Atualizado em 16 Abril, 2021

Não queria deixar Faro sem falar de uma capela muito particular. Portanto, eis-nos com mais um episódio sobre Ossónoba (adoro este nome, transporta-nos para cenários exóticos e quentes, não acham?)…

Rumamos ao centro da cidade, através de labirínticas ruas de sentido único, até ao Largo do Carmo. Ali se ergue orgulhosa uma ampla igreja, de seu nome Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo ou, porque este demora milhões de anos a dizer, apenas Igreja do Carmo. A simplicidade é tudo! A Ordem Carmelita descreve-a da seguinte forma:

“é um edifício notável da cidade (…) constitui uma das mais importantes manifestações estéticas do património religioso e artístico da região algarvia (…) No interior, a talha dourada assume um importante papel na decoração da igreja (…) Merecem destaque no interior do edifício o órgão barroco, a ornamentação da sacristia (…)”.

Quem vem do Minho, onde os santuários nascem como cogumelos em cada esquina, e estudou em Braga, onde se concentram os grandes mestres de talha dourada, acha esta descrição um tanto ou quanto exagerada (chamemos-lhe marketing). E, contrariamente à minha natureza, estou a ser muito razoável.

Igreja do Carmo, onde fica a Capela dos Ossos de Faro
interior da Igreja do Carmo

No interior da Capela dos Ossos

O órgão barroco parece um brinquedo de corda, para quem já viu (e ouviu) o órgão da Sé de Braga. A talha de estilo joanino é esteticamente agradável, mas nenhum assombramento. Mas adiante. O que merece destaque nesta Igreja algarvia do século XVIII fica no seu quintal traseiro. E chama-se Capela dos Ossos.

Como o nome indica, a pequena capela é completamente forrada de ossadas humanas, sobretudo crânios e tíbias. Diz-se que ali repousam os restos de mais de 1200 monges carmelitas, seguindo uma sinistra moda que pretendia sublinhar a efemeridade da vida.

Em miúda estive noutro espaço do género, a famosa Capela dos Ossos de Évora. Embora guarde uma recordação muito esbatida dessa visita, não podia esquecer o célebre aviso à entrada: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. Lembro-me também que o tecto não tinha ossos, era de estuque e tinha belas pinturas (ainda que de inspiração igualmente mórbida).

Capela dos ossos de Faro

Mas aqui os ossos rodeiam-nos por todo o lado, não consigo evitar pensar que um crânio pode cair como um fruto maduro… Aliás, já faltam alguns, lá em cima!

Para além de que o solo está repleto de sepulturas. E o espaço é pequeno, não fosse a pequena entrada, estaríamos presos num mausoléu. Confesso que esta capela mexeu comigo do tipo “irra que estou rodeada de morte” e tive que sair dali rapidamente.

Já o meu pequeno explorador não se mostrou minimamente impressionado. Perguntou se aquilo eram “cabeças de pessoas”, ao que respondi afirmativamente, e ele assentiu como se fosse um facto corriqueiro.