Atualizado em 16 Abril, 2021

Bem no interior raiano de Portugal, no concelho de Idanha-a-Nova, fica a pequena Penha Garcia. Esta pequena aldeia é conhecida por algo raro: icnofósseis

Quando se pergunta a um amante de viagens qual seria a próximo destino da lista, a resposta remete, quase sempre, para um país exótico e longínquo. Seja porque o desconhecido nos atrai, ou porque o que está perto, por estar sempre disponível, se banaliza, a verdade é que ignoramos alguns locais intrigantes mesmo à nossa porta.

Contrariando esta tendência, destaco hoje n’O Berço do Mundo uma pequena vila raiana chamada Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova, onde os adeptos do turismo na Natureza poderão apreciar a Rota dos Fósseis.

Com cerca de três quilómetros (pequena rota, com marcações a amarelo e vermelho), este é um percurso homologado e acessível a quase toda a gente. As belas imagens que acompanham a nossa incursão são da autoria do Pedro Martins, um talentoso fotógrafo que conhece bem a região.

detalhes da paisagem da aldeia

A caminhada começa à entrada da vila, com uma subida um pouco íngreme, rumo à Igreja Matriz (que acolhe uma interessante escultura gótica, em pedra de ançã, da Virgem do Leite) e ao Castelo, onde nos aguarda a primeira recompensa.

Uma paisagem esmagadora e um ar tão puro que os nossos pulmões urbanos estranham! A norte, as escarpas emolduram o rio Ponsul e é precisamente essa a direcção que seguimos, em busca de icnofósseis.

Os icnofósseis são marcas, gravadas na rocha, das movimentações de criaturas marinhas – as trilobites – que ali viveram muito antes dos dinossauros, quando o oceano ainda cobria a paisagem.

Estas “cobras pintadas” ou “pedras escrevidas”, para usar o epíteto popular, são afinal um achado geológico extraordinário e um dos tesouros do Geopark Naturtejo, o primeiro do género em Portugal, membro da rede de geoparques da Unesco. O Geopark compreende seis concelhos da Raia à Beira Interior: Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão.

Em poucos sítios do mundo se encontram vestígios tão bem preservados da Era Paleozóica (há quase 500 milhões de anos).

icnófosseis de Penha Garcia
mapa do Geopark

Exploradas as arribas, em busca daquelas jóias geológicas, iniciamos a descida para o rio. Paramos no conjunto de moinhos recuperados, onde habitantes e forasteiros depositam as pedras com marcas das trilobites que encontram durante as suas explorações e que, no futuro, serão exibidas num Centro de Interpretação.

Partimos novamente, serpenteando pelo vale, para nos embrenharmos no casario, onde podemos surpreender mais icnofósseis, uma vez que os penhascos vizinhos forneceram matéria-prima para várias construções.

Uma nova paragem se impõe, para uma última homenagem à fortaleza de Penha Garcia e também ao cabeço de Monsanto que irrompe aquela lonjura, a sul. Um dia destes escrevo sobre esta bela aldeia histórica.

Linda panorâmica de Penha Garcia
Vestígios do castelo de Penha Garcia
O Castelo é o último vestígio de uma fortaleza que outrora protegeu a aldeia

Por hoje, é hora de retemperar forças com um almoço típico. Para os apreciadores e também para aqueles que estão sempre abertos a novas experiências, recomenda-se uma tenra carne de caça (perdiz, veado, javali…), acompanhada por cogumelos silvestres. Aplacado o apetite inicial, as conversas multiplicam-se à mesa e o assunto retorna aos icnofósseis. Por momentos, todos nos transformamos em paleontólogos, a língua solta os mais elitistas termos científicos.

E vocês, conheciam este tesouro português?

Outras aldeias históricas ficam relativamente perto de Penha Garcia. É o caso de Alpedrinha (46 km), Belmonte (67 km) e Sortelha (58 km). Leia sobre a lista completa em Aldeias Históricas de Portugal. Viagem ao passado