Atualizado em 9 Abril, 2021
Oujda não é um profeta, guru ou filosofia New Age. Trata-se simplesmente da cidade mais próxima de Saïdia, onde recuperamos energias durante umas curtas férias.
Chamam-lhe a capital do Marrocos oriental mas, afinal, é uma urbe modesta em património e dimensões. Alimentei planos para visitar Fez, mas o percurso (5 horas para cada lado, num único dia) desencorajou os turistas. Noutra ocasião tive oportunidade de conhecer aquela cidade imperial marroquina. Desta vez: Oujda seja!
As cidades pertencem aos árabes que, afinal, representam apenas 20% da população marroquina. A maioria berbere (cerca de 70%) prefere as inóspitas montanhas. Portanto, esta excursão serviu sobretudo para o pequeno explorador tomar contacto com a cultura árabe, ainda que um tanto liberal.
Fizemos a primeira paragem muito perto de Saïdia, para espreitar a Argélia. Um fio de água separa os dois países mas, por causa de atritos políticos na região do Sahara, há muitas famílias separadas que não podem atravessar a fronteira e se deslocam ali, simplesmente para se verem.
“Quando os políticos não se entendem, o povo é que paga”, atira o guia no seu espanhol macarrónico. Muitos portugueses concordam com ele, estou certa!
Em Oujda, o Pedro viu mulheres com o cabelo escondido sob coloridos lenços. Soube que as mulheres que vestem branco absoluto são viúvas. Achou piada às torres das suas “igrejas”, porque estavam carregadas de ninhos de cegonhas, alheio à elegância arquitectónica das mesquitas. Percebeu que não podia oferecer os seus biscoitos aos meninos, porque estavam no Ramadão, ainda que este sacrifício lhe tenha causado estranheza.
Nós, adultos, também os comemos (os biscoitos) à socapa. Não queríamos desrespeitar as pessoas, durante a sua festa mais sagrada. Kareem Ramadan!
Oujda não é uma cidade turística. Leio-o no olhar escandalizado dos habitantes, sobretudo das mulheres, para os nossos braços nus. Na verdade, algumas estrangeiras exageraram, com os seus calções apertados até ao útero. Mas os olhares são mais de surpresa do que de acusação.
A visita começou pela medina, com as suas lojas de kaftans, o bazar onde se vende carne de camelo (850 dirhams o quilo, o que representa cerca de 8,5€), sapatos e todo o tipo de quinquilharia. Infelizmente o hamman está fechado, mas temos oportunidade de conhecer um riad, que o Município aluga para casamentos.
Por fim, paramos numa espécie de botica onde nos apresentam o “ouro marroquino”, como é conhecido o óleo de argan, e outros produtos naturais a um preço exorbitante.
No regresso, o Pedrinho apontou os grandes cartazes do rei Mohammed VI, que se repetem na recepção dos hotéis, na fachada de fábricas de edifícios públicos, no interior das lojas…
-“Quem é aquele senhor?”, pergunta.
-“O rei de Marrocos”, respondo-lhe.
-“Está em todo o lado”, observa ainda.
-“Tem um grave problema de auto-confiança”, atira o Miguel.
Este simples passeio revelou as ambiguidades de um país que é islâmico mas que fabrica vinho. Também contrabandeia gasolina da Argélia: os garrafões estão bem visíveis, alinhados à beira da estrada, como quem vende melões. Voltei a assistir a estas contradições em Chefchaouen, a pérola azul de Marrocos, onde grande parte da população agrícola sobrevive da produção de cannabis.
Um povo do continente grandioso, mas que se gaba da sua pele clara e chama “africanos” a todos os que tenham um tom mais escuro. Esta breve incursão a Oudja expôs, por fim, os sorrisos abertos e curiosos de um povo acolhedor.
22 Comentários
Acho que seu pequeno explorador aprendeu muito sobre o respeito que se deve ter para com uma outra cultura. Mas carne de camelo ??? Bahhhhhhhghg….
Haha, muito apreciada e muito cara, Marta. Com direito à cabeça do camelo exposta junto da banca da carne (sem qualquer refrigeração, claro). Pena que não tirei uma foto!
Estas culturas deles são demais.
Parabéns pelo excelente roteiro, como sempre.
Abraços
Ruthia querida,
Que viagem fantástica fui com vocês!!!
Lindo lugar a oportunidade do Pedro conhecer a história in loco é para poucos exploradores, mas a melhor foi a inocência de prestar atenção ao ninho das cegonhas, arquitetura???
Não tem problema ele aprende depois né?
Bjs
Elaine
Incríveis experiências essas que vocês viveram e proporcionaram ao Pedrinho! Lindas fotos, bom saber de lá por vocês! Gostei! bjs,chica
Viajando com os posts! O Marrocos sempre esteve na minha lista de desejos, mas vou sempre adiando. Depois da novela O Clone esse desejo só aumentou.
Abraços
Acho instigante visitar-se culturas um tanto diferente das nossas.A riqueza de contrastes dispara a curiosidade e acrescenta mais conhecimento e respeito pelas diferenças.Pedrinho teve experiências inesquecíveis.
Viajei com vcs nas belas fotos.
Um abração, Ruthia.
Calu
Ruthia,
O seu filho é um grande companheiro.
Que fantastico o teto do riad de Oujda.
Bjs
OI RUTHIA!
FOTOS LINDAS E LUGARES MARAVILHOSOS, UMA EXPERIÊNCIA E TANTO NÉ AMIGA?
O PEDRO ESTÁ ARMAZENANDO MUITO CONHECIMENTO E ISTO LHE VALERÁ MUITO PARA O FUTURO.
ABRÇS
Imagens belíssimas e quantas curiosidades nessa terra estranha, costumes diferentes! Deve ter sido mágico! bjs,
Que viagem! Lindo o Marrocos! Essa cidade eu nunca tinha ouvido falar dela. Adoro conhecer e saber dos outros paises pelos olhares dos blogs que visito. Amei as fotos que postou. E essas guerras quem sofre mesmo são o povo! Que chato, né?
Beijos
Adriana
Eu ainda não conhecia essa cidade, mas com essa aulinha, me parece ter sido um passeio um tanto interessante e de grande aprendizado, né Ruthinha?!
Agora jura que o óleo de Argan ai é caro?! Eu pensei que fosse mais em conta que nos demais lugares rs!!!
Bom fim de semana amiga 🙂
Beijinhos, Té
Os guias levam sempre os turistas aos "institutos" oficiais, onde provavelmente recebem uma comissão sobre as vendas, e tudo é muito caro. Aconteceu o mesmo no Egipto, onde fomos visitar oficinas de alabastro, perfumes e papiro. Apaixonei-me por um papiro com o rosto da Nefertiti e não comprei porque era caro demais e depois fui encontrar um igualzinho por 1/4 do preço, no grande bazar do Cairo…
Suponho que o óleo de argan seja mais barato noutros lugares de Marrocos, mas como não ligo muito a essas coisas, não procurei!
Bjs
Uma viagem e tanto! Todos aproveitam, mas, o jovem Pedro aproveita muito mais…A arquitetura e os costumes, são bem interessantes. Sempre tive desejo de conhecer o Marrocos. Vejo os documentários e fico fascinada. As imagens estão lindas, principalmente as que têm a família em cena.
Um beijo, Ruthia, bom final de semana.
Querida Ruthia
"Dessa" África conheço muito pouco, estive em Tânger há muitos anos, e uma outra cidade para esses lados.
É uma cultura completamente diferente da nossa, e aí reside o maior interesse – isto é o que penso, pois gosto de conhecer coisas fora do comum…
Gostei imenso de ler toda esta descrição. Para o Pedrinho são experiências fantásticas e enriquecedoras.
Obrigada pelo teu comentário, que me comoveu…
Bom fim de semana.
Beijinhos
Nunca fui a Marrocos, aqui tão perto…
Gostei da tua reportagem. Bem escrita e sublinhada pelas fotos.
Querida amiga Ruthia, tem um bom fim de semana.
Beijo.
Amigos (as)guardo no fundo do coração.
Num cantinho bem especial.Nesse dia do amigo.
Sinta – se abraçado (da)por mim.
Eu ainda não consegui decifrar..
Porque pessoas que amamos vão embora
sem ser possível dete-las.
E também não conseguimos
do nosso coração.
Meu abraço nesse dia e por todos os outros dias
da minha vida.
Fique com Deus.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
Amigos Para Sempre.
Evanir.
Olá Belo post.
Um passeio ou uma viagem sem sair de casa.
Adorei conhecer.
janice.
Que belo passeio, minha querida! Aposto que o pequeno explorador aprendeu mais do que aprenderia em tantas aulas.. rs
Abraço!
Querida Ruthia
Gostei imenso da sua visita guiada!
Lindas fotografias e boas explicações.
Já conheço a Tunísia ,mas nunca fui a Marrocos.Outros tempos! Pelos vistos,neste momento,não será seguro ir até lá!…
Obrigada.
Um beijinho
Beatriz
Parece ser uma cidade linda
Deve ser uma experiência incrível ir durante o ramadã! E para o Pedro, ter contato com uma cultura tão diferente, que riqueza! Puxa, que falta de respeito estar num país e se vestir com 'calções apertados até ao útero'. Bom senso, por favor…