Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

Este guia de Madrid foi pensado para quem visita a capital espanhola pela primeira vez. É um roteiro para principiantes ou para quem tem pouco tempo para pesquisar sobre os monumentos, atracções e segredos de Madrid

Madrid, a cidade espanhola que disputa com Barcelona as preferências dos turistas. Como comparar a excêntrica Barcelona, banhada pelo mar, à recatada capital madrilena, plantada no meio do país? Li algures que Barcelona pode ter praia e Gaudí, mas Madrid tem vida e alegria!

Madrid, a sede da monarquia, foi o centro de um vasto império, pilar da fé católica, da fanática Inquisição e da evangelização forçada das Américas. Barcelona foi uma (re)invenção do século XX, sustentada por grandes eventos como os Jogos Olímpicos (1992) e o Ano Gaudí.

Madrid é um expoente artístico, com os seus Goya, Velasquez, Mirós e a mítica Guernica que habitam a tríade dourada – Prado, Reina Sofia e Thyssen-Bornemisza – e a majestade do Palácio Real. Barcelona é a exuberância da Casa Batló, do Parque Güell e da Sagrada Família.

Barcelona veste uma camisola listrada com o nº 10 (do Messi), enquanto Madrid se rendeu ao nº 7 do Cristiano Ronaldo, pelo menos até ele mudar para Itália.

Mas as eternas rivais têm muito em comum, a começar pelas tapas, a forma como os habitantes vivem la calle, os gestos expansivos e as palavras que voam, rápidas e em bom som. Este guia pretende ajudar quem visita Madrid pela primeira vez ou tem pouco tempo para conhecer as principais atracções da capital espanhola.

Madrid é um dos destinos imperdíveis durante uma viagem a Espanha, sobretudo para quem gosta de arte, cultura e animação. Até porque, apesar de ser uma cidade grande, permanece autêntica, com características espanholas muito presentes e não é um destino caro.

 

Gran Via

Quando visitar Madrid

Madrid ocupa uma posição central na Península Ibérica e, por isso, tem um clima continental que desaconselha visitas nas estações extremas. O Inverno é frio, embora não se compare ao Norte da Europa: já visitei Madrid com o meu filho em Dezembro, e suportámos bem a temperatura, com recurso a luvas e cachecóis.

No Verão, pode ser muito quente (até porque é um destino urbano), quando aspersores de água são usados para refrescar alguns locais. As temperaturas podem ultrapassar os 30°C, portanto, se não se dá bem com o calor, é melhor evitar esta que é também a época alta e coincide com as férias escolares europeias.

Em suma, Primavera e Outono podem ser boas escolhas, ainda que possa apanhar alguns dias chuvosos.

Três dias são suficientes para conhecer o essencial de Madrid. No entanto, como acontece com outras capitais, se puder ficar mais tempo, vai desfrutar melhor dos parques e museus, apreciar a gastronomia e perceber o estilo de vida local. Acrescente dias se quiser explorar alguns destinos próximos como Segóvia (30 minutos de comboio/trem), Toledo ou Córdoba.

Como chegar a Madrid

Avião: o aeroporto Adolfo Suárez Madrid-Barajas, a cerca de 12 km de Madrid,recebe voos internacionais, nomeadamente voos directos do Brasil da Iberia e Latam, para além de voos com escala (conexão) da TAP, Air France, KLM, Swiss Air e Avianca. Na Europa, há várias ligações para Madrid de companhias aéreas low cost como a Ryanair, Easyjet, Transavia ou Vueling.

Para quem tem uma longa escala na capital espanhola e pretende conhecer um pouco de Madrid, o aeroporto possui um serviço de guarda-malas  15€ por mala/dia (temporariamente suspenso por causa da pandemia de covid-19).

Comboio (trem): é possível chegar de comboio a Madrid, a partir das principais cidades espanholas através da RENFE (mapas e linhas aqui) e várias capitais europeias. A principal estação de destino é a famosa Atocha. Por exemplo, o Lusitânia Comboio Hotel liga Lisboa a Madrid numa viagem nocturna, com bilhetes económicos quer para lugares sentados quer para cabines com cama.

Autocarro (ônibus): também é possível chegar de autocarro de vários pontos do continente europeu, nomeadamente Portugal, Inglaterra e França, através do Flixbus e outras empresas parecidas.

Do aeroporto ao centro da capital

Existem várias opções para chegar ao centro da cidade, a partir do aeroporto de Madrid-Barajas. Na minha opinião pessoal, a ligação mais simples é através do serviço de shuttle Exprés Aeropuerto, cujo bilhete custa 5€ por trajeto, pago em dinheiro ou cartão diretamente ao motorista.

Para além de ser a opção mais fácil para quem tem alojamento perto da Praça Cibeles ou estação de Atocha, o serviço funciona 24 horas e o bus é facilmente identificável, graças à sua cor amarela.

Outra opção interessante e fiável é o metro, com estação dentro do aeroporto, nos terminais T2 e T4. Deve comprar o bilhete nas máquinas automáticas do T4 e, para além do preço do trajeto, terá que comprar o cartão recarregável (+2€), o que encarece um pouco o valor total. Se tiver muita bagagem também pode ser um pouco incómodo: provavelmente terá que mudar de linha, para chegar à sua hospedagem.

Por fim, pode optar por um táxi ou UBER: o trajecto deverá rondar os 30€ até ao centro de Madrid.

Porta de Alcalá

Como explorar a cidade

Madrid é uma cidade amiga do visitante, movimentada e cheia de gente, que possui uma boa rede de transportes, nomeadamente de metro (mapa e linhas aqui). Para ter uma ideia, na estação Sol alcança facilmente a Plaza Mayor e as Portas do Sol; saindo na estação Atocha rapidamente chega aos três maiores museus. O Parque El Retiro e Puerta de Alcalá, projectada por Sabatini, estão a uns passos da estação Retiro. A Gran Vía tem vários pontos de acesso ao metro: Plaza de España, Santo Domingo, Callao ou Gran Vía.

A estação Opera dá fácil acesso ao Palácio Real, ao Mercado de San Miguel e à Catedral de la Almudena e a estação Santiago Bernabéu, um pouco mais longe, leva-o ao mítico estádio do Real Madrid.

Sendo Madrid relativamente plana e com um centro histórico compacto, é ideal para caminhar sem pressas. Aliás, não se recomenda usar carro na cidade, a não ser que viaje desta forma para Madrid e o possa deixar estacionado durante a sua estadia (confirme se o alojamento fornece lugar de estacionamento).

Existe ainda o habitual autocarro hop on hop off, o Madrid City Tour, que possui dois percursos (temporariamente suspenso por causa da pandemia)  e também organiza passeios até algumas cidades próximas. Por fim existe uma empresa de bicicletas elétricas, as BiciMad, que podem ajudar em algum percurso específico. Custa 2 € por hora/ou fração de tempo.

Ao fundo, o Palácio Real.

O que visitar em Madrid (roteiro)

Começamos o passeio em Madrid na Praça de Cibeles, onde a imponente deusa foi eternizada em mármore sobre um carro puxado por leões, segurando as chaves da cidade. Seguimos para o belo Palácio das Comunicações, que em tempos funcionou como uma mera central de correios: há por lá arte contemporânea, espaços de leitura e um miradouro.

Bem pertinho fica a Puerta de Alcalá, que Sabatini projetou a pedido do modernizador D. Carlos III, e o elegante Parque El Retiro, um belíssimo espaço verde que se estende por 125 hectares.  De uso exclusivo da família real até ao século XVIII,  hoje este parque é um fenómeno de sucesso, palco de tantos eventos que os ecologistas se queixam da excessiva pressão humana: os castanheiros das Índias até estão a perder as folhas!

Voltamos à porta de Alcalá para iniciar a caminhada pela Broadway madrilena, que é o mesmo que dizer Gran Via, a avenida movimentadíssima com carros, lojas e teatros que se prolonga até à Praça de Espanha (Plaza de España, que estava em obras no início de 2020). Ali, vislumbro o D. Quixote e outras personagens de Cervantes, antes de rumar ao Templo de Debod, o cantinho egípcio, onde encontro outra viajante solitária, de Hong Kong e a estudar em Londres.

Um templo núbio-egípcio é muito estranho no contexto madrileno, já que os dois países não tiveram grandes ligações históricas. Do século IV a.C. e dedicado ao deus Amun, este é dos poucos edifícios egípcios completos que podem ser visitados fora do Egipto, tal como é único em toda a Espanha.

Templo de Debod

Na verdade, tratou-se de uma oferta por causa do apoio espanhol junto da UNESCO que culminou na mudança, pedra a pedra, do templo de Abu Simbel que corria o risco de ficar debaixo das águas do Nilo.

Dica 1: os jardins que rodeiam o Templo de Debod oferecem uma linda vista panorâmica para o Palácio Real. O pôr-do-sol sobre o templo egípcio também é qualquer coisa de especial.

Ao longe, destacam-se os pináculos do Palácio Real, uma das residências oficiais dos Borbón, inspirado nos desenhos de Bernini (continuo apaixonada pelo napolitano) para a construção do Louvre. É para lá que nos dirigimos, atravessando os Jardins de Sabatini, que antecedem o edifício megalómano que ocupa cerca de 135 mil m2.

Com quase cinco mil quartos e salas e 870 janelas, é considerado o maior palácio real da Europa. Não admira que a residência real seja utilizada somente em ocasiões especiais, escolhendo um palácio de menores dimensões para utilizarem no dia-a-dia.

Dica 2: as filas para visitar o palácio costumam ser monumentais. Se quer visitar o palácio, aconselha-se a comprar antecipadamente a entrada online.

Ao lado, fica a Catedral de Almudena, onde os reis de Espanha se casaram sob a bênção da padroeira da cidade. Os turistas juntam-se aos magotes (no Inverno é mais tranquilo) para conhecerem a mais preciosa relíquia local: a Virgem de Almudena. A imagem terá sido trazida por um discípulo do apóstolo Santiago em 38 d.C., mas ficou escondida durante os 300 anos de domínio muçulmano!

Dica 3: a entrada na Catedral é gratuita, a não ser que queira visitar o museu religioso e subir à cúpula. A galeria do museu (um pouco mais abaixo da cúpula) é o lugar ideal para ver a cerimónia do render da Guarda Real, que se realiza na primeira quarta-feira de cada mês, sempre que as condições meteorológicas o permitam.

Não deixe de visitar também a cripta da catedral, uma das maiores de Espanha, com entrada gratuita, mas doação sugerida de 1€. Situada em frente à muralha árabe, debaixo da Catedral, este belo templo neo-românico possui mais de 400 colunas coroadas por capitéis, todos eles diferentes, que evocam figuras bíblicas e motivos naturais, bem como as figuras da Ursa e do Medronheiro, símbolo de Madrid.

Plaza Mayor

Daqui vamos para o centro do centro histórico: a histórica Plaza Mayor, da época dos espadachins, onde se faziam autos-de-fé mas também beatificações, coroações e até corridas de touros. A praça retangular está rodeada por edifícios, a única forma de entrar é atravessando um dos nove pórticos, sendo o mais conhecido o Arco de Cuchilleros. Vale a pena procurar a Casa de la Panadería e a Casa de la Carniceria, visitar as lojas de artesanato e sentar-se no chão da praça, a absorver a sua energia.

Seguimos depois para a buliçosa Porta do Sol, onde os madrilenos olham ansiosamente o relógio da Casa do Correio, para celebrarem a passagem de ano. Ali fica a famosa estátua do urso e do medronheiro, que simboliza a capital, e merece uma fotografia.

Dica 4: nas Puertas del Sol abundam mulheres que procuram uma moeda em troca de um ramo de cheiro ou leitura da sina. Apesar de serem bastante insistentes, costumam ser pacíficas.

Dica 5: se estiver em Madrid numa manhã de Domingo (ou feriado), visite a tradicional feira ao ar livre El Rastro.

Se vai visitar Madrid em família, leia Madrid com Crianças no Inverno.

Museus de Madrid

Os museus da capital espanhola são um capítulo à parte. A oferta é muita e boa.  Os três principais são conhecidos como o Triângulo de Ouro: Museu do Prado, Museu Reina Sofia e  Museu Thyssen-Bornemisza.

O Prado dispensa apresentações: é considerado um dos museus mais importantes do mundo. Mandado construir pelo modernizador D. Carlos III, no Museu do Prado encontra a famosa tela As Meninas de Velázquez, mas também obras de El Greco e os quadros de Goya sobre a guerra civil espanhola. O tema repete-se no mais famoso quadro do museu de arte contemporânea Reina Sofia: o Guernica de Picasso. Por fim, o Museu Thyssen-Bornemisza possui coleções desde o Renascimento até ao século XX, com obras de El Greco, Bernini, Caravaggio, Goya, Pollack ou Dali.

Eu dei a conhecer Picasso e Salvador Dali (com uns pozinhos de Miró), bem como Velasquez e Goya ao meu pequeno explorador nos horários gratuitos. Leia mais sobre o assunto: Madrid: uma hora e uns trocados para conhecer o Prado.

Dica 6: se não conseguir aproveitar os horários com entrada gratuita e for estudante, leve o seu cartão, para beneficiar de desconto.

A capital espanhola possui muitos outros museus, como o Museu Arqueológico Nacional, o Museu Lope de Vega, um Museu da Cera sem a qualidade do londrino e um Museu do Romantismo (estes dois últimos estão incluídos no Madrid Card), bem como o encantador e quase desconhecido Museu Cerralbo.

Mas o museu mais visitado em Madrid é… rufem os tambores… o Santiago Bernabéu. É verdade. A visita ao estádio do Real Madrid inclui acesso às bancadas, balneários, sala de imprensa, bancos da equipa junto do relvado e salão dos troféus da equipa. Na verdade, a parte museológica está muito bem organizada e o lugar é assombroso, mesmo para quem não aprecia futebol.

Onde ficar em Madrid

As ruas próximas da Porta do Sol, Gran Vía e Plaza Mayor são boas para encontrar alojamento, pois permitem fácil acesso à maioria dos pontos turísticos e têm bastante oferta hoteleira. Veja-se o caso do B&B Hotel Madrid Centro Puerta del Sol (***), o Vincci Vía – 66 (****) ou o Pestana Plaza Mayor Madrid (****). No entanto, os preços podem ser um pouco mais elevados. Pesquise aqui.

Para quem procura bairros mais alternativos e boémios, poderá gostar da região Lavapiés (bairro tradicional, residencial, com bons preços de hospedagem e restaurantes), Chueca (conhecido por ser LGBT-friendly), Malasaña (referência da cultura retro e underground) e La Latina, onde acontece a feirinha El Rastro. Muitos acham que são mais autênticos e charmosos.

Para quem, como eu, prefere localizações mais tranquilas, os bairros de Salamanca e do Paseo del Arte podem ser uma boa opção. Salamanca não é um bairro turístico (apesar de concentrar as lojas de luxo), mas traz a tranquilidade das ruas residenciais.

O mesmo acontece nas imediações do Parque del Retiro, nomeadamente no charmoso Barrio de las Letras, com nomes de ruas em homenagem à literatura. Por aqui, o Mercure Madrid Centro (****) ou o Radisson Blu Hotel, Madrid Prado (****) são opções seguras e tranquilas, ainda que não muito económicas.

mercado de san Miguel em Madrid
© Mercado de San Miguel

Onde comer em Madrid

A gastronomia de Madrid tem influência mediterrânica, com o azeite, o tomate e o pão a assumirem um papel importante na cozinha. Vale a pena provar as batatas bravas e os huevos rotos con jamón. De um ponto de vista mais doce, não esquecer os turrones e churros. Neste último caso, é imperdoável não provar essa  instituição secular que são os churros com chocolate da San Ginés (Pasadizo de San Ginés, 5).

De resto, os madrilenos são especialistas em petiscar, ação que ganhou até um verbo próprio (tapear), pois as tapas são “o” petisco omnipresente. Estes pequenos snacks são feitos para partilhar e combinar vários, num gesto de partilha não recomendado nos dias de pandemia que correm.

Para além das tapas, com vários ingredientes do presunto ibérico, azeitonas, queijos, frutos do mar, etc., pode ouvir expressões como montadito/bocadillo (sanduíche), pintxo (em Barcelona são parecidos com as tapas, mas em Madrid são apresentados em espetadas) ou racione, porção um pouco maior, que costuma ser suficiente para uma pessoa (sem chegar a ser uma dose).

Os churros da San Ginés são um clássico de Madrid.

Para além de bares de tapas em cada esquina, considere os vários e charmosos mercados gastronómicos da cidade. Só conheço o Mercado San Miguel, o mais famoso e próximo da Plaza Mayor, e o de San Antón, mas existem ainda o de San Ildefonso e San Fernando. São lugares onde as montras nos fazem salivar, os petiscos consolam a alma e as pessoas convivem, metem conversa, mesmo sem se conhecerem.

Quanto a restaurantes, não conheço muitos, mas posso recomendar aos carnívoros de plantão o restaurante Sobrino, fundado em 1725, cuja especialidade é o cochinillo (leitão) e cordeiro assados em forno a lenha (Calle de los Cuchilleros, 17). Perto do Palácio Real, almocei uma vez na Casa Nicasio (Calle Union) com amigas, onde tivemos uma experiência económica e muito simpática, sobretudo no que respeita ao serviço, o que nem sempre se encontra em Madrid.

Em frente à estação de metro Callao, recomendo subir até ao terraço do prédio El Corte Inglês para uma experiência gourmet. O espaço é muito agradável ao final da tarde, com as mesas ao ar livre com vista para o centro de Madrid, vários bares de tapas e gelatarias.

9. O que fazer nas proximidades

Se puder estender a sua estadia em Madrid, não deixe de conhecer os arredores. Não muito longe fica El Real Sítio de San Lorenzo de El Escorial, por exemplo, mas existem várias opções de passeios de um dia (bate volta) com saída da capital.

Pessoalmente, já estive na cidade real de Aranjuez, a pouco mais de 1 hora de comboio de Madrid e recomendo.  A Klécia do blog Fui ser Viajante escreveu também o lindo roteiro Toledo na Espanha: conheça a cidade em 1 dia! Outras opções são Segóvia, Córdoba ou Alcalá de Henares.

Com certeza há muito mais para ver e fazer em Madrid. Portanto, acrescente nos comentários qual é, para si, um lugar que é obrigatório conhecer numa primeira viagem à capital espanhola.