Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

A famosa hospitalidade minhota é sinónimo de mesas fartas, pratos tradicionais, vinhos verdes e frescos. Venha conhecer os sabores do Alto Minho, num roteiro guloso em Arcos de Valdevez

Sabia que a cozinha minhota é abundante e rica em tradição? A gastronomia regional mantém uma forte ligação às suas origens: comer e beber bem é sinal de hospitalidade, uma característica muito enraizada entre os minhotos.

A gastronomia minhota é mais uma faceta desta cultura garrida de trajes coloridos, festas religiosas e cenários verdejantes. Para além de pratos fortes, pode contar com comida bem tradicional, onde brilham os produtos da terra: do feijão tarrestre à couve-galega, passando pelo mel e pela carne da vaca cachena, de um dos ingredientes locais mais famosos.

Na visita recente à região – recorde Arcos de Valdevez com crianças – comprovámos a generosidade da cozinha do Minho, que inspirou este roteiro gastronómico. Venha comer e ser feliz, porque aqui não há espaço para dietas. Recordando as palavras da D. Rosa, cozinheira que nos alimentou no Soajo: “do outro dia apareceram aqui umas pessoas de dieta, só quiseram carne e um tomate laminado. Estive quase para os pôr da porta para fora!”

Perante a mesa de sobremesas gigante, depois de um dia de excessos culinários, ainda nos disse: “estou aqui até à meia noite, vão fazer uma caminhada até aos espigueiros e voltem, que quero esta mesa vazia”. Conte com gente genuína e expressiva, que não tem papas na língua, mas em cujo coração cabe uma multidão.

Os famosos Charutos dos Arcos, eleitos uma das 7 Maravilhas Doces de Portugal.

Vinhos dos Arcos de Valdevez

Este roteiro gastronómico pelas delícias minhotas começa junto ao rio, na praça mais conhecida e simbólica dos Arcos de Valdedez: o campo do Trasladário, que recorda o tempo em que um serviço de barcos ligava as duas margens do rio (fazia o traslado).

Deram-nos as boas vindas com uma “Às Sextas no Trasladário – Combinações Improváveis”, no espaço Vinhos e Sabores, uma montra para os vinhos locais. Tudo começou com uns cacharoletes, uma espécie de cocktail, e frutos secos. Depois de um cacharolete de vinho tinto e outro branco, ambos bem frescos, e como se o jantar não se avizinhasse, tentaram-nos com algumas combinações improváveis.

A primeira foi bolo do tacho com queijo de cabra e um bolo do tacho de vegetais, a acompanhar um vinho “Paço Velho” (branco) da casta Loureiro. Seguiu-se um bolo do tacho com alheira e compota e outro de sardinha, realçados com um “Aguião” Vinhão. A recepção foi rematada com um gelado aromatizado com vinhão, casta que resulta em vinhos escuros, quase impenetráveis à luz, rústicos e de elevada acidez.

Vinho loureiro com bolo de tacho de vegetais.

Estes momentos gastronómicos em plena região de vinhos verdes contam com várias opções de harmonização de pratos com vinhos únicos no mundo, com destaque para o Alvarinho, o Vinhão e também o espumante de vinho verde.

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Comer no Minho, pratos tradicionais

As combinações improváveis deram o pontapé de saída a um fim-de-semana de muita comilança. Entre os pratos mais tradicionais dos Arcos de Valdevez está a famosa carne de cachena, o arroz de feijão terrestre, o bacalhau ou os rojões.

Comecemos pela carne de cachena da Peneda, produto de origem protegida, uma das raças bovinas mais pequenas do mundo. Mas a sua pequenez não se estende aos chifres, gigantes: provavelmente cruzar-se-á com estas vaquinhas nas suas deambulações, nas serras ou na estrada.

Pode provar a iguaria em vários sítios, mas nós recomendamos três: no Saber ao Borralho (aldeia do Soajo), restaurante da Porta do Mezio e restaurante Floresta (centro dos Arcos). Na Porta do Mezio, a carne de cachena foi servida grelhada. Já no Saber ao Borralho, a D. Rosa cozinhou-a em forno a lenha durante várias horas, pelo que a carne se desfazia na boca (foto de abertura). Eu não provei – já sabem que não como carne – mas o feedback de todo o grupo foi unânime.

Carne de cachena do restaurante da Porta do Mezio.

Habitualmente a carne é acompanhada por batata assada, mas também arroz de feijão tarreste, um feijão miúdo, de pele fina e formato de rim cultivado nas serras da Peneda e Soajo. À mesa minhota não pode faltar também a broa de milho caseira e os enchidos.

O site visitarcos tem muitas sugestões de restaurantes, para comer no concelho.

Doçaria minhota e uma das 7 Maravilhas Doces

Voltam a pensar na dieta no regresso a casa, porque falta ainda a doçaria: do maravilhoso bolo de discos, que o município quer certificar, aos rebuçados dos Arcos, do pão de ló do Soajo aos Charutos dos Arcos, uma das 7 Maravilhas de Portugal, no quesito doçaria.

Comecemos pelo Pão-de-Ló, um dos melhores que já comi na vida. Pode conhecer esta maravilha na Padaria do Soajo, no centro da aldeia, onde a Debra, nascida nos Estados Unidos, perpetua a tradição e receita secreta da família. Individual, médio ou familiar – o tamanho não importa, desde que seja partido à mão e partilhado em família. Não deixe de provar também as queijadas de noz, o bolo de milho e os calhaus.

Como resistir aos doces da Padaria do Soajo?

Outra pequena maravilha é o Bolo de Discos, à base de amêndoa e muitos ovos. Provámos o bolo no restaurante Saber ao Borralho, pela mão da D. Rosa, que até já esteve na televisão a ensinar a receita.

Não nos despedimos da cozinha minhota sem mencionar uma bomba calórica chamada Charutos dos Arcos, que conquistou o título de 7 Maravilhas da Doçaria de Portugal. Este doce de ovos envolto em hóstia foi inventado na Doçaria Central, onde fizemos uma prova (com espumante de vinho verde), mas outros lugares também têm a sua versão.

Uma das opções de que mais gostei foi, novamente, no restaurante Saber do Borralho: meio charuto sobre uma rodela de laranja de Ermelo. Esta fruta regional é muito doce, mas, ainda assim, serve para cortar o açúcar desta iguaria regional.

Outros pratos típicos da cozinha minhota

Entre os pratos típicos da gastronomia minhota ainda não mencionados estão o bacalhau à minhota, vitela barrosã, cozido à minhota, cabrito, bacalhau à lavrador, rojões, arroz “pica no chão” e papas de sarrabulho. Braga é conhecida pelo seu Bacalhau à Braga (servido com batata frita às rodelas), que pode provar no restaurante Arcoense ou na Cozinha da Sé, por exemplo.

No Gerês pode provar uma variante do cozido à minhota: o cozido à Terras de Bouro, localmente conhecido por “cozido de feijão com couves”, prato tradicional da gastronomia de montanha cozinhado em pote de ferro. As papas de sarrabulho de Ponte de Lima atraem à vila limiana milhares de forasteiros ao longo do ano: Açude, Encanada e A Carvalheira são alguns dos restaurantes famosos por isso.

Quanto a doces, não deixe de provar o pudim de Abade de Priscos (Braga), o toucinho do céu (Guimarães), os pastéis de Santa Eufémia (Gerês), o bolinhol (Vizela), as clarinhas de Fão (Esposende) e, se tiver a sorte de ter amigos minhotos, peça-lhe formigos ou mexidos, o meu doce de Natal favorito.

Bolo de discos, com a assinatura da cozinheira do Saber do Borralho (Rosa Maria).

Já perceberam que comer no Minho é uma questão de honra? Há por aí fãs da cozinha minhota?

Esta viagem foi realizada a convite do Município de Arcos de Valdevez