Atualizado em 15 Março, 2022

Mar bravo e frio, rios povoados de vida, dunas bem protegidas, algumas das paisagens mais belas do litoral português e tradições ancestrais. O que espera para explorar o Parque Natural do Litoral Norte?

Nem só de praias com palmeiras e águas tépidas se faz o Verão. Aqui, no Parque Natural do Litoral Norte, há nortada e água do Atlântico que raramente ultrapassa os 17° C, muitas ondas, mas também cenários perfeitos para gravar na memória. Há pinheiros, desordenados, chãos atapetados de agulhas e pinhas, musgo a trepar os troncos.

Troncos esguios e húmidos que, por vezes, têm nomes gravados de casais apaixonados e formam labirintos. De repente, uma pequena lagoa revela garças, patos-reais, guarda-rios e sapos de unha negra. Os estuários dos rios – Neiva e Cávado –  e as zonas entre marés (intertidal), com as suas áreas de vasa, sapais e bancos de areia, acolhem uma riqueza imensurável.

Mas, afinal, o que é o Parque Natural do Litoral Norte e onde fica? A paisagem protegida do litoral de Esposende, delimitada nos anos oitenta do século passado, transformou-se nesta área protegida em 2005, que se estende ao longo de 16 quilómetros de costa, entre a foz do Rio Neiva e a Apúlia.

Com um total de 8,8 mil hectares (apenas 1,3 ha de área terrestre), o coração do Parque fica no concelho de Esposende, avançando a Norte até à fronteira com Viana do Castelo. Para além de várias praias, marítimas e fluviais, o parque inclui uma sucessão de grandes dunas brancas, pontuadas por vegetação rasteira, como os chorões das praias, que contribui para a fixação das areias, serve de barreira aos ventos marítimos e impede o avanço do mar para os terrenos agrícolas.

Este Parque possui o cordão de dunas atlânticas mais extenso e melhor conservado do Norte de Portugal.  Ao largo da costa, diante da praia de Ofir, jazem os cavalos de Fão, associados à lenda ao rei Salomão. Da linha marítima aos estuários dos rios, até às zonas de floresta – com manchas de pinhal, campos agrícolas, pequenos bosques e caniçais -, a reserva natural reflecte a riqueza do litoral minhoto.

Na região podem observar-se cerca de 240 espécies de plantas, 140 espécies de aves (os estuários são importantes para alimentação e descanso durante as migrações e no Inverno), sem esquecer mamíferos como o solitário e arisco tourão, o parente selvagem dos furões.

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Trilhos no Parque Natural Litoral Norte

Para conhecer bem esta área protegida, vale a pena afastar-se um pouco do mar, encher os pulmões com o ar puro dos pinhais ou caminhar junto à margem dos rios, tentando identificar as aves migratórias.

As masseiras da Apúlia.

Existem alguns percursos pedestres assinalados no território do Parque Natural do Litoral Norte, que podem consultar no site do Instituto de Conservação da Natureza. Nós escolhemos o Trilho das Masseiras – o Vento e o Homem, de quase 7 km, que começa e termina junto aos moinhos da Apúlia.

Estes moinhos de vento que já não moem cereais, mas são usados como casas de veraneio, são um chamariz para visitantes e fotógrafos. Construídos sobre as dunas, enfrentam um mar rico em ouriços-do-mar, robalos, algas marinhas e sargaço, retirado entre Julho e Setembro e seco ao sol, para servir de fertilizante agrícola.

Aliás, durante muitos anos, os principais fertilizantes utilizados no litoral minhoto eram o pilado (pequeno crustáceo) e as algas que chegavam às praias. Os sargaceiros não eram pois homens do mar, mas agricultores que, quando surgia a “mareada”, voltavam costas à terra e arrancavam o sargaço às ondas encapeladas, numa tarefa árdua e perigosa.

Este sargaço era usado nas masseiras ou gamelas, campos de cultivo que só existem nesta região de Portugal, escavados na areia junto às dunas, para ficarem protegidos do vento. Ainda hoje se faz uma linda festa dos sargaceiros da Apúlia, com os seus trajes típicos.

O trilho conduziu-nos por extensas masseiras, mas também pinhais e matas de carvalhos, sobreiros, amieiros, salgueiros, loureiros  e pilriteiros, onde tivemos o privilégio de ver um pequeno esquilo de felpuda cauda. Vale muito a pena fazer o desvio até à lagoa de Apúlia, rodeada de caniçais e animada por barulhentas comunidades de anfíbios.

Ficha técnica do trilho das masseiras

Dificuldade: fácil

Tipo de piso: areia, passadiços e floresta.

Extensão: 6,9 Km

Duração: 2h30

Ponto de partida e chegada: moinhos da Apúlia

Lagoa da Apúlia, captada desde a torre de observação.

Perto do Parque Natural

À riqueza natural desta área protegida somam-se outras razões para visitar a região de Esposende. Se pretende explorar o Parque Natural do Litoral Norte, vale a pena visitar também:

Necrópole medieval das Barreiras (41° 30′ 40″ N / 8° 46′ 35″ W)

Perdido no centro da freguesia de Fão, do cemitério medieval das Barreiras se diz ser um dos mais importantes do conjunto de cemitérios medievais europeus. Descoberto em 1989, depois de muitos anos soterrado pelas dunas, revelou 144 sepulturas em xisto e calcário, bem como vestígios de um edifício, que remontam aos séculos XI-XIV.

Dali se exumaram cerca de duas centenas de ossadas, que permitiram um estudo antropológico sobre as pessoas que viveram na região, numa altura em que a Peste Negra vitimou milhares de pessoas, mas também quando grandes modificações climáticas obrigaram as populações a escolherem a margem Norte do rio Cávado.

Núcleo Museológico do Sargaço

O município de Viana do Castelo criou este espaço na freguesia de Foz do Neiva, para honrar a tradição da apanha de sargaço atrás mencionada. O espaço terá artefactos e trajes (a branqueta) que recordam os tempos áureos dos sargaceiros, abordando também as potencialidades das algas para aplicações na medicina, cosmética e gastronomia.

Infelizmente, o espaço só está aberto ao público durante a semana, pelo que ainda não tivemos oportunidade de visitar.

Castro de São Lourenço (41° 33′ 25.66″ N/ 8° 45′ 38.21″ W)

A cerca de 200 metros acima do nível do mar, em Vila Chã, fica o Castro de São Lourenço, um povoado com três linhas de muralhas, onde se encontraram vestígios do séc. IV a. C.. Construído durante o Bronze Final (casinhas redondas), foi sucessivamente ocupado, da Idade do Ferro ao período romano (habitações retangulares), e depois reaproveitado em época medieval.

Para além do seu papel arqueológico e histórico, o Monte de S. Lourenço é um miradouro natural, com uma linda vista para o Atlântico – do pinhal de Ofir aos rochedos conhecidos como cavalos de Fão – e um ambiente muito tranquilo. Dali parte um percurso pedestre (PR6) que passa por dólmens e outros monumentos funerários ancestrais.

O povoado castrejo de São Lourenço.

Vocês já conheciam este pedaço do litoral português, de beleza dramática e, ao mesmo tempo, suave ao ponto de nos remeter para o imaginário de “Sensibilidade e Bom Senso”? Afinal, quantas personagens da Jane Austen não passavam férias perto de praias como estas do Parque Natural do Litoral Norte?

Vá e, como nós, apaixone-se por este mar revolto que nos embala a descoberta, por trilhos encantadores e entardeceres de cores quentes.