Atualizado em 20 Setembro, 2023
Logo após o mítico Caminho Francês, o Caminho Português Central é o mais usado por (milhares de) peregrinos cada ano. Depois de caminhar do Porto a Santiago, compilei as minhas dicas
De todos as variantes portuguesas do Caminho, a rota Central é a mais percorrida. Milhares de peregrinos são guiados pelas inconfundíveis setas amarelas ou vieiras amarelas sobre fundo azul (símbolo oficial), que apontam sempre para norte. É que o destino final dos peregrinos fica lá em cima na Galiza, a 120 km da fronteira portuguesa.
Os Caminhos de Santiago nasceram como rotas de fé no período medieval, após a descoberta dos restos mortais de um dos apóstolos de Cristo, Santiago Maior, reatando uma tradição milenar que dirigia os homens para o Finis Terrae galego, seguindo a Via Láctea.
Sim, comunidades neolíticas, povos celtas e romanos já viajavam até o Cabo de Finisterra – próximo de Santiago de Compostela –, local que acreditavam ser o fim do mundo, ajoelhando-se em honra do sol, que morria à vista infinita do oceano.
Hoje sente-se um revivalismo do Caminho de Santiago, por razões religiosas mas também, cada vez mais, espirituais, de autoconhecimento e até desportivas. Seja qual for a sua motivação, se chegou até aqui, é porque, provavelmente, o Caminho lhe entrou no coração e começa a fazer preparativos.
Espero que este artigo o ajude nesse processo e, talvez, que dissipe alguma ansiedade se é mulher e planeia, como eu, fazer o Caminho de Santiago sozinha.
Durante meses sonhei com o meu Caminho. Uma aventura que quis viver sozinha, sem distrações do meu eu interior, um tempo fora do tempo. Por mim, para mim. Porém, à medida que a aventura se aproximava, senti-me como uma criança perante uma trovoada portentosa.
O Caminho Português de Santiago
Logo depois da independência de Portugal, o culto jacobeu ganhou relevância no nosso país, com um traçado que herdou caminhos antigos, como a calçada romana Via XIX, que ligava Braga a Astorga. Não havia rixa real que impedisse os peregrinos de cruzarem a fronteira.
Aliás, a realeza portuguesa contribuiu para a devoção ao apóstolo Santiago. D. Isabel, a rainha Santa, fez uma peregrinação no século XIV e ofereceu a sua coroa no altar de Santiago, para depois ser enterrada em Coimbra com um cajado de peregrina. O rei Manuel I seguiu-lhe o exemplo dois séculos depois, ordenando que uma lâmpada iluminasse o templo dia e noite, em recordação da sua visita.
Diz-se mesmo que o fenómeno jacobeu influenciou a rede rodoviária, de sul a norte, passando pelos lugares que o Caminho Português foi fixando rumo à Galiza.
Quando novos tempos, revolucionários e napoleónicos, fizeram esmorecer as peregrinações, o Caminho Português tornou-se a via mais ativa: no século XIX, mais de 80% dos peregrinos estrangeiros foram portugueses.
Hoje estão identificados vários itinerários em Portugal que, pelas referências históricas e patrimoniais (como ermidas dedicadas ao santo, nomes dos lugares, romarias), relevam o seu uso para peregrinação.
Não existe, portanto, um só Caminho Português de Santiago, mas vários, que atravessam o país. A crescente procura motivou a recente certificação dos itinerários do Caminho Português de Santiago, para garantir o “reconhecimento do seu valor histórico e patrimonial”, assim como para garantir a existência de “condições para uma fruição espiritual plena e em segurança”. Neste momento, estão certificados:
- Caminho Português Central (que motiva o artigo de hoje)
- Caminho Português da Costa, junto ao mar
- Caminho Português de Santiago Interior, que atravessa vários concelhos no interior do país, entre Viseu e Chaves.
Por um instante, questionei-me se estaria preparada. Se seria a hora certa, se as pernas seriam capazes de me carregar os 240 km desde o Porto a Santiago. Se o maior obstáculo seria a minha cabeça vacilante ou o corpo, as pernas enrijecidas pela dúvida acerca de minha capacidade de vencer a distância de uma meia maratona por dia. E o medo de fracassar.
Como organizar o SEU caminho
Cerca de 625 km separam a Sé de Lisboa/Igreja de Santiago da praça do Obradoiro, em Santiago de Compostela. Uma escassa estrutura de apoio, nomeadamente albergues, no percurso até ao Porto, traduz-se, porém, no início do Caminho na cidade invicta (240 km de distância, foi o que fiz), em Valença do Minho (120 km de distância), ou mesmo já em Espanha.
Para receber a Compostela – um belo diploma em latim igual aos concedidos desde o século XV -, terá que percorrer 100 km a pé, pelo menos. Assim, a cidade transfronteiriça de Tuí é o último ponto de partida dos caminhantes, se esse for o seu objetivo. Já os peregrinos de bicicleta ou a cavalo têm que percorrer 200 km, o que implica uma partida do Porto.
Outra regra é a de carimbar a credencial do peregrino duas vezes por dia, no mínimo, ao longo do Caminho de Santiago. Todos os albergues têm carimbo, bem como igrejas, postos de turismo, muitos restaurantes, hotéis e cafés ao longo destes percursos de fé.
Para planear o SEU Caminho, leia sobre o assunto, prepare-se fisicamente e faça planos de acordo com as suas circunstâncias, sabendo que, a menos que esteja em muito boa forma física, é desaconselhável fazer caminhadas diárias superiores a 25 km.
Por exemplo, eu dividi a etapa Barcelos-Ponte de Lima em dois, porque achei que 35 km estariam acima das minhas possibilidades físicas e porque tinha dias disponíveis. Já em território espanhol, atrevi-me a duas jornadas mais longas que se traduziram num pé enfaixado e a conclusão da peregrinação com bastantes dores num tornozelo.
Conheci duas senhoras bastante idosas que faziam 3 ou 4 km por dia a pé e apanhavam depois um táxi. Este era o seu Caminho, estavam felizes por darem o seu máximo. Ninguém diga que aquela não era uma verdadeira peregrinação. Não existe apenas um Caminho: em tempos medievais, a peregrinação começava à porta de casa de cada um.
No meu caso pessoal, usei o site caminhoportuguesdesantiago.eu para planear as etapas em território português e o site Gronze para planear as etapas em Espanha.
Conhecendo o meu sono leve, reservei antecipadamente (quase) todos os alojamentos, por forma a garantir um quarto individual. Muitos peregrinos preferem deixar que seja o corpo a dizer-lhes quantos quilómetros são suficientes para cada dia. Mais uma vez, cada um sabe de si. Dormir num beliche de um albergue, à base de donativos, é tão válido quanto optar por um alojamento privado, mas simples, ou escolher um hotel de várias estrelas. Saiba também que a maioria dos albergues fecha durante o Inverno.
De igual forma, se contratar um serviço de transporte de mochilas, ignore o termo pejorativo “turisgrino” = turista + peregrino. Cada um sabe das suas dores, limites e sacrifícios. Peregrino não é aquele que julga, é aquele que acolhe e apoia os parceiros de caminhada.
Primeiro carimbo recebido no albergue de peregrinos do Porto. Antes de arrancar, enfeito a mochila com a vieira que simboliza a lendária viagem marítima que o corpo do apóstolo fez desde a Palestina até a Galiza. Os meus temores não desaparecem, mas a pequena concha torna, de súbito, o Caminho bem real.
Etapas do Caminho Central
O Caminho Português de Santiago Central está assinalado desde Lisboa, mas, de facto, no passado seguia mais para sul: sabe-se que na Idade Média peregrinos percorriam o troço hoje conhecido como Caminho Histórico da Rota Vicentina até ao Algarve.
Do Porto, o Caminho Português Central estende-se por cerca de 240 km e está razoavelmente bem marcado ao longo de todo o percurso, com setas amarelas. Dei o primeiro passo de peregrina numa manhã fresca, misturando entusiasmo e dúvida em doses iguais. Como aconteceu a milhares de pessoas antes de mim, o Caminho providenciou o que precisava e mais ainda.
Etapa 1 – Porto a Vairão (27 km)
O primeiro passo poderia ser dado junto à Sé do Porto, um dos monumentos mais antigos de Portugal, mesmo no centro da cidade invicta, em cujo claustro velho existiu uma capela dedicada a Santiago e onde pode obter a credencial de peregrino. Acontece que a Sé abre apenas às 9h da manhã, hora a que a maioria dos peregrinos já vai longe.
A solução será levantar a credencial no dia anterior ou recebê-la antecipadamente pelo correio. Como já tinha a minha, conquistei o primeiro carimbo no albergue da cidade. Esta primeira etapa é barulhenta, espelhando o meu estado de espírito, que não se satisfaz com as setas do caminho, mas confirma a direção no telefone, em intervalos regulares.
As áreas metropolitanas sucedem-se: Porto (de quem nos despedimos junto aos azulejos azuis da Igreja do Carvalhido), Maia, Matosinhos. Esta é uma etapa de muito asfalto e trânsito, em particular o último trecho perto de Vairão, bem perigoso, pois a estrada de dois sentidos é estreita e praticamente sem bermas.
Do que gostei: a campanha “Estrellas del Camino” promovida por uma marca de cerveja, que colocou outdoors ao longo do Caminho, honrando nove histórias de resistência.
Desafios: apesar de ter escolhido um alojamento privado, um grupo de peregrinos barulhento e tardio perturbou o meu descanso.
Etapa 2 – Vairão a Barcelos (27,5 km)
O sol ainda não nasceu quando parto para o segundo dia do Caminho de Santiago. O alcatrão dá lugar a terra batida, bucólicas paisagens conduzem-me à Ponte Zambeiro, envolvida num nevoeiro mágico que amplia os sons da natureza. O grasnar de um pato, a canção do rio que corre sob a ponte, o som das minhas botas de peregrina.
Ainda não se veem outros peregrinos neste ponto que, outrora, fazia a ligação da estrada romana conhecida por Via Veteris, até Esposende. Ao longo do dia, cruzar-me-ei com vários, todos estrangeiros, todos com passadas distintas. Uns apressados, outros como se tivessem todo o vagar do mundo.
Outro ponto alto do dia foi as boas-vindas que senti do concelho de Barcelos, com um grande galo e o acolhedor parque Santiago em Macieira de Rates, enfeitado com um lindo poema ao peregrino e pequenas lembranças deixadas pelos caminhantes. Adiante, na freguesia do Carvalhal, o Banco do Peregrino informa que faltam 199 km para chegar a Santiago de Compostela.
Cruzada a ponte medieval sobre o rio Cávado, chego ao destino do dia. Na cidade de Barcelos, poderá assistir à bênção diária aos peregrino na Igreja de Santo António (19h00), conhecer o centro histórico e a sua rota do figurado.
Do que gostei: todo o percurso é lindo e enriquecedor. O belo polvo à lagareiro com que me brindei ao jantar coroou um dia maravilhoso, com calcanhares doridos mas sem bolhas.
Etapa 3 – Barcelos a Ponte de Lima (35 km)
Ainda que relativamente plana, temi que esta etapa fosse demasiado longa para mim, pelo que a dividi em duas, pernoitando em Vitorino de Piães. O dia amanheceu cinzento, mas o céu foi meu amigo, desabando apenas após eu chegar ao destino do dia.
A casa da Fernanda é uma atração em si mesma. Fernanda Rodrigues e Jacinto Gomes, um casal enxuto de carnes, cheio de energia, acolhedor e tagarela, abre diariamente as portas da sua casa, partilhando a sua mesa e vinho, os três cães, quatro gatos, um galo e umas quantas galinhas que põem ovos onde calha.
Em direção à luz do amanhecer, vou ficando cada vez mais leve. Confio mais nas setas e menos no telemóvel, dou por mim em momentos de pleno recolhimento. Em certa ocasião, sinto lágrimas que me lavam o rosto num momento prenhe de gratidão pelas bênçãos que tenho na minha vida.
No dia seguinte cumpri a segunda parte da etapa com Klaudia, uma alemã de Colónia, que fazia o Caminho de Santiago pela terceira vez. Atravessamos juntas os trilhos rurais e estradas secundárias, num dos trechos mais belos e tranquilos do Caminho, com alguma chuva miúda a abençoar o nosso dia. A certo ponto, uma parede inteira de “trompetas de anjo” embeleza o nosso percurso. Depois pesquisaria sobre ela, descobrindo que é uma planta tóxica.
A graciosa avenida dos plátanos, com o rio muito baixo apesar do dilúvio da noite anterior, e o animado mercado semanal recebem-nos na vila de Ponte de Lima.
Do que gostei: antes de chegar a Vitorino de Piães, passei por uma pequena banca com biscoitos, água, fruta e tremoços para os peregrinos, que devem deixar a sua contribuição (1€ por cada item) numa caixinha. Um pequeno e enternecedor gesto de apoio.
Desafio: dormir num quarto com mais sete peregrinos, um dos quais ressonava como um trator. Não descansei grande coisa, mas, felizmente, a distância a percorrer no dia seguinte não era grande e pude compensar com uma sesta depois do almoço.
Etapa 4 – Ponte de Lima a Rubiães (18 km)
Chamam-lhe a etapa rainha do Caminho Português de Santiago, devido à Serra da Labruja. Os muitos relatos que li sobre esta subida – um desnível de 300 metros em pouco mais de 4 km – fizeram-me temer a jornada.
Mas, na verdade, comecei o dia com muita energia, nutri-me da mensagem aos peregrinos no extremo da ponte medieval, e recebi uma dose de alegria extra do senhor Martins, o marceneiro que mora na esquina do albergue e que assobia como um rouxinol. Para além de trabalhar a madeira e vender souvenirs do Caminho, o caloroso ancião tem um contador dos peregrinos que ali param para dois dedos de conversa e um carimbo. Ultreia.
Fosse pelo começo de dia auspicioso, fosse pela envolvência natural da serra, alcanço o topo em tempo recorde, cheia de calor, mas sem grande cansaço. Desfruto da água fresca, da sombra e dos bancos, merendo, revejo as fotos da famosa Cruz dos Franceses no meu telemóvel.
Em 1809, a população emboscou ali os soldados franceses que constituíam a retaguarda do exército de Napoleão. Mas as recordações sangrentas são ofuscadas pelas muitas recordações que os peregrinos deixam. A descida para a aldeia minhota de Rubiães é rápida e fácil.
O que gostei: na descida para Rubiães, à direita, o jovem casal que comprou a Quinta da Sobreira (para plantar maçãs) instalou um pequeno quiosque que vende snacks saudáveis e água aos peregrinos. Achei o projeto adorável.
Etapa 5 – Rubiães a Tui (19 km)
Bosques mágicos acompanham os meus passos, à medida que deixo Rubiães e a sua ponte antiquíssima para trás. Um pouco adiante, em Cossourado, vê-se a primeira seta usada para marcar o Caminho de Santiago em Portugal. Estou quase a despedir-me de terras lusas.
Mas ainda falta atravessar Valença, com a sua fortaleza, e a ponte internacional com uma vista fantástica sobre o rio Minho. O caminho até Tui é relativamente curto e com desníveis pouco acentuados.
Todas as mulheres que encontro no Caminho guardam consigo a experiência de vencer longas distâncias, físicas e imaginárias. Um desejo de autoconhecimento e talvez de expurgo de pesos acumulados, combinado a um certo ímpeto de aventura. Muitas delas começaram esta aventura sozinhas, tal como eu. Mas, na verdade, nunca estamos sozinhas(os) no Caminho.
Uma das sete capitais do antigo Reino da Galiza, declarada conjunto histórico artístico em 1967, o encanto de Tui respira-se em cada rua, viela e passadiço do casco antíguo. Com um desenho medieval presidido pelo românico e pelo gótico da sua Catedral de Santa María, vale a pena espreitar também o convento das Clarissas.
O espírito do Caminho de Santiago está impregnado nesta pequena cidade raiana, com murais dirigidos aos peregrinos feitos pelas crianças das escolas.
O que gostei: do cantinho dedicado aos peregrinos que o albergue Quinta Estrada Romana preparou. É um dos albergues mais simpáticos de todo o Caminho Português de Santiago, um pouco antes de Valença.
Desafio: voltar ao barulho das estradas, antes de chegar a Valença do Minho, depois de vários dias de muita natureza e tranquilidade.
Etapa 6 – Tui a Mos (23 km)
O espírito de Tui acompanha-nos ainda, ao passar na Ponte das Febres, onde São Telmo faleceu no século XIII, no seu caminho para Santiago. Apesar do entorno da ponte estar em obras (março de 2023), é um recanto muito bonito e tranquilo, com o rio ainda a transbordar as margens, resultado das chuvadas recentes.
Caminante, aqui enfermó de muerte San Telmo en abril de 1251. Pídele que hable con Dios en favor tuyo.
Continuo por trilhos rurais, num traçado coincidente com a Via Romana XIX, passo pelo lindo mural ao peregrino e, pouco depois, perto de Orbenlle, surge uma bifurcação no Caminho. Pela direita, o traçado original que atravessa o descomunal polígono industrial As Gándaras, com cerca de 5,58 km até O Porriño (dificuldade baixa). Eu opto pelo traçado alternativo, um pouco mais longo (6,47 km) que margeia, em grande parte o rio Louro, nas esplêndidas Gándaras de Budiño: a dificuldade acrescida é bem-vinda, para escapar do trânsito insuportável.
Não gostei particularmente de Porriño, que faz jus à sua matriz industrial, mas o edifício do Ayuntamiento é qualquer coisa de espetacular. Já Mos conquistou-me logo de início, com os seus belos marcos do Caminho de Português de Santiago, e um traçado tão bem marcado que, em certos troços mais isolados, há marcos de pedra a cada 200 metros.
O centro de Mos é pequenino e encantador. Quando lá passei, num domingo à tarde, estava repleto de famílias em convívio e crianças a brincar na rua. Que ambiente maravilhoso. O senão é a quase inexistência de alojamento alternativo ao albergue municipal.
O que gostei: Tui e os seus murais, a simplicidade de Mos, a “rosa do Caminho”.
Desafio: Pela primeira vez senti dor – um tendão deixou-me a coxear nos últimos quilómetros. Olhando para trás, sinto que não parei as vezes que devia, por ter saído tarde. Lição aprendida. Uma atitude preventiva pode ditar o sucesso (ou fracasso) do Caminho de Santiago.
Etapa 7 – Mos a Pontevedra (30 km)
O dia começa com força, vencendo a subida entre o Mos e a Capela de Santiaguiño e, logo depois, as descidas íngremes até Redondela que devem ser bem perigosas em tempo chuvoso. A cidade tem boas infraestruturas para os peregrinos, já que é aqui que o Caminho de Santiago Central se une ao Caminho Português da Costa.
Mas para lá chegar é preciso acompanhar um troço movimentado da N-550: as cidades são um hiato necessário, para comer e descansar, mas chegar a elas representa, quase sempre, estradas desagradáveis, trânsito e barulho.
Passo por Redondela sem realmente a conhecer, serviu apenas para garantir a dose diária de cafeína e algum descanso para as pernas, apressando-me a abandonar a cidade em prol de paisagens mais rurais. Apesar desta etapa acontecer muito perto do oceano, apenas se vislumbra o Atlântico em alguns pontos mais altos.
Conheci muitos peregrinos hoje, a senhora idosa que veio da Holanda, o ex-bancário Elder que chegou de Brasília para uma quarta incursão no Caminho Português de Santiago e me acompanhou uma parte da etapa. Numa língua universal, todos se saúdam com a expressão “bom caminho” ou “buen camiño”.
Por outro lado, encontram-se vários “furanchos”, casas de particulares que começaram por disponibilizar o excedente das suas produções de albariño à margem da lei e que hoje são uma espécie de bar onde um copo de vinho ou cerveja vem acompanhado de um bocadillo, uma empanada ou qualquer outra coisa que se coma.
A paisagem junto à Ponte Sampaio, romana, que assistiu em junho de 1809 à última batalha da Galiza pela independência face aos franceses, é também muito bonita. Segue-se uma terceira subida, exigente do ponto de vista físico (depois das de Mos e do lugar de Tuimil, na saída de Redondela), com piso irregular.
Após a Capela de Santa Marta, opto pelo traçado alternativo junto ao rio até Pontevedra. Com mais de 30 km nas pernas, não chego a passear naquela que é considerada por muitos a capital do Caminho Português de Santiago por terras galegas. No entanto, já tinha estado na cidade e conhecido o Santuário da Virgem Peregrina, construído em formato de vieira: Visitar Pontevedra, que dá de beber a quem passa.
O que gostei: o doce que provei no café Acuña, em Arcade, chamado cana frita.
Desafio: tinha pesquisado o trajeto no Google Maps entre Mos e Pontevedra e esperava palmilhar 26 km, mas a minha app marcava 31 km no final do dia. Foi um esforço desnecessário pelo qual paguei com dores e jornadas mais difíceis. O ideal é fazer a parte espanhola em seis dias.
Etapa 9 – Pontevedra a Caldas de Reis (23 km)
Deixo Pontevedra para trás com um lindo nascer do sol, apressando-me a regressar às bucólicas paisagens rurais da Galiza. É nesta etapa, junto de um banco peregrino amarelo, que arranca a variante espiritual do Caminho Português de Santiago, que depois volta a cruzar-se com o traçado clássico em Padrón.
Naquele que é um dos trechos mais belos do Caminho (também gostei do trajeto entre Vitorinho de Piães e Ponte de Lima), tenho oportunidade de descansar um pouco junto do marco miliário dedicado a “nuestro señor Magno Magnencio, pio, feliz, augusto, nacido para el bien de la res publica”. Por outro lado, a etapa incluiu também alguns troços chatos na movimentada estrada nacional N-550.
Foi com grande alívio, e dores, que cheguei à cidade termal de Caldas de Reis, onde após um copioso almoço, arranjei reserva de energia necessária para um curto passeio nas margens do rio e para visitar a simpática catedral.
Caminhar é uma tarefa lenta. É das coisas mais radicais que podemos fazer
Erling Kagge, A arte de caminhar
O que gostei: o tratamento “recuperação do peregrino” com que me mimei no balneário Acuña, que incluiu banho termal, duche de pés (alterna água fria e quente), parafango (faixa quente, de origem vulcânica nas costas) e tratamento criogénico nas pernas.
O almoço na Taberna O Muinho, junto ao rio Umia, composto por mexilhões, polvo e pão. Uma verdadeira refeição galega que me ressuscitou dos mortos.
Etapa 10 – Caldas de Reis a Padrón (22 km)
A manhã recebeu-me com o tornozelo inchado, o que obrigou a uma visita à farmácia antes de partir para mais uma etapa. Pomada analgésica e meia elástica tornaram-se companheiras de jornada até à chegada à praça de Obradoiro.
As dores não me deixaram apreciar devidamente a beleza do vale da Bermaña, com as suas florestas centenárias. Animou-me o facto de, depois de passar a ponte romana de Cesures, o Caminho entrar em terras da Corunha, seguindo paralelo à N-550 até chegar a Padrón. Esta localidade recebeu-me com fortes rajadas de vento. Felizmente, poupou-me da chuva, que começou a cair apenas depois de chegar ao alojamento, persistindo durante toda a noite.
A cerca de cinco quilómetros por hora, tudo se transforma. Quando se preenche um dia, a seguir a outro e outro, apenas a caminhar, jornadas inesperadas abrem-se no coração. Quando nos apercebemos, estamos em pleno transe introspetivo.
Ruthia Portelinha, Jornal de Guimarães
Famosa pelos seus pimentos Padrón (uns picam, outros não), que na verdade devem chamar-se pimentos Herbón, pois são herança de pequenos produtores à sombra de um convento franciscano daquela aldeia, a vila possui uma tradição jacobeia muito forte.
O apóstolo pregou aqui em vida, no que hoje se chama Santiaguiño do Monte, e, por isso, os discípulos trouxeram o seu corpo da Palestina num barco que amarraram a um “pedrón”. O culto deste altar romano – pode vê-lo por baixo do altar da Igreja de Santiago – contribuiu para o nascimento de uma nova Villa Padrón, que conheceu grande esplendor na Idade Média.
Hoje em Padrón convergem três percursos relacionados com o apóstolo: o Caminho Português, a Ruta del Mar de Arousa e o rio Ulla, que comemora a chegada do corpo do apóstolo, e o Caminho de la Pedronía, caminho que muitos peregrinos fazem de Santiago a Padrón.
Desafios: o Caminho engrossa em número de peregrinos. Um grupo de adolescentes, particularmente numeroso e barulhento, acompanha-me durante duas etapas.
Etapa 11 – Padrón a Santiago de Compostela (25 km)
Parto rumo à meta ainda noite cerrada, pois sei que o meu tornozelo vai dificultar a jornada que, ainda por cima, tem algumas subidas exigentes. A dor acaba por se tornar dormente, cerro os dentes e teimo em continuar, devagar mas com constância.
Faço a última pausa do Caminho, para descansar um pouco, na Casa da Cultura de O Milladoiro. Com a água que pedi, surge com um pequeno presente: tortilha quentinha. Um pequeno conforto que me enche o coração de gratidão e coragem para terminar a missão a que me propus.
Uma lisboeta acompanha-me nos últimos quilómetros. Apressada pelas previsões meteorológicas, eu faço por a acompanhar até à Catedral de Santiago, onde as pernas cedem enfim, como se tivesse gasto todas as reservas de energia. Sentada no chão da praça imensa, saúdo outros companheiros de peregrinação que vão chegando, aprecio a fachada desta catedral linda, ligo à família para partilhar a minha alegria.
Demoro a reunir coragem para ir buscar a Compostela, visitar a catedral e o apóstolo. A coxear e com dores, sorrio no meu íntimo, murmuro um “consegui” e começo a fazer planos para o próximo Caminho.
A longa travessia a vencer pressupõe dores, exaustão, frio, calor, cansaço. Mas o Caminho é feito também de surpresas, entre elas, a sensação de recompensa.
Onde dormir no Caminho de Santiago – albergues e outras opções
Tentei fazer uma seleção variada de alojamentos, com albergues municipais e privados, mas também alguns turismos rurais e hotéis, que existem apenas nas cidades de maior dimensão, para o ajudar com o planeamento das dormidas no Caminho Português de Santiago. Tenha em atenção que a maioria dos albergues, sobretudo os públicos, não providencia roupa de cama (deve levar um saco-cama) ou toalhas, não aceita reservas e pode encerrar nos meses de Inverno.
Ou seja, os albergues funcionam habitualmente por ordem de chegada dos peregrinos, sendo necessário apresentar a credencial. Também pode consultar informação sobre a rede pública de albergues em território espanhol online.
Nota: fiz muitas horas de pesquisa para garantir as informações abaixo, no entanto pode haver alterações nos contactos e outras informações a qualquer momento.
Porto
- Albergue de Peregrinos do Porto (Rua do Barão de Forrester, 954) | Tel: +351 220 140 515 ou +351 912 591 321 | Email: info@albergueperegrinosporto.pt
- Albergue do Peregrino Nossa Senhora do Rosário de Vilar (Casa Diocesana, Rua Arcediago Van Zeller, 50) | Tel: +351 226 05 60 00 ou +351 910 27 49 82
- Moov Hotel Porto fica a poucos metros da Sé do Porto, se esse for o seu ponto de partida do Caminho de Santiago, funcionando no edifício remodelado que outrora foi um cinema de estilo arte déco.
- Para uma estadia com super conforto, há sempre os cinco estrelas da Avenida dos Aliados, The Editory Boulevard Aliados Hotel e Eurostars Aliados, igualmente a poucos minutos da Sé.
Vairão
- Albergue de peregrinos do Mosteiro de Vairão (Rua do Convento, 21, concelho de Vila do Conde) | Tel: +351 966 431 916 | Email: mosteirodevairao@gmail.com. Tem 72 camas, está aberto entre as 14he as 22h e funciona à base de donativos.
- Albergues privados: Casa da Laura (+351 917 767 307) e Família Vidal (contacto: +351 966 766 092). Eu optei por ficar na casa da família Vidal (Rua do Salteiro, 87 Vilarinho), onde encontrei um quarto duplo (30€), com lençóis, toalhas e comodidades como micro-ondas e jarro elétrico.
Entre Vairão e Barcelos
- Albergue de São Pedro de Rates: Rua de Santo António, 189 | Email: geral@alberguederates.com. Tem 60 camas, está aberto entre as 16h e as 24h e funciona à base de donativos.
- Barcelinhos: Albergue O Senhor do Galo (Rua da Carniçaria, mesmo antes da ponte medieval que liga a Barcelos) | Tel: +351 918 96 79 68 | Email: gfbarcelinhos@gmail.com. Tem 22 camas.
- Barcelinhos: Albergue os Amigos da Montanha (Largo dos Penedos) | Tel: +351 253 83 04 30 | Site
Barcelos
- Albergue Cidade de Barcelos (Rua Miguel Bombarda, 36) | Email: geral@alberguedebarcelos.com | Site
- Eu optei pelo Art’Otel Barcelos, uma simpática boutique guest house com piscina (que deve ser muito agradável no verão). O In Barcelos Hostel & Guest House parece-me uma boa alternativa, até porque tem uma cozinha que pode ser usada para cozinhar.
Entre Barcelos e Ponte de Lima
- Portela de Tamel: Albergue municipal de peregrinos “A Recoleta” (Rua da Recoleta, 100) | Tel: +351 253 88 43 60 | Email: alberguecasadarecoleta@gmail.com. Tem 41 camas, está aberto entre as 14h e as 21h aceita um donativo de 5€ por pessoa.
- Vitorino de Piães: Casa da Fernanda (Lugar do Corgo, primeiro cruzamento com casas depois de uma capelinha) | Tel: +351 914 589 521. Tem 12 camas, serve jantar e pequeno-almoço aos peregrinos e funciona à base de donativos.
- Vitorino de Piães: outra boa opção será o tranquilo Estábulo de Valinhas, com quartos com casa de banho privativa, entre vinhas e olivais. Só me apercebi da existência deste alojamento, após ter passado por ele, apesar das minhas pesquisas prévias.
- Facha: albergue/hostel O Caminheiro (Rua do Sobreiro Nº 110, Lugar do Sobreiro) | Tel: +351 965 639 957 | Email: o.caminheiro@hotmail.pt. Tem 3 quartos (um deles duplo) e está aberto entre as 16h e as 22h | Site
Ponte de Lima
Albergue de peregrinos de Ponte de Lima: Largo da Alegria, Arcozelo. É só atravessar a ponte medieval e encontrar uma casa vermelha, ao lado do Museu do Brinquedo Português | Tel: +351 925 403 164 ou +351 258 240 200 | Email: alberguedeperegrinos@cm-pontedelima.pt. Tem 60 camas, está aberto entre as 17h e as 22h (uma hora mais cedo no inverno) e cobra 5€ por pessoa.
Eu fiquei num quarto muito fofo na Blue House, no centro histórico. Apesar da cama super confortável, não recomendo o alojamento durante a época alta, porque fica numa praça com esplanadas e vários bares que funcionam até tarde.
Uma alternativa simpática será a Mercearia da Vila, mas estava indisponível na data da minha estadia.
Entre Ponte de Lima e Rubiães
- Albergue privado “Casa da Valada” (Rua de Valada, 487 – Labruja) | Tel: +351 967 742 694 | Email: casadavalada@outlook.pt ou página do Facebook. Tem 55 camas, está aberto entre as 13h e as 21h e o preço inclui pequeno-almoço.
Rubiães
- Albergue de peregrinos de Rubiães (Estrada N201 n/d) | Tel: +351 917 16 44 76 | Email: j.freguesia.rubiaes@gmail.com
- Albergue privado: “O Ninho” (Estrada de São Pedro de Rubiães, 695) | Tel: + 351916866372, Email: ninho.albergue@gmail.com. Tem 30 camas e está aberto entre as 13h e as 20h.
- Eu optei pela modesta Pensão Repouso do Peregrino, que fica um pouco antes do albergue. Os quartos são simples, mas contam com casa de banho privativa e um pequeno almoço mínimo. Se for o caso, peça um quarto no edifício contíguo, pois li duras críticas de hóspedes que ficaram no edifício principal.
Valença do Minho
- Albergue de Peregrinos São Teotónio (Av. José Maria Gonçalves) | Tel: +351 251 826 286 ou +351 961 168 501 | Email: alberguevalenca@gmail.com. Tem 49 camas e um quarto para pessoas com mobilidade reduzida, está aberto entre as 13h30 e as 20h e cobra 8€ por pessoa.
- Albergue privado Quinta Estrada Romana (Caminho de Santiago, 1607 – Cerdal) | Email: quintaestradaromana@gmail.com. Permite reservas e tem 16 camas e um quarto privado. Fica a cerca de 8 km da muralha de Valença.
Tui
- Albergue de peregrinos de Tui (Calle Párroco Rodríguez Vázquez, perto da Catedral) | Tel: +34 638 276 855.
- Albergue privado Convento del Camino (Rúa Antero Rubin, nº 30, Tui) | Tel: +34 690 328 565| Email: conventodelcamino@gmail.com | Site. Tem 19 camas e funciona entre as 11h e as 21h.
- Albergue privado Buen Camino (Av. Concordia, 10, Tui) | Tel: +34 986 604 052 ou +34 626 727 604 | Email: info@alberguebuencamino.net | Site. Tem 30 camas, funciona entre as 13h e as 22h e aceita reservas.
- Optei por dormir no simpático hostal Ideas Peregrinas, que possui quartos duplos com casa de banho privativa. Uma boa alternativa pode ser o Hotel Alfonso I, de três estrelas.
O Porriño
- Albergue de peregrinos de O Porriño (Av. de Buenos Aires) | Tel: +34 986 335 428 | Email: alberguedoporrino@yahoo.es. Tem 72 camas, está aberto entre as 14h e as 22h e funciona à base de donativos.
- Albergue hostel Camino Santiago (Calle Servando Ramilo, 17, 36400 Porriño)
Mos
- Albergue de peregrinos Santa Baia de Mos (Camino Rúa, Santa Eulalia, 3) | Tel: +34 639 300 974 | Email: avv.santabaia.mos@gmail.com e página de Facebook. Tem 38 camas, está aberto entre as 13h e as 22h e cobra 8€ por pessoa.
Redondela
- Albergue Paroquial Santiago Apostol de Redondela (Rua Telmo Barnárdez, 15 Redondela) | Tel: +34 627 748 802 | Email: info@alberguesantiagoderedondela.com | Site. Tem 23 camas, está aberto entre as 14h e 22h e funciona à base de donativos.
- Albergue de peregrinos Casa da Torre (Praza de Ribadavia, s/n, Redondela) | Tel: +34 618 338 045 | Email: casadatorre@gmail.com. Tem 42 camas, está aberto entre as 13h e as 22h e cobra 8€ por pessoa.
- Albergue O Corisco (Romano nº 47 – Saxamonde) | Tel: +34 986 402 166 | Email: contacto@albergueocorisco.com | Site . Tem 16 camas e possui quartos duplos.
- Hotel Alfonso XII, bastante simples e bem no Caminho de Santiago.
Pontevedra
Albergue Virgen Peregrina (C/ Rúa Otero Pedrayo, s/n.) | Tel: +34 986 844 045. A informação online sobre o número de camas varia, mas sabe-se que está aberto entre as 13h e as 22h e que cobra 8€ por pessoa.
Existem vários albergues privados em Pontevedra, nomeadamente Acolá Hostel (tem 16 camas, disponibiliza roupa de cama e pequeno-almoço), Aloxa Hostel (tem 60 camas e o check in pode ser feito entre as 12h e as 19h. No inverno só funciona para grupos mediante reserva prévia), o moderno Dpaso Urban Hostel (20 camas, aberto todo o dia) ou o GBC Hostel (54 camas, incluindo quartos familiares com 6 camas).
Quanto a hotéis, deixo várias opções: Hotel Boa Vila (*) num edifício renovado do século XIX, o Rias Bajas Hotel (***) que possui um quarto individual muito simpático e um bom custo-benefício ou o Parador de Pontevedra (****), instalado num deslumbrante palácio do século XVI no coração histórico da cidade.
Entre Pontevedra e Caldas de Reis
- Albergue A Portela (C/ A Cancela, s/n. — A Portela, Barro) | Tel: +34 655 952 805 | Email: alberguedaportela@gmail.com. Tem 16 camas, funciona entre as 10h e as 22h e cobra 10€ por peregrino.
- Albergue de Briallos (Lugar de Castro e San Roque, s/n. — Briallos) | Tel: +34 986 536 194 ou +34 600 309 707. Tem 27 camas, está aberto das 13h às 22h.
- Albergue Vintecatro (C/ Santa María, 58 — Tivo)| Tel: +34 659 061 792 | Email: reservas@alberguevintecatro.com. Tem 18 camas, funciona entre as 13h e as 23h e admite reservas.
Caldas de Reis
Albergue de peregrinos de Caldas de Reis, antigo albergue La Posada de Doña Urraca (C. Campo de la Torre, 1) | Tel: +34 683 605 335 | Email: hospederiasdocaminosl@gmail.com. Tem 26 camas, fornece lençóis descartáveis, funciona entre as 13h e as 22h e cobra 14€ por peregrino.
A lista de albergues privados inclui, entre outros, A Queimada (72 camas, o check in pode ser feito entre as 12h e as 20h e está aberto todo o ano) e o moderno As Pozas Termais (26 camas de design interessante, inclui pequeno-almoço e pode preparar almoço para levar, mediante pedido).
Sendo uma cidadezinha termal, Caldas de Reis possui vários alojamentos spa, destacando-se o Balneario Hotel D’ávila (**) de ambiente retro, ou o Balneário Acuña (**) onde fiquei alojada, num belo edifício antigo, nas margens do Rio Umia.
Padrón
- Albergue de peregrinos de la Xunta de Galicia de Padrón (C/ Costiña do Carme, s/n) | Tel: +34 673 656 173. Tem 46 camas, funciona entre as 13h e as 22h e está aberto todo o ano.
- Alguns albergues privados são: albergue Camiño do Sar (C/ Lugar de A Devesa, 20 – Lestrobe — Drodo | Tel: +34 618 734 373 | Email: albergue@caminodosar.com acessível a pessoas com mobilidade reduzida) e o albergue Corredoiras (C/ Corredoiras da Barca, 10 bajo | Tel: +34 981 817 266 | Email: info@alberguecorredoiras.es, com 17 camas, a receção funciona das 13h às 18h e está encerrado durante o inverno)
- Hotel Rosalía (**) com quartos espaçosos e boa relação qualidade-preço ou Hotel Chef Rivera (**) com uma decoração um pouco ultrapassada.
Santiago de Compostela
- Albergue de Peregrinos Fin Del Camino (Rúa de Moscova, s/n) | Tel: (+34) 981 587 324 | Email: reservas@alberguefindelcamino.com. Tem 110 camas, é gerido pela Fundación Ad Sanctum Iacobum Peregrinatio e admite reserva. Funciona entre as 13h e as 21h.
- Atenção: a Residencia San Lázaro estava encerrada, no início de 2023.
Sendo o destino final de todos os peregrinos, a cidade possui muitos albergues privados, entre eles:
- A Fonte de Compostela com 30 camas em dormitório e 1 quarto individual, adaptado a pessoas com mobilidade reduzida. O check in pode ser feito entre as 9h e as 22h.
- Dream in Santiago com 68 camas e um quarto duplo adaptado a pessoas com mobilidade reduzida. O check in pode ser feito entre as 9h e as 21h. Recomenda-se reserva prévia
- Santiago Km 0, a 200 metros da Praça de Obradoiro, com 51 camas. O check in pode ser feito a partir das 12h e recomenda-se reservar antecipadamente.
A oferta hoteleira é grande e diversificada na cidade galega. Algumas opções que me parecem interessantes são o Hotel Plaza Obradoiro (**) a 200 metros da Catedral de Santiago de Compostela e com um bom pequeno-almoço, o Hotel Gelmírez (***) um pouco mais afastado da catedral, mas com boas avaliações e qualidade-preço ou, para encerrar esta aventura em grande, o Parador de Santiago – Hostal Reis Catolicos (*****), um bonito edifício do século XV com camas de dossel e o ambiente secular.
Dicas Práticas para preparar o seu Caminho Português de Santiago
Preparação física
Dizem que a fé “carrega” os peregrinos e, de facto, conheço pessoas que fizeram o Caminho Português de Santiago sem qualquer preparação física prévia. Por outro lado, vi muitos peregrinos a interromperem o Caminho devido a tendinites, com dores e bolhas horríveis nos pés. Em vários casos, as maleitas eram evitadas com alguma preparação.
Pode preparar-se com caminhadas diárias, que aumentarão em distância e intensidade, aos poucos, começando por terrenos planos e variando depois o tipo de terreno. Algum tempo depois, acrescenta-se subidas e descidas que preparem os músculos para a peregrinação. Na última fase do treino, deve-se caminhar com a mochila carregada, para observar a resistência do nosso corpo, se o peso é excessivo ou se condicionará a marcha.
Eu preparei-me ao longo de três semanas, com caminhadas mais longas do que o habitual (caminho com regularidade 5km duas vezes por semana). Apesar dos meus receios, reagi melhor ao Caminho do que previ, só terminei com um tornozelo inchado porque exagerei as distâncias já em território espanhol.
Calçado e pés
O calçado recomendado são botas pois seguram melhor o tornozelo, evitando lesões, devendo estar já adaptadas ao pé [nem pense em levar calçado novo]. Eu tenho umas botas da marca Columbia, que não são impermeáveis, o que as tornaria demasiado quentes para os trilhos que faço em África.
Outro detalhe importante são as meias sem costuras, que encontra igualmente nas secções de caminhada/montanhismo de qualquer grande loja de desporto. Não são baratas, mas valem cada centavo.
Durante o Caminho, deve trocar de meias com frequência e tratar dos pés no final de cada etapa, logo depois dos alongamentos e do duche. Leve um creme anti fadiga, que os pés agradecem, e seque-os cuidadosamente, de preferência ao ar.
Poderá ler, em vários sítios, a recomendação de aplicar vaselina nos pés, para evitar bolhas. Eu experimentei um dia, detestei e não voltei a aplicar: posso dizer que não tive uma única bolha, ao longo dos 11 dias de caminhada. Mas o que funciona para mim, pode não funcionar para si.
#dica: beber bastante água ajuda a prevenir cãibras nas pernas.
Segurança no Caminho
Um dos comentários que mais ouvi, durante o período de preparação para o Caminho Português de Santiago foi, “mas vais sozinha?”. Um tipo de comentário a que já estou habituada, diga-se, já que viajo a maioria das vezes sozinha ou com o meu filho.
Os receios alheios prendiam-se, sobretudo, com o facto de ser uma mulher. Se, como eu, pretende viver esta aventura a solo, só posso dizer “Força”. Encontrará dezenas de outras peregrinas ao longo do Caminho Português de Santiago que rapidamente se conhecem, conversam e, por vezes, partilham etapas.
Eu comecei sozinha no Porto, no terceiro dia conheci uma alemã que caminhou comigo durante dois dias e a quem depois perdi o rasto, porque ela ficou com gripe e decidiu descansar. Em Espanha, partilhei metade de uma etapa com um senhor brasileiro e outra com duas peregrinas de Singapura. Acredito que o maior perigo será perder alguma seta, mas o mais provável é receber a ajuda de outro peregrino ou dos moradores locais para voltar ao Caminho.
Não quero com isto dizer que não deva ter cuidado: também há amigos do alheio nos albergues. Mas não será especialmente visada por ser mulher.
Mochila
A mochila deve ser cómoda, adaptável (com correias para a fixação à cintura/ancas e ao peito) e leve. Vários bolsos laterais e superiores facilitam o armazenamento e o acesso à credencial, água e outros elementos de uso frequente. O conselho é carregar até 10% do peso do corpo, para evitar lesões.
O que não deve faltar na mochila: documentação pessoal e credencial de peregrino, molas da roupa, meias sem costuras, roupa interior, chinelos, escova e pasta de dentes, saco-cama (caso pernoite em albergues), toalha em microfibra de secagem rápida, sabão, protetor solar, saco para o lixo, impermeável, garrafa reutilizável, lenços de papel/papel higiénico.
Um pequeno estojo de primeiros socorros deve ter compeed para as bolhas, gel para dores musculares, anti-inflamatório, anti-pirético, agulha para furar bolhas, etc.
Credencial do peregrino
A Credencial do Peregrino é a sucessora dos documentos entregues aos peregrinos na Idade Média como salvo-conduto, que garantia uma viagem mais segura. Hoje, é uma espécie de passaporte que comprova a peregrinação e lhe permite, com os correspondentes carimbos, aceder ao alojamento nos albergues e obter a Compostela/um dos certificados alternativos como o de distância.
Pode adquirir, fisicamente, a credencial em vários locais, a um preço que ronda os 2€. É o caso das Associações do Caminho de Santiago em Portugal, Espanha e resto do mundo, confrarias do apóstolo, em mosteiros e catedrais (Sé de Lisboa, Porto, Tui…), bem como em vários albergues.
Eu antecipei a aquisição da credencial, solicitando o seu envio pelo correio à Associação Espaço Jacobeus – Confraria de São Tiago, através do site oficial. Esta associação envia a credencial também para o estrangeiro.
Chegado à Praça do Obradoiro, deve encaminhar-se para a Oficina do Peregrino, entre as 10h e as 18h, para obter a sua Compostela. Para isso basta ler o QR Code da sua credencial e preencher o formulário online. Algumas credenciais não têm ainda um QR Code, nesse caso, pode usar o que está à porta da oficina de acolhimento ao peregrino.
Preenchido o formulário, recebe um código de barras no telemóvel e email, que deve mostrar ao segurança, para receber a senha de atendimento. A espera pode ser longa, mas após 240 km de caminhada, acho que treinámos um pouco a paciência.
Desejo, do fundo do coração, que as minhas dicas de peregrina o possam ajudar no Seu Caminho Português de Santiago. Se tiver outras que resultaram consigo, partilhe-as nos comentários.
21 Comentários
Gostei imenso de ler esta sua aventura neste Caminho de Santiago. Parabéns, pela forma como elaborou a descrição do percurso, seus preparativos, ajudas e outras dicas. Um muito obrigado 🙏
Muito grata por ter acompanhado esta aventura, nos meus stories do Instagram
Que post completo! Meu marido é louco pra fazer o Caminho de Compostela mas pelo trajeto francês – mas pelo seu post o caminho via Portugal é ainda mais interessante. Ótimas dicas para quem está planejando essa viagem.
O Francês pressupõe muito mais preparação, física e mental. Diria que o Caminho Português de Santiago é um bom teste.
Gostava tanto de um dia conseguir fazer o Caminho de Santiago e o seu post está super completo para ajudar com todas as dicas necessarias. Parabéns.
É fazer planos e ir. Se não tem 11 ou 12 dias seguidos para dispor, pode fazer o Caminho a partir de Valença ou Tui, embora a parte do Porto até à fronteira ser muito mais tranquila
Deve ser uma experiência ímpar percorrer os caminhos portugueses de Santiago. Amei suas dicas e também de saber sobre as necessidade dos carimbos duas vezes por dia.
Sim foi uma experiência única, mas que já planeio repetir
Uma beleza que eleva a alma, sem dúvidas. Grato por seu lindo trabalho querida Ruthia!
Sempre grata pela sua visita e carinhoso apoio
Incrível seu relato do Caminho Português de Santiago, parece ser algo que devemos fazer nessa região.
Não diria isso. Aliás, não é uma experiência para toda a gente, pois envolve esforço físico, dores, exaustão. Mas que é uma experiência única, sem dúvida nenhuma
As pernas ainda tiveram força para saltar para várias fotos a chegada a Santiago 🙂
Muita generosidade tua chamar àquilo de saltos, hahaha
[…] #Curiosidade: o nome atual da cidade, Pontevedra, deriva de “Pontus Veteris”, a ponte velha de origem romana, comprovada por um miliário próximo. O nome remete para a Ponte d’O Burgo sobre o rio Lérez, um dos símbolos da urbe, entretanto substituída por uma estrutura de onze arcos no século XII, pela qual passa o Caminho Português de Santiago. […]
Obrigada por partilhar a sua experiência. Já fiz parte do Caminho Francês (inicio em Leon) e fiquei fan dos caminhos. Agora estou a planear fazer o Caminho Português Central, com saída do Porto no final de setembro, e estou com alguma dificuldade em arranjar alojamento em Mos. Poderá informar onde ficou alojada? Ou será melhor percorrer mais uns km até Redondela?. Obrigada
Olá Paulo, em Mos existe um pequeno albergue “Albergue de peregrinos Santa Baia de Mos”. Eu optei por ficar num alojamento local a cerca de 2km
Por acaso não se lembra do nome
Do turismo rural? Foi a Casa Eido Vello
https://www.booking.com/hotel/es/casa-eido-vello.pt-pt.html?aid=1263488&sid=8d102f522f90961fe7446a34d7b913bd&checkin=2023-10-07;checkout=2023-10-11;dest_id=5006837;dest_type=hotel;dist=0;group_adults=2;group_children=0;hapos=1;hpos=1;no_rooms=1;req_adults=2;req_children=0;room1=A%2CA;sb_price_type=total;soh=1;sr_order=popularity;srepoch=1694591842;srpvid=592e37c6c80b0040;type=total;ucfs=1&#no_availability_msg
Adorei todas suas informações do caminho , cada etapa e suas particularidades , foi muito importante pra mim que farei tb meu primeiro caminho sozinha , saindo do Brasil no ano que vem !! Muito obrigada
Rosana
Bom Caminho Rosana