Atualizado em 10 Outubro, 2023

Com a inclusão do Palácio Nacional de Mafra e do Bom Jesus de Braga na lista da UNESCO, há actualmente 17 sítios em Portugal que são Património Mundial da Humanidade. Mas a lista inclui outro tipo de riqueza, imaterial, num total de 25 classificações

A lista de Património Mundial em Portugal tem centros históricos, sítios arqueológicos, paisagens culturais e naturais, para além de costumes ancestrais. São locais e expressões de uma cultura única.

Cada região portuguesa que exploramos traz-nos novas surpresas: cidades, monumentos e paisagens que contam também uma parte da história do mundo. A UNESCO concorda, por isso as elevou à categoria de Património Mundial da Humanidade. É também por isso que quanto mais mundo conheço, mais me apaixono pelo meu país.

Este é um excelente pretexto para explorar Portugal de uma ponta à outra. Aliás, eu aderi à missão #euficoemportugal, promovida pela ABVP – Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, para apoiar o turismo local neste período difícil.

Deixo-vos a lista de sítios classificados pela UNESCO como Património Mundial em Portugal, numa lógica cronológica. Há lugares sobejamente conhecidos, como o mosteiro da Batalha. Há sítios surpreendentes, como a paisagem vulcânica das vinhas do Pico, e outros onde a natureza se esmerou, como seja a Floresta Laurissilva da Madeira.

Muitos destes locais já mereceram posts específicos no blog, que vale a pena ler ou reler.

Património Mundial da UNESCO (sítios)

Belém é Património Mundial da UNESCO

Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém (1983)

Pode encontrar estas duas jóias manuelinas, símbolo da expansão marítima, na região de Belém, em Lisboa. Tanto o mosteiro como a torre estão entre os monumentos mais visitados do país e decorrem da visão do rei D. Manuel I.  Nós, cordas, esferas armilares e cruzes de Cristo estão presentes nas fachadas dos dois edifícios, um construído com funções religiosas, outro com funções militares. Leia também: De Belém para o mundo

Mosteiro da Batalha (1983)

O Mosteiro de Santa Maria da Vitória foi construído como agradecimento pelo triunfo contra os espanhóis na Batalha de Aljubarrota, em 1385. Considerado “o” grande monumento do gótico português e um dos mais belos mosteiros da Europa do fim da Idade Média, vale certamente uma visita. Leia também: O maravilhoso mosteiro da Batalha

Centro Histórico de Angra do Heroísmo (1983)

Escala obrigatória entre a Europa e outros continentes entre os séculos XV e XIX, quando apareceram os barcos a vapor, a maior cidade da ilha Terceira (Açores) possui muitos vestígios desse áureo passado. No centro histórico encontra imponentes fortificações militares, com mais de 400 anos, e próximo da sua baía mais de 80 navios naufragados. Dizem que estas águas escondem tesouros incalculáveis.

Leia mais sobre Angra do Heroísmo, a primeira cidade dos Açores.

Convento de Cristo (1983)

O convento com a sua janela manuelina está em todos os livros de história e também no imaginário dos fãs de enredos de cavaleiros e cruzadas. Sim, porque este conjunto foi sede da Ordem dos Templários e, posteriormente, da Ordem de Cristo. Para além da famosa janela, numa visita ao Convento de Cristo, vai ficar de queixo caído com a Charola Templária. Leia também: Tomar e a linda Festa dos Tabuleiros.

janela manuelina

Centro Histórico de Évora (1986)

Évora começou a destacar-se quando se tornou residência dos reis de Portugal, no século XV. Vale a pena visitar o seu centro histórico, com as casas caiadas de branco, a decoração em azulejo e os balcões de ferro forjado. Numa visita a Évora, não deixe de visitar a Praça do Giraldo, o Templo romano, a Sé e a Igreja de São Francisco, onde encontra a arrepiante Capela dos Ossos. O centro histórico de Évora integrou a lista de Património Mundial da UNESCO em Portugal em 1986.

Mosteiro de Alcobaça (1989)

Uma das primeiras casas cistercienses em Portugal, este mosteiro demorou mais de um século até estar terminado. Hoje, a Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça continua a ser um dos mais bem preservados edifícios dessa ordem religiosa na Europa. O conjunto impressiona pela simplicidade e grandeza: para além dos emocionantes túmulos de D. Pedro e D. Inês, não deixe de apreciar o maior claustro medieval construído em território lusitano (Claustro do Silêncio).

Palácio da Pena, em Sintra, Portugal

Paisagem Cultural de Sintra (1995)

Resguardada pela serra que lhe dá nome, Sintra foi um dos primeiros locais na Europa onde se ensaiou a arquitectura romântica, nos idos do século XIX. A vila esconde um dos mais belos segredos nacionais: o Palácio da Pena que mistura, de uma forma genial, elementos góticos, egípcios, islâmicos e renascentistas. Desta Paisagem Cultural – a primeira distinguida pela UNESCO no velho continente – fazem ainda parte o Castelo dos Mouros e o Palácio da Vila. Recorde: Sintra e Queluz – Lisboa com sotaque

Centro Histórico do Porto (1996)

O centro histórico do Porto foi incluído na lista da UNESCO já nos anos 90. O núcleo classificado inclui a parte antiga da cidade invicta: Sé, Igreja da Cedofeita, Torre dos Clérigos, Palácio da Bolsa, Ponte Luiz I e o Mosteiro da Serra do Pilar, já do lado oposto do rio, em Vila Nova de Gaia. Aliás, é preciso atravessar o Douro para melhor apreciar o casario colorido, que contrasta com o céu cinzento no Inverno, e a autenticidade das ruelas que descem até à Foz.  Leia também: Porto, um roteiro clássico

Arte Rupestre do Vale do Côa (1998)

No vale do rio Côa existe uma imensa galeria de arte rupestre, que se estende por vários quilómetros. Diz-se que este é o maior conjunto do mundo de arte paleolítica (Paleolítico superior) ao ar livre. São milhares de gravuras e pinturas, registadas no xisto, de animais e figuras humanas, que conduziram à criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa e, pouco depois, à classificação da UNESCO. Uma visita ao moderno Museu do Côa permite compreender melhor este património único.

arte rupestre é Património Mundial

Floresta Laurissilva da Ilha da Madeira (1999)

A floresta primitiva da Madeira sobreviveu a cinco séculos de humanização, nas encostas viradas a norte, numa superfície que equivale a 20% da ilha. Quase desaparecida do continente europeu, a Laurissilva mantém ali as suas características subtropicais, representando a mais extensa e bem preservada mancha das ilhas atlânticas. Leia também: Maravilhas da Natureza da Madeira

Centro Histórico de Guimarães (2001)

A preservação “excecional” deste centro histórico foi um dos motivos que garantiram a sua distinção como Património Mundial, para a qual também contou a ligação da cidade ao “estabelecimento da identidade e da língua portuguesa”. Para além de visitar o Castelo e Paço dos Duques, vale a pena perder-se na atmosfera medieval das praças do centro. Recorde 8 Motivos para visitar Guimarães

#Nota: no verão de 2023, a área classificada em Guimarães duplicou, para incluir a chamada “Zona de Couros”, área outrora dedica àd manufaturas de curtumes ao longo do Rio de Couros.

Alto Douro Vinhateiro (2001)

A região vinícola demarcada mais antiga da história (século XVIII), capaz de produzir um néctar chamado “vinho do Porto”, também é Património Mundial. O Homem foi abrindo socalcos para plantar as vinhas que emprestam cores diferentes à paisagem, em cada estação do ano. Um esforço que foi moldando o belíssimo cenário em 13 concelhos e mais de 24 mil hectares. Leia também: Vistas do Douro, a região demarcada mais velhinha do mundo

Douro Vinhateiro está classificada pela UNESCO

Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (2004)

A ilha do Pico, nos Açores, é um lugar engraçado de origem vulcânica. No seu solo escuro, aparentemente improdutivo, produz-se vinho de grande qualidade. As encostas até ao mar são ocupadas por vinhas, separadas por muros de pedra negra, testemunho da labuta de gerações de pequenos agricultores que souberam criar algo único, num ambiente hostil.

Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e as suas Fortificações (2012)

Perto da fronteira luso-espanhola, encontramos a maior fortificação abaluartada do mundo, com cerca de 10 km de perímetro. Só do céu se percebe o formato de estrela desta construção do reinado de D. Sancho II, fundamental para a defesa da zona raiana.  O sítio classificado pela UNESCO inclui vários monumentos: o castelo, dois fortes, três fortins, as muralhas e o grandioso aqueduto da Amoreira, com 843 arcos.

Universidade de Coimbra, Alta e Sofia (2013)

A mais antiga academia de Portugal, e uma das mais antigas na Europa, desempenhou um papel importante na difusão do conhecimento científico, para além de ter sido sempre uma referência da língua e cultura portuguesas, determinando o carácter estudantil da cidade. A UNESCO classificou duas áreas: Alta (com a Biblioteca Joanina, o Pátio das Escolas, a Capela de São Miguel e a Torre do Relógio) e Sofia, na baixa de Coimbra, onde funcionaram vários colégios. Leia também: Coimbra, guia completo (com mapa) e Universidade de Coimbra: segredos da academia

Santuário de Bom Jesus do Monte, em Braga (2019)

Para além de ser um local de fé, o Santuário do Bom Jesus constitui um conjunto arquitectónico e paisagístico formidável, diz a UNESCO. Vale a pena apreciar os estilos artísticos (barroco, rococó e neoclássico), mas também o simbolismo das imagens da longa escadaria e a engenharia do funicular hidráulico mais antigo do mundo ainda em actividade. E comer um gelado no miradouro ou junto do seu charmoso lago.  Leia também: Bom Jesus de Braga, património da UNESCO

Bom Jesus foi distinguido pela UNESCO em 2019

Real Edifício de Mafra (2019)

Este exemplo do Barroco – um dos mais relevantes em Portugal – fica a cerca de 40 km de Lisboa e merece um dia de passeio. O Real Edifício de Mafra, que inclui o Palácio, Basílica, Convento, Jardim do Cerco e Tapada, é uma das obras mais emblemáticas do século XVIII. Vale a pena demorar-se na monumental biblioteca, com um acervo que abrange mais de quatro séculos. Juntamente com o santuário de Bom Jesus, este foi o último lugar acrescentado à lista de Património Mundial da UNESCO em Portugal.

Patrimónios imateriais da UNESCO em Portugal

Para além dos lugares físicos, Portugal viu reconhecido pela UNESCO algum do seu património imaterial. O mais emblemático é o Fado (2011), com origem nos bairros históricos de Lisboa (Mouraria, Alfama, Bairro Alto e Madragoa), símbolo reconhecido de Portugal e uma música do mundo.

Na área da música há ainda a destacar o Cante Alentejano (2014), expressão musical única da região do Baixo Alentejo. Cantado em coro, por grupos de homens e mulheres, sem recurso a instrumentos musicais, é uma das tradições mais genuínas do país.

A Dieta Mediterrânica (2013) faz parte do bilhete de identidade da gastronomia portuguesa. A UNESCO considerou-a um estilo de vida, destacando o convívio, a celebração e a transmissão de saberes à mesa. Pão, azeite, vinho e peixe fazem parte de uma forma de comer que une Portugal a outros povos, o que resultou numa candidatura conjunta de sete países. Leia também: Tavira e a “obscure chamber” (a pequena cidade integrou a candidatura conjunta).

Na área do artesanato tradicional, a UNESCO distinguiu o Fabrico de Chocalhos (2015), arte singular que existe na região do Alentejo há mais de dois mil anos. Este instrumento de percussão tem um som inconfundível e um papel fundamental na paisagem sonora das áreas dos pastores.  Acrescente-se ainda a olaria preta de Bisalhães (Vila Real, 2016), uma louça preta da aldeia de Bisalhães, no concelho de Vila Real, que continua a ser produzida com técnicas ancestrais. Por exemplo, é cozida em fornos escavados no solo, o que confere ao barro o tom preto.

O figurado em barro de Estremoz (2017), vulgarmente conhecido como “Bonecos de Estremoz”, é uma arte popular com mais de três séculos. A UNESCO classificou esta arte de produzir figuras em barro cozido e policromadas, feitas à mão segundo uma técnica que remonta ao século XVII. A lista de património mundial imaterial inclui ainda a arte da Falcoaria Real (Salvaterra de Magos, 2016), praticada em Portugal desde o século XII.

Mais recentemente, somou o Carnaval de Podence (Macedo de Cavaleiros, 2019), enquanto manifestação ancestral carnavalesca, com os seus tradicionais “caretos”. Na origem, estavam associados à figura do “diabo à solta” e representavam os excessos, a euforia e a alegria permitidos nesta altura do ano, depois dos meses frios de Inverno, celebrando também a fertilidade da Primavera que se aproximava.

A última adição à prestigiada lista da UNESCO aconteceu em final de 2021, com a Festa do Povo de Campo Maior, no Alentejo. Também conhecida como a Festa das Flores ou Festas dos Artistas, é dedicada a São João Baptista, patrono da vila alentejana. O curioso é que a festividade não se realiza todos os anos, mas quando o Povo muito bem entende, transformando, literalmente da noite para o dia, a vila inteira num oceano de flores de papel.

Quanto deste património mundial da UNESCO em Portugal, físico e imaterial, vocês conhecem pessoalmente?