próxima do parque dos veados é a Moesgård Strand, embora a mais popular seja a Den Permanente, talvez pelas infraestruturas de apoio.
Entre Abril e Outubro, vale muito a pena ir até Varna conhecer a Ponte infinita (Den Uendelige Bro). Assinada por dois arquitectos locais, a estrutura devia ser temporária, mas a sua popularidade salvou-a. O cais circular estende-se na Baía com uma vista panorâmica de 360°. Quer queira dar uns mergulhos ou simplesmente passear junto ao mar, da praia e da floresta, a vizinhança da Ponte Infinita é fantástica para passar o dia.
Se tiver mais algum dia livre pode aventurar-se um pouco mais longe de Aarhus, visitando a simpática Randers, a cerca de 40 km, ou Silkeborg, um destino de ski. Nós passámos uma tarde em Randers e adorámos o museu local (Kulturhuset), bem como a simpática rota das estrelas, um percurso pedonal de cerca de 2,5 km que passa por 15 pontos de interesse.
Curiosidade: em Randers, existe uma réplica da mansão do Elvis Presley em Memphis. O espaço inclui um museu, mini-teatro, sala de concertos, loja e restaurante, tudo para preservar o legado do famoso rei do rock.
Guia prático para visitar Aarhus
Como chegar
Aarhus tem aeroporto, sendo possível chegar de Portugal com uma escala em Londres e, dali, voar com uma companhia aérea low-cost como a Ryanair. Esta solução contudo, pode pressupor pernoitar em Londres, devido ao horário das ligações. E, se o Reino Unido tiver muitos casos de covid-19, pode exigir quarentena, à chegada à Dinamarca.
O aeroporto Aarhus Lufthavn fica a 44 kms da cidade, o que se traduz em cerca de 55 minutos no autocarro 925X (o que custará cerca de 108 DKK, ou 14,50€ por trajecto, em Julho de 2021). Nós voamos para a capital, Copenhaga, e dali apanhamos o comboio para Aarhus. O bilhete de comboio pode ficar caro, sobretudo se comprado no dia. Uma boa alternativa será o Flixbus, que liga as duas cidades.
Quando visitar
Apesar de um clima mais moderado do que os países escandinavos vizinhos, o Inverno é rigoroso, sobretudo para os habitantes do sul da Europa/hemisfério sul. Para além do frio, há ainda a considerar os dias curtos. Os meses de Maio a Setembro são os mais agradáveis e proporcionam mais horas de luz.
Nós visitámos o país em Julho e vivemos dias de bastante calor, com os parques cheios de dinamarqueses a aproveitarem o sol e crianças a refrescarem-se nas fontes públicas. A luz do dia pode prolongar-se até depois das 22h, o que pode influenciar o ciclo do sono (a mim, afectou).
Alojamento em Aarhus na Dinamarca
Entra a vasta oferta de hospedagem na cidade, destaca-se a imponência do Hotel Royal de quatro estrelas, num edifício neoclássico do século XIX, e o económico (mas bem localizado) Danhostel Aarhus City. Uma alternativa intermédia é o Milling Hotel Ritz Aarhus City, de três estrelas, mas com qualidade. Mas a opção mais charmosa será alugar uma das pequenas casas floridas da Rua Mollestien.
Onde comer em Aarhus
A cidade possui alguns restaurantes com estrelas Michelin – restaurante Gastromé, restaurante Domestic e restaurante Frederikshøj – mas, convenhamos, não é uma opção para todos os dias, muito menos para todos os bolsos.
Uma boa opção é o Aarhus Street Food (Ny Banegårdsgade 46, em frente à estação central de autocarros), onde a criatividade dos jovens cozinheiros resulta em escolha variada, de tacos mexicanos a hambúrgueres ou os tradicionais smorrebrod dinamarqueses (sanduíches abertas). São mais de 30 pequenos restaurantes e bares a preços são mais económicos: báhni mi vietnamistas a cerca de 10€ e menus variados a partir de 15€.
Outras dicas úteis
A Dinamarca pertence ao espaço Schengen, pelo que os visitantes portugueses precisam apenas de um documento de identificação válido para entrar no país. No entanto, em altura de pandemia, é preciso considerar outras restrições. A Dinamarca classifica os restantes países por cores, às quais correspondem restrições diferentes de entrada, que pode consultar aqui.
A visita a museus e atracções pressupõe a apresentação de um teste negativo (PCR tem validade de 96 horas e antigénio de 72 horas), que se podia realizar gratuitamente no país, após registo no site Covidresult.dk, no Verão de 2021.
A moeda oficial da Dinamarca é a coroa dinamarquesa (ou kroner), e um euro equivale sensivelmente a 7 DKK. Há caixas de levantamento automático por toda a Jutlândia, para pagamentos em dinheiro. Claro, pode usar o seu cartão Visa, mas as taxas cobradas pelos bancos portugueses desaconselham-no.
13 Comentários
Só tu para descobrires a “Oxford da Dinamarca”! 🙂 Adorei este artigo! Fizeste o roteiro a Aarhus em dois dias. Achas que chegou ou ainda ficaram muitas coisas para ver?
Na verdade fiquei alojada perto da cidade, acabei por passar por ela vários dias seguidos, como ponto de partida para outras cidades e passeios. Não cheguei a ir ao parque dos veados. Claro, ficaram coisas por ver e fazer. Mas isso aplica-se a todos os destinos que visitamos
Que descoberta sensacional na Dinamarca. Realmente ler seu post sobre Aarhus foi uma surpresa do início ao fim. Além de não conhecer essa cidade, achei que ela é um super destino a ser visitado no país. Ótima dica!
A cidade é muito visitada pelos dinamarqueses, mas quase desconhecida para os turistas estrangeiros (talvez à excepção dos visitantes dos países vizinhos)
Tantos lugares lindos para conhecer. A Dinamarca é um deles, me vi passeando pelas ruas e experimentando a gastronomia !
É muito mundo, para pouco tempo e carteira, haha
Que linda Aarhus! Na Dinamarca eu só conheci a capital mesmo, mas tenho muita vontade de voltar e conhecer mais lugares. Me parece um país encantador!
O país é e a população também. Só é pena os preços não serem encantadores, haha
Que linda esta cidade. Confesso que nunca rinha ouvido falar de Aarhus. A Dinamarca deve ser um baita destino. Quero mto conhecer. Adorei saber que os dinamarqueses são um dos povoa mais felizes e sorridentes! Super interessante.
É um destino turístico pouco conhecido por estrangeiros, mas recebe bastantes turistas dinamarqueses e alguns de países nórdicos vizinhos
Tenho uma amiga que mora em Aarhus e, sim, ela diz que a cidade é muito bacana e ótima de se viver.
O único senão devem ser as temperaturas e as escassas horas de luz, durante o Inverno
[…] Terminámos o dia junto ao Castelo, nada opulento, de Odense (Nørregade 36), que só é possível apreciar de fora. Logo ali fica a estação de comboios que nos levaria de regresso a “casa”, em Aarhus, a cidade dos sorrisos. […]