Atualizado em 16 Abril, 2021
No topo de um morro do interior beirão, Castelo Mendo merece sempre uma visita. Mas nós fomos a esta aldeia medieval do concelho de Almeida e distrito da Guarda em dia de festa.
“Povo de Mendo, alegrai-vos neste dia de festa! Os mais notáveis trovadores, jograis e dançarinos do reino estão aqui em honra da boda de minha filha. Dançai, comei e bebei.”
O judeu, montado num plácido dromedário e com as suas melhores vestes, anuncia assim o motivo de tanto alarido. A noiva esboça um tímido sorriso e a música recrudesce. Ninguém diria que esta bela menina é um despojo de guerra!
A bailarina acelera os passos, num ondular de ancas ritmado. Os seus gestos hipnotizam os visitantes que aceitaram o convite do sol (finalmente) e rumaram a Castelo Mendo. Nos arredores da cidadela, os cavaleiros demonstram a sua coragem no campo, em justas e outras demonstrações guerreiras.
O hidromel corre em abundância. Os mercadores lançam pregões no ar, publicitando as propriedades milagrosas desta ou daquela erva. Os charlatães conseguem sempre infiltrar-se no meio dos almocreves. O mercado medieval é um turbilhão de odores. As bancas coloridas cheiram a fruta, nas esquinas cheira a cerveja, há ainda os excrementos na calçada.
Mas eis que a multidão ruidosa emudece. Uma dupla horrenda de leprosas misturou-se entre as gentes, criando uma bolha de espaço e silêncio. Os olhares brilham de medo e indignação. As senhoras levam um pequeno lenço perfumado ao nariz, para disfarçar o cheiro a carne putrefacta.
Alheias a estes temores, as crianças correm alegremente pelas ruas estreitas, com coroas de flores na cabeça ou espadas de madeira na mão. Persistentes, puxam pela manga do pai, apontando para o carrossel, que um poderoso ancião faz girar manualmente. Outras pedem uma maçã caramelizada da cor do sangue.
A poucos metros do bulício, no topo da aldeia, o vento leva o barulho. Descanso à sombra de uma oliveira. As crianças exploram os barrocos e disparam setas com uma ponta de cortiça. Embalada pelo sol e pelo vento, dou as boas-vindas à Primavera tardia, antes de mergulhar novamente na comunidade sefardita em festa.
Teremos que voltar noutra altura, mais tranquila, para conhecer os pontos de interesse desta aldeia medieval. São eles a Igreja de Santa Maria do Castelo, as muralhas, o pelourinho e várias casas manuelinas.
Dicas úteis
A Feira Medieval em Castelo Mendo realiza-se anualmente, no âmbito do programa de animação das aldeias históricas. Consulte o site da rede das aldeias históricas portuguesas para ficar a conhecer toda a programação deste conjunto de aldeias beirãs e também o nosso roteiro Aldeias Históricas de Portugal, viagem ao passado
Como chegar: siga pela auto-estrada A25 (Aveiro-Vilar Formoso) e depois a EN 16. Quem vem pelo interior Norte, deve apanhar o IP2, enquanto os que seguem pelo Sul, em direcção a Castelo Branco, devem seguir pela A23 e apanhar a A25. Ali perto fica a vila de Almeida, que também merece uma visita.
Onde ficar: a aldeia é tão pequenina, que a única opção de alojamento é a Casa da Cidadela, de arquitectura tradicional, de pedra e lareira na sala. Para mais opções, faça uma pesquisa no booking em Almeida ou na Guarda.
O que comer: os enchidos de Castelo Mendo são famosos, tradição que se estende a toda a região. Prove ainda o bucho, a bola parda e o pão leve. O mel e as amêndoas são produtos de excelência por aqui.
18 Comentários
Que lindo evento pleno de tradições. Deve ter sido legal presenciar! beijos,linda semana,chica
Adorei! Sabes o quanto gosto destas recriações históricas. Acho que se pudesse ia a todas :p
Um beijo enorme!
Ruthia,
Queria morar num lugar assim!
Cultura é cultura! É tradição!
Beijos
Ruthia,que lugar mais encantador!Gostei da festa de casamento e das imagens!bjs e boa semana pra vc!
Belo passeio no passado, Ruthia!
Foi relatado como um sonho…
Beijos!
=> Crazy 40 Blog
=> MeNiNoSeMJuIz®
=> Pense fora da caixa
Olá, Ruthia!
Uma verdadeira aula de História regada à diversão e originalidade. Pelo que vi em suas fotos, a organização foi impecável e parecia mesmo a Idade Média.
A primavera também chegou em terras italianas. Se bem que ontem parecia mais verão pelo calor que fazia.
Beijos e uma ótima semana!
Juliana
Ruthia querida, que coisa mais linda!!!! Aqui temos o festival do chucrute, em maio, festa típica de colonização alemã, onde há danças e brincadeiras… os dançarinos desfilam pelas ruas da cidade, devidamente trajados, a convidar para os bailes…é distribuído cuca, linguiça e chopp…. a banda toca acompanhando… bem bonito… evento que acontece a 48 anos – eu dancei no primeiro baile, bem pequerrucha…kkk agora meu filho dança!
qdo acontecer farei post com fotos….
obrigada por partilhar cm a gente esse momento tão lindo e interessante de história e cultura
bjs
desejando ótima semana
tititi da dri
Sim, Dri. Post completo e cheio de fotos, por favor!!
Quero ver o filhote a dançar 🙂
Beijinho querida
Como gostava de ter ido, melhor ainda pelo sol!!! Post muito bem escrito, como sempre! A lepra é que não deve ser nada agradável…
Beijinhos, boa terça!
Madalena
Minha querida, não importa que vc veio me felicitar com alguns dias de atraso, importa é que deixou seu carinho e sua lembrança de coração!! Fiquei muito feliz viu, obrigadaaa 😀
É tão diferente, mas sem dúvidas uma linda cerimonia tb!!
Beijos,
Que interessante, Ruthia… festivais e cultura de um povo que não conhecemos, vistos agora, através de seu blog. Obrigada, querida!
Beijos
Adorei! Não imagina quanto eu gosto destas manifestações culturais e tradicionais do nosso povo. Se pudesse… estaria sempre presente.
É uma postagem óptima, muito bem documentada fotograficamente, e com a qualidade de texto (muito boa!) a que já nos habituou.
Parabéns!
Um beijinho muito GRANDE, querida Ruthia
Amei! Como sempre você da um show em suas postagens.
Obrigada por compartilhar conosco.
Uma ótima semana,
Bjussssss
Querida, passando para lhe desejar uma ótima semana 😀
Beijos,
Té
Fizeste um magnífico post acerca da feira medieval.
Está de parabéns e a organização devia deitar mão deste texto para promover a próxima realização… é uma sugestão…
Querida amiga Ruthia, tem um bom fim de semana.
Beijo.
De Castelo Mendo recordo, à chegada, os dois berrões, um de cada lado da porta. Nesse dia a aldeia estava tranquilíssima, e cada detalhe observado era convite irresistível a mergulhar no tempo…
Lá mais acima, no castelo, sentiam-se os ecos do Côa, temperados no chilrear da passarada. E senti-me bem, aquelas pedras dizia-me algo…
O post está uma delícia. Nem que fosse por breves momentos, a vida voltou a Castelo Mendo.
Beijo 🙂
Ruthia, querida
Hoje a minha passagem é só para desejar um Domingo com muito sol, cheio de Luz e Amor.
Um beijinho GRANDE.
Gostei desta sua postagem…
Que linda recriação histórica! Perfeito.
Desejo-lhe uma feliz semana.
Um abraço cá deste "meu" Algarve – Portugal.
http://umraiodeluzefezseluz.blogspot.com