Atualizado em 27 Fevereiro, 2023

O Outono chegou, com a sua pátina doirada e tapetes de folhas a cobrirem as ruas. A dias de se comemorar o São Martinho, aqui fica uma rota das castanhas, para um magusto caloroso

Os castanheiros pintam-se de amarelo e castanho, à medida que o Outono avança, os dias ficam mais curtos e as temperaturas pedem lareira. Portugal prepara-se para o Dia de São Martinho (11 de novembro), em honra do santo que morreu neste dia.

Diz a lenda que, num dia frio e chuvoso, Martinho seguia a cavalo quando encontrou um mendigo. Vendo-o a tremer, cortou o manto com a espada, cobrindo-o com uma das partes. Mais à frente, encontrou outro pedinte, com quem partilhou a outra metade. Sem nada que o protegesse do frio, o soldado romano continuou viagem, mas, nesse momento, as nuvens negras deram lugar ao sol.

A narrativa explica o fenómeno conhecido como “Verão de São Martinho”. Graças a esta melhoria climatérica, temporária e milagrosa, os magustos multiplicam-se um pouco por todo o país, com fogueiras e castanhas assadas.

Outono em Portugal

Na verdade, o São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa. Em Portugal, para além do magusto, é tradição beber-se água-pé, jeropiga e provar-se o vinho novo. Como diz o ditado popular, “em dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.

Inspirada nesta estação dourada, preparei uma rota das castanhas por terras com tradição. Sabiam que 80% da área ocupada por castanheiros fica na região de Trás-os-Montes?

Concentram-se sobretudo em volta das Denominações de Origem Protegida (DOP), a saber, Castanha DOP da Terra Fria (distrito de Bragança) e Castanha DOP da Padrela (distrito de Vila Real). Para além de serem produzidos na área geográfica, o fruto tem que ser colhido do chão, sem recurso a métodos mecânicos ou outros para forçar a sua queda da árvore.

Preparem o estômago: é tempo de comer castanhas.

Castanhas no distrito de Bragança (DOP Terra Fria)

Bragança na rota das castanhas
Em Bragança, não deixe de visitar o Museu da Máscara Ibérica

O castanheiro está muito presente na paisagem transmontana. Sagrada para os celtas, esta árvore nobre inspirou poetas e autores. Por exemplo, tem presença muito forte na obra de Aquilino Ribeiro, enquanto Miguel Torga diz que se trata de uma árvore com a “idade do mundo”, em Novos Contos da Montanha.

No distrito de Bragança, a castanha é rainha em várias festas e feiras, com destaque para Macedo de Cavaleiros, Bragança (por exemplo, aldeia de Terroso), Vinhais e Vimioso. Vinhais organiza há mais de uma década a festa Rural Castanea, para celebrar o produto economicamente mais importante do concelho.

Leia também Parque Biológico de Vinhais, um retiro no Montesinho

Em Bragança fica a maior empresa de transformação de castanha em Portugal e uma das maiores da Europa (Sortegel) que, para além de possuir quintas próprias, recebe o fruto de mais de um milhar de produtores locais. Outra curiosidade, que só descobri graças a este artigo, é que Bragança possui uma oficina da castanha, no centro histórico, com mercearia e até um pequeno museu (na próxima visita vou lá conferir).

#dica: uma vez comi um puré de castanhas em Bragança, que era do outro mundo. Normalmente acompanha pratos de carne mas se, como eu, não for carnívoro(a), pergunte se servem assim mesmo. Para saber um pouco mais sobre o castelo de Bragança, espreite Castelos de Portugal, 8 sugestões encantadoras.

Castanhas no distrito de Vila Real (DOP Padrela)

Capital da castanha
A surpreendente igreja de Carrazedo de Montenegro

Os concelhos de Vila Pouca de Aguiar e Valpaços, no distrito de Vila Real, têm igualmente tradição na castanha, sobretudo na espécie judia. Uma pequena aldeia de Valpaços, Carrazedo de Montenegro, é mesmo conhecida como a “Capital da Castanha”.

Castanhas de Carrazedo / São bem boas, ó patrão! / Assim, como as raparigas, / Quando se lhes põe a mão (António Cabral, in A castanha: Saberes e Sabores).

Para além de uma linda igreja, dedicada a S. Nicolau e surpreendentemente grande para esta localidade, não há muito para visitar em Carrazedo de Montenegro. Apesar de algumas placas indicarem um Museu da Castanha, encontrámos o espaço fechado (funciona nas instalações da Junta de Freguesia, onde nos comunicaram que está em obras).

castanha judia

É uma delícia conduzir pela estrada N206, que liga Vila Pouca de Aguiar a essa pequena localidade, nesta época do ano. Árvores de todas as cores acompanham-nos, exibindo orgulhosamente toda a paleta de cores do Outono, entre elas, muitos castanheiros. A serra da Padrela concentra muitos desses soutos, com castanheiros centenários e o chão coberto de ouriços.

#dica: a cerca de 8 quilómetros de Carrazedo de Montenegro (EN 206), encontra a Agromontenegro, onde pode comprar castanha muito mais barata do que no supermercado.

Castanhas no distrito de Portalegre (DOP Marvão-Portalegre)

Portalegre produz castanhas

Seguimos para sul, nesta rota das castanhas saborosa e original. Um destino menos óbvio, quando se fala de castanhas, é o Alentejo. No entanto, existe por lá uma região que produz o fruto, a única mancha de castanheiros no sul do país, que inclui as lindas vilas de Marvão e Castelo de Vide, bem como a capital de distrito, Portalegre.

Existem ali várias empresas que vendem não só castanha – nas variedades bárea, clarinha e bravo -, mas também produtos derivados, como farinha e farinheira de castanha, castanha pilada ou em calda de vinho abafado. Depois, há os restaurantes que honram este produto regional com tantos pratos maravilhosos, da sopa ao porco com castanha.

Na medieval e encantadora vila de Marvão faz-se uma variante da sericaia com castanha (doce tradicional alentejano habitualmente servido com ameixa). Se pretende explorar a região, não deixe de ler:

Marvão, a vila mais alta do Alentejo

Visitar Portalegre, a terra das tapeçarias

Crato: dicas e segredos da vila alentejana

Road trip no Alto Alentejo

sericaia com castanha
Duas versões de sericaia (a mais escura leva castanha)
rota da castanha

Esta rota das castanhas faz parte do 8on8, um projecto colectivo que une lindas viajantes em volta de um tema comum, no dia 8 de cada mês. Espreitem os restantes textos sob o tema “Festas e Festivais”, inspirem-se e partilhem:

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