Atualizado em 6 Outubro, 2022
A Casa da Música do Porto foi apontada pelo The Guardian como um dos destaques da arquitectura do século XXI. Vamos conhecer melhor o edifício que simbolizou o Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura?
Casa da Música: um estranho poliedro de 17 lados e 40 metros de altura que sobressai entre as fachadas tradicionais, junto à rotunda da Boavista, no Porto. O edifício inquietante foi ali “plantado” há 15 anos, perante os olhares desconfiados dos portuenses. Se o seu nascimento foi polémico, hoje os habitantes reconhecem a sua Casa da Música como um ícone inconfundível da cidade.
Bastam uns minutos a pé da estação de metro até a entrada principal do edifício, que parece ter vindo de um universo paralelo. Previsto com um dos grandes projectos do Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, acabaria por ser inaugurado em 2005, com uma considerável derrapagem financeira.
Apesar de tudo, a criação de uma casa para todas as músicas, com a assinatura do holandês Rem Koolhaas, atraiu a atenção mediática. O New York Times considerou-a uma das mais importantes salas de espectáculos construídas no último século, ao lado de espaços como o Walt Disney Concert Hall (Los Angeles), o Museu Guggenheim (Bilbao) e a Berliner Phillarmonie (Berlim).
E, recentemente, o jornal britânico The Guardian incluiu a Casa da Música numa lista que pretende distinguir o melhor da arquitectura do século XXI: o edifício futurista surge em 7º lugar e é o único representante português.
Nós tivemos a oportunidade de assistir a alguns concertos neste lugar impressionante e também de fazer uma visita guiada, por ocasião do 10º aniversário. E um dia destes queremos voltar, para almoçar no terraço de azulejos geométricos, com uma vista incrível sobre a cidade invicta.
[Leia também Porto: um roteiro clássico | Porto sem gastar um tostão | Porto com crianças]
O interior da Casa da Música
O vanguardismo da fachada continua no interior, com betão, alguns pisos em alumínio e muito vidro, em lugares estratégicos, para captar luz natural. É o caso do foyer nascente com um pé-direito de 17 metros, que permite a entrada de luz na sala principal e converte o Porto num lindo cenário de fundo.
A transparência é alcançada através de placas gigantescas de vidro que, muitas vezes, substituem paredes inteiras. Li algures que parece que o holandês queria “contar um segredo aos poucos”. Esta casa é versátil e pode ser “vivida” de muitas maneiras, mas o tema central é a música e isso norteou cada pormenor.
Rem Koolhaas incluiu também alguns detalhes que evocam a arte portuguesa neste edifício contemporâneo. É o caso dos azulejos da sala VIP (piso 6) – que representam as fachadas do Porto – e da talha dourada na Sala Suggia (pisos 2 e 3). Aliás, para homenagear os períodos mais relevantes da história da música, o arquitecto colocou dois órgãos de tubos falsos entre os elementos decorativos da sala: um referente à época barroca e outro ao período romântico.
Salas de concerto: sala Suggia e sala 2
A Sala Suggia – em homenagem à célebre violoncelista portuense – é o coração da Casa da Música. Quem foi Guilhermina Suggia?
Era apenas uma jovenzinha quando se apresentou em Lisboa para a Rainha D. Amélia. Qual é o sonho da sua vida? perguntou-lhe Sua Majestade. Guilhermina respondeu que queria aperfeiçoar a sua música no estrangeiro. E o sonho tornou-se realidade, pois foi-lhe concedida uma bolsa real e ela rumou à Alemanha, acabando por se tornar uma celebridade mundial.
Guilhermina revolucionaria o grande violoncelo em técnica, sonoridade e até na própria posição de tocar. Sim, porque as boas maneiras ditavam que o instrumento não devia ser tocado por mulheres, por ser colocado entre as pernas. Ela recusou colocar o violoncelo de lado e adoptou publicamente a posição mais confortável, apesar de algumas orquestras, como a BBC, proibirem a contratação de intérpretes femininas por esse motivo. Simples assim.
De volta ao grande auditório, de quase 1300 lugares, refira-se a sua excelência acústica: o som chega com toda a clareza à última fila. O projecto acústico foi assinado pelo também holandês Renz van Luxemburg, um dos maiores especialistas em sonoridade de ambientes.
“Todos os materiais de revestimento foram escolhidos com essa preocupação: contraplacado de pinho nórdico para paredes e tecto; vidro curvo para compensação e divergência de ondas sonoras; e um tecido para as cadeiras que imita a presença humana até 70% de ocupação da sala.”
A belíssima sala que ocupa dois pisos tem detalhes lindos: as paredes revestidas de madeira têm relevos dourados, que provocam uma perspectiva dramática. Graças às sete janelas que ligam a Sala Suggia ao exterior e a outros espaços, esta é a única sala de concertos do mundo onde se pode tocar música com luz natural suficiente para a leitura de partituras.
Existe ainda a Sala 2 (piso 5), que acomoda 300 pessoas sentadas ou 650 em pé, e é mais multifacetada. As paredes e o tecto possuem um revestimento avermelhado e as cadeiras, roxas, são uma homenagem a um designer português dos anos 70.
Melodias da Casa da Música
A Casa da Música transformou o bairro da Boavista, mas também o contexto cultural da cidade invicta. O objectivo da casa de todas as melodias sempre foi combater o elitismo artístico e conseguiu-o, com uma programação eclética, que vai da música clássica à electrónica.
Se ali foi batido o recorde do Guinness para maior conjunto de cordas a tocar em simultâneo, com 321 músicos a interpretarem Tchaikovsky e Lecomte (Março de 2011), é ali também que se fazem ciclos de música femininos, e o jazz e a música contemporânea encontram espaço para se apresentarem aos portuenses.
A agenda variada resulta, em parte, da existência que quatro grupos residentes: a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, o Coro Casa da Música, a Orquestra Barroca Casa da Música e o grupo contemporâneo Remix Ensemble Casa da Música. Mas não esqueçamos as crianças que, graças ao serviço educativo, têm acesso a muitas experiências musicais: na Digitopédia, podem até compor e partilhar música.
Informações úteis
Site aqui | Horário da bilheteira: Seg.-Sáb. 9h30-19h00, Domingos e feriados 9h30-18h00
Visitas guiadas: dois horários por dia (11h e 16h), com duração de uma hora e disponíveis em português e inglês. Preço: 7,5€ (adulto), grátis até aos 12 anos (uma criança por cada adulto portador de bilhete). Mais informações aqui.
Estacionamento: existem 644 lugares, distribuídos pelos pisos -1, -2 e -3, com preços especiais para quem vai assistir a um concerto na sala Suggia (2,5€) ou vai almoçar ou jantar.
Este post faz parte do projecto colectivo 8on8, que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês, limita-nos a 8 fotos. Espreitem os restantes textos sob o tema “Marcos arquitectónicos”, inspirem-se e partilhem:
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26 Comentários
De mulher para mulher, um abraço solidário, e um voto de que em breve, este dia deixe de fazer sentido, a sociedade terá enfim descoberto que Mulheres e Homens são partes iguais da mesma Humanidade e como tal são tratadas.
Abraço e dia feliz
Conheci a Casa da Música numa visita há dois anos.
Muito obrigada pelo seu abraço virtual. E o que achou da Casa da Música?
Que lugar fantástico! Interessante como lugares mais tradicionais se ressentem quando algo moderno e futurista é construído próximo – eu particularmente gosto muito desse contraste. Fiquei muito curiosa para conhecer a Casa da Música!
Não são todos os seres humanos que conseguem abrir o peito à mudança. Mas o mais importante é que, depois da fase de estranhamento, a gente aceite as alterações, até porque algumas mudanças são inevitáveis
Oi Ruthia, que legal conhecer a Casa da Música no Porto. Poxa, não sabia desse marco arquitetônico do Rem Koolhaas quando estive lá em novembro. Como sou arquiteta, gostaria de ter feito a visita guiada. Achei muito interessante ele incluir elementos característicos como os azulejos portugueses. A gente descobre muita coisa bacana no nosso projeto de blogagem coletiva. Não é mesmo? Bjs, Mari
Imagino que este tipo de edifícios seja muito mais especial para quem tem formação em arquitectura. O detalhe dos azulejos é incrível mesmo… é mais um argumento para voltar a Portugal.
Como é linda a casa da música do Porto! Em minha visita só passei por fora dela, mas na próxima vou querer esse passeios guiado.
Eu estudei esse prédio durante a faculdade, mas ainda não conheço pessoalmente.
Adorei seu relato. Espero conhecer em breve.
Você estudou arquitectura? Fiquei bem curiosa sobre o que o professor terá dito sobre esta nossa Casa da Música…
Adorei a arquitetura deste prédio, que nunca tinha visto! E esses azulejos então? Eu gostaria até mais de fazer uma visita guiada à Casa da Música do Porto do que assistir a alguma apresentação hehehe
As duas coisas no mesmo dia, seria perfeito 🙂
Lugar distintamente magnetizante. Com que maestria compuseram as exposições e os temas;passado e presente em perfeita harmonia. Lindíssimo!
Quero me perder uns dois dias por lá.
Bjinhus, Ruthia.
Calu
Venha, Calu. Será um prazer acompanhá-la durante uma parte do passeio.
Que lindo post! Que lindo lugar!!! Amei as informações e as histórias da belíssimas Casa da Música. Sua arquitetura é incrível e imagino a emoção de assistir um espetáculo lá. Tomara que eu tenha um dia essa oportunidade.
Terá essa oportunidade sim. É uma questão de organização e de consultar a programação para os dias em que estiver na cidade
Oi Ruthia, ainda não tinha ouvido falar da Casa da Música do Porto, mas adorei conhecer através dos seus olhos. Espero poder visitar e ver essa linda junção da arquitetura contemporânea com elementos tradicionais como os azulejos portugueses, me pareceu fantástico.
Foi uma linda homenagem do arquitecto holandês à arte tradicional portuguesa.
Somos apreciadores da música e de salas de concertos. Adorei saber que no Porto existe essa casa tão especial e já estou incluindo no roteiro de uma possível viagem a Portugal. Obrigada pela dica. beijos
Visitei o Porto ano passado e fiquei impressionada com a cidade, me encantei com tudo que vi por lá.
Eu e meu marido passeamos bastante e aproveitamos muito a cidade, que adoramos.
Infelizmente, não fomos visitar a Casa da Música, mas fiquei maravilhada com tudo que vi aqui no seu post, realmente um grande marco arquitetônico e cultural da cidade. Fica para uma próxima oportunidade.
Eu não sigo aquele preceito que diz que não se deve voltar onde já fomos felizes. É por isso que já estive tantas vezes em Itália. Na próxima visita, podem incluir um espectáculo na Casa da Música
Ruthia,querida, que lugar maravilhoso! Um lugar para todas as melodias fala a todos os corações. Deve ser emocionante assistir a um concerto na Casa da Música do Porto, cidade que roubou pedaço grande de meu coração. Espero um dia poder voltar e viver esta experiência.
Um viva enorme e cheio de gratidão às mulheres corajosas que abriram caminho para nós, como Guilhermina Suggia! beijo enorme!
Guilhermina foi uma mulher muito à frente do seu tempo. Um viva a todas as Guilherminas da História
Que linda está Casa Da Música do Porto! Adorei conhecer ela através do teu olhar. Fui ao Porto mas não visitei este lugar, agora me deu vontade voltar. Um abraço virtual pra vc em tempos de coronavírus
[…] Resta-nos uma tarde, que pode ser belamente passada num dos jardins da cidade (Serralves, Palácio de Cristal, Jardim Botânico, Parque da Cidade…), sem grandes cansaços porque não nos queremos despedir do Porto sem um espectáculo na Casa da Música. […]
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