Atualizado em 3 Maio, 2022

A imagem da filha de D. Afonso V paira sobre Aveiro como um perfume, tão subtil quanto constante

O marketing turístico da cidade assenta naquela princesa do século XV, assim como o de Guimarães explora a aura guerreira de D. Afonso Henriques. Assim como Viseu tem Viriato, Brodowski tem Portinari ou Liverpool os Beatles.

De Joana se conta que era muito bela mas que recusou vários pretendentes por querer ser freira. Foi o caso do rei de Inglaterra; Maximiliano, filho do imperador Frederico III ou o herdeiro de Luís XI.

Quis tomar votos no modesto convento dominicano de Aveiro e tê-lo-ia feito, não fosse a polémica que isso causou na corte. Aí viveu até ao fim da vida com o véu de noviça, humildemente, canalizando as suas rendas para ajudar os mais pobres. A sua caridade garantiu-lhe a fama de santa, ainda em vida.

Quando a princesa morreu de peste, diz a lenda, e o enterro passou pelos jardins no convento, as flores que ela tratava caíram sobre o caixão, prestando-lhe uma última homenagem. Este acontecimento terá sido o seu primeiro milagre. A partir de então, muitos outros lhe foram atribuídos. Duzentos anos depois, o Papa Inocêncio XII concedeu a beatificação a esta infanta de Portugal.

O Museu de Aveiro, instalado no Convento de Jesus onde a princesa se enclausurou contra a vontade do rei e de todo o país, honra a sua mais célebre hóspede. Se é verdade que tem belas peças de arte sacra, também é certo que temos vários museus desse tipo (e bons) espalhados pelo país.

Assim, o que distingue o espaço é precisamente a linda e loira Joana, cuja vida decora as paredes da Igreja: numa dessas passagens, em que foi retratada com trajes reais, parece a Cinderela, segundo o Pedro e a prima. O lugar mais singelo do antigo convento dominicano é o coro baixo, onde repousa o túmulo barroco da princesa, de mármore trabalhado, apoiado sobre quatro anjos e enfeitado com flores frescas, prova do carinho que os portugueses nutrem pela sua santa de sangue real.

Para além desta personagem histórica, o Museu reserva-nos outra surpresa neste domingo de Março: Homero, o Contador Épico.

Merchandising da princesa Joana
Joana como princesa, na capa de um CD, e com o hábito dominicano na loja do Museu.

Inspirado no livro Vozes Plurais: filosofia da expressão vocal de Adriana Cavarero, o protagonista deste monólogo pede socorro aos mais emblemáticos bardos, trovadores e menestréis da história, na obstinada busca de salvar sua amada de uma maldição. A narrativa é intercalada por músicas do repertório de “guitarra clássica solo”, que evocam as atmosferas relatadas no decorrer da trama.

A apresentação, protagonizada pelo guitarrista Eduardo Barretto, integra o IV Ciclo de Concertos, com entrada gratuita, que o Museu de Aveiro organiza em parceria com a Universidade local. Não esperávamos este momento musical e fizemos ali uma doce pausa…

Despeço-me da Veneza portuguesa com um forte aplauso, ao jovem músico e à cidade. É assim que se promove o património. Bravo!

Bilhete Museu de Aveiro: 4€ /adulto (valores de 2018)