Atualizado em 13 Novembro, 2023
A imagem da filha de D. Afonso V paira sobre Aveiro como um perfume, tão subtil quanto constante
O marketing turístico da cidade de Aveiro assenta naquela princesa do século XV, assim como o de Guimarães explora a aura guerreira de D. Afonso Henriques. Assim como Viseu tem Viriato, Brodowski tem Portinari ou Liverpool os Beatles.
Mas afinal, quem foi esta princesa que levou uma vida de santidade? D. Joana, filha de Afonso V, beatificada no ano de 1693, está até hoje associada ao convento, tido como o mais antigo de Aveiro. De Joana se conta que era muito bela, mas que recusou vários pretendentes por querer ser freira. Foi o caso do rei de Inglaterra; Maximiliano, filho do imperador Frederico III ou o herdeiro do trono francês, Luís XI.
Quis tomar votos no modesto convento dominicano de Aveiro e tê-lo-ia feito, não fosse a polémica que isso causou na corte. Aí viveu até ao fim da vida com o véu de noviça, humildemente, canalizando as suas rendas para ajudar os mais pobres. A sua caridade garantiu-lhe a fama de santa, ainda em vida.
Quando a princesa morreu de peste, diz a lenda, e o enterro passou pelos jardins no convento, as flores que ela tratava caíram sobre o caixão, prestando-lhe uma última homenagem. Este acontecimento terá sido o seu primeiro milagre. A partir de então, muitos outros lhe foram atribuídos. Duzentos anos depois, o Papa Inocêncio XII concedeu a beatificação a esta infanta de Portugal.
O Museu de Aveiro, instalado no Convento de Jesus onde a princesa se enclausurou contra a vontade do rei e de todo o país, honra a sua mais célebre hóspede. Se é verdade que tem belas peças de arte sacra, também é certo que temos vários museus desse tipo (e bons) espalhados pelo país.
Assim, o que distingue o espaço é precisamente a linda e loira Joana, cuja vida decora as paredes da Igreja: numa dessas passagens, em que foi retratada com trajes reais, parece a Cinderela, segundo o Pedro e a prima. O lugar mais singelo do antigo convento dominicano é o coro baixo, onde repousa o túmulo barroco da princesa (foto de entrada), de mármore rosa, trabalhado, apoiado sobre quatro anjos e enfeitado com flores frescas, prova do carinho que os portugueses nutrem pela sua santa de sangue real.
Destaque-se ainda a Igreja de Jesus, com a sua sumptuosa talha dourada e azulejos portugueses; o claustro, com as suas capelas, sala do capítulo e o refeitório com uma graciosa tribuna de leitura. No piso superior, o claustro dá acesso ao coro alto e às capelas devocionais.
Este casarão de 1458 que abrigou o Convento de Jesus, acolhe, desde 1911, o Museu de Aveiro e uma bela coleção de arte barroca portuguesa que inclui pintura, escultura, azulejaria, ourivesaria e mobiliário, apresentando dois circuitos de visita distintos: o percurso monumental e a exposição permanente.
Para além desta personagem histórica, o Museu reserva-nos outra surpresa no domingo de março em que estivemos na cidade dos canais, das salinas e dos ovos moles: Homero, o Contador Épico.
Inspirado no livro Vozes Plurais: filosofia da expressão vocal de Adriana Cavarero, o protagonista deste monólogo pede socorro aos mais emblemáticos bardos, trovadores e menestréis da história, na obstinada busca de salvar sua amada de uma maldição. A narrativa é intercalada por músicas do repertório de “guitarra clássica solo”, que evocam as atmosferas relatadas no decorrer da trama.
A apresentação, protagonizada pelo guitarrista Eduardo Barretto, integrou um dos muitos Ciclo de Concertos, com entrada gratuita, que o Museu de Aveiro organiza em parceria com a Universidade local. Não esperávamos este momento musical e fizemos ali uma doce pausa.
Despeço-me de Aveiro com um forte aplauso, ao jovem músico e à cidade. É assim que se promove o património. Bravo!
Site do museu.
Horário: de terça a domingo das 10h00-12h30 e 13h30-18h00 (encerra às segundas-feiras)
Preço do bilhete para o Museu de Aveiro: 5€ /adulto. Existe ainda um bilhete único, que garante a entrada neste museu, no Museu de Arte Nova e Museu da Cidade, por 7€/adulto (preço de 2023).
16 Comentários
Grata pela partilha. Conheço tão mal Aveiro. Creio que só lá estive uma vez e por poucas horas.
Um abraço e uma boa semana
Uma vida interessante, não é Ruthia?
Apaixonada pela história, não posso deixar de apreciar esta publicação. Já sonho de dar um passeio neste cantinho que parece fantástico!
Abraço!
Que beleza de post e aprendemos sempre ao passar aqui! Beleza! beijos, chica e linda semana!
Folguei em saber que Joana não foi obrigada, como era costume, a casar!
Beijinhos e boa semana!
Que lindo Ruthia, certamente irei visitar quando retornar em 2017 (que é o que pretendo)… amei a história da princesa e muito gostaria de conhecer o museu… que delícia de momentos pudestes partilhar com o Pedrinho, querida amiga… adoro coisas assim… aqui, tivemos no sábado, a inauguração do restauro da nossa escadaria que desce até o rio, que foi porta de entrada da cidade por muitos anos…. abandonada, soterrada – a rua em que se localiza, foi doada anteriormente – por coincidência pelo pai do nosso atual prefeito (que também foi prefeito) – para uma empresa… anos depois, a empresa foi embora e a rua voltou para a cidade.. dai veio o processo de restauro da memória… hoje a escadaria, mais tarde restaurante, cais entre outros…
bjs desejando ótima semana
tititi da dri
Que bacana a parceria entre o museu e a UA. Quando aí estive ouvi estudantes dentro da UL a comentarem que a Univ. de Aveiro era (na altura) a melhor universidade o país… Um presente aí chegarem justo em dia de apresentação 🙂
Gostei muito de conhecer a história da princesa santa. A reunião dos seus relatos de viagem dará um delicioso livro, algum dia.
Abraço e uma semana linda pra vc!
Boa tarde, passar por um blog informativo é positivo, assim, ficamos com mais sabedoria, obrigado pela excelente partilha.
AG
Estive em Aveiro, há mais de de três décadas e a lembrança que tenho é de um mar em "ressaca"..
Não havia a meu lado uma Ruthia, para me levar a conhecer lugares históricos tão interessantes ,importantes e tão belos. Que postagem maravilhosa! Obrigada!
Beijos
Ah, minha querida. Imagino que há 30 anos a cidade seria muito diferente e, embora este museu já existisse (tem cerca de 100 anos), não devia estar devidamente divulgado. Portugal "despertou" para o turismo há relativamente pouco tempo.
Beijinhos
P.S. Volte que terei todo o prazer em te servir de guia (pelo menos em alguns pontos do norte de Portugal)
Olá Ruthia
Muito bonita a história da santa princesa! Pelo que eu vi, acho que ela escolheu bem o lugar para viver…..aliás, Aveiro me parece ser encantador!!!
Beijinho do Brasil!
Bia <°))))<
que lindo passar por aqui !!!
não conheço Portugal, mas tenho o meu coração sempre batendo forte quando vejo imagens de lá.
meus avós nasceram lá e vieram para o Brasil na década de de 20.
um dia vou, e quero conhecer mais sobre este país tão maravilhoso, que imagino ser tão parecido com o nosso aqui…
beijos e lindo blog,
parabéns e muitas felicidades…
eliane
http://elianeapkroker.blogspot.com.br/
Seja bem vinda, Eliane. Portugal tem imensos lugares maravilhosos, tal como o Brasil, que conheci um bocadinho (bem menos do que gostaria) no ano que morei lá.
Um abraço e bom fim-de-semana
Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos. (Maria Miranda)
Linda postagem!
Tenha uma linda semana!
Doce abraço, Marie.
Ruthia no meio de tantos desencontros finalmente cá estou, e cheguei em um dia especial, pois adorei esta postagem, gosto de saber a origem das coisas, o passado, gostei muito mesmo, bjos Luconi
Às vezes fico pensando que vida de princesa não devia ser fácil. Por trás sempre havia um rei e uma rainha a governar-lhe a vida. Não podia nem sonhar que já não podia. Naquele tempo não se podia muita coisa.
E qdo fala em castelos e princesas, parece-me algo muito familiar… será? rsrsrs (ok, exagerei agora).
Ruthia, uma excelente Páscoa pra vc e sua linda família!
Beijos
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