Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Há pinturas famosas que emocionam qualquer amante de arte numa viagem pela Europa. Mais que telas, são obras-primas da arte ocidental, uma herança artística do velho continente. Quantas já teve o privilégio de conhecer?

Quando pensa em pinturas famosas, qual é a primeira tela que imagina? Da suavidade impressionista de Monet ao sfumato enigmático da Mona Lisa, da profunda angústia contida n’ O Grito à ousadia onírica de Salvador Dalí… a pintura expressa ideias, sentimentos e símbolos culturais, representa anseios comuns, questiona.

Jung, fundador da psicologia analítica, defendeu que arte é “a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão; é sensibilidade, criatividade, é vida”. Em boa verdade, a boa pintura interpela-nos. Para Picasso pintura nunca é prosa, mas poesia que se escreve com versos de rima plástica.

Hoje apresentamos algumas das mais celebradas telas da História da Arte, que tivemos o privilégio de conhecer, durante as nossas viagens. Muitas outras pinturas famosas, de diversas épocas e estilos artísticos, deviam ser incluídas nesta lista (a ausência de Van Gogh entristece-nos). Mas só devemos falar do que conhecemos bem.

Guernica no Museu do Prado
© Museu Nacional Reina Sofia

Guernica, de Pablo Picasso (Museu Nacional Reina Sofia, Madrid)

Começamos com um peso-pesado da pintura mundial: Guernica é talvez a pintura mais conhecida de Pablo Picasso  e uma das mais representativas do cubismo. O painel gigante pintado em 1937 foi motivado pelo bombardeamento da cidade Guernica, no país Basco, em Abril daquele ano.

O complexo trabalho a óleo demorou apenas um mês a ser executado, num caos monocromático e emocionante de figuras geometricamente decompostas. O contexto histórico (a Guerra Civil Espanhola) é essencial para interpretar esta obra.

O artista espanhol usou preto, cinza, branco e tons azulados para intensificar o horror que abalou a pequena localidade basca. Diz-se que esta paleta está relacionada com as fotografias da guerra, a preto e branco, divulgadas pelos jornais e que causaram grande impacto no artista.

A tela pode ser apreciada no Museu Nacional Reina Sofia, uma atracção imperdível de Madrid. Leia também Visitar Madrid: dicas e roteiro na capital espanhola

As Meninas, de Diego Velázquez (Museu do Prado, Madrid)

As Meninas de Velázquez
© Museu do Prado

Aproveitemos a estadia em Madrid para conhecemos os seus grandes mestres, incluindo Diego Velázquez, o principal artista do século de ouro espanhol. As Meninas (1656) é a sua tela mais célebre e pode ser conhecida no Museu do Prado, casa de outras obras-primas emocionantes, como Os fuzilamentos de três de Maio, de Goya. Leia Madrid. Uma horas e uns trocados para visitar o Prado

A tela As Meninas é uma das mais analisadas da pintura ocidental, por causa da composição enigmática e complexa, que levanta questões sobre realidade e ilusão, e cria uma relação incerta entre o observador e as figuras representadas.

O quadro a óleo de grandes dimensões mostra um grande aposento no Real Alcázar de Madrid, durante o reinado de Filipe IV. A jovem infanta Margarida Teresa parece inspirar a composição, rodeada de várias figuras da corte. Um pormenor bastante intrigante é o próprio Velázquez ter sido incluído: o artista foi representado em segundo plano, a trabalhar numa grande tela e a olhar para longe.

Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci (Museu do Louvre, Paris)

Mona Lina é uma obra-prima
© Museu do Louvre

Mona Lisa, Gioconda (sorridente) ou Mona Lisa del Giocondo (por alusão ao suposto marido, Francesco Giocondo) é a mais notável das obras de Leonardo da Vinci, um dos génios do Renascimento italiano. É talvez o retrato mais famoso e celebrado da pintura ocidental e um dos mais valiosos do mundo.

Da Vinci iniciou este quadro a óleo sobre madeira em Florença (1503), aplicando a técnica do sfumato ao imortalizar uma mulher, de identidade não confirmada, com uma expressão introspetiva. Apesar de ser uma tela pequena, o sorriso enigmático de Mona Lisa atrai, desde sempre, uma atenção especial. Poucas obras-primas são tão controversas, elogiadas ou reproduzidas (gosto da Mona Lisa rechonchuda, pós-confinamento). 

A estrela do Museu do Louvre está protegida por um vidro, depois de vários ataques de visitantes, e constitui um problema de segurança para o museu, devido à afluência de visitantes. Paris: roteiro de 2 dias na capital francesa

A Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (Milão)

A Última Ceia tinha que estar na lista de pinturas mais famosas

O pródigo Leonardo Da Vinci consegue a proeza de ter duas obras nesta lista. Para além de Mona Lisa, vale a pena conhecer o igualmente polémico afresco A Última Ceia (Il Cenacolo), junto à igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão.

Pintado pelo italiano entre 1495 e 1498, para enfeitar a cantina do mosteiro, o painel representa a última refeição de Jesus com os apóstolos, antes de ser preso e crucificado. Apesar do tema ser tradicional em refeitórios monásticos, a interpretação de Leonardo trouxe grande realismo e profundidade à cena.

O painel é um assombro e remete todas as polémicas (ainda se fala da figura efeminada do apóstolo João, que seria, afinal, Maria Madalena) para segundo plano. Saiba mais detalhes sobre a visita e todos os desastres aos quais esta obra-prima sobreviveu em Milão de Leonardo, de visita à Última Ceia.

O Beijo, de Gustave Klimt (Palácio de Belvedere, Viena)

O Beijo é uma das pinturas famosas do Ocidente

Esta é a tela mais amorosa desta lista de pinturas famosas: o abraço envolvente e doirado remete para a ideia de aconchego. E não é a única obra romântica de Gustav Klimt, ainda que possa ser a mais autobiográfica: dizem que a retrata o próprio artista e Emilie Flöge.

Parte da “fase dourada” do austríaco, O Beijo (original em alemão: Der Kuss) foi pintado a óleo com folhas de ouro, entre 1907 e 1908.  Como todas as obras de Klimt sob influência bizantina, O Beijo representa a união mística do amor, a fusão do indivíduo com o cosmos.

A tela exala um erotismo latente; talvez por isso a sociedade de então tenha considerado o quadro pornográfico, embora ambas as figuras estejam totalmente vestidas. O quadro está patente no Belvedere, um dos muitos palácios de Viena, e pode ser fotografado, ao contrário da maioria das pinturas famosas desta lista. Nós estivemos lá e contamos tudo em Viena, Klimt e os Modernistas.

A criação de Adão, de Michelangelo Buonarotti (Museus do Vaticano, Roma)

O teto da Capela Sistina é um acontecimento artístico sublime, assinado por Michelangelo Buonarotti. O artista italiano recebeu a encomenda do  papa Júlio II em 1508 e executou esta obra-prima em cerca de dois anos. As representações belíssimas registram várias passagens bíblicas, em particular do livro de Génesis.

Entre tantos simbolismos que nos sugam para um mundo novo, A criação de Adão é a parcela que ficou consagrada na História da Arte e é mais reproduzida. Dedicada à criação do mundo e do Homem, esta parte do afresco representa Adão prestes a receber o toque da vida de Deus, representado como um ancião barbudo.

A própria capela, onde se reúne o conclave para eleger um novo Papa, é uma pequena joia no coração dos Museus do Vaticano. Para além do teto, vale a pena observar com atenção a parede onde Michelangelo pintou O Juízo Final. Há alguns anos escrevi um artigo sobre o artista plástico: Moisés e outras obras-primas de Michelangelo.

Isto não é um Cachimbo, de René Magritte (Museu Magritte, Bruxelas)

A tela de Magritte está entre as pinturas mais famosas do mundo
© Magritte Foundation

Infelizmente, a série de pinturas La Trahison des Images, produzidas por  Magritte entre 1928 e 1929, não se encontram na Europa, mas pertencem à colecção do Museu de Arte do Condado de Los Angeles. A mais famosa é Ceci n’est pas une Pipe, cujo aparente nonsense – vê-se um cachimbo e afirma-se que não se trata de tal – causou muita polémica.

No entanto, existem várias alusões a este ícone da arte moderna no recente museu dedicado a Maggrite, no coração de Bruxelas. O Museu Magritte possui a maior coleção do artista, com 250 das obras, divididas em vários pisos, refletindo a sua evolução artística ao longo do tempo.

Um dos principais representantes do surrealismo, a obra do belga questiona a nossa percepção da realidade e possibilidade de a representar. Na minha modesta opinião, conhecer o seu trabalho é um dos 10 motivos para visitar a capital belga.

A Adoração do Cordeiro Místico, de Van Eyck (Catedral de St. Bavo, Ghent)

Van Eyck foi um dos grandes pintores flamengos
© Wikipedia

O retábulo de Ghent conhecido como a “Adoração do Cordeiro Místico” foi pintado pelos irmãos Hubert e Jan Van Eyck no século XV. A obra-prima, constituída por 12 painéis, pode ser vista na Catedral de St. Bavo (São Bavão), em Ghent.

Diz-se que foi a primeira grande pintura a óleo a ganhar admiração mundial e que os nazis acreditavam que escondia um mapa para o Santo Graal. O grande restauro realizado em 2012 revelou uma sobreposição feita no século XVI, que alterou o cordeiro (símbolo de Jesus, no coração do painel central), escondendo o seu “olhar intenso”.

Claro que a face quase humana do cordeiro causou polémica. Se isso não for motivo suficiente para conhecer o retábulo, saiba que a cidade celebrou em 2020 o ano Jan Van Eyck – no âmbito do  programa “mestres flamengos, génios e revolucionários da pintura”-, mas os festejos foram prolongados em 2021, por causa da pandemia.

De resto, esta linda cidadezinha medieval merece uma visita, por si só: Ghent. Um dia no coração da Flandres

Que outras pinturas famosas gostariam de acrescentar a esta modesta (e curtíssima) lista?

Este post faz parte do 8on8, um projeto coletivo que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês. Espreitem os restantes textos sob o tema “Arte”, inspirem-se e partilhem: Chicas Lokas na EstradaConheça o Museu de Arte do Rio | Viajante EconômicaPinacoteca Benedito Calixto: arte à beira-mar | Let’s Fly AwayMuseu Imperial de Petropolis: um lindo olhar para o passado | Turistando.inArte na Itália: 8 esculturas imperdíveis dos grandes gênios italianos