Atualizado em 23 Março, 2022
Na serra do Marão, um percurso de água e silêncio, que convida à contemplação da Natureza. Vamos trilhar o PR6 Rio Marão, a partir de uma aldeia pequenina de Amarante
Manhã fria na serra, mas nada que uma boa marcha não resolva. E o trilho PR6 Rio Marão, uma pequena rota com pouco mais de 14 quilómetros, promete exactamente isso: uma boa caminhada com muito ar puro. O percurso começa na freguesia de Ansiães, passa por viveiros de trutas, antigas minas, uma linda floresta centenária. Grande parte do caminho é acompanhado pelo som da água, o que só acentua a beleza da paisagem.
Como sublinha o turismo local, na serra do Marão é o todo que impressiona: “as antigas minas de volfrâmio, de galerias profundas, a diversidade florestal, a paisagem, o ar que se respira, a água que corre em leitos de rios e ribeiras, as fragas, as escarpas, a urze ou a carqueja, os corsos ou a perdiz, a raposa e, por vezes, o lobo”.
O trilho PR6 Rio Marão é circular, o que significa que pode ser feito em dois sentidos, passando sempre pelos mesmo locais. Optámos pelo sentido 1, para fazer as maiores subidas no início do percurso, quando as pernas e as energias ainda estavam frescas. Vamos lá à caminhada.
Também na região: A Nossa Rota do Românico
A caminhada
A partida faz-se no Largo da Pinha, onde existe um cartaz informativo sobre o trilho, seguindo pelo caminho de Santo António, em calçada antiga, baptizado com o nome da pequena capela. As pessoas descansam nesta manhã de domingo, mas, entre o casario de pedra do Eido, Peso e Coval, há sempre alguém que nos cumprimenta.
Os caminhos rurais conduzem-nos depois pela serra. Num ápice estamos rodeados de árvores. Uma pequena ponte, coberta de musgo, une as margens do riacho neste bosque que convida à fotografia. Mas ainda há muito caminho pela frente e outras paisagens igualmente belas.
Continuamos a subir até ao viveiro de Trutas do Torno, uma estrutura dos anos 1950, criada para repovoar os rios, numa altura em que a II Guerra Mundial dificultava o fornecimento de ovos embrionados. Ainda hoje o viveiro fornece Truta Fario (para recuperação das populações das bacias hidrográficas dos rios Douro, Minho, Lima e Cávado), e Truta Arco-Íris.
Outra subida conduz-nos até às casas de apoio às Minas do Ramalhoso, onde outrora se explorou estanho e volfrâmio, ao lado de uma levada que se transforma em banda sonora. Parece que estas águas têm propriedades termais, denunciadas pelo seu rastro ferroso.
Mas ainda não sabemos disto à medida que caminhamos, um pouco ofegantes, entre paisagens dignas de registo. O desnível estabiliza, passamos por um túnel que atravessa a encosta e uma gruta (na verdade, acho que é a verdadeira entrada do complexo mineiro).
Adiante espera-nos a primeira casa construída de raiz pelos Serviços Florestais (1919) em Amarante – a Casa do Guarda Florestal do Alto do Espinho, hoje abandonada – e a fábrica “Águas do Marão”, também desactivada.
A minha parte preferida do trilho surge após a travessia da estrada (EN 15): uma floresta centenária de coníferas. “Até a maior árvore da floresta começa do chão” – lemos. E sentimo-nos humildes junto da imponência destas árvores, que parecem querer tocar o céu. O rio acompanha-nos ainda um pouco, antes de passarmos por baixo da A4, bem perto do túnel Marão.
É como se um portal nos fizesse regressar não das brumas de Avalon, mas as brumas do Marão, com um rio que dá nome ao trilho. Os campos agrícolas revelam que estamos de regresso à realidade humana e, pouco depois, estamos em Ansiães.
PR6 Rio Marão – ficha técnica
Ponto de partida/chegada: Ansiães, Amarante [41° 14′ 55” N | 7° 57′ 14” W]
Tipo de percurso: pequena rota circular
Extensão: 14,5 km
Duração prevista: 4 horas
Cota mínima e máxima: 446 m / 895 m
Dificuldade: média (difícil com chuva e/ou nevoeiro). Crianças maiorzinhas conseguem fazer o trilho, mas desaconselhamos crianças pequenas, a não ser que possam ser transportadas em marsúpio. Obviamente, cada um conhece os seus filhos, portanto não vou dar palpites sobre a idade mínima. O meu filho fez esta caminhada já com 13 anos.
O percurso está bem sinalizado, em ambos os sentidos. No entanto, se preferir, encontra o desdobrável informativo sobre o PR6 Rio Marão no site do turismo.
Dicas úteis
Como chegar
A aldeia de Ansiães fica a pouco mais de 70 km do Porto, facilmente transpostos graças à A4. Deve seguir pela saída 20, em direcção à N15/Ansiães. O centro da aldeia fica a 2,7 km da saída da auto-estrada, há várias placas a indicar o caminho.
O trilho fica bem mais longe de Lisboa (375 km). O trajecto mais curto pela A1 em direcção ao Porto e tomando depois a A4. A freguesia de Ansiães fica a cerca de 20 km do centro de Amarante, sendo possível chegar de carro (auto-estrada ou estrada nacional) ou autocarro. Existe algum estacionamento junto à Igreja e no Largo da Pinha, onde começa o trajecto.
Onde ficar
A oferta de alojamento em Ansiães resume-se à Pousada do Marão – S. Gonçalo, uma unidade de quatro estrelas no meio da natureza, com estacionamento gratuito e piscina exterior. Mas existe alguma oferta de agroturismo a poucos quilómetros, de que é exemplo a Peso Village.
Pode ainda ficar na castiça cidade de Amarante, terra de poetas e escritores como Agustina Bessa Luís, pintores como Amadeo Souza-Cardoso e um beato muito popular. Leia mais sobre este destino em O doce fálico de Amarante..
Caso decida dormir em Amarante, recomendamos a Casa das Lérias, com vista para o rio Tâmega, piscina e uma decoração muito bonita, ou (um pouco mais longe) o Monverde – Wine Experience Hotel, rodeado de vinhas e tranquilidade.
Há por aí fãs de caminhadas? Que outros trilhos nos recomendam em Portugal?
18 Comentários
Um pequeno pedaço do paraíso! Obrigado por postar essas belezas querida Ruthia! 🙏🌹
É sempre um prazer receber a sua visita.
Ai que vontade de voltar ao Porto e explorar esses lugares lindos que existem por lá! Adorei a rota do Rio Marão, Ruthia!
Vc morou no Porto, né? Parece que a cidade ficou no seu coração…
Um belo local que tencionava visitar há seis anos depois de uma semana pelo Minho, mas infelizmente não deu, e com os problemas de saúde que temos sofrido ultimamente já não deve ser possível ir a Trás-os-Montes.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Desejo-lhe rápidas melhoras, querida Elvira. Que a saúde permita fazer ainda muitos passeios. Beijinhos
Eu lembro que cheguei a passar por Amarante na minha viagem por Portugal anos atrás, mas foi só uma passada rápida e nem deu para conhecer mesmo a região. Nem imaginava que tinha trilhas como essa por lá. Achei curioso que vocês chamam de trilho no masculino e aqui no Brasil é trilha no feminino rs.
A língua portuguesa é tão rica e diversa, né? Adoro conhecer essas pequenas diferenças e agora tenho muitas oportunidades porque conheço muitas brasileiras que moram aqui na Costa do Marfim
Que local maravilhoso Ruthia, Portugal sempre nos contempla com as mais belas paisagens, esse é um roteiro que com certeza está na minha lista quando visitar o país.
A maioria dos municípios portugueses tem investido nesta área, então, o número de trilhos assinalados são cada vez mais. Em Guimarães, por exemplo, temos 3 ou 4 percursos assim, para além das ciclovias e parques onde é possível caminhar. Melhora-se a saúde pública, o que é bom para todos
Não conhecia essa parte de Portugal, mas adoro passeios pela natureza, a rota do Rio Marão é uma ótima pedida!
Há muitos percursos pedestres em Portugal, mas este tem muita natureza e diversa, o que o torna muito interessante
Que dica incrível! Adoro passeios onde podemos contemplar a natureza, esse aí parece uma ótima pedida. Já anotei a dica
Quando eu vivia no Porto às vezes íamos até ao Marão, uma das quais a serra estava coberta de neve.
Espectacular!
E quando não tem neve… tem verde! É uma paisagem maravilhosa em qualquer época do ano.
Preciso voltar lá para matar saudades 😉
Obrigada pelas lindas imagens que publicas, querida Ruthia.
Uma semana feliz.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Com neve ainda não fui ao Marão, mas imagino que seja lindo.
Que linda essa trilha no Rio Marão… adoro estes posts diferente e de natureza que tu faz!
Que lugar encantador, estivemos no Porto poucos meses atrás, não imaginava que pela região tivesse trilhas desse tipo. Um passeio maravilhoso sem dúvida.
[…] Nós já percorremos um deles, perto do rio Marão, na pequena aldeia de Ansiães (concelho de Amarante), uma pequena rota com pouco mais de 14 quilómetros entre florestas majestosas e o som do rio. Contei a experiência em detalhe no post PR6 Rio Marão – trilho em Amarante. […]