Atualizado em 20 Abril, 2021

A Sé é paragem obrigatória para quem visita a Guarda, bem no interior de Portugal, que diz a tradição ser Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. Os adjectivos aplicam-se igualmente ao templo que hoje visitamos

Começamos na Galiza, onde conhecemos a majestosa Sé de Santiago de Compostela com o seu turíbulo gigante, para afastar o mau cheiro dos peregrinos medievais. Hoje, tropeçamos noutro templo imponente, sede de bispado, que demorou vários séculos a construir numa cidade fria (a Serra da Estrela está muito perto). Antigamente era assim, a arte dos canteiros demorava o seu tempo, os arquitectos estavam sempre a fazer alterações. Os reis, esses, o mais certo era morrerem antes de verem terminada a sua encomenda.

Antes desta, houve outra igreja da qual nada resta, mandada erguer pelo segundo rei de Portugal, D. Sancho I (1185-1211) de cognome O Povoador. Foi já no reinado de D. João II que se iniciou este edifício que contemplam nas imagens, projecto que demorou quase dois séculos a terminar. Gabo a paciência dos monarcas, sabem!

Algumas gárgulas que enfeitam a Sé da Guarda
A mais inusitada gárgula da Sé da Guarda

Com vários estilos, precisamente pela morosidade da construção, gosto dos evidentes exageros do gótico e das pinceladas manuelinas que vemos na Sé da Guarda. Por entre pináculos, as gárgulas riem-se de nós, grotescas ou engraçadas.

Existe um porco anafado, a carantonha de um polícia local que um artista com humor decidiu caricaturar durante uma das reconstruções. Mas a gárgula de “rabo-ao-léu” é a mais inusitada. E malcriada. Este par de nádegas está voltado para Espanha, numa atitude provocatória para com o reino vizinho. Há até quem lhe aponte uma interpretação bélica, pois a gárgula está alinhada com gárgulas-canhão. Não admira que andassem sempre em guerras.

As gárgulas têm uma importante função nos edifícios: canalizar e escoar as águas das chuvas, afastando-a das paredes e das fundações. Já perceberam por onde sai a água nesta gárgula específica, não já? Por isso lá andam os turistas de nariz no ar, à sua procura.

O que eu não sabia – descobri-o com a pesquisa para este post – é que este rabo-ao-léu não é caso único no país. Não senhor! Nesta categoria existem outras cinco gárgulas. Podem ser encontradas na Igreja matriz de Caminha, na Matriz de Azurara, na Sé de Braga, no claustro de Sta. Maria de Alcobaça e Sta. Maria de Almoster (todas datadas da primeira metade do século XVI).

Portanto não é defeito, é feitio… ou uma moda muito inconveniente!

cidade da Guarda em Portugal

Dicas úteis

Como chegar: Do Porto, siga pela A1 em direcção ao sul, saia para a A25 em Aveiro, tomando a direcção a Viseu. Saia na Guarda. De Lisboa, siga pela A1 para norte, saindo para a A23 em direcção a Abrantes/Torres Novas/Castelo Branco. Siga pela A25 quase até ao fim.
Também pode chegar de comboio, consulte preços e horários no site da CP.

Onde ficar: o Hotel Vanguarda Congress & Family é uma boa opção (ainda que não exactamente no centro da cidade). Mais perto do centro histórico fica o Hotel Santos.

O que comer:  alguns pratos imperdíveis são o bucho com Grelos, o presunto curado com sal marinho e os tradicionais enchidos. Aliás, a carne é rei na região, com cabrito e borrego assado, javali com feijão ou arroz de lebre. Outras iguarias imperdíveis (sazonais) são a sopa de castanhas e o ensopado de míscaros (cogumelos).