Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

A arte urbana conquistou Portugal e já não se limita às grandes cidades. Há street art em muitas localidades, como prova este roteiro artístico em cinco pequenos municípios

Há muito que a street art, arte urbana, ou arte pública, saiu da marginalidade dos arredores, para se afirmar enquanto expressão cultural. Uma manifestação artística que nos interpela, no nosso dia-a-dia, em lugares inesperados.

Nomes como Eduardo Kobra, o muralista brasileiro com obras em cinco continentes, ou Banksy, o britânico que revolucionou a arte contemporânea e cuja identidade permanece um mistério, colocaram a arte urbana nas bocas do mundo.

Portugal segue a tendência internacional, convidando artistas para embelezar ruas, pontes, paredes e lugares abandonados. Lisboa destaca-se neste contexto, com intervenções tanto de artistas internacionais famosos, como de artistas nacionais. Por falar em Lisboa, já visitaram a exposição Banksy, genius or vandal?, na Cordoaria Nacional?

No Porto, a arte urbana faz igualmente parte do quotidiano, com obras na Rua da Madeira, passando pela Rua Miguel Bombarda e acabando em Miragaia [a Time Out propõe um Roteiro pela arte urbana do Porto muito interessante]. Em Setúbal há “Arte em Toda a Parte” e na Amadora “Conversas na Rua”.

mural no Porto
Uma das pinturas da Rua Miguel Bombarda, no Porto

Uma conhecida marca automóvel lançou recentemente Art Cities – Curated by Vhils, que resultará num roteiro de arte urbana nacional, com novas obras previstas, assinadas por Draw&Contra (no Porto), Akacorleone (em Lisboa), André da Loba (em Aveiro), Beckham (em Braga), Tamara Alves (no Algarve).  O projecto é coordenado por Vhils, o artista agraciado com a Ordem Militar de Santiago da Espada (2015), destinado a distinguir o mérito literário, científico e artístico, em Portugal.

Todos estes projectos saem dos lugares “consagrados”- como teatros, galerias e museus -, para darem visibilidade à arte espalhada pelas ruas. As técnicas também evoluíram do mero graffiti, para uma variedade de opções que vão do stencil aos poemas urbanos. E os temas, até aqui muito focados na crítica político-social, vão-se enriquecendo com novas e inesperadas visões.

Durante as minhas deambulações pelo país, descobri que há muita e inspiradora arte urbana em Portugal. Aqui ficam algumas localidades que se destacam pela sua street art e, por isso, merecem uma visita. Carreguem na seta, para acederem às várias imagens de cada cidade.

#Águeda (Agitágueda Art Festival)

Os guarda-chuvas coloridos transformaram Águeda, uma pequena localidade do distrito de Aveiro, num fenómeno do Instagram. Mas esta é apenas uma das muitas instalações artísticas integradas no festival AgitÁgueda, iniciado em 2006 e que trouxe muita cor à cidade. Além de milhares de chapéus-de-chuva, há bancos de jardim inusitados, escadarias que parecem arco-íris e muitos outros detalhes.

É durante o mês de Julho que Águeda se transforma, com actividades culturais, musicais (concurso Talentos AgitÁgueda) e desportivas, resultando num aumento significativo de visitantes.

Mas a revitalização dos espaços urbanos pela arte pode ser apreciada durante todo o ano, graças ao roteiro artístico disponibilizado online ou no posto de Turismo. A criatividade tornou-se parte do ADN desta pequena cidade, onde o AgitLAB, laboratório de experimentações contemporâneas, promove residências artísticas regulares.

#Estarreja (ESTAU)

A terra natal de Egas Moniz também apostou na street art como forma de se reinventar. Aliás, aquele Nobel da Medicina português era um apaixonado por arte. À porta da casa onde morou, lê-se: as grandes escolas das artes plásticas são os museus. Quisera um em cada cidade, em cada vila e em cada aldeia para que o povo se elevasse na comunhão espiritual do Belo”.

Tudo começou em 2016, com a primeira edição do ESTAU – Estarreja Arte Urbana, quando a cidade foi invadida por alguns dos melhores artistas urbanos do mundo. O evento colocou a arte a falar com a cidade, as suas gentes, o seu património e a sua natureza. A cidade recebe anualmente novidades: murais, instalações, workshops, filmes, palestras, visitas guiadas, música e muito mais.

Nós estivemos na cidade este Verão e ficámos meio perdidos. Isto porque o roteiro online indica os locais onde há murais/pinturas mas também outros onde se realizaram actividades temporárias do ESTAU. Andámos de nariz no ar para perceber que muitos dos pontos do mapa já não têm nada para ver…

Mas o turismo local proporciona visitas guiadas gratuitas às sextas-feiras e no último sábado de cada mês. Para isso basta fazer o pedido para turismo@cm-estarreja.pt (as visitas realizam-se com um mínimo de 6 participantes).

#Ponta Delgada (Walk & Talk)

As ruas de Ponta Delgada são um museu contemporâneo, graças ao Walk&Talk. O Festival de Artes dos Açores acontece em Julho, mas mantém um programa de residências em funcionamento ao longo de todo o ano.

Recordem também os Imperdíveis de Ponta Delgada

Cinco anos depois do seu início em São Miguel, a maior ilha do arquipélago, o festival alargou a sua dinâmica à ilha Terceira (2016). Ao longo das várias edições acolheu mais de 200 artistas, de várias origens geográficas e disciplinares: arte, dança, performance, teatro, exposições, arquictetura, design, cinema e música.

O acesso às exposições, concertos, performances e conversas realizadas no Pavilhão W&T é gratuito, enquanto algumas das actividades do Circuito Performativo têm um valor associado (indicado na página de cada espectáculo).

Mas o roteiro de arte urbana Circuito Ilha é a parte mais visível do festival, que se renova anualmente com a produção de novas peças que reflectem a realidade insular/açoriana. Este circuito conta com mais de 70 intervenções, mapeadas e visitáveis em espaços públicos, urbanos e rurais, nas duas ilhas do arquipélago.

#Covilhã (WOOL)

Porta de entrada para a Serra da Estrela, a Covilhã tornou-se o coração da arte urbana do centro de Portugal, graças ao Wool – Covilhã Urban Art.  O festival homenageia o passado da cidade enquanto centro de produção de lanifícios. Daí tantas paredes ostentarem pinturas coloridas que se relacionam com a temática da lã.

Uma das obras mais emblemáticas no centro histórico é “Olhos de coruja”, de Bordallo II. Considerado um dos melhores artistas urbanos do mundo pela Street Art News (assim como Vhils), Bordalo II é conhecido por transformar lixo em arte. Enquanto símbolo de sabedoria, a coruja pretende transmitir uma mensagem contra a desertificação.

Outras obras impactantes são a do espanhol Kram, inspirado na lenda local, e Wild Orphan de Tamara Alves. De resto, o festival Wool mereceu já um post detalhado aqui no blog Woolfest: Um roteiro feito a tinta.

#V.N. Barquinha (Artejo)

A pequena Vila Nova da Barquinha, no distrito de Santarém, é um lugar onde regresso sempre com alegria, porque lá mora uma amiga de longa data. Para além de ser casa do lindo e templário Castelo de Almourol, o concelho inaugurou há poucos anos um parque de escultura contemporânea.

Mais recentemente, o município criou um roteiro de 11 obras assinadas por Alexandre Farto (Vhils), Manuel João Vieira, Violant e Carlos Vicente. As intervenções estendem-se por quatro freguesias de Vila Nova da Barquinha e são muito diferentes entre si. A obra de Vhils, por exemplo, segue a linguagem visual a que já nos habituou, através da remoção das camadas superficiais de paredes.

Este conjunto de street art integra o “Programa Arte Pública” da Fundação EDP, orientado para territórios de baixa densidade populacional em Portugal. O objectivo é promover o acesso à arte e o envolvimento da população em novas experiências culturais.

Aliás, a fundação reuniu exemplares de arte urbana em seis roteiros gratuitos, disponíveis em folhetos e também em formato digital. Minho, Ribatejo, Alto Alentejo, Trás-os-Montes, Médio Tejo e Algarve são as seis regiões em destaque nestes seis pequenos livros, que nos guiam pelas obras de 35 artistas.

Conhecem outra cidade que se destaca pela arte urbana em Portugal? Acrescentem nos comentários.
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