Atualizado em 6 Janeiro, 2021
Quero ser livre! Chegar ao precipício e não parar… voar
Abrir os braços ao vento e abraçá-lo…
Estes são os primeiros versos de um poema escrito por uma menina de 17 anos. Falam da liberdade dos pássaros, do antiquíssimo sonho humano de voar, de se transformar numa qualquer criatura alada e disparar pelo céu, na alegria infantil e imensa de não ter limites.
Os singelos versos servem de mote para falar de um Museu sui generis, na pequena cidade de S. Carlos, estado de S. Paulo, Brasil, precisamente inspirado nessa contemplação do céu. Trata-se do Museu da TAM, que se diz o maior museu de aviação do mundo mantido por uma companhia aérea privada e que merece, por vários motivos, uma visita.
O acervo inclui mais de 90 aeronaves de várias épocas, a maioria em plenas condições de voo, graças a uma equipa de restauro, composta por engenhosos mecânicos, que se intitulam um “misto de ferreiros, electricistas, marceneiros, mecânicos e relojoeiros habilidosos”.
Antes de ter acesso ao grande hangar, o visitante passa pela manga de um avião, para um enquadramento histórico da aviação através de painéis multimédia, vitrines com miniaturas de aviões reais e alguns projectos mirabolantes (imperdoável esquecerem-se da passarola do Memorial do Convento!), fotografias e placards informativos. Entre os pioneiros da aviação ali homenageados, figuras brasileiras como Santos Dumont, o comandante Rolim ou Ada Rogato.
Fechada essa porta, uma curta-metragem dá a conhecer o percurso da Táxi Aéreo Marília, ou TAM, companhia responsável pelo acervo. E eis que as portas se abrem finalmente para um assombroso pavilhão com 20 mil m2, organizado por ordem cronológica, com clássicos, jatos, caças, um hidroavião.
E alguns aparelhos da companhia abertos ao público, infelizmente com o acesso à cabine do piloto vedado por um vidro. Ali se pode também usar um simulador de voo ou registar outras curiosidades como o “Espaço Moda”, onde se vêem muitos outfits de assistentes de bordo, estando a TAP representada.
De entre tantos aparelhos, destaco o Cessna 140-A de Ada Rogato, a gaivota solitária como é carinhosamente recordada no Brasil. Ada foi uma das primeiras mulheres no mundo a conseguir brevet de piloto (1936), a primeira a obter certificado de para-quedista (1941).
Foi ainda a primeira aviadora a atravessar a Amazónia com apenas uma bússola, a primeira brasileira a cruzar a Cordilheira dos Andes (1950) e chegar sozinha à Terra do Fogo (1960). Nos anos 50, protagonizou um famoso voo pelas três Américas, percorrendo 51.064 km.
Para as crianças foi criado o playground TAM Kids onde podem brincar e desenhar, enquanto os adultos fotografam, com minúcias de quem quer construir um motor em casa, grandes propulsores, turbinas e outras peças indecifráveis de aeronáutica moderna.
Com uma organização esmerada, a colecção do Museu da TAM está à altura de qualquer espaço museológico europeu. A 250 km de S. Paulo, o espaço tem bons acessos, mas peca pela falta de um restaurante (possui um bar com bebidas e salgados).
Para almoçar, a opção mais viável será no centro de S. Carlos, a cerca de 15 km. No Verão, aconselho uma visita durante a manhã, uma vez que o hangar tende a aquecer, apesar do espaço ser climatizado. Precauções tomadas, a visita será muito agradável. Resta sonhar com viagens… e fotografar.
3 Comentários
Parece interessante. Pensamos sempre que só há bons museus no 1º mundo…
Abraço e obrigado por estas "viagens".
Exatamente. Mas é simples arrogância europeia, um preconceito. Há bons projetos culturais em todo o mundo
Adoro esse museu de aviões o museu da TAM deve contar um linda história da aviação brasileiro